quarta-feira, 4 de março de 2015

Todo conflito social é epidemiológico,ou um Brasil golpista

Previstas para o próximo dia 15 de março, manifestações convocadas pelas redes sociais poderão levar às ruas das principais cidades do Brasil cerca de um milhão de pessoas, em suposta intenção de promover o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, sob a justificativa de comprometimento  do governo passado e do atual com desmandos  e corrupção no âmbito estatal,  além da inépcia para controle da economia, que registra o crescimento de aguda crise fiscal, da  inflação e da dívida externa, com risco de rebaixamento do Brasil na escala de  países confiáveis para investimentos.
Trata-se, portanto, de uma crise política e econômica, com agravantes  de ordem ética, como os processos do “Mensalão”, “Lavajato” e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),que pode extravasar para o âmbito social, gerando conflitos em escala epidemiológica, conforme padrões e tipologias perfeitamente identificados e estabelecidos pela Ciência Política, através da Teoria dos Conflitos Sociais.
Há perigo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff? De imediato, não, mas, a médio e longo prazos, a repetição das manifestações e a ausência de uma efetiva política de comunicação oficial do Governo, para esclarecer à sociedade os fatos relacionados à Petrobrás, e a adoção de medidas de punição dos culpados pela bandalheira praticada contra a maior empresa estatal do País, no momento em que o Brasil adquire certa autonomia no fornecimento do petróleo, podem minar o campo da governabilidade e causar uma ruptura político-institucional.
É evidente que os donos da coalizão governamental, o Partido dos Trabalhadores –PT- e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB- se encontram em atrito. O PT, pela voz do ex-presidente Lula e seus apaniguados, briga com o PMDB de Michel Temer, o vice-presidente de Dilma, e dos presidentes do Senado, senador Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.  
Dilma vai apanhando a rebarba desta briga intestina, que dificulta a aprovação de medidas do governo no Congresso Nacional e empana os atos da Presidenta dignos de maior divulgação, dos quais um claro exemplo é a recente inauguração do Parque Eólico Geribatu, em Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, o maior complexo do gênero na América Latina, com a produção de energia para mais de 1,5 milhão de pessoas e investimentos de 2,1 bilhões de reais. Um projeto ousado e inovador na área energética, ignorado pela maioria dos brasileiros.
O Governo divulga mal o que Dilma faz, limitando-se a destacar os projetos sociais assistencialistas. Mas, há outros... É o caso do programa “Minha Casa, Minha Vida”, com a contratação de mais três milhões de novas moradias, que se somarão a dois milhões já entregues e a 1,75 milhão em construção. A expansão industrial de 2% registrada em janeiro foi a maior, desde 2013, enquanto que o transporte aéreo de passageiros completa 16 meses consecutivos de crescimento. O Brasil acaba de bater o recorde - de 96,6 milhões de metros cúbicos - de produção de gás natural.  A produção de petróleo subiu 20,3% em relação a 2014. O trecho entre Anápolis (GO) e Palmas (TO), da Ferrovia Norte-Sul (FNS), uma das principais obras ferroviárias do País, acaba de ser posto em operação comercial. E pouca gente no Brasil sabe dessas e outras conquistas, nas áreas da educação, saúde, transporte público, segurança, agricultura, meio-ambiente e ciência e tecnologia, conforme mostra rápida leitura do modesto ”Blog do Planalto”.
O caso da Petrobrás, agora aguçado pela elaboração de lista de 54 nomes mencionados pela Procuradoria Geral da República como envolvidos nas propinas de mais de 200 bilhões de reais distribuídas a partidos e políticos, é muito nebuloso. Comenta-se que a lista contem nomes de figuras importantes do PMDB, o que, para Dilma, pode criar uma situação mais confortável para debelar eventual conspiração endógena contra seu mandato por parte desse partido. É uma briga de foice...

Creio que somente a diretoria da empresa e o governo sabem de fato o que está acontecendo, porque a propaganda oficial, que tenta abafar e calar a cobertura dos órgãos de comunicação ao inquérito, menciona estatísticas que não combinam com o que se publica sobre o enfraquecimento da empresa, que venderá, até 2016, 13,7 bilhões de dólares em ativos para sanar o rombo que enfrenta.
Duas perguntas não se calam, diante de tamanha roubalheira: Por que a Oposição ficou calada, desde o início do saque à empresa? Onde ficou o fervor patriótico pela defesa da integridade do patrimônio nacional (um dos Objetivos Nacionais Permanentes).
Na área política, cada tostão que um político recebe de qualquer empresa é sabido por todos, porque, no Congresso Nacional, segredo só guarda quem não sabe... Como poderia o PT receber, em 10 anos, cerca de 200 bilhões de reais, ou promover operações bilionárias no BNDES, sem conhecimento da Oposição?
Quais os atuais critérios de vigília do patrimônio material e imaterial do País adotados pelas lideranças patrióticas do Brasil,que permitiram que se levasse a Petrobrás à situação atual de atraente repasto para gigantes petrolíferas mundiais?
O Clube Militar, com sede no Rio de Janeiro, prepara, para o dia 19 de março, manifestações em prol da moralidade, dias depois de repudiar incitações do ex-presidente Lula à colocação do “exército” de Pedro Stédile (do Movimento dos Sem Terra-MST) nas ruas, lembrando que “só há um exército no Brasil, O Exército Brasileiro, o Exército de Caxias”.
O zelo pela democracia, o respeito à Constituição e prudência ditada pelas conjunturas interna e externa fazem dos militares atentos, mas não inertes observadores do cenário em desdobramento, apesar de insatisfações frequentemente externadas por importantes chefes militares.
A doença política do Brasil atual é o golpismo. Para a esquerda, inspirada em Gramsci, seria a implantação do socialismo utópico, ou Comunismo, nos termos do projeto do Fórum de São Paulo, uma ditadura civil. Para a direita, seria o restabelecimento de uma ditadura militar, inspirada na ideologia salvacionista. Pouco se fala em garantir a democracia e a governabilidade para quem venceu as eleições, como é o caso da Presidenta Dilma Rousseff, e muito menos se fala em quem seria colocado em seu lugar que tivesse a capacidade de  governar e garantir que o Brasil caminhasse  melhor do que vem caminhando.

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