O importante, na
eleição do novo Papa - Francisco I -, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, 76 anos,
arcebispo de
Buenos Aires, é o fato de ser o primeiro jesuita eleito, além de único da
América Latina, em quase 13 séculos.
Desde 752, com o italiano Santo Estevão II, a Igreja Católica vem elegendo
papas de origem européia (italianos, franceses e alemães, e o polones Karol
Wojtyla, João Paulo II). Anteriormente a essa data, foram eleitos vários papas
de origem grega, um sírio e um africano.
A eleição de um jesuita pode significar a reafirmação da expressão do poder
temporal da Igreja, não obstante a figura franciscana que represente esta
reafirmação, no intrincado jogo de poder mundial, em que a presença da Santa Sé
em todos os campos–político, econômico, militar, científico-tecnológico e
ambiental- não apenas determina, mas se adapta ao fluxo da globalização, em
sintonia com a hegemonia dos Estados Unidos, a ascensão da China, o soluço
econômico da Europa liderada pela Alemanha, o potencial de riquezas da América
Latina e a articulação dos demais centros de poder.
Se Deus escreve por linhas tortas, como diz o adágio popular, o Vaticano escreve
por linhas transversas, conferindo à Espanha um destaque estratégico. E por que
à Espanha? A Espanha nunca
teve um papa, embora seja o país do basco São Josemaria Escrivá de Balaguer,
que fundou, em 1928, a “Opus Dei”, hoje prelazia do Vaticano (seus membros só
prestam conta ao Papa) e seu atuante braço direito, contracenando com a
Companhia de Jesus, espécie de braço esquerdo, fundada bem antes, em 1534, em
Paris, pelo também basco Inácio de Loyola e atualmente tendo como prepósito
geral outro espanhol, o bispo Adolfo Nicolás, eleito em 2008, o qual muitos
analistas denominam “o papa negro”. Essa denominação reflete o poder adquirido
pelo ex-prepósito, Pedro Arrupe, inimigo de João Paulo II.
Ainda não foi desta vez que o Brasil, maior país católico do mundo, elegeu
um papa, mas a obra dos jesuítas no Brasil é tão vasta, desde 1549, com Manuel
da Nóbrega, Anchieta, Antonio Vieira e outros filhos do “pai Inácio de Loiola”,
que a proximidade geográfica entre Brasil e Argentina torna emblemática para a
América do Sul a eleição de Francisco I. Obama sinalizou com a crescente
importância da América Latina no próprio peso das decisões políticas dos Estados
Unidos, ao comentar a escolha de um papa argentino.
Hoje em dia, no mundo inteiro, mais de 19 mil jesuítas, com a colaboração
de 100 mil leigos, levam a ação educacional a mais de 2000 instituições de
ensino, abrangendo 1,5 milhão de jovens e adultos em 112 países e em seis continentes.
A Companhia de Jesus já deu à Igreja 41 santos (entre os quais 27 mártires) e
139 beatos (dos quais 131 mártires). (dados fornecidos pelo Google e pelo
Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana – FEI/SP).
Em diversos países da América Latina, a obra missionária jesuítica não
apenas fincou importantes marcos
civilizatórios (escolas, igrejas, museus, etc.), como também contribuiu para a
difusão da doutrina católica, proporcionando à Igreja importante e decisiva
influência em todas as expressões do poder, em especial no processo da
Contra-Reforma...
Nesse aspecto, o jesuita Francisco I viria também para conter o avanço dos evangélicos e em toda a região,
para debelar a teoria segundo a qual haveria interesse dos Estados Unidos em
estimular o movimento evangélico para quebrar a espinha dorsal da Igreja
Católica e impor a ética protestante,favorável ao espírito capitalista, na
visão do sociólogo Max Weber. O avanço do esoterismo no mundo inteiro seria outra preocupação da Igreja.
No
Brasil, não bastassem as fundações de cidades como Salvador, São Paulo, Rio de
Janeiro, Recife, Belém, São Luiz, Porto Alegre, Florianópolis, João Pessoa,
Santos, Olinda, Ilhéus, Paranaguá, entre outras, os jesuítas possuem as
universidades Catolica do Rio de Janeiro, Catolica de Pernambuco, do Vale do
Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, e o Centro Universitario FEI, em São Paulo,
além de outros estabelecimentos de ensino.
A
“Opus Dei” é dirigida pelo bispo espanhol Javier Echevarria Rodriguéz e seus
membros, espalhados pelo mundo inteiro, são religiosos e leigos, casados e
solteiros. No Brasil, supostamente com cerca de 1700 adeptos, se implantou na
década dos 50, e teria em suas fileiras o atual governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, sobrinho do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal no Governo
Médici, José Geraldo Rodrigues Alckmin, e o ex-ministro e tributarista Ives
Gandra da Silva Martins, irmão do maestro João Carlos Martins.
Sabe-se
que a “Opus” tem presença ativa em Brasília, “locus” da política
nacional, e que teria intenção de eleger Geraldo Alckmin presidente do Brasil. Por
esse ângulo, a disputa dentro do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB-,
entre Alckmin e o senador Aécio Neves, para se obter a candidatura à Presidência,
nas eleições de 2014, pode se tornar
acirrada, favorecendo o candidato que melhor representar a possibilidade de
contenção do crescimento evangélico no Brasil.
Teorias
conspiratórias à parte, a “Opus Dei” elegeu João Paulo II e se consolidou como
opção ultra conservadora da Igreja, mas suas supostas rivalidades com a
Companhia de Jesus, progressista, fazem parte da estratégia das organizações complexas
(a maior delas a Igreja) de explorar a natureza dialética do poder alimentando
os caudais de idéias e nutrindo a teoria dos opostos. Loiola e Balaguer são
opostos que se somam para a obra de Deus e, assim, vêm controlando o Vaticano,
nas últimas décadas, com a aprovação do cardeal Ratzinger, Bento XVI, que
renunciou ao Trono de São Pedro.
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