terça-feira, 31 de maio de 2016

Loucos pela Política, desinteressados pelos problemas

 
Aylê-Salassié F. Quintão *  

 
           “Sou louco pelo poder, seduzido pelo poder... É para isso que eu vivo.” A declaração não foi de Temer, não foi do Renan,   não foi da Dilma ou o do Lula. Foi de Ulysses Guimarães, o dom Sebastião do PMDB, numa entrevista a jornalista Sylvia Popovich.  Procurava ela uma explicação para   insegurança dos cidadãos diante das atitudes dos políticos.  Com a orgásmica  resposta, Ulysses revelava a vocação de um grupo de pessoas que circulam pelo Poder do Estado,  pouco sensíveis aos problemas da corrupção, dificuldades na Previdência, preocupação com os  índices da inflação, com o salário mínimo, com o emprego e o desemprego. Uma patologia,  supostamente benigna, mas, no fundo, indiferente aos problemas vividos pelo País e pelos indivíduos no seu cotidiano. No fundo incorpora o raciocínio daquele ditador, segundo o qual “ A morte de uma pessoa é dramática, a de milhões é apenas uma estatística.”       

             De Ulysses para cá o Brasil viveu várias crises, mas parece que nada mudou. Os políticos distraem-se com  elas, enquanto a população angustia-se desorientada. Nem Temer, nem Meireles, nem Aécio, nem a esperta Marina falou ainda ao coração dos cidadãos. As diretrizes do novo governo  não são suficientes para prever o que pode acontecer.  Mesmo porque  é de difícil para o homem comum compreender  porque Temer é acusado de  “ não ter legitimidade”, Dilma de ser impedida de governar, Jucá de ter  atentado contra a Lava Jato, oitos ministros com processo na justiça governarem o País. Como digerir o fato de Gilmar Mendes ter devolvido ao Ministério Público a investigação sobre Aécio,  Sergio Machado e outros continuarem a fazer  lambança, metade do PMDB  não fechar com o Governo? Confunde também partidos como o PSOL, Partido Verde e o Solidariedade  não enxergarem a corrupção que o Tribunal de Contas denunciou, nem conseguirem explicar o déficit orçamentário, anunciado inicialmente em R$ 24 bilhões, e que foi oficializado em R$ 170 bilhões. São situações e valores tão extraordinários que não dá, sequer  para imaginar a sua materialidade monetária  . É o mundo da Política.

           O cotidiano da vida política parece algo tão confuso que o cidadão termina por sentir-se desamparado  e, ao mesmo tempo, inibido .  De tal forma  que  o indivíduo  evita emitir opiniões políticas (Noelle Neumann) para se preservar, diante do imponderável.  “ A vida voa na sua cara, esbarra no seu rosto, suja sua vaidade, corrompe suas certezas, e você não pode fazer nada, a não ser lavar o rosto e começar tudo de novo” (Tati Bernardi).O homem comum precisa conhecer  como funciona a política na cabeça dos políticos.

          Apesar do “contrato social” – relação de interdependência e confiança entre a sociedade e o governante, o político -  as expectativas dos cidadãos estão colocadas no que se chama de Políticas Públicas , que não é a mesma Política a que se referiu Ulysses. Há uma clara distinção entre a Política como a disputa e conquista do Poder do Estado  e a política como  espaço de gestão dos problemas da sociedade por meio das Políticas Públicas. São dois institutos  ligados entre si, porém distintos.

           A Politica tem como motivação imensos privilégios que transformam em autoridades cidadãos comuns em membros do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário (os Três Poderes). Entre suas prerrogativas passa a desfrutar do  poder de coersão  sobre a sociedade, de manuseio do dinheiro, do patrimônio e dos cargos públicos,  da gestão das forças armadas  e da soberania nacional ante outros estados. Daí a insistência em tomar ou permanecer no Poder.  Para ampliar a base de apoio, o político seduz  colegas  e até inimigos , a maioria das vezes com dinheiro público. Político profissional, Ulysses justificava-se, definindo a Política como um “ espaço  de entendimento e de confronto   para a tomada o Poder”
   
            Então tem-se, de um lado, a Política, essa figura tresloucada e orgásmica e lá dentro, na pluralidade segmentada do Executivo, as Políticas Públicas . São elas  que dão  materialidade as ideologias partidárias e aos sonhos exclusivos de alguns indivíduos no Poder: política  agrícola, de educação, de saúde, de economia, de transportes e outras. São áreas que exigem conhecimentos qualificados, para as quais os políticos  são atraídos devido aos recursos envolvidos em cada uma. Disputando avidamente  os cargos de gestores:  ministros, presidentes, diretores, assessores. Esss cargos premiam frequentemente pessoas que não tiveram o respaldo das urnas.

            Seria ideal que as Políticas Públicas estivessem desvinculadas da Política enquanto espaço de luta pelo Poder. O nosso presidencialismo é um suicídio: um dia você tem um presidente socialista, um progressista;   no outro, um conservador, um liberal. Uma descontinuidade sistêmica. Isso confunde a população, as Políticas Públicas e os próprios políticos.   Seus reflexos tanto podem favoráveis aos empoderados e seus cúmplices na sociedade civil, como pode refletir negativamente sobre a imagem do Estado e a estrutura da sociedade. Assim, pensar num parlamentarismo talvez não seja uma ideia tão esdrúxula.
Jornalista, professor. Doutor em História Cultural.

A teoria das elites, o sentimento de solidariedade e o homem-bomba Sérgio Machado

José Everaldo Ramalho *
 
A teoria das elites nos ensina que o poder estatal, em qualquer sistema político, tem se concentrado sempre nas mãos de grupos, ou elites, que lideram a sociedade em nome da maioria dos cidadãos, considerados, através dos tempos históricos, como massa de manobra, para o bem ou para o mal, até no moderno Estado democrático de Direito.
Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto descreveram a massa como um amalgama de cidadãos desorganizados e de comportamento imprevisível, apontando, em seus estudos, as demonstrações populares na forma de violentas greves gerais que surgiram nas cidades industrializadas dos países europeus no início do século XX.
Robert Michels é outro teórico das elites que soube enxergar uma “lei de ferro das oligarquias”, segundo a qual os políticos, ao se entronizarem nos partidos políticos deles se tornam proprietários, e graças às facções que comandam no ambiente partidário, no Congresso Nacional e no poder Executivo, jamais podem ser apeados dos nacos de poder que dominam por décadas a fio.
Os teóricos das elites também souberam enxergar como um líder carismático pode se impor perante a massa, como disse Max Weber, desempenhando um papel populista, por exemplo, formulando e implantando políticas públicas distribuidoras de bolsas de estudo e casas de baixo custo que trazem embutidos os juros que fazem a felicidade de grandes instituições bancárias e de empresários da construção civil, e até investimentos de alto nível tecnológico que possibilitam o desvio de grandes somas de recursos do Tesouro Nacional e dos cofres de empresas estatais, como a Petrobrás em nosso país, diretamente para os cofres do seu próprio partido político e dos partidos seus aliados.
Souberam ainda enxergar, os teóricos das elites, que uma doutrina como o marxismo, que pregava a revolução armada do proletariado para a tomada do poder, inaugurando a sociedade sem classes e sem Estado, sob a liderança de uma nova classe trabalhadora industrial, viu os novos líderes empalmarem o poder e transformarem-se em uma nova elite que deixou a massa, mais uma vez, fora dele.
Hoje, os teóricos marxistas e os partidos políticos que se dizem de esquerda, contrariando Vladimir Lenin e aceitando o que Karl Marx previu e Karl Kautsky pregou, buscam chegar ao poder, e nele se eternizar, utilizando os sistemas eleitorais e as reformas constitucionais que a democracia aceita, e até defendem que a organização estatal não deva ser destruída, e sim aparelhada em proveito próprio, exatamente como as elites do poder o fazem.
Por fim, ainda quanto aos teóricos das elites, o conhecido C. Wright Mills formulou o conceito de “elite do poder”, constituída por políticos, dirigentes corporativos, militares e até líderes sindicalistas, do qual se aproveitou o presidente norte-americano Dwight David Eisenhower, para, em discurso ao final do seu mandato, alertar que a sociedade do seu país precisava ficar atenta ao desempenho do novo conjunto elitista, que denominou de complexo industrial-acadêmico-militar.
 Vamos, finalmente, após tão longo preâmbulo, adentrar no assunto principal deste artigo.
No Brasil de hoje, a massa é informada a todo instante, praticamente no decorrer de todo o seu extenuante dia de trabalho, graças aos avanços tecnológicos da telemática, por exemplo, com seu diabólico grampo telefônico, e ao trabalho investigativo da Operação Lava-Jato, sobre o comportamento das elites do poder no país, melhor ainda, sobre as tramas e tentativas de conspirações de lideranças que tiveram a oportunidade do exercício de altos cargos no aparelho do Estado, até da Presidência da República, para continuarem circulando no poder, como bem quiserem e sem ter que prestar contas ou serem incomodados pelos malfeitos praticados contra as finanças públicas que deveriam aplicar com eficiência na busca do que se considera o bem comum.
Em 2013, a massa brasileira, cansada de ser sempre passada para trás pelos governantes e pelos políticos, foi às ruas reivindicar mudanças no ultrapassado modus operandi da política nacional, e se Mosca e Pareto vivos ainda fossem, teriam que incorporar às suas argutas observações o surgimento de novas técnicas de protesto no cenário do deslocamento do populacho enfurecido e desencantado, pois surgiram grupos, nominados de black blocs, que se misturam às multidões insatisfeitas e aproveitam para destruir as vidraças iluminadas e incendiar veículos e latas de lixo expondo, com esse expediente, um modelo de capitalismo em apuros, avançando em passo acelerado para despencar no abismo.
Luiz Inácio Lula da Silva entende muito do tema “elites do poder”, pois, quando no exercício da presidência da República brasileira, em inúmeras oportunidades se utilizava da expressão para responsabilizar setores da sociedade pelo descaso com a questão da inclusão social, uma herança maldita que o Brasil construiu e arrasta por mais de cinco séculos, e que o seu governo petista, acreditava ele, estava resgatando por meio de bolsas-disso e bolsas daquilo que aceleravam o consumo e davam sustentação ao parque industrial, enquanto se construía uma economia sustentável e uma melhor qualidade de vida.
Confirmando a tese weberiana de que o líder carismático é aquele que é escolhido pelo voto e é possuidor de dons pessoais extraordinários, Lula, sem nunca ter lido “A política como vocação”, entende tanto desse negócio das elites do poder que aproveitou para se tornar um de seus membros, isso em apenas oito anos como presidente da República, e seu bilhete de ingresso foi uma defesa apaixonada do ex-presidente José Sarney como um cidadão acima de qualquer suspeita, ou melhor, como um cidadão diferenciado que deve pairar nas nuvens, acima de qualquer conjunto de leis humanas vigentes no país.
E para dar continuidade ao projeto petista de poder, depois de oito anos, Lula elegeu uma cidadã que nunca se dera ao trabalho de enfrentara o desafio das urnas, uma revolucionária em tempo integral e fiel seguidora do modo petista de governar, protegendo petistas e aliados a cada nova descoberta da Operação Lava-Jato, mas que nada entendia desse negócio de lidar com as elites em permanente luta pelo poder, e que enquanto rondam o poder ao qual se associam, não abrem mão do assalto aos cofres públicos.
Em pouco tempo, antes mesmo de dar início ao seu segundo mandato presidencial, a criatura escolhida por Lula viu seu governo, que jurava ser de uma solidez absoluta no quesito das finanças públicas, desmanchar-se no ar, em decorrência de inúmeras decisões e tropeços administrativos por ela cometidos, tudo estampado nas manchetes da mídia impressa e eletrônica para conhecimento do eleitorado desiludido com a política, ao mesmo tempo em que grampos telefônicos assombravam a opinião pública revelando as conversas entre políticos, dirigentes de empresas estatais e empresários dividindo entre si a malversação dos dinheiros arrecadados do cidadão comum, afinal, pecunia non olet, dizia o imperador romano Vespasiano ao seu filho Tito, que reclamava do novo imposto sobre os esgotos, uma criativa invenção do pai, ainda no ano 69 d. C., e que, em tempos modernos ganhou o significado de ganhos moralmente censuráveis.
Enfim, chegamos aos surpreendentes grampos do homem-bomba Sérgio Machado, um político que assumiu o posto de dirigente de uma estatal como a Petrobrás por obra e artes do princípio da circulação das elites, e envolvido, como manda o figurino do presidencialismo de coalizão, em repasses de “dinheiro que não cheira mal” a um diretor da petroleira que, aprisionado pela Polícia Federal, resolveu abrir-o-bico garantido pelo instituto da delação premiada.
Os diálogos revelados pelos grampos do homem-bomba deveriam ser apresentados e discutidos, em todo o Brasil, pelo alunado de sociologia, de política e de direito como peça fundamental para se entender os conceitos revelados pela teoria das elites, dentre eles o fundamental conceito que aborda a questão da circulação das elites.
Apanhado pelas redes da Operação Lava-Jato, também optando como seu delator pelo instituto da delação premiada, o homem-bomba gravou alguns dos companheiros políticos em conversas que revelam como circulam as elites brasileiras no caminho desesperador do esforço para manutenção do status quo da impunidade dos poderosos, que se lhes salve a pele ainda que se danem as instituições, o povo, as leis positivadas ou o país por inteiro.
Para começar, deveriam ler o texto extraído de um grampo telefônico, no jornal Folha de S. Paulo, edição de 28 de maio de 2016, que reproduz a revelação de Luiz Inácio Lula da Silva, chorando, segundo o ex-presidente José Sarney, e mostrando-se arrependido pela escolha de Dilma Vana Roussef para exercer a presidência da República do Brasil. Pode-se imaginar que Lula acreditava poder tirar umas férias de quatro anos enquanto Dilma exercia seu primeiro mandato, e ele, ora, ele espalharia a imagem do “I’m the one !” ( “Eu sou o cara,” que o presidente norte-americano Barack Obama lhe pespegou, com o verbo na segunda pessoa: “You’re the one!”), ao mesmo tempo em que vendia, literalmente, o serviço das grandes empreiteiras nacionais em terras africanas e sul-americanas.
As gravações do homem-bomba comprometeram o senador Romero Jucá, titular do Ministério do Planejamento do governo interino de Michel Temer, que foi obrigado a se exonerar do cargo, o ex-presidente José Sarney e até a presidente afastada, Dilma Rousseff, além de envolver o tucano senador Aécio Neves, provável presidenciável para 2018.
Segundo os investigadores da Operação Lava-Jato, tudo indica que o homem-bomba teria produzido mais provas contra políticos de diferentes partidos, ou seja, as elites brasileiras em seu processo circulatório vão se beneficiando com “dinheiro que não cheira mal” ao mesmo tempo em que estocam provas que comprometem toda a classe política e empresarial ao seu redor, independente de partido, facção política ou grupo empresarial, em outras palavras, todo aquele que fizer parte do conjunto da obra de malversação dos dinheiros arrecadados do povo.
Em sua explicação de participante do grampo telefônico, o ex-presidente José Sarney argumentou que manteve o diálogo com o homem-bomba imbuído de sentimento de solidariedade em uma hora tão difícil e desesperadora, tão carente de uma palavra de conforto.
Incrível como o sentimento de solidariedade mantém unidos os membros de uma elite política que trama a eliminação de institutos jurídicos de combate a ações criminosas, num amparo tribal que só beneficia a quem, eleito pelo povo que acredita no instituto da representatividade, se especializa em assaltar os cofres públicos supridos pelo mesmo povo que entrega o poder do Estado em suas mãos.
O senador Aécio Neves, futuro candidato presidencial, e a presidente afastada Dilma Rousseff, deram as desculpas de sempre, que se comportam com toda a lisura que os cargos políticos exigem. E não só eles, mas também um grande elenco de parlamentares também denunciados que se viciaram nesse padrão de desculpa do “eu me comporto com toda a lisura que a pompa e a circunstância do cargo exigem”.
Já o senador Romero Jucá, fez comentários sobre a necessidade de enquadramento da Operação Lava-Jato, sobre o incomodo da delação premiada e até sobre a necessidade de uma conversa com os juízes do Supremo Tribunal Federal, para atraí-los para um acordo geral que desse um fim a tanto ativismo judicial contra as elites envolvidas na crise política, ética e moral que aflige o Brasil enquanto invade e arrebenta as arcas do Estado em proveito próprio.
Muito interessante, porque revelador do modus operandi das elites brasileiras, é o instante em que o ex-presidente José Sarney e o homem-bomba concordam em tentar resolver o imbróglio “Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado”, porque “Advogado é perigoso”, donde se pode concluir que mesmo para um advogado será difícil desfazer as acusações do Ministério Público fundamentadas em provas levantadas pela Operação Lava-Jato, só lhes restando o velho expediente do acordo que passe uma borracha nos próprios malfeitos para que se mude o cenário da política, mas tudo continue como sempre foi, o melhor dos mundos para a classe dominante.
Outro raciocínio interessante é aquele de mudar o mecanismo da delação premiada, fazendo com que ela só possa ser considerada legítima se o delator estiver solto, pois a elite dominante deste país é muito ciosa do respeito aos direitos humanos de quem pratica atos delituosos, mais ainda se os delinquentes forem criaturas pertencentes ao círculo das elites do poder.
Por este argumento das elites, um larápio de bagatelas pode pagar pelos crimes que comete encarcerado por muitos anos no esplêndido sistema prisional brasileiro, que um Ministro da Justiça, promotor de profissão e ex-deputado petista, no governo da presidente Dilma Rousseff, disse preferir se suicidar a ter que responder por delitos em suas celas.
A Operação Mani Pulite, na Itália, teve início com o flagrante de um suborno de apenas três mil euros, uma incrível semelhança com os três mil reais que deram início ao flagrante de suborno que levou à descoberta do “mensalão” brasileiro, e, mais adiante, ao impressionante assalto aos cofres da Petrobrás e de outros ícones organizacionais estatais, num circuito de corrupção logo apelidado de “petrólão”, dado à luz pela Operação Lava-Jato.
A Operação Mani Pulite, em pouco menos de três anos (1992-1994), investigou mais de cinco mil pessoas, dentre estas prendeu umas mil, e desfez o tradicional acordo de assalto ao tesouro público existente há cinco décadas, mas acabou desmontada pela ação de novos políticos que se alçaram ao poder na Itália e, temerosos de serem alcançados pela onda de ativismo judicial que varria o país, conseguiram paralisá-la e, finalmente, desativá-la.
 A operação italiana foi marcada por suicídios de políticos e de empresários, envergonhados ou desiludidos, dizem os analistas acadêmicos e da imprensa, e até um primeiro-ministro exilou-se na Tunísia para não ser preso, e por lá morreu, e os dois principais partidos políticos que davam sustentação ao esquema de corrupção, a Democracia Cristã e o Partido Comunista Italiano, desapareceram. Por fim, dizem os italianos que a corrupção instalou-se novamente no país.
E no Brasil, será que a Operação Lava-Jato autonomizou-se de verdade? Ou será que a poderosa elite circulante brasileira, conseguirá fragilizar, desarticular ou paralisar a Operação Lava a Jato e, finalmente, desativá-la? Teremos ou não suicídios na terra brasilis? E políticos exilados, teremos? E quais partidos políticos serão tragados pelo tsunami da Lava-Jato? Surgirá ou não um novato político, magnata das comunicações como Sílvio Berlusconi, com o poder econômico, o carisma e a vontade suficientes para ingressar no ambiente político disposto a enfrentar a justiça e a consciência da cidadania desesperançada, ainda que bem informada, que aguarda um desfecho favorável à complexa sociedade brasileira, nesse imbróglio político? Com a palavra, os senhores proprietários das poderosas redes de telecomunicações nacionais.
José Everaldo Ramalho, 76, graduado em Direito com especialização em Parlamento e Direito, Ciência Política e Pedagogia, foi CNE na Comissão do Mercosul por duas décadas na Câmara dos Deputados em Brasília.

Pílulas do Vicente Limongi Netto


Machista
Pela forma cínica, leviana e torpe como o delegado conversou com a adolescente vítima de um estupro coletivo, no Rio de Janeiro, parece até que o próprio delegado também participou da barbárie.
FHC tremeu
O vaidoso, deslumbrado e sábio de proveta, FHC, foi homenageado em Nova Iorque. A seguir, cancelou participação num congresso acadêmico onde seria alvo de ameaças de protestos contra o apoio do PSDB ao governo Michel Temer. Hélio Fernandes tem razão: "Coragem moral não é o forte de Fernando Henrique".
Inocente
Não existe rigorosamente nada que deponha contra o cidadão e servidor público aposentado, Vandenbergue Machado Sobreira. Vandenbergue atua no Congresso há muitos anos, tratando e cuidando dos interesses maiores do futebol brasileiro. O trabalho dele é correto e merecedor de elogios de parlamentares dos mais diversos partidos.
As conversas gravadas de Vandenbergue com o senador Renan Calheiros são republicanas. O rápido diálogo entre os dois não tem nada comprometedor. Desocupados e descaídos de espírito gastarão vela à toa, imaginando enredar Vandenbergue em atos ilícitos. Não é do feitio de Vandenbergue tomar atitudes mesquinhas e sorrateiras.
Machado delator
Aplausos ao colunista Gilberto Amaral por repudiar (Jbr -31/5) a atitude covarde, canalha, torpe e irresponsável da excrescência humana Sérgio Machado, gravando conversas com pessoas com as quais conviveu durante anos. Não gastarei vela com defunto tão patife e ordinário como Sérgio Machado. Este ex-senador e ex-diretor da Transpetro não passa de um pulha. Machado não é homem, mas uma ratazana gorda merecedora do desprezo da humanidade.
O "ladrão e bandido", na definição do senador Cássio Cunha Lima, Sérgio Machado, desta vez deu tiro no próprio pé, gravando conversa com o senador Renan Calheiros. O presidente do Senado e do Congresso Nacional não disse nada comprometedor. Nem para ele nem para o País. Nos diálogos com o dedo - duro Sérgio Machado, Renan deu excelente e oportuna sugestão. A seu ver, todo preso na Operação Lavajato não pode ser transformado em delator. Ou seja, na maioria das vezes, os delatores mentem, inventam situações, acusam sem, provas, apenas para livrar a própria cara. Como é o caso em tela do ex-senador Sérgio Machado. Sujeito como ele não deve nem pode ser levado a sério.
Besteirol
Toda vez que Dilma abre a boca, para desfiar seu rosário de mágoas (Poder- 29-5) aumenta o descrédito do Brasil no exterior, além de desestabilizar a economia, já em frangalhos, por culpa dela. Temer e o povo devem agradecer duplamente ao deputado Eduardo Cunha, por colocar em votação o impeachment, na Câmara e por inviabilizar o crescimento da farsa petista.
No Rio, Aécio Neves é insultado na praia; em São Paulo, filho de Michel Temer é xingado quando vai ao colégio; jovem é estuprada por 32 canalhas no Rio de Janeiro; marginais queimam ônibus em São Luiz; grupo do MST invade prédios públicos  em Brasília; jogador do flamengo tem o carro apedrejado no Rio; Artistas sofrem com racismo nas redes sociais.  Cenas deploráveis que têm de acabar. É intolerável a escalada da intolerância. O ódio tomou conta do bom senso. A estupidez vence a compostura.  A irresponsabilidade contamina o respeito e a educação. As leis precisam ser respeitadas. Nada, rigorosamente nada, justifica que pessoas que pensam diferente, que têm opinião contrária, sejam escorraçadas em locais públicos. A escória rancorosa não pode vencer.
Ninguém merece ser tripudiado. Homens de bem, felizmente a maioria esmagadora dos brasileiros, precisam lutar unidos, contra o rancor e a brutalidade que toma conta dos corações. Tem que imperar o sentimento da ordem. Não só no lar, mas na escola, no trabalho e no convívio da sociedade.
Por sua vez, os governantes precisam trabalhar para diminuir as injustiças. Com mais oportunidades para a maioria. As injustiças liquidam com as esperanças da juventude, que, como refugo, acolhe-se no torpor do vicio, para anestesiar os espinhos do desencanto.
Kaká de volta
Na seleção, Douglas Costa foi cortado e o técnico Dunga chamou Kaká. Ou seja, o lugar de Douglas Costa ficou vago.
PSOL
Parasitas, demagogos, recalcados e incompetentes do PSOL levaram um estrondoso e humilhante pontapé no traseiro do STF. Quebraram a cara. Os imundos do PSOL, eternos fantoches dos holofotes fáceis, pretendia tirar do deputado Eduardo Cunha as verbas de representação as quais tem direito por lei. Vagabundos do PSOL deveriam começar a trabalhar pela coletividade. Para isso foram eleitos. Mas, a maioria não será reeleita. Voltará para casa com o rabo entre as pernas. O eleitor cansou de bravatas de politiqueiros engravatados. Chupem cana.

Nem Dilma e nem novas eleições


Os órfãos de Dilma Rousseff podem continuar chorando pelo resto da vida, porque ela não volta mais para governar. O máximo que poderia acontecer, numa hipotética rejeição do impeachment no Senado, seria Dilma reassumir pelo tempo suficiente para convocar eleições à Presidência da República, pois ela já não dispõe de condições mínimas para governar. Mas, o impeachment é irreversível.
Mas, por que ainda se fala na volta de  Dilma? Porque seria de interesse de um dos principais grupos de investidores internacionais dispostos a conquistar  e manter o poder do Brasil. A política é a arte de conquista e manutenção do poder. O grupo de Dilma perdeu a chance de permanecer, e agora quer tentar voltar ao poder. Vale tudo nessa empreitada, desde a compra de simpatizantes até a luta armada.
O grupo que apoia Dilma e Lula não é o mesmo que apoia Michel Temer. Um terceiro grupo, euro-americano, quer eleições diretas para tentar colocar Marina Silva na Presidência. Está fazendo dobradinha com o grupo que investe no senador Cristovam Buarque e outros senadores que ameaçam votar contra o impeachment.
Não se trata de simpatia pela volta de Dilma, mas sim para que ela viabilize, com breve retorno, a convocação de eleições diretas, coisa que o grupo de Temer não deseja e não permitirá, em condições normais de temperatura e pressão. O senador Cristovam sofre ainda pressões para votar contra o impeachment em sua zona eleitoral, o Distrito Federal, por conta do governador do Partido Socialista Brasileiro –PSB- em Brasília, Rodrigo Rollemberg, que é simpatizante de Marina Silva.
Há um quarto grupo, fincado no Oriente, que acompanha por fora o desfecho da disputa pelo poder político no Brasil, disposto a lançar suas cartas tanto na permanência de Temer quanto na volta de Dilma para convocação de eleições diretas. Esse grupo não estaria ausente do leilão do impeachment no Senado e poderia engrossar a lista dos contrários. Tem voto e tem força política, mas não faria um presidente diretamente.
Fica assim definido o quadro do impeachment no Senado: Ele virou leilão de votos pela permanência de Temer ou pela convocação de eleições diretas viabilizadas por breve retorno de Dilma, que, voltando ou não,  renunciará no momento certo para poder voltar à política dentro de dois anos.
O busílis dessa disputa é a influência da “Operação Lava Jato”, que já ceifou dois ministros do Governo Temer, o do Planejamento, senador Romero Jucá, e o da Transparência, Fabiano Silveira... Certamente, não vai parar por aí. Temer deve perder mais membros de sua equipe, mas não está preocupado com isso. Ele os nomeou conscientemente, para ganhar base parlamentar para as medidas que está implementando, sabendo que haveria riscos, em face da contaminação geral do sistema político brasileiro atual. Mas, o “tecelão de Tietê” vai aos poucos ganhando aprovação de medidas importantes para recuperação da economia brasileira e continua sendo a pedra angular de todo esse processo.
No momento, essas delações da “Lava Jato” vão sendo desdobradas contra todos os partidos, mas o Partido dos Trabalhadores-PT-, com o ex-presidente Lula e a presidenta afastada Dilma, são os alvos mais sensíveis e de maior impacto junto à opinião pública.
O juiz |Sérgio Moro, que comanda a “Lava Jato”, está pronto para deflagrar as prisões mais contundentes, no momento em que o grupo internacional que apoia Michel Temer entender que os seus interesses de manutenção do poder estejam sobre forte ameaça. São cartas na manga para serem lançadas, se preciso for, na hora certa. Lula, Dilma et caterva sabem disso; não vão dispensar seus acólitos e militantes, em ano de eleições municipais, mas, também , não vão cutucar a onça com vara curta... É uma questão de força, e contra a força maior o jeito é mostrar resiliência. Michel Temer já avisou que vai procurar Lula depois do impeachment.
Em suma: O ritmo da “Lava Jato” não é independente do processo que levou Temer ao poder. Não foi golpe, pois Dilma e Lula fracassaram deixando o País com dívidas, milhões de desempregados e sob um mar de corrupção, consubstanciados no “Mensalão”, no “Petrolão”, Eletrobrás e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico -BNDES-, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, etc.

 

 

 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Começa hoje o Governo Temer

Proposta de aprovação de um déficit fiscal de 170,5 bilhões de reais para 2016, flexibilização das regras de exploração do petróleo do pré-sal, captação de 100 bilhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES- e utilização do Fundo Soberano (poupança do Pré-Sal para a educação), no valor atual de dois bilhões de dólares,  além de contenção de gastos do governo em diversos setores, são algumas medidas anunciadas hoje pelo vice-presidente em exercício, Michel Temer, que irão testar a sua força no Congresso Nacional. Pode-se afirmar que hoje começa o governo Temer.
Deve ter sido difícil para um político com a cancha de Michel Temer ficar como vice-presidente de Dilma Rousseff, uma amadora e neófita em política. O tecelão de Tietê foi presidente da Câmara dos Deputados com pleno domínio da Casa, e depois foi alçado à presidência do PMDB, onde estabeleceu raízes federais, estaduais e municipais. Hoje, ao anunciar medidas econômicas, ele, mais uma vez, mostrou seu profissionalismo.
Temer disse ontem que está acostumado a tratar com bandidos, desde seu tempo de Secretário de Segurança Pública, e criticou aqueles que pensam que conseguem fazer tortura psicológica chamando-o de golpista, quando todas as instituições provam o contrário funcionando normalmente. Entende que é hora de lutar pelo Brasil.
Mas, desconfio que, ao discursar para sua equipe e líderes partidários, pedindo empenho na aprovação das medidas anunciadas para recuperar a economia, ele estava menos preocupado consigo mesmo do que com outros ministros assustados com a gritaria da oposição e o clima passional do Congresso.
Um deles, sem dúvida seu principal avalista econômico, é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, ao acompanhar Temer ao gabinete do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, não escondeu das câmeras de televisão e fotográficas certo desconforto ao ser taxado de golpista. Meirelles ainda é um adventista na política partidária, embora experiente nos labirintos do mercado financeiro internacional. Só faltou Temer dizer-lhe: “Vai se acostumando”.
Temer acenou com um modelo semiparlamentarista de governo, embora seja assumidamente um parlamentarista, e fez um gesto ousado de diálogo com o ex-presidente Lula, ultimamente com problemas de saúde e acossado pelas investigações da “Operação Lava Jato” contra sua pessoa e as de seus familiares. Temer já teve bons momentos de diálogo com Lula, como políticos de São Paulo,  é não é de faltar com seus companheiros nos momentos mais difíceis.
O parlamentarismo é um sistema terapêutico de governo, útil para amenizar grandes crises políticas, e Lula sabe que não é de boa política bater de frente com Temer para salvar Dilma, que não reúne condições para voltar ao governo. Isto é pragmatismo e gesto útil, ainda mais em ano de eleições legislativas.
Jucá vai continuar atuando no Senado Federal em favor da aprovação das medidas do governo que ele ajudou a conceber no breve período em que exerceu, com seu talento inquestionável, o ministério do Planejamento, ajudando na definição do déficit fiscal de 170 bilhões de reais. Sua conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, custou-lhe o cargo formal, mas revela uma importância angular da figura de Michel Temer, que, além de exercer agora a presidência interina por força constitucional (como afirmou), empenha-se em levantar a economia do Brasil.
Temer manterá Jucá na linha de frente do Congresso trabalhando pelo seu governo, ainda que sem cargo formal, mas delegar-lhe-á poderes especiais para negociações com a base parlamentar que o genial senador de Roraima - nascido em Pernambuco e cria político de Marco Maciel - conhece muito bem. Temer cumpre a sua parte, respeita os preceitos morais e éticos, mas tem o pragmatismo dos verdadeiros estadistas. Precisa do talento de Jucá e não esconde isto.

 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Saída de Jucá e apupos de golpista não afetam gestãoTemer

A saída do senador Romero Jucá do ministério do Planejamento, apenas 10 dias depois de anunciada  a equipe do governo interino do vice-presidente Michel Temer, era um dentre outros acidentes de percurso previsíveis, considerando-se o grau de contaminação pela corrupção do sistema político brasileiro, após 13 anos de  gestão do Partido dos Trabalhadores -PT- na Presidência da República.
 
Não apenas a cadeia sucessória brasileira apresenta-se contaminada, desde o presidente em exercício da Câmara dos Deputados,  deputado  Waldir Maranhão, até Michel Temer e o Presidente do Senado, senador Renan Calheiros, os três com acusações contra suas pessoas, juntos com toda uma geração de políticos oriundos da Nova República, iniciada em 1985, após a derrocada do regime militar instaurado em 1964. Trazem a marca da influência do poder econômico e financeiro na política, em detrimento da democracia representativa do one man one vote.
 
Mais grave ainda é a influência do poder econômico e financeiro sobre  os três poderes, abrindo campo para a ameaça de surgimento do denominado "estado bandido", expressão  que alguns políticos e juristas brasileiros associam aos países bolivarianos que se tornaram aliados incondicionais do Brasil por influência do Foro de São Paulo. A meta desse esquerdismo é a implantação do regime comunista na região, conforme o site do PT deixa bem claro.
 
O sistema eleitoral-partidário no Brasil, com  35 partidos políticos  e 142 milhões de eleitores registrados no Tribunal Superior Eleitoral - TSE- enfrenta um processo de pulverização ideológica e de estiolamento de lideranças. Quem são os grandes líderes  políticos do Brasil de hoje?  Mais fácil é dizer que o juiz Sérgio Moro é a figura carismática mais lembrada, porque  está conduzindo com coragem a "Operação Lava Jato" e caçando os responsáveis pela demolição da Petrobrás, da Eletrobrás e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -BNDES-.
 
A ideia de que não há juízes em Roma se associa  à extensa impunidade daqueles que comandaram ou coonestaram a corrupção no Brasil, desde o início dos governos de esquerda (PSDB e PT). Corrupção que, por ser cultural, é endêmica.  Os que chamam  Michel Temer de golpista são os mesmos que defendem a permanência da Presidenta Dilma, que deixou um déficit fiscal de mais de 170 bilhões de reais e 11 milhões de desempregados, com pedaladas fiscais e tudo.
 
Basta gritarem que foi golpe o atual processo de impeachment avalizado pelo Supremo Tribunal Federal -STF- para  tentarem acobertar os crimes e a corrupção dos quais Lula e Dilma nunca tomaram conhecimento.Até vários e renomados artistas, contemplados com mais de 70 milhões de reais pela Lei Rouanet, no Ministério da Cultura que tanto exaltam, estão tentando pescar em águas turvas e fazendo coro com os políticos inescrupulosos.
 
Haveria outros pescadores de águas turvas em setores insuspeitos, mas o assunto comporta uma análise bem mais detalhada. A equipe de Temer vem mapeando-os desde o primeiro governo Dilma/Temer e tem antídoto contra esses agentes das sombras, que não têm mandato popular, mas se aproveitam da crise política e econômica. Com apoio da maioria dos brasileiros, o tecelão do Tietê vai recuperar a economia e restabelecer a esperança com medidas a serem anunciadas em breve.
 
Vivemos no Brasil, neste momento, sob a égide  da irreverência do sambista Bezerra da Silva e do cronista e escritor Stanislaw Ponte Preta, em contraponto com a moral e a ética de Rui Barbosa. Não citarei a prosa e o verso que esses três brasileiros intuíram sobre a ética de resultados dos políticos. A saída de Jucá pode ser apenas um dos acidentes de percurso previsíveis do atual Governo, porque a contaminação do sistema político brasileiro é ampla e profunda.
 
O Presidente Michel Temer está focado na crise econômica e não nas questões morais e éticas que afetam ou podem afetar seu governo.Segue o que prescreveu Deng-Hsiao-ping, após a derrocada comunista na China e no seu esforço gigantesco para recuperação do País:"Não importa a cor do gato, o importante é que pegue o rato..."
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 22 de maio de 2016

Janela de Brasília (XXXVII)

1.Mingau quente se come pelas beiradas, diz o aforismo popular. O Governo Temer primeiro anunciou o déficit de 170,5 bilhões de dólares, e agora vai fatiar junto ao Congresso Nacional as medidas mais amargas.Esta será uma semana de anúncios importantes do Governo Michel Temer sobre matérias que serão submetidas à decisão do Poder Legislativo e que são fundamentais para a recuperação da economia brasileira.
 
2.Cobertor curto para frio intenso é o que prepara o inverno para os brasileiros, a partir de 20 de junho,em casa e na economia. Inflação correndo solta, crédito direto ao consumidor sob contenção e dólar com tendência de alta. Mas os comissionados do Partido dos Trabalhadores no Governo -PT- já começam a enfrentar os rigores do inverno agora com sua demissão e substituição  pelos que chegam com o novo Governo, apesar da interinidade de Michel Temer.
 
3.A recriação do Ministério da Cultura, atualmente incorporado como secretaria ao Ministério da Educação, poderá ser anunciada nesta semana pelo Presidente Michel Temer, aplacando assim a indignação de alguns setores artísticos do País que resolveram apelar para uma ajuda do Presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, e do ex-presidente José Sarney. Como se vê, o assunto é da alçada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro -PMDB-, e não de outro partido.
 
4.Pedro Parente na presidência da Petrobrás, substituindo Aldemir Bendini, é uma vitória dos tucanos. Ele foi ministro  chefe da Casa Civil do Governo FHC, em1999, e ministro do  Planejamento e Orçamento.Antigamente, ser presidente da Petrobrás chamava a atenção do mundo inteiro. Hoje, com tanto escândalo na empresa, nem mesmo os acionistas sabem o que esperar, mas a joia da coroa da empresa continua sendo o Pré- Sal, cujas cláusulas de exploração serão mudadas para atrair investidores.
 
5.Está bem quieto o novo ministro da Defesa, Raul Jungmann, do Partido Popular Socialista, PPS, ex-Partido Comunista do Brasil -PCB-, cuja nomeação foi bem recebida pelos três comandos militares. O presidente do Clube Militar, general Gilberto Pimentel, emitiu nota profligando os ideais programáticos do Partido dos Trabalhadores -PT- de comunizar o Brasil com medidas tais como alteração dos currículos militares nas academias e promoção de oficiais simpatizantes à causa. Jungmann sabe que seu cargo é o fio de uma navalha.
 
6.Eu vejo bandos de "Quero-Quero" patrulhando os gramados de Brasília, que me pergunto sobre a razão dessa resistência e adaptabilidade dessas aves ao desenvolvimento urbano e ao seu predador natural, o homem.Menor sorte têm as "corujas-buraqueiras", cujos ninhos são atacados por comerciantes clandestinos de filhotes da ave, que é vulnerável e não conta com programa de proteção do Ibama.
 
7.Pela teoria da "Terra Oca", lançada com base nas expedições de Richard Byrd ao Polo Norte, em 1926, a civilização  subterrânea de Agartha abrange 19 cidades brasileiras, entre as quais Brasília e Alto Paraiso de Goiás. Para quem acredita, eis uma das razões da aura mística em torno da Capital que influencia o poder político, a ponto de se associar Michel Temer ao Ocultismo, coisa que ele já negou ressaltando sua formação cristã e seu apreço às profissões evangélicas.
 
 
 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Socialismo brasileiro: um marxismo de terceira geração

            
 
Aylê-Salassié F. Quintão*
 
              “A esquerda envelheceu”. A afirmação é  do senador Cristovam Buarque, ao justificar o voto em favor do impeachment da presidente Dilma.      Envelheceram militantes  e idéias. No Brasil, poucos, como a presidente brasileira e algumas lideranças do MST insistem, nostálgicos, em exaltar  ainda as virtudes da luta armada. Desprezam  “evidências empíricas”  das violências explícitas que se acumularam  nas tentativas de construção de um mundo socialista .Nem Lula, nem Mujica, nem Fidel fazem isso hoje.
 
             A derrocada  dos regimes comunistas e a perda de prestígio do Partido Comunista  Brasileiro não destruíram, contudo, a força messiânica da doutrina marxista. Ela encontrou abrigo na chamada “Nova Esquerda”,  um conjunto de pensadores pós-modernos  que alimentaram as gerações com novos preceitos. A  transformação  veio após a revolução russa, em que o marxismo-engeliano passou a ser conhecido por marxismo-leninismo, devido ao caráter imprimido por Lênin às ações revolucionárias, marcando, senão um aperfeiçoamento, o início dos desvios dos rumos originais. Stálin deu sequência às mudanças.
 
         No seu livro  “Pensadores da Nova Esquerda (2014), Roger Scruton chama de “ delírio poético “  o ódio da militância livresca  `a sociedade burguesa. Diz que ela é integrada por uma camada de intelectuais, aparentemente descompromissados com as bases do marxismo-leninismo. Com raras exceções, ofereceram às gerações jovens dos anos 70 e 80 um cardápio variado de idéias e concepções de mundo,  desenvolvidas no espaço do imaginário, resultantes de revisões autônomas dos ensinamentos de Marx-Engels-Lênin. Com a memória comunista  em baixa e a adrenalina em alta, aquela juventude  teve acesso, por vias transversas, ao pensamento marxista, incorporando dele variáveis próximas,  similares e, às vezes, distantes. Nesse quadro  de visões e interpretações multifacetadas beberam os novos revolucionários. Surgiram dezenas de grupos independentes organizados para  a contestação dos valores burgueses de várias maneiras, entre as quais a luta armada, que ceifou a vida de milhares de jovens no Brasil.
           
          Erich Fromm, com seu Conceito Humanista de Homem (1962) e o Medo da Liberdade (1983), foi um dos primeiros a abrir o caminho para uma reflexão sobre a autonomia do indivíduo, como sujeito. Quando veio a derrocada comunista, os intelectuais neo-marxistas não tiveram forças para reagir . Lamentaram , contemporizando, alegando  que o comunismo precisava funcionar, no mínimo, como uma “alternativa ao capitalismo” , mesmo que viesse a se comportar de maneira autoritária. Os últimos grandes bastiões do comunismo: a Albânia, fracassou; Cuba,   fraqueja; e a Venezuela está confusa.    Mesmo assim, “[...} um bom punhado das ideias e autores esquerdistas ainda anima um estilo de pensamento anêmico de conteúdo e vitaminado de doutrina, que segue dominante nas áreas de humanidades da academia e na vida intelectual”, diz Scruton.
 
           Sem negar as virtudes das obras, Scruton analisa autores de origem diversas, entre os quais o inglês   E.P. Thompson (A Formação da Classe Operaria Inglesa (1960); o francês Jean Paul Sartre, - leitura obrigatória da juventude da década de 60/70; o crítico húngaro  Gyorgy Lukács, responsável pela perseguição a intelectuais não-comunistas nas universidades do seu país; o italiano Antônio Gramsci, inspirador da juventude e da classe trabalhadora revolucionária no Brasil, para quem - Scruton reproduz  - “ o intelectual de esquerda , verdadeiro agente da revolução, tem o direito  de legislar sobre o homem comum”. Isso explicaria o comportamento autoritário de grupos de intelectuais de esquerda no Brasil. O inglês cita também os norte-americanos Galbraith e Dworkin (um constitucionalista), não comprometidos especificamente com qualquer revolução ;  o francês argelino Michel Foucault e o alemão Junger Habermas, McLuhan, todos considerados por ele de conteúdo marxista anêmicos.
      
           Dependente  associada (Cepal, 1960), conivente ou fascinada pela violência revolucionária, a  intelectualidade brasileira   sobreviverá  em torno do alarde  das ideias desses pensadores, dos quais  as contribuições marxistas foram, aos poucos, desaparecendo, para dar luz [...]  às ideias autoritárias contra a democracia burguesa, as liberdades individuais, e o sistema capitalista . O que sobrou seriam, para Scruton, {...} ruínas e soberba moral fornecida pela ideologia e um conteúdo  apenas vitaminado pelas ideias marxistas no campo das humanidades. Cristovam tem, portanto, razão.Retrocesso ou não, convive-se hoje por aqui com um ente que eu chamo de “marxismo de terceira geração” , que espera ainda por um messias, nem que ele saia de dentro do tubo de imagem da televisão ou da tela do computador.
*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural

Da lojinha de R$1,99 ao rombo de R$199,99 bilhões

Não há como fugir do nosso destino: Somos eternamente prisioneiros de nossas próprias circunstâncias, ou seja, nossa falta de atenção para com nossas responsabilidades no plano individual pode nos levar a cair nas armadilhas que a vida e o mundo do trabalho armam em decorrência do desempenho daqueles que conosco convivem, sejam eles amigos ou inimigos.
Assim, em nosso cotidiano, corremos sempre o risco de apoiar decisões que se transformam em erros tão colossais que podem destruir o esforço legítimo de vidas dedicadas a lutar pela própria sobrevivência, poucas vezes por um mundo melhor, como se espera que devam fazê-lo os governantes eleitos pelo povo, mas dentro dos limites do império da lei, em respeito ao Estado democrático de Direito.
Sabemos que a presidente Dilma Vana Rousseff, defensora de princípios libertários desde seus arroubos ideológicos juvenis, lutou bravamente contra a ditadura militar que dominou este país por mais de duas décadas, mas é impossível acreditar que ela, depois de acumular tanta experiência de vida burocrática no serviço público e na resistência, não enxergasse o desempenho desonesto de auxiliares com os quais convivia no dia-a-dia palaciano.
O que, então, pode explicar a cegueira que ajudou a levá-la a ter que enfrentar um processo de impeachment juridicamente perfeito, que ela afirma ser um golpe?
Uma guerreira como a presidente Dilma Vana Rousseff acostumou-se a enfrentar desafios e, por um breve momento, tornou-se a faxineira da Esplanada dos Ministérios, demitindo companheiros de jornada política e de governo, vítimas, no jargão petista, de duvidosas denúncias de envolvimento em episódios de corrupção interna do seu governo.
No entanto, o Palácio do Planalto continuou infestado de gente a serviço do governo, políticos ou amigos, uma turma apressada que não temia envolver-se em mensalões e petrolões, falcatruas que dilapidaram os cofres do Tesouro Nacional, de Bancos como a Caixa Econômica Federal e o BNDES e de empresas estatais como a Petrobrás, em bilhões não de reais, mas de dólares norte-americanos, a moeda mais forte do mundo, pelo menos desde 1945.
Será que a ideologia, ou melhor, o idealismo de uma visão revolucionária de mundo que nunca vingou em outras partes do globo, mas firmemente defendida por uma elite dominadora do partido político ao qual a presidente filiou-se, uma facção defensora de um presidencialismo de coalizão que se transmutou rapidamente em presidencialismo de corrupção, com alguns líderes sabendo tirar proveito financeiro de tão malfadado modelo, afetou o desempenho da corajosa mandatária no Palácio do Planalto levando-a a não enxergar o elenco de fraudes que desestruturou as finanças públicas nacionais?
Sim, porque não foram os chamados programas de inclusão social, como os variados tipos de bolsas, bolsa-disso-bolsa-daquilo, nem o Pronatec, o FIES, o Prouni, tampouco o Minha Casa, Minha Vida e suas extensões, nem o programa de médicos cubanos, gerenciado pela Organização Pan-Americana de Saúde, repassadora de recursos do Tesouro Nacional para os Irmãos Castro (tão necessitados, coitadinhos!) que arrebentaram as burras do Estado e forraram substancialmente os cofres do Partido dos Trabalhadores no território nacional, quiçá no estrangeiro.
É óbvio que a visão de mundo da presidente Dilma influenciou sobremaneira a sua visão do mundo político republicano brasileiro, de um presidencialismo limitado pelas leis e pelo sistema de checks and balances, apesar da possibilidade de se construir coalizões, e o resultado de suas decisões políticas levaram-na a perder o rumo na condução das finanças públicas nacionais, inclusive ordenando a liberação de recursos financeiros que não poderia autorizar, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal, para citar apenas um dos instrumentos jurídicos que balizam o desempenho presidencialista no Brasil.
A história da antiga URSS nos ensina que Karl Kautsky, o herdeiro intelectual de Friedrich Engels e profundo conhecedor de toda a obra de Karl Marx, dominou, com suas teses, a II Internacional Comunista, realizada em 1918, desagradando o emergente líder bolchevique Vladimir Lenin, assim como hoje a presidente Dilma domina o modo petista de governar, a ponto de não ceder ao desejo do ex-presidente Lula, seu mestre e grande guia, de substituí-la após o primeiro mandato de 2010-2014.
Por causa de seus argumentos em favor da democracia como meio para alcançar o socialismo, Kautsky foi execrado por Vladimir Lenin ao divulgar que Marx “sustentava a ideia de que na Inglaterra e na América a transição podia realizar-se pacificamente, portanto, por via democrática”, sem necessidade da violência de uma tomada do poder pelas armas.
Contra este argumento de Kautsky, o líder Lenin apelidou-o de Renegado, num célebre artigo do qual retiramos estas informações, pois advogava o recrudescimento da luta de classes e, com a vitória, a implantação da ditadura do proletariado, que, por sua vez, inauguraria um mundo sem classes e sem a presença do Estado.
Ledo engano de Vladimir Lenin, apenas um sonho que o tempo, senhor da razão (que saudades dos tempos colloridos...), encarregou-se de provar e comprovar, tanto o engano quanto o sonho.Na verdade, a Revolução de 1917 produziu uma nova classe dominante, a “nomenclatura”, uma nova ditadura, a do partido, e um novo Estado, mais forte que o Estado burguês capitalista.
Com certeza a corajosa presidente Dilma Vana Rousseff, por sua trajetória na resistência armada, se fosse uma jovem idealista russa nas primeiras décadas do século XX, assumiria sem pestanejar o papel de Ana Kaplan, a militante que eliminou Vladimir Lenin do jogo político na emergente URSS. Vamos ter que aprender russo para descobrir a mando de quem agiu Ana Kaplan, porque, por aqui, a presidente Dilma, sempre voluntariosa, parece agir por conta própria.
Mas a presidente Dilma vive outros tempos, em que os líderes políticos populistas não mais pregam a luta armada, até porque, mais experientes e melhor assessorados, utilizam-se do que Kautsky ensinou e denunciou: “a ditadura é um poder que não está amarrado por nenhuma lei, e a democracia pode ser o meio para implantá-la”.
E viva a democracia, alardeiam os líderes populistas que se dizem de esquerda, incentivando com entusiasmo a máxima do socialismo científico: “Proletários do mundo, uni-vos”. E façam da democracia o meio para chegar à ditadura do proletariado, dizem os políticos populistas de hoje, elegendo-se e reelegendo-se com projetos de poder que não conseguem vingar por duas décadas, até se esgotarem por seus próprios tropeços, sendo repudiados pelo mesmo voto popular que os glorificaram ou por erros administrativos que se transformam em graves delitos punidos pelas mesmas instituições que referendaram sua chegada ao poder, atitude democrática de ofício que, quando acontece contrariando a vontade e o autoritarismo populista, sempre é classificada de golpe de Estado, veja-se os recentes casos brasileiro, argentino, venezuelano e boliviano em nosso território sul-americano.
Longe da América Latina, a antiga URSS sobreviveu como ditadura do proletariado por mais de sete décadas, tornou-se uma potência bélica mundial e dominou a tecnologia espacial, tornou-se exemplo de sucesso socialista, para, ao final, ter que render-se ao modo capitalista de produção, ainda que dominado por um grupo de tecnocratas filhos da “nomenklatura” soviética implantada por Josef Stálin, responsáveis por destroçarem as finanças públicas do Estado investindo erradamente, inclusive nas disputas das corridas armamentista e espacial com os Estados Unidos, mas sem jamais largar a rapadura do poder.
A propósito, diz a lenda que Vladimir Lenin ocupou apenas um dos aposentos do Palácio de Inverno, enquanto buscava consolidar a duras penas o processo revolucionário de 1917, o que indica, em sendo verdadeira a estorinha divulgada nos bares do Baixo Leblon brasileiro, a sobriedade e o desapego do grande líder a bens materiais; exemplo que nos lega, nos dias de hoje, o ex-presidente uruguaio “Pepe” Mujica com seu Fusca e seu sítio de pobre, contrariando o Prefeito das Olimpíadas e Fidel Castro, o grande líder cubano, que transformou um pequeno cayo (uma ilhota perdida nos mares de Cuba) em uma maravilhosa pousada presidencial para desfrute seu e dos seus convidados especiais. Será que Luis Inácio Lula da Silva conhece este paraíso? A presidente Dilma, com certeza, não.
É natural que governantes possam cometer erros com suas decisões políticas, e, sem qualquer sombra de dúvidas, a presidente Dilma errou, e está pagando por isso ao enfrentar mais um desafio, de um processo legal de impeachment, porque acreditou que tinha poderes ilimitados, como se estivesse em uma ditadura, onde, disse Kautsky e confirmou Lenin, “a ditadura não está amarrada por nenhuma lei”, e Stálin, em seu longo período ditatorial, comprovou sobejamente.
Diz a lenda que a presidente Dilma, após a luta contra a ditadura militar, em seu retorno aos pampas gaúchos, administrou uma lojinha de mercadorias no valor de R$1,99 (um real e noventa e nove centavos), isso antes de se tornar secretária municipal de finanças da cidade de Porto Alegre, e que não se saiu muito bem como administradora de ambas as empreitadas.
Isso é o que diz a lenda, mas o que se sabe com absoluta certeza comprovada pelos números divulgados pelo seu próprio governo petista, sem medo de cometer qualquer tipo de injustiça, é que a presidente Dilma deixou como terrível herança para o governante que vier a substituí-la, um inacreditável rombo nas contas públicas no montante de mais de R$199.000.000.000,00 (cento e noventa e nove bilhões de reais), e, para si mesma, um modesto apartamento de classe média em um bairro porto-alegrense, além de uma pequena “Dacha” na região do Belenzinho, área nobre nos arredores de Portinho, a capital gaúcha, para viver com dignidade seus dias de aposentada estatal como guerreira do vilipendiado povo brasileiro, com direito a proteção da Polícia Federal, o que será muito bom para o povo seu vizinho.
Karl Marx tinha razão: a história sempre se repete, quase sempre como tragédia. Pena que os teóricos petistas não tenham entendido o que o barbudo de Trier queria dizer com esta reflexão sobre a história política, mas, será que a presidente Dilma, que agora vai andar pelo Brasil e pelo mundo afora se dizendo vítima de um golpe de Estado, teria ouvido, com a devida atenção, tal aconselhamento?
Também diz a lenda que a presidente Dilma não gosta de receber aconselhamentos, de ouvir advertências, quem sabe em decorrência do longo aprendizado de liberdade absoluta dos tempos da brava resistência à ditadura militar.Os marxistas podem até não gostar, mas o Brasil está precisando de uma ajudazinha de Deus, e também de São Francisco de Assis, “il poverello”.
José Everaldo Ramalho, 76, graduado em Direito, com especialização em Parlamento e Direito e em Ciência Política, foi CNE na Comissão do Mercosul por duas décadas, na Câmara dos Deputados em Brasília.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Janela de Brasília (XXXVI)

1.Desconheço a razão de o presidente em exercício, Michel Temer, ter extinguido o Ministério da Cultura, incorporando-o como secretaria ao Ministério da Educação, voltando-se à antiga e bem sucedida sigla do MEC -Ministério da Educação e Cultura-. Comenta-se que Temer deve repensar essa medida diante de protestos do meio artístico, mas engana-se quem pensa que ele o faria por medo dos artistas. Ele é capaz de tricotar com quatro agulhas, como diria Delfim Netto.
 
Mas, numa rápida avaliação que fiz, diante dos dados existentes e divulgados, mais de 60 milhões de reais foram destinados a um grupo de artistas, entre os quais Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, com base na Lei Rouanet. A cantora Cláudia Leite recebeu cerca de 5,8 milhões de reais para editar sua autobiografia, que ninguém leu até agora.
 
Muitos artistas contemplados com valores significativos protestaram contra o impeachment de Dilma difamando o Brasil junto ao Papa e ao Festival de Cannes, na promoção do filme Aquarius, o que mostra que os artistas brasileiros, com honrosas exceções, como Fernanda Montenegro, gostam mesmo é de mamar nas testas do Estado, ainda que haja 11 milhões de desempregados vagando como zumbis pelo País.
 
2. Chuva em Brasília em pleno meado de maio, como aconteceu ontem e hoje, não é novidade, mas talvez seja das mais desejadas pela população, quando  esta começa sentir o hálito da seca que se prolonga até outubro.
 
3.O clima em Brasília é de estresse para milhares de funcionários públicos comissionados que foram nomeados durante os 13 anos do governo do Partido dos Trabalhadores -PT- e agora estão sendo exonerados pelo Governo Temer. Muitos devem permanecer  por mérito demonstrado durante o exercício da função, mas outros tantos cederão seus lugares aos novos apaniguados que chegam. Comissionado é como retrato na parede: É fácil por, mas difícil tirar...
 
4.O pontal do Lago Sul é chique e dotado de bons bares e restaurantes. O modelo bem que poderia ser aplicado ao pontal do Lago Norte, perto da ponte da Bragueto, que tem grande potencial turístico, o mesmo ocorrendo  com a "Prainha" no Lago Norte, que reúne milhares de banhistas nos finais-de -semana.
 
5.O "Governo de Brasília" (assim Rodrigo Rollemberg se proclama) vem deixando de lado a limpeza urbana nas cidades-satélites, dando oportunidade para novos focos de doenças se propaguem. O lixo continua se acumulando no Paranoá, no Itapuã, em Santa Maria, no Recanto das Emas,etc.E pensar que, nos EUA, lixo é luxo, uma riqueza extremamente disputada por empresas de reciclagem...
 
6.Aviso aos navegantes: Caso escape da "Operação Lava Jato, Dilma Rousseff vai renunciar, para poder voltar à vida pública.
 
 
 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Comissionados e comissários : “Show de horrores”

 
 
Aylê-Salassié F. Quintão*
 
O paradoxo da empregabilidade pesa fortemente sobre a esperada  redução de 36 para 26 ministérios no suposto futuro governo Temer.  Milhares de cargos comissionados poderão ser extintos, e seus ocupantes, nomeados na onda do que  ficou conhecido como “aparelhamento da máquina do Estado”, serem dispensados . Nesses últimos treze anos de governo no Brasil desdenhou-se da complexidade técnica das políticas e cargos públicos . As funções de Estado e suas representações vulgarizaram-se - inclusive as de ministro - e foram perdendo gradualmente a autoridade e o sentido, levando à desfiguração das instituições e à desmotivação o funcionalismo.
 
 Os  despreparados  correligionários assumiram o comando da máquina de governo , e foram  destituindo e confundindo a estrutura estratégica e gestora  do Estado burocrático brasileiro. De 13 anos para cá,  20 a 30  mil cargos comissionados foram ocupados por estranhos ao serviço público. Encarregaram-se eles de estabelecer em cada setor, em cada estado, uma base  empírica de sustentação das  novas políticas públicas, o que foi feito   mediante as  tentativas de cooptação do funcionalismo e até mesmo o “  patrulhamento ideológico” dentro das próprias repartições.

 Nesses treze últimos  anos, conforme o IBGE,  o número de funcionários governamentais cresceu 66,7%,   beneficiando  com a empregabilidade sobretudo os estados do Nordeste e do Norte. A nível regional, estadual, o   número de  funcionários   públicos, comissionados e contratados pela CLT chegou a alcançar 18,7 %.  Foi dessa     maneira que a  Grécia quebrou  e Portugal passou perto: “Show de horror!” , diz um  debatedor do  Yahoo .   

 Assim, foi fácil entregar tranquilamente a chefia de ministérios até a partido de oposição, como  moeda de troca,  porque que a gerência da política pública setorial não cabia ao ministro, mas aos dirigentes corporativos, que se localizavam em cargos de assessores, secretários-gerais ou diretores. Lá na base estavam os  tarefeiros (comissários), aqueles que a título de reafirmar o Poder saem por aí fechando estradas, invadindo órgãos do governo, atacando bancos , enfrentando no braço a oposição e até a polícia. Curioso é que uma das frustrações de Lênin foi exatamente a de que suas recomendações nunca chegavam à base. Lula não cometeu esse erro.Ia às bases.

  Ora, com a redução do número e tamanho dos ministérios, o cenário político da transição induz a imaginar que o novo governo vai se ver na obrigação natural  de extinguir milhares de cargos. Haveria, portanto,  um grande contingente de comissionados e terceirizados dispensados, providência que teria o objetivo de manter a segurança e a estabilidade dos programas, dos  projetos e dos fluxos operacionais das políticas públicas que virão.  
 
Contraditoriamente, esse grupo de demitidos engrossará, certamente,  a massa de 11,1 milhões de desempregados. Em contrapartida, poderá haver , disponibilidade de  empregos na máquina pública, particularmente nas áreas técnicas, absorvendo parcela dos desempregados .  Corre-se, entretanto,  o risco de gerar desencantos perigosos de um lado e do outro, já que assim se manifestam. A retórica sedutora de Lula conseguiu, parcialmente, dividir o Brasil,  ao anunciar o País dos pobres e “o dos olhos azuis” .

Houve, entretanto, um grave erro de avaliação: o Brasil nunca teve de sobra “massa crítica” para ocupar a gestão do complexo  aparelho de Estado. Por isso, no passado, a Embrapa mandou 300 técnicos fazer mestrados e doutorados no exterior. A China fez a mesma coisa. Lula e Dilma não. Abriu logo as portas da máquina  pública para a gestão compartilhada com sindicatos, ex-militantes políticos e, contraditoriamente, com as empreiteiras, amparando-se  no braço fisiológico do PMDB. Vejam no que deu.
  
 Agora, é preciso urgente dar um sinal  apaziguador e de esperança  para o mercado de trabalho, e  assim evitar, cair em outro desvio que é o da “caça às bruxas” . A experiência  de aparelhamento aparentemente finda, mostra  ser também impossível inchar mais a máquina do Estado.Temer terá de contar efetivamente com a adesão dos setores privados: pequenos empreendedores individuais , iniciativas criativas das novas gerações (start ups) e, sem dúvidas,  das grandes empresas, para acionar logo o sistema produtivo, e absorver essa grade massa de desempregados. Não se pode deixar mais nenhuma empresa fechar as portas. Não há Estado que suporte o inchaço do funcionalismo, nem governo que se sustente diante do desemprego pleno. O Meireles precisa incluir o tema na sua agenda.
 
*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural