O que fazem
ex-Presidentes da República, nos Estados Unidos e no Brasil? Nos Estados
Unidos, após cumprirem um ou dois mandatos consecutivos, se tornam
irreelegíveis e se afastam da Casa Branca.
No Brasil, onde a
reelegibilidade por um mandato subsequente é admitida pela Constituição, e
também para outro período não-subsequente, os ex-presidentes continuam
participando da política direta e indiretamente, pensando no Palácio do
Planalto, só se desligando por razões de saúde ou em caso de falecimento.
Uma participação
que não se restringe à Presidência da República, mas, se estende à Presidência
da Câmara dos Deputados e à Presidência do Senado Federal -esta também compreende a presidência
do Congresso Nacional- , que pertencem à cadeia de sucessão presidencial, em caso
de impedimento, renúncia, afastamento do
país ou morte do titular do Palácio do Planalto.
Aprovada durante o
mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, a reelegibilidade, cujo fim é hoje
tema recorrente na esfera política, mexe com os nervos do poder no Brasil. Com
impedimento imediato da reeleição para os cargos executivos - Presidente, Governadores e
Prefeitos -, nem a Presidente Dilma Rousseff poderia disputar as eleições de 2014,
e os ex-presidentes idem, encerrando por aqui de fato suas biografias de
estadistas...
O ex-presidente
Lula (67 anos) afirma, em recente entrevista, que continua no jogo político e
que fará o que puder para apoiar a reeleição da Presidente Dilma Rousseff, em
2014; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (82 anos) continua alisando seu
fardão de membro recém-eleito para a Academia Brasileira de Letras e fazendo
conferências pelo seu instituto; o ex-presidente José Sarney (83 anos) retorna
ao Senado depois de recente tratamento médico-hospitalar, e o ex-presidente
Fernando Collor (64 anos), hoje senador, preside a Comissão de Relações Exteriores do
Senado.
Eu não me arrisco a
dizer que algum desses ex-presidentes, que enfeixam poderes em nichos especiais
do cenário político e dos partidos , não tenha lá no fundo da alma a chama da
vaidade e ambição de voltar ao Palácio do Planalto, porque a idade não os
impediria, num país de lideranças escassas. Ainda mais tratando-se de Lula e
Collor, bem mais jovens.
Num cenário
hipotético, o impedimento à reelegibilidade aplicado a 2014, dependendo do
texto aprovado manter a subsequência
restritiva, excluiria Dilma, mas não Lula e Collor, e abriria espaço para uma
encarniçada batalha pelo poder entre 33 partidos existentes (inclusos o Partido
da República e Ordem Social –PROAS-, que fechará com Dilma, o Partido
Solidariedade Nacional –PSN- , que apoiará Aécio Neves, e a Rede
Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, que deverá ser registrada em breve no Tribunal Superior Eleitoral. Os
rumos de uma disputa só entre novas lideranças se tornariam incertos para a
nação.
Por outro prisma, se
o impedimento não se aplicar às eleições de 2014, pode se transformar numa
incógnita política. Dilma poderia ceder sua candidatura para Lula, que ainda
desfruta de excelentes índices nas pesquisas de opinião, quase que sem adversário.
Collor ainda depende de um processo em curso no Tribunal Superior Eleitoral –TSE-
que o torna inelegível até 2018, por acusação de fraude nas pesquisas para
governador de Alagoas em 2010. Com Dilma ou Lula no páreo, o PT não deixaria
Collor passar incólume para criar sua candidatura por um desses tantos “partidos
de aluguel”, embora o ex-Presidente, que sofreu impeachment há 21 anos, aspire
à recomposição de sua biografia, do alto dos 36 milhões de votos que recebeu
para a presidência, em 1989.
A aspiração de
Collor é bem traduzida por um dos seus atuais assessores no Senado, jornalista
Vicente Limongi Netto, em depoimento no “Blog do Collor”:
“Pertenço aos 36 milhões de brasileiros que
acreditaram e elegeram Collor. E que nunca, jamais, engoliram o golpe que
perpetraram contra o Presidente. Sou um dos que tiveram que suportar
patrulhamentos e piadas dos que perderam as eleições de 1989, mas se sentiram o
máximo quando os poderosos derrubaram o primeiro presidente eleito
democraticamente depois de 25 anos de arbítrio. Este blog foi criado justamente
para unir pessoas que, como eu, acreditam no Brasil e se sentiram frustrados
por terem seu voto sagrado e sua confiança desrespeitados. Collor iniciou a
modernização da administração e da economia brasileiras, sem a qual não
teríamos este blog. Tirou o Brasil das amarras do atraso e da subserviência,
enfrentando os vícios e espertezas de empresários sempre ávidos por lucros
fáceis. Foi arrancado do cargo por abutres travestidos de isentos. Foi
inocentado pelo STF de todas as torpes acusações de seus desafetos. Mas, o
tempo sempre traz a Verdade”.
Por tudo isso, considero
que o fim da reelegibilidade pode entrar ou não na pauta do Congresso Nacional,
pois o tema teria reflexos múltiplos no processo sucessório e na disputa do
poder, com riscos para a própria estabilidade político-institucional e até
para a democracia brasileira.
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