quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mistério é trunfo para sucessão no poder



A lendária figura de Rodrigo Diaz de Bivar, o militar castelhano “El Cid”, que viveu no século XI e que teve seu corpo amarrado à sela de um cavalo para liderar o exército valenciano em vitória contra os mouros, tem inspirado transições governamentais nos tempos modernos.

No cinema, em 1961,“El Cid” foi interpretado por Charlton Heston, e sua mulher, Ximena, teve por intérprete Sofia Loren, que ordena aos valencianos que o corpo do marido, falecido em sua cama, em sua residência, em Valência, fosse usado para amedrontar os adversários.

No Brasil, o presidente eleito Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse, teve sua imagem moribunda transmitida diretamente do hospital pela televisão, em 14 de março de 1985, deixando o País em transe, enquanto, nos bastidores políticos, se desencadeava disputa pelo poder entre o deputado Ulysses Guimarães, que queria nova eleição, e o vice de Tancredo, José Sarney, que teve sua posse assegurada pelos militares.

Em 2011, na Coréia do Norte, o férreo regime, imposto pelo líder e ditador Kim Jong-il ,protelou para o mundo, pelo  tempo que pode, o real estado de saúde terminal do ditador, e mesmo o ditador cubano Fidel Castro, por diversas vezes  dado como morto, em 2012, teve sua sucessão administrada pelo grupo palaciano, liderado por seu irmão Raul Castro, atual dirigente de fato.

E o presidente da Venezuela, Hugo Chàvez, eleito, mas ainda não empossado  constitucionalmente, por se encontrar ausente do País e em tratamento contra um câncer mortal, há vários meses, em Havana, começa a despertar suspeitas sobre sua morte, nos meios políticos, diplomáticos, militares e jornalísticos.

O vice-presidente Nicolás Maduro nega veementemente, mas o mínimo que se diz de Chàvez é que estaria em coma induzido. Os chavistas administram febrilmente a imagem do líder na disputa interna pela sua sucessão, enquanto o Itamaraty, inteiramente a par da verdadeira situação, mantém-se calado e agindo na surdina para que a sucessão não venha a desestabilizar as relações entre Brasília e Caracas.

O mistério é o artifício para se ganhar tempo no jogo das sucessões de poder, e até a “resignação” do Papa Bento XVI é revestida desse elemento fundamental da política, não importa se em dimensão micro ou macro.

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

No Mundo, no País e Sem noção


 

Gélio Fregapani(Membro da Academia Brasileira de Defesa)

No Mundo


O mundo é um lugar perigoso
Deve-se observar o desenvolvimento dos acontecimentos mundiais nas últimas décadas, principalmente após 11 de setembro de 2001. Violência crescente, guerras, invasões, falsos líderes populares, morte de milhões de pessoas, assassinatos de caráter político, degradação dos partidos, levantes sociais, endividamento dos Estados, desemprego, miséria, banalização da tortura...

O que pode nos reservar o futuro? Certamente podemos imaginar cenários que incluam a criação de uma estrutura confederada asiática liderada pela China, que poderia fazer uma aliança geopolítica com os Estados Unidos ou, ao contrário, envolverem-se em uma disputa mortal .

 Pode acontecer o fortalecimento da União Européia ou sua implosão. Em qualquer dos casos os países da Europa terão que buscar uma aliança de fato com a Rússia ou com outro país dotado de recursos naturais, como o nosso Brasil ou a recriação do colonialismo.

A África tenderá a ser novamente dividida em protetorados, seja qual for o nome que derem a isto. Será difícil conter a proliferação nuclear, mas paradoxalmente isto poderá assegurar a paz.

Todos terão que apelar para o protecionismo e o mercantilismo para sobreviverem, apesar do protesto dos partidários do l ivre comércio. Os pequenos países sem recursos naturais, se não descobrirem uma formula viável serão incorporados como províncias às nações mais poderosas, por mais autonomia que vierem a conservar.

O desemprego global vai crescer, em vez de cair. E as pessoas comuns sentirão muito severamente o aperto. Sentirão mais ainda as que se demorarem a proteger suas indústrias e suas riquezas em nome de um universalismo comercial que não tem como existir...

Como pano de fundo, teremos, em longo prazo, um choque entre civilizações: A ocidental, corroída pelas drogas e pela desagregação familiar, e a islâmica, menos tecnológica e ainda desunida, mas que acredita em seus valores e está disposta a morrer por eles.

Quem vencerá esta batalha? Ninguém pode prever. O resultado será determinado por uma infinidade de condições e de ações, mas em algum ponto, a tensão entre as alternativas vai pender definitivamente para um lado. Não havendo um fato novo que altere o rumo e as tendências, o estudo de História, desagradavelmente, nos aponta o provável vencedor.

Guerra por recursos

Como parte desses cenários, em termos mais imediatos temos a projeção da OTAN como uma força militar de alcance global, a serviço da agenda hegemônica das potências mais belicosas do bloco - EUA, Reino Unido e França -, no contexto do cenário de "guerras por recursos". É um fato tanto admitido pela liderança da organização como evidenciado pelos desdobramentos da intervenção francesa no Mali.


A Aliança Atlântica se considera uma "gendarmeria global", pronta para intervir em todos os continentes e oceanos, onde os interesses dos seus membros maiores se considerem ameaçados. Uma boa parte da capacidade mobilizável ficará disponível para atuar em outras regiões do planeta, com o Norte e o Centro da África despontando como candidatos ideais, mas devemos atentar que um possível apoio à independência de “nações” indígenas estará na lista de opções, e até o pré sal, conforme a escassez de petróleo e a nossa fraqueza militar e moral.


Petróleo na América Latina

Washington e seus sócios estão engajados no projeto de estabelecer uma versão energética da natimorta Área de Livre Comércio das Américas. Outra vez, a oligarquia anglo-americana e suas petroleiras se mobilizam ensaiando manejar nações pseudo soberanas como marionetes. Ao México exigem a abertura da petroleira estatal Pemex aos investimentos estrangeiros. O Brasil é ameaçado com a sugestão de que, num futuro próximo, o México poderá desbancá-lo como destino de investimentos, a menos que se abra ainda mais a estes últimos, especialmente, para a exploração das reservas de petróleo e gás da camada pré-sal.


É clara a intenção de colocar em caminho de confronto entre as duas maiores nações ibero-americanas, o Brasil e o México. O velho truque de dividir para dominar tem finalidade especificada: controlar os vastos recursos energéticos de ambos, com destaque para o petróleo e o gás natural.

No passado, o G-7 ignorou o G-20, que hoje, como grupo, ainda é apenas uma aspiração geoestratégica e institucional. Entretanto, não é segredo que a força econômica do G7 não corresponde mais, há muito tempo, à realidade econômica mundial.

Os controladores da economia globalizada atuam e contam com o apoio a fim de impedir que a China se torne o terceiro país mais importante do Fundo, ou que o Brasil venha a avançar até alcançar, no futuro, uma posição condizente com a sua condição de sexta maior economia do planeta.

Com a dívida interna líquida de 35% do PIB, débitos externos menores de 15% do que produz todos os anos, 378 bilhões de dólares em reservas, sendo o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos, depois da China e do Japão e credor do próprio FMI, o Brasil não aceita mais ser tratado no mesmo patamar de países de peso geográfico, demográfico e econômico menor.

A raiz de todos os males?

O objetivo do Clube Bilderberg seria a busca de uma era pós-nacionalismo, em que já não haverá países, só regiões e valores universais. Ou seja, só uma economia universal, um governo universal (não eleito) e uma religião universal.

Para assegurar esses objetivos, os membros do Clube tem usado a força dos poderosos da ocasião. Consta que iniciaram com Veneza, passando para a Holanda, dessa para Inglaterra e depois para os EUA, seguindo e usando o poder militar desses países. Há quem afirme que muitas das guerras do mundo teriam sido provocadas para servir aos seus interesses, inclusive as duas guerras mundiais do século XX. Essas afirmações receberam o nome de “Teoria da Conspiração.”

No País


Figura nefasta

Lula não foi de todo ruim, pelo menos se comparado com o FHC. Teve erros terríveis, cedeu à pressões estrangeiras, como o caso da Raposa-Serra do Sol e disseminou a corrupção, antes restrita aos altos escalões, mas freou as desnacionalizações tucanas e manteve o Brasil fora da recessão mundial com seu assistencialismo, que para a ocasião foi certo. Teve seu papel, mas agora seria a hora de “desencarnar” da Presidência. Inconformado, lamentavelmente procura influir, ou mesmo mandar no Governo Dilma.

A Presidente atual enfrenta por isto o momento mais difícil de seu governo. Quem a está deixando em maus lençóis não é a oposição, mas Lula, talhado para ser o maior desafio da Presidente Dilma. Esta ainda pode mobilizar os que estão gostando de seu Governo, pela sua presteza em resolver os problemas emergenciais com firmeza, (e são muitos) e colocar o Lula em seu lugar, apesar do PT ficar com o Lula na disputa. Mas Dilma também pode se intimidar e deixar a coisa fluir por medo da força do PT. Nesse caso, seu governo começará a acabar. Ainda que seja reeleita em 2014,ficará mais quatro anos sendo apenas tolerada na gerência.

Uma figura ainda mais nefasta

Marina Silva, pensa em se candidatar à presidência. Se conseguir se eleger ficará proibido o plantio de maçãs em Santa Catarina, de parreiras no Rio Grande e de arroz em várzea no Brasil.. Podemos até viver sem maçãs ou sem uvas, mas não sem feijão com arroz. Teremos que comer arroz de várzea produzido no Uruguai ou na China.

Cerca de 500 indígenas mundurukus se reuniram no município de Jacareacanga, PA, para definir a sua agenda. Em síntese, os índios expressaram a sua determinação para: 1) frear os projetos de usinas hidrelétricas nas bacias dos rios Tapajós e Teles Pires; 2) barrar a tramitação de projetos de legislação setorial no Congresso; e 3) fazer avançar a demarcação de novas reservas indígenas. - Atrás deles o CIMI, a FUNAI, as ONGs e governos estrangeiros.

Dentre os objetivos expressos: "o fim dos estudos das hidrelétricas na Bacia do Tapajós e Teles Pires"; a revogação "imediata da Portaria 303 da AGU)", a paralisação do Projeto de Emenda Constitucional 215 e do Projeto de Lei 1610/96 que retiram da Funai o monopólio da aprovação da delimitação de novas terras indígenas, fazendo a decisão final passar pelo Congresso Nacional. Afirmam: “Não vamos permitir qualquer tipo de estudo sobre implantação de hidrelétricas na região”.

Coragem, Dilma .

Em Santa Catarina

A onda de crimes continua mesmo com a presença da Guarda Nacional (organização militar criada pelo PT com objetivos não bem esclarecidos). Vai sobrar para o Exército, que só será bem sucedido se tiver autorização para agir em força.

Não foi sem motivo que Caxias, o Pacificador, exigiu sempre o comando político quando teve que controlar as sublevações.

 
É incrível a nossa vulnerabilidade no setor “Segurança

quer no setor Segurança Púbica quer no de Segurança Nacional. Na Segurança Pública, a solução seria simples: o incentivo à reação armada aos assaltos e a pena de morte para latrocínios e seqüestros com morte e trabalho obrigatório para os demais. A reação das pessoas honestas acabaria com os assaltos comuns em algumas semanas. E a pena de morte nos casos citados pouparia vidas de pessoas, pois não haveria reincidências. Só falta coragem para por em prática.

Mais difícil seria diminuir nossa vulnerabilidade militar. Isto exigiria que nossos Estados Maiores tivessem autonomia. Que identificassem as ameaças em vez de cuidar da burocracia e pensar genericamente; que constatassem o que todo o mundo sabe – que nossos meios, nosso dispositivo e nossa filosofia de combate não tem condições mínimas de neutralizar essas ameaças.

Verificado isto conseguir os meios necessários, desde armamento nuclear, (mesmo denunciando o Tratado de Não Proliferação); passando por meios anti aéreos (porque os aéreos estão fora do nosso alcance), indo até a fabricação de armamento no País, por brasileiros, hoje impedidos pela burocracia do próprio Exército. Teria que ajustar o procedimento para guerrilha urbana e rural – esta última só efe tiva com o auxílio de garimpeiros armados.Sim, é difícil, mas é possível. O que não pode é ser feito encima da hora.

Antes de mais nada, cuidar do moral da tropa. Segundo o nunca desmentido Sun Tzu, quando o Exército está desprestigiado e amedrontado pelo Governante, os príncipes vizinhos se alvoroçam. A verdade é que é impossível ser bom combatente quando se é dominado pelo medo.

Sem Noção

Efeito contrário - Com os ataques por “Vants” os EUA estão criando mais inimigos do que os que conseguem matar. Assim prolongarão a guerra ao infinito, e não conseguirão vencer.

O Editorial do Washington Times classifica a Presidente Dilma como inimiga dos EUA. (“Se o planeta está dividido entre aqueles que estão conosco e aqueles que estão contra nós, a Sra. Rousseff está do lado errado").

A má vontade dela para com aquele país pode até ter raízes esquerdistas, mas essa classificação significa apenas que ela defende os interesses brasileiros, coisa que desde a redemocratizaç ão não se observava. Quanto tempo faltará para os que aqui defendendo os nossos interesses que contrariem ao interesses deles passem a serem também alvejados?

Traição e burrice

Gente como Marina olha para a questão do Código Florestal à luz dos interesses dos competidores internacionais. Isto já sabíamos, mas a atitude do Ministério Público, por ideologia ambientalista radical e equivocada é que não se compreende. Pode levar o caos aos pequenos produtores rurais brasileiros e elevar piorar o drama o preço dos alimentos na inflação, prejudicando toda a sociedade brasileira. Querem conceder aos animais e às plantas nativas o que negam aos seres humanos.

Traição pura e simples

Collor e FHC levaram a desnacionalização às últimas consequências. Acabaram com as com as estatais eliminando assim, muito do que havia de nacional fazendo o País gastar centenas de bilhões de reais para entregar, a troco de nada, as jóias da Coroa e praticamente toda a infraestrutura.

Posteriormente, o Governo FHC, apagou da Constituição a distinção entre empresas de capital nacional e de capital estrangeiro acabando com quase toda indústria privada nacional que ainda sobrevivia. O Governo do PT, apesar de não compactuar filosoficamente com a desnacionalização, tem cedido às pressões e a desnacionalização continua, embora em ritmo menor.

Dinheiro esbanjado

O governo FHC deu direito ao uso dos jatos da FAB ao vice- presidente, aos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo e aos ministros. Cada viagem no jatinho, de ida e volta a Manaus custa R$ 42 mil, mas sai por cerca de R$ 1.500 em avião comercial.

Não adiantou

O governo Lula, instituiu que os ministros podem utilizar transporte comercial nos deslocamentos para casa. Apenas um ministro aderiu: Alfredo Nascimento, casualmente um dos que caíram por irregularidades em suas pastas.

Parece que o nosso Congresso decidiu

Quer ser aquilo que vem sendo - um poder menor. Nossos parlamentares estão entre os mais caros do mundo, e são dos mais numerosos também. Há tanta coisa que poderia fazer que até justificasse sua existência, por exemplo, se desse um basta na questão indigenista antes que o nosso Pais se desagregue.
 

Estado: Argentina e Brasil


Adriano Benayon *

 

01. A Argentina, sob Nestor Kirchner e, agora, Cristina Fernández, renacionaliza empresas de setores estratégicos: petróleo e gás, água e esgotos, transportes aéreos, correios.

02. Refunda-se o Estado, praticamente liquidado após várias rodadas de devastação ao longo de 50 anos. A mais brutal delas foi com Menem, 1989/1999.

03. Para mudar de curso, foi preciso o povo sair às ruas, em dezembro de 2001, exigindo a queda de De la Rua e do ministro Cavallo. Este comandava a economia desde Menem, e, em 1991, introduzira o Plano Austral, com conversibilidade e paridade (1 peso = 1 dólar), precursor do Plano Real (1994).

04. Com o Austral, a dívida pública causada pelo modelo dependente crescera ainda mais, com grande parte em moratória desde 2001. Ao assumir Kirchner, em 2003, ela equivalia a 140% do PIB e a 428% das exportações de bens e serviços (no Brasil 79% e 284%).

05. Diferentemente do Brasil, a Argentina negociou com soberania e obteve, em março de 2005, descontos médios de 70% do valor nominal dos títulos. A dívida externa total foi reduzida de US$ 192 bilhões para US$ 126 bilhões.

06. O Brasil, até hoje, não realizou sequer a auditoria da dívida, inflada por fraudes e pela capitalização de taxas de juros, tarifas e comissões descabidas, inclusive nas rolagens e “reestruturações.” Seu serviço prossegue fazendo gastar quase 50% do orçamento federal.

07. Na Argentina, a partir de 2003, deu-se notável reversão da queda livre do PIB, havida de 1998 a 2002, do índice 100 para 77. Em 2012, recuperou-se para 151, e, computando a base 2002 = 100, subiu a 206 (mais que dobrou). O do Brasil chegou a só 142.

08. A economia argentina ainda está grandemente desnacionalizada, mas menos que a do Brasil, e as transnacionais têm menos privilégios, subsídios e isenções que aqui. Além disso, as pequenas e médias empresas argentinas têm peso razoável.

09. Assim, os déficits nas transações correntes são inexpressivos. No Brasil, ao contrário,vêm-se avolumando. De 2008 a 2012, somaram US$ 204,1 bilhões, sendo US$ 54,2 bilhões em 2012.

10. Esses déficitsfazem acelerar ainda mais a desnacionalização e o endividamento, com risco de as contas externas desencadearem grave crise. Assinala Carlos Lopes (HP 24.01.2013) que, de 2004 a 2011, foram desnacionalizadas 1.296 empresas brasileiras, e as remessas oficiais de lucros ao exterior montaram a US$ 405 bilhões. Ora, as remessas disfarçadas em outras contas são um múltiplo disso.

11. A restauração do Estado na Argentina faz-se acompanhar de excelentes resultados. Ademais, como escreveu o jornalista Beto Almeida, o presidente Kirchner, enfrentou o oligopólio da mídia, fortaleceu e expandiu a TV Pública Argentina, firmando as bases para aprovar-se a Lei de Meios de Comunicação no governo de Cristina Kirchner.

12. Criou, ademais, um canal cultural de alto nível, eliminou a reserva de mercado de emissoras privadas sobre o futebol, agora também transmitido por canais públicos. Determinou a divisão do espaço eletromagnético nos segmentos estatal, privado e público, no qual a CGT e a Universidade Nacional, por exemplo, podem ter seus canais. Foi, ainda, instituído operador nacional de TV a cabo e outro, estatal, para TV digital”.

13. Os carteis da mídia recorrem a quaisquer meios para combater governos que defendam o interesse nacional. Por isso, a grande mídia argentina é monolítica em sua hostilidade aos Kirchner.

14. No Brasil a ojeriza ao governo é matizada, porque: 1º embora não tão querido pelos carteis como a oposição, ele segue o esquema econômico das transnacionais; 2º porque financia “generosamente” os carteis com verbas públicas.

15. O governo argentino, alvo de serviços secretos estrangeiros para desestabilizá-lo, promovendo e financiando greves e incidentes, necessita, pois, elevar sempre o grau de fidelidade e a qualidade de seus quadros de inteligência e segurança.

16. No Brasil, há que reverter o processo intensificado sob FHC, de eliminar estatais e perverter o serviço público, pois: 1) criaram-se agências “independentes” – mas não dos carteis mundiais - “responsáveis” por serviços públicos privatizados; 2) transformaram a administração em mera repassadora de verbas e outorgadora de concessões; 3) os investimentos são tolhidos pela fiscalização legalista (sob leis inadequadas) e até ideológica dos Ministérios Públicos e Tribunais de Contas, IBAMA, FUNAI etc.

17. Em suma, um serviço público, que: 1) se preocupa antes em não se comprometer que em realizar e, cada vez menos, presta serviços sequer de educação e de saúde; 2) fica indiferente ao desperdício e à corrupção, se combatê-los prejudicar a carreira.

18. Enquanto isso, o governo: 1) subsidia banqueiros, concentradores e transnacionais; 2) dá-lhes tratamento fiscal favorecido; 3) financia-os através do BNDES e outros bancos públicos; 4) entra nas PPPs com o grosso do capital e garante o risco dos sócios privados; 5) não consegue aplicar no PAC o grosso das verbas alocadas e as investe mal, através das empreiteiras e outros concessionários. O pouco investido na infra-estrutura é mal escolhido e custa caro.

19. Se a sociedade não tem o Estado a seu serviço, é fatal que ela sucumba. Por isso, os que querem a ruína de um País, desorganizam, desmoralizam e liquidam o Estado. Collor e FHC radicalizaram essa tendência, e os sucessores não sabem ou não querem revertê-la.

Ideologia e Estado

20. Uma das características dos sistemas de dominação é fazer das ideias que favorecem seus interesses a opinião prevalecente. Nesse contexto, é importante a conexão entre a destruição dos valores éticos da civilização e o marketing do encolhimento do Estado e de sua colocação a serviço de interesses privados concentradores.

21. Os propugnadores do Estado-mínimo argumentam deste modo: como as pessoas se orientam pelo hedonismo e são desonestas, quem estiver em posição de se locupletar na função pública, o fará, e, portanto, o Estado deve ser descartado. Por isso, o império trabalha para que assim seja.

22. Não por acaso, fomenta-se a falta de caráter, elimina-se a decência, a dignidade e o respeito aos seres humanos, através de: relativização dos valores; implantação da antimúsica com ruídos desestabilizadores do equilíbrio orgânico e psíquico; difusão das drogas.

23. Isso e o consumismo são reforçados pelas técnicas de publicidade, inclusive o merchandising na indústria do entretenimento (rádio, cinema, TV, videogames, I-Pads etc).

24. O objetivo é que ninguém lute, no Estado ou fora dele, pelo bem comum. Vantagens atraem gente para servir os concentradores, e os meios de apassivar as pessoas são os acima resumidos, planejados em institutos de psicologia aplicada.

25. Criam-se, aos milhões, alienados de todo tipo, incapazes de absorver informação, e a grande mídia encarrega-se de ocultar dos demais tudo que contenha verdade sobre questões econômicas e políticas.

26. Os pensadores orgânicos difundem teorias como a do Estado mínimo, contaminadas por contradições insanáveis, raro desmascaradas, por falta de espaço na mídia e nas universidades.

27. Segundo Adam Smith, a busca da utilidade egoísta pelos indivíduos ou empresas só funciona em favor do bem-comum, se não tiverem poder sobre o mercado. Claro, pois, na lógica do sistema, que os dirigentes dos poderosos carteis usam a“liberdade” para aumentar a concentração e a tirania.

28. A experiência dos países que prosperaram, comprova que o desenvolvimento se deveu a estadistas e a funcionários capazes e honestos. Inviabilizar esse tipo de gente entre nós é condenar o País à exploração irreversível por parte dos impérios.

29. Formaram-se aqui bons quadros e carreiras no serviço público, restando ainda técnicos e funcionários competentes, hoje, na maioria, desaproveitados, por causa da corrosão do Estado.

* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A "resignação" ímpar do político Bento XVI


Há 719 anos que a Igreja Católica Apostólica e Romana não registra a renúncia (“resignação”) de um papa ao Trono de São Pedro, como ocorre agora com Bento XVI ou o cardeal Joseph Ratzinger, um dos principais arquitetos do poder no Vaticano,  desde  o fim Segunda Guerra Mundial. Em 1294,o renunciante foi o frágil Papa Celestino V.
Razões de saúde pela idade avançada (86 anos) seriam o motivo da renúncia de Bento XVI, no próximo dia 28, razões até plausíveis, se o Vaticano não fosse uma espécie de monarquia não-hereditária com mandato vitalício..
Muitos têm sido os desafios enfrentados por Bento XVI, nesses quase oito anos de pontificado, mas a teia de conexões da Igreja com o poder mundial é tão imensa e diversificada, que se torna difícil avaliar em pouco tempo – quase o de um mandato presidencial do Presidente dos Estados Unidos que é reeleito – a contribuição de Bento VXI para a Igreja e o mundo.
A questão da evangelização dos povos pré-colombianos à custa de matanças e da alienação das suas culturas autócnes e a omissão da Igreja, sob a chefia de Pio XII, proclamado “venerável” por Bento XVI, diante do holocausto promovido pelos nazistas, não foram desafios tão incômodos para o Pontífice renunciante quanto as denúncias de pedofilia envolvendo padres e bispos na Europa e nos Estados Unidos.
Bento XVI é um papa mais articulador do que ator político, além de líder religioso, e como tal observa a sua imagem perante a opinião pública mundial, minimizada, em termos de carisma, se comparada com a de João Paulo II, seu antecessor.
Creio que renunciou por cansaço, mas, no fundo, teve que arcar com o peso do carisma de João Paulo II que ainda paira sobre o Vaticano, como  espécie de escantilhão  de santidade ética e moral.
Comenta-se a possibilidade de que algum dos cardeais brasileiros venha a suceder Bento XVI, até mesmo para garantir que o maior país católico do mundo deixe de perder adeptos para outras religiões, como vem ocorrendo nas duas últimas décadas. Atualmente, 65% dos brasileiros são católicos, mas os evangélicos e espíritas continuam crescendo.
Mas, o poder no Vaticano não se define por razões regionais ou nacionais. Ele determina e acompanha o movimento sistêmico mundial, junto com as potências maiores e os centros de poder.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

No Mundo, Na boate Kiss, Privatização, Sem noção e O Momento Político.



Gelio Fregapani (Membro da Academia Brasileira de Defesa)

No mundo
 
A Crise econômica mundial vem demonstrando os métodos, a cada dia menos dissimulados, de apropriação de riquezas por parte dos mais poderosos, sejam eles pessoas, grupos ou países e os caso s exemplares não estão tão longe quanto imaginamos, nas ‘longínquas’ guerras promovidas pela OTAN no Iraque, Irã, Afeganistão, Líbia,Síria, Mali... Estão bem debaixo do nosso nariz. Mais cedo ou mais tarde nos atingirá.
Entretanto, ao que parece, depois de se desgastar demasiadamente no Oriente Médio, os EUA parecem inclinados a evitar novas guerras sem fim. Cada vez mais faz uso de seus serviços secretos e suas Forças Especiais e de seus aliados para conseguir seus objetivos, deixando as forças militares para última opção. No nosso caso particular, sabemos que o nosso País, como um todo, é inconquistável e que transformaríamos uma invasão em uma “guerra sem fim”, exceto em áreas fora de nosso alcance militar como algumas das reservas indígenas das serras do maciço Guianense e do pré sal. É sobre estas hipóteses de guerra que deveriam se debruçar os nossos Estados Maiores. Quanto as ações dos serviços de inteligência estrangeiros, comprando as ONGs e os polà ­ticos, só podemos ter esperança se a presidente Dilma conseguir se livrar da influência corporativa do Lula.
A Crise das sociedades ocidentais vem terminando com a sociedadebaseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, a s famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem filhos, ameaçando até de extinção da população original. Antes da extinção, o envelhecimento geral torna impossível a previdência e a assistência social, rompendo os laços de projetos comuns, dificultando a criação de estratégias e atuação conjunta, isso sem considerar o problema das drogas. Na História, a dissolução dos costumes esteve na base da destruição de todas as grandes nações.
Na boate Kiss
 
Em todo esse horrível acontecimento, um aspecto se destaca em minha observação, tão brilhante como o sol em seu apogeu: a atitude corajosa e altruísta dos militares presentes na tragédia.
Não me refiro ao pronto e eficiente auxílio médico nem ao transporte de feridos para Porto Alegre, edificantes, mas é claro que agiriam assim. Refiro-me aos doze militares mortos no incêndio. Dois deles, um tenente e um cabo, depois de entrarem no inferno em chamas por duas vezes e salvarem outras pessoas, morreram ao entrar uma terceira vez no incêndio na tentativa de resgatar mais alguém.
E os outros dez? Mais algum teria se sacrificado tentando salvar os demais e isto não teria sido registrado? Talvez, mas o certo é que eram jovens e fortes, certamente mais adestrados do que a maioria dos estudantes e teriam maior possibilidade de escapar . Os que saíram e voltaram, ao que se saiba, cuidaram de sair na frente para retirar a namorada e retornaram depois de colocá-la a salvo, como deve ser o procedimento de um cavalheiro. Usando a estatística me parece que morreram quase todos os militares que estavam na festa. Haveria mais de duas mil pessoas na boate. Morreram cerca de dez por cento. Caso a proporção dos mortos militares fosse semelhante haveria lá mais de cem militares, o que é demasiado improvável numa fes ta de estudantes onde os milicos só iriam acompanhando as namoradas. Se não morreram todos, a quantidade de mortos entre eles foi desproporcional. Disto tudo só uma conclusão vem a minha mente: a maioria deles ficou para trás para deixar os demais passarem a frente, especialmente as mulheres. O País pode se orgulhar de seus soldados.
Significativo foi uma declaração anteriormente postada no facebook por um dos heróis, o tenente Lacerda: "Amo essa terra não por ser perfeita, não por ser rica, não por só ter gente de bem, não pelo seu Estado, não por sua História, não por seu futuro, não pelo que fez ou pelo o que há de fazer. A amo simplesmente por ser a minha, hoje e sempre.”
Enquanto tivermos soldados assim, apesar dos políticos, continuaremos a ser uma grande nação.
Sem Noção
 
Índios? - Quase todos têm celular, usam cabelos tingidos de vermelho ou loiro, calçam sandálias, vestem camisas de times de futebol e têm perfil no Facebook. Apesar disso vivem da caridade da Funai. Recebem, inclusive, cesta básica. Na quase totalidade dos 14% do território brasileiro que lhes pertence, inexiste atividade econômica formal e organizada. Quem impede são as ONGs estrangeiras ou ligadas ao estrangeiro. Que desperdício!
De Rita Alves – Membro Fundadora do Instituto Orlando Villas Boas em resposta a cobranças para que os índios façam algo de útil: “Cinismo absurdo pedir que os índios trabalhem”. (Postado nas redes sociais por inúmeros entusiastas da "causa indígena") Que cínica!
A Lei seca e os viciados em drogas - A legislação atinge apenas os usuários de álcool. Os consumidores de crack, maconha, cocaína e outros alucinógenos podem dirigir à vontade. Caso cometam acidentes, serão tratados as nossas expensas. A legislação os considera doentes. Que erro!
Aquecimento global – A imprensa européia já admite que o hemisfério Norte está resfriando pelo menos há 15 anos apesar (ou por causa) do derretimento do gelo no Pólo. Agora procura uma explicação para o fracasso das previsões. Alguns pseudo cientistas ,já conhecidos por falsear os dados, concluíram que o calor foi para o fundo dos oceanos. Que caras de pau. .
Vontade de impedir a auto suficiência - Enquanto térmicas ganham espaço, uma das principais fontes renováveis é deixada de lado; o licenciamento de 551 Pequenas Usinas Hidrelétricas “se arrasta” na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANNEL). Além da esdrúxula política de retardo da ANNEL a construção de hidrelétricas esbarrana lentidão de órgãos ambientais. Ambos se esforçam ao máximo para manter o Brasil subdesenvolvido. O Governo já sabe disto. Que então mostre coragem e acabe com esses nefastos órgãos que agem em nome do Estado para prejudicá-lo. Que oportunidade!
Falar mal – Há pessoas que insistem em só falar mal de suas Pátrias. Imagino que também falem mal de suas mães. Há coisas que não se espalha, mesmo que seja verdade.
Privatização tucana e petista
 
 A AES, multinacional que comprou a Eletropaulo, sem colocar um centavo, deixa rombo bilionário. O Brasil pagará a conta. Ela recebeu dois empréstimos do BNDES, que totalizam US$ 1,2 bilhão. Não pagou, ofereceu em garantiaas ações da própria Eletropaulo, que não valem um terço disto. Afirmou que pagaria com os lucros da empresa, conseguidos por uma administração privada, portanto eficiente, e para acabar com o “cabide de empregos” da Estatal demitiu 7 mil, mas contratou 17 vice-presidentes, quase todos americanos, com salário superior a R$ 30 mil, casa, carro, e uma série de outros benefícios.. A eficiência da administração privada era ilusão. Apenas eficiente a generosidade com os sócios contr oladores; as remessas de dividendos chegaram a US$ 320 milhões em três anos às custas do caixa da empresa.
O caso Eletropaulo foi o exemplo das falhas da fúria da privatização/desnacionalização do FHC, em que se misturam traição e incompetência. A empresa será retomada, mas um novo leilão, agora pelo PT, já foi marcado pela venalidade. O BNDES recebeun orientação para emprestar recursos, novamente para um comprador estrangeiro.” que só aumentou. Esta empresa distribuiu aos sócios resultados reais e fictícios. Nada contra as empresas privadas, mas dessa forma? O atual governo, neste ponto, precisa ser diferente do entreguista FHC e do covarde Lula. Há que apoiar os empresários nacionais e as empresas nacionais de capital nacional.mesmo amargando com algum prejuizo.
Se temos empresarios nacionais excessivamente ambiciosos, os estrangeiros se revelam verdadeiros bandidos, pelo menos no nosso território.
Mentira?
Não deu para acreditar, mas saiu na internet que a Presidente teria mandado prender 150 militares da Reserva, inclusive generais, que haviam manifestado seu desagrado com a comissão da “verdade”. Não acredito, mas se verdadeiro pode me incluir na relação, pois considero a tal comissão, além de parcial e injusta, o maior erro do seu governo e que custará caro.
O momento político
 
Até pouco tempo se cogitava que haveria um atrito entre a Presidente e seu antecessor, na medida em que fossem retirados os incompetentes (quando não ladrões) ministros colocados por este último. Que o Lula, incoformado, tentaria bloquear a reeleição e que Dilma seria forçada a mudar de partido caso se decidisse a enfrentá-lo.
Os últimos acontecimentos convenceram ao Lula que seu telhado de vidro estava muito fragilizado e para manter a influência teria mesmo que engolir a Dilma. O tempo dele acabara. Pode vir a ser candidato ao Senado por São Paulo, para ajudar o PT a conquistar o Palácio dos Bandeirantes, mas Luiz Inácio Lula da Silva sentiu que não se elegeria Presidente da República em 2014 disputando com a Dilma.
Então Lula fala em sair em caravana em apoio da reeleição da Dilma. Isto reforçará os laços, prendendo pelo menos parcialmente a Presidente no corrupto esquema do PT. Lula também já conseguiu eleger seus aliados “ficha suja” para a presidência do Senado e da Câmara, mesmo contra a opinião pública. Isto reforça o seu poder de distribuir cargos a companheiros mais amigos do que sérios. Que pena!
Naturalmente esse não é o melhor dos mundos, mas é muito melhor do que deixar o nosso País nas mãos dos que querem destruí-lo deliberadamente e entregar as riquezas naturais aos ambiciosos estrangeiros. O melhor cenário seria a atual Presidente livre da influência do antecessor e mais aliada aos verdadeiros nacionalistas.
Que Deus guarde a todos nós
 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Finança Mundial




Adriano Benayon *

Novos dados informam que somente cinco bancos têm ativos de 8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB dos Estados Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo.

02. Os dez maiores bancos do mundo teriam US$ 6,4 trilhões dos mais de US$ 30 trilhões aplicados nos paraísos fiscais (offshore). Somente 92 mil pessoas (0,001% da população mundial) possuem US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos EUA só 400 indivíduos teriam riqueza igual à de 50% da população do país.

03. Aí estão ilustrações do que tenho exposto: os concentradores aumentam seu poder durante a depressão econômica e não têm interesse em que ela acabe.

04. Durante as fases de crescimento real da economia, após certo tempo, a finança começa a crescer mais que a produção de bens e serviços, inclusive porque os lucros crescem mais rápido que os salários.

05. Além disso, no setor produtivo as fusões e aquisições de empresas levam a aumento da concentração. Após um tempo, os salários, exceto o de muito poucas categorias, começam a decrescer em termos reais, perdendo para a inflação dos preços.

06. Paralelamente, como é natural, a demanda por bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as bolhas, como foi o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do colapso financeiro iniciado em 2007/2008.

07. Entretanto, essa não é a única nem a principal bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados financeiros, como foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a imensa que a ela se seguiu, a dos derivativos.

08. Nesta foram gerados mais de 600 trilhões de dólares, nos computadores do sistema financeiro: títulos montados em cima de outros títulos e de coisas irreais, como: apostas em inadimplência de títulos (credit default swaps) e em índices de taxas de juro, de taxas de câmbio; operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo, na alta e na baixa dos mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na elevação dos juros dessa dívida, como fez o Goldman Sachs com a Grécia, entre outros.

09. Assim, a par da concentração e maior oligopolização dos setores produtivos, a financeirização da economia foi assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode definir como a formação de ativos financeiros em proporção exponencialmente maior que a dos ativos reais e produtivos.

10. Após anos nessa escalada, é natural que os preços desses ativos também aumentem exponencialmente e que, em determinado ponto, se verifique sua irrealidade, o que dá início ao estouro das bolhas.

11. Esse ponto foi atingido em 2007/2008, e a partir daí os preços dos ativos começam a cair. Os devedores viram-se presos numa armadilha, pois continuaram tendo que pagar as dívidas, e muitos deles não mais o puderam fazer, tendo suas casas sido tomadas pelos bancos.

12. Hoje nos EUA as dívidas dos estudantes ultrapassaram US$ 1 trilhão, e os saldos devedores dos cartões de crédito chegam a U$ 800 bilhões.

13. Em 2007/2008, as empresas de muitos manipuladores financeiros entraram em dificuldades, embora não os seus donos e executivos, que haviam transferido, para si mesmos em outras destinações. a maior parte dos lucros com a especulação, movida através de alta alavancagem (uso de margem mínima de capital próprio nas operações financeiras).

14. Os grandes bancos ficaram praticamente falidos quando a bolha levou a perceber que o valor real dos derivativos não correspondia senão a pequena fração, próxima a zero, do valor nominal desses títulos.

15. Então, por que não foram liquidados, o que teria permitido aos Tesouros nacionais dos EUA, e de vários países europeus, por exemplo, sanear as finanças e a economia?

16. Porque os Tesouros e os bancos centrais os salvaram, com dezenas de trilhões de dólares e de euros dos contribuintes e principalmente com emissões de dinheiro (especialmente nos EUA) e de títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor nominal os títulos podres dos bancos e empresas financeiras.

17. Os pseudo-governos desses países têm o desplante de dizer que são democráticos. Os grandes bancos os controlam, como controlam "mercados financeiros".

18. Tal é a manipulação nesses mercados, que, apesar das dezenas de trilhões de dólares criados do nada , o preço do ouro permanece no patamar em que terminou o ano de 2011 (US$ 1.650 por onça), depois de haver atingido naquele ano o pico de quase US$ 2.000.

19. O jornalista financeiro Evans-Pritchard publicou artigo no The Telegraph, de Londres (13.01.2013), em que diz estar o mundo caminhando para um padrão-ouro de fato, no qual o metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da moeda chinesa e de outras com potencial de solidez.

20. Ele se baseia no relatório “GFMS Gold Survey for 2012”, segundo o qual os bancos centrais compraram mais ouro em 2012 do que em qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas reservas em 536 toneladas.

21. Como ele recorda, os bancos centrais de países da órbita anglo-americana (Reino Unido, Espanha, Holanda, Suíça e outros) firmaram, há anos, o acordo de Wahington, comprometendo-se a regularmente fazer vendas de ouro, sustentando as moedas inflacionadas (dólares principalmente).

22. Nessas operações – especialmente o Banco da Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois o preço do ouro aumentou de US$ 300 em 2003 para o atual nível, superior a US$ 1.600.

23. Outro sinal foi a decisão do parlamento da Alemanha de trazer ao país seus estoques de ouro guardados nos EUA e na França, havendo dúvidas sobre se os EUA ainda têm o que oficialmente consta.

24. Há enorme potencial para as compras principalmente pela China, que teria o projeto de elevar suas reservas de ouro para 2% de suas reservas totais.

25. Isso ainda é muito pouco já que o dólar e o euro não têm condições de justificar o otimismo, do ponto de vista do cartel dos bancos, de que essas duas moedas permaneçam como as principais divisas mundiais.

26. A dívida pública e o déficit federal dos EUA, depois de ultrapassarem o PIB desse país, com montantes acima de US$ 16 trilhões, continuarão sendo financiados com emissões de moeda e de títulos públicos, os quais estão perdendo adquirentes, salvo o Federal Reserve.

27. A China detém algo próximo a 1,2 trilhões desses títulos, mas, há um ano, esse montante era maior, e ele só representa um terço das reservas totais, enquanto o Japão chegou a quase aquele valor, que, no caso dele, representa mais de 90% de suas reservas. A meta da Rússia é aumentar a reserva de ouro para 10% das totais, hoje da ordem de US$ 560 bilhões.

28. Próximo artigo: a situação do Estado no Brasil e na Argentina.

* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.