quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Nacionalização" partidária no Brasil é inviável


O comando do PSDB anda empenhado em “nacionalizar” o partido, ou seja, criar um discurso uniforme em todos os quadrantes do País, nessas eleições municipais, segundo reiteradas manifestações do presidente do partido, deputado Sérgio Guerra, admitindo que, nesse item, o Partido dos Trabalhadores é mais competente.

Com essa estratégia eleitoral, segundo o dirigente, qualquer que venha a ser, o candidato do PSDB nas eleições presidenciais conseguiria melhor resultado nas urnas em todo o País, deixando de ter eleitorados regionalizados. Daí a plena concordância do senador Aécio Neves com essa proposta, debatida recentemente durante encontro dos tucanos em Brasília...

Acredito que o PSDB adota uma premissa falsa: A de que o PT é um partido de discurso uniforme, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, e que é possível uma uniformização da linguagem partidária num país com as dimensões territoriais e a diversidade cultural do Brasil.

Cada região exige uma peculiar adequação discursiva, e esta requer modulações da linguagem partidária conforme as culturas políticas locais, coisa que nenhum partido no Brasil conseguiu até hoje – fato que explica a pouca importância que o eleitorado brasileiro dá aos programas e à fidelidade partidários, a proliferação de alianças eleitorais e a maciça base de apoio do governo no Congresso Nacional, com frágil oposição.

Mas, então, como se processa a funcionalidade do sistema eleitoral-partidário, com tantos partidos? Basicamente, em torno de nomes, e não de legendas, com clivagens características das oligarquias regionais.

Assim é que um político astuto, como José Sarney, que liderou o partido do governo, a Arena, durante o regime militar, com oposição do PMDB, conseguiu mais tarde se  aliar a esse partido e se eleger na chapa com Tancredo Neves, assumindo a presidência depois e transformando-se, hoje, não apenas num dos principais esteios do PMDB, mas,também,  dos próprio governos de Lula e Dilma.

UDN, PSD, Arena e PMDB nunca tiveram um discurso que extrapolasse aos seus redutos regionais e uma ideologia que os justificasse nacionalmente. A fidelidade partidária torna-se difícil até mesmo nas votações parlamentares, porque os interesses do eleitorado que movem um parlamentar do Nordeste são diferentes dos interesses dos eleitorados da Amazônia, do Sudeste e do Centro-Oeste.

Um exemplo: Em diversas ocasiões, parlamentares de um mesmo partido do Sudeste queriam acabar com a Eletronorte, mas seu líder enfrentava a oposição interna de correligionários daquela região, que tinham familiares, amigos e eleitores dependentes da empresa. O mesmo comportamento se repetia em torno de reivindicações da Zona Franca de Manaus.

Outro exemplo: Na polêmica questão do Código Florestal, parlamentares sintonizados com os ambientalistas, nas regiões sem grandes reservas florestais e nos grandes centros urbanos, se defrontam com colegas do mesmo partido que integram a bancada ruralista. Marina Silva foi bem votada pelo Partido Verde, mas não conseguiu “nacionalizar” o discurso partidário, vendo-se obrigada a abandonar a legenda.Estados produtores de petróleo não aceitam dividir igualitariamente com seus pares federativos recursos dos  "royalties" oriundos da exploração.

O próprio PT, que nasceu do sindicalismo no ABC, não dispõe hoje do mesmo prestígio eleitoral naquela região paulista, e o modelo de gestão adotado pelos petistas é o formulado originariamente pelo PT do Rio Grande do Sul, estado que fora outrora esteio da Arena/PDS, ao lado de Minas Gerais. Lula é fenômeno nacional, mas presidiu o País num esquema de coalizão liderado pelo PT, que permanece com Dilma, cria do PDT de Brizola.

Poder-se-ía elaborar um livro de exemplos do prestígio pessoal descolado do discurso partidário para comprovar a impossibilidade de uniformização nacional do discurso partidário.

Todos os programas partidários são escritos com o objetivo de captar eleitores em todas as regiões, e não poderia ser de outra forma, porque os partidos visam ao poder nacional. A tal “nacionalização” comportamental pretendida pelo PSDB e aparentemente existente com o PT,segundo pensa o deputado Sérgio Guerra, é impossível no mosaico político-cultural brasileiro, ainda que os diretórios regionais façam um esforço hercúleo nesse sentido.

Na política de massa, o que funciona mesmo é o carisma, a linguagem pessoal e o poder de empatia de cada candidato com o eleitorado, embora a estruturação partidária, como alavanca, seja fundamental para a disputa do poder local,regional e nacional.

Acredito, sim, na construção, pelo partido, de uma estrutura de educação política capaz de proporcionar aos seus candidatos e eleitores uma visão realista e funcional da gestão política e administrativa do País. Uma preparação em torno  de um ideário universal, adaptável à diversidade cultural nacional.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Mônica Bergamaschi aposta na agroenergia

O Estado de São Paulo continua incrementando sua política de expansão das áreas de produção de cana-de-açúcar, tornando esse setor o mais atraente para os investidores, tendo em vista a meta do Brasil de dobrar sua atual produção de etanol, em torno de sete bilhões de litros por ano, para cerca de 14 bilhões em 2030.

Para atingir essa meta, o País terá que somar aos atuais sete milhões de hectares de terras para plantio, com produção de 495 milhões de toneladas de cana, mais sete milhões de hectares, para atingir a meta de produção de um bilhão de toneladas.

Conversei recentemente com a atual secretária de Agricultura de São Paulo, Mônica Bergamaschi, jovem e promissora agrônoma formada pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal- UNESP-, que admite ser hoje o setor agroenergético no estado o melhor para os investidores, independentemente de outras áreas interessantes e da polêmica gerada sobre a expansão da fronteira agrícola e os desafios da preservação do meio-ambiente.

A secretária considera que São Paulo, responsável por 60% da produção de cana-de-açúcar do País, tem condições de ampliar muito mais sua área de cultivo da cana, o que vem sendo feito, nos últimos anos, através do manejo e otimização de pastagens para a pecuária, o aproveitamento de terras degradadas, o arrendamento de terras pelos produtores, a modernização do plantio e colheita e outras medidas visando ao aumento da produtividade.

A produtividade paulista, em média de 70 toneladas por hectare, chega com alguns produtores a quase 90 toneladas, mas, apesar disso, as previsões para este ano indicam uma queda de 11% na safra, que chegará a 533 milhões de toneladas, por causa da estiagem.

Sobre o risco de o Estado estimular um sistema de monocultura, em detrimento da produção de outros alimentos básicos, das condições de trabalho nos canaviais, da diversidade econômica das cidades e das condições do meio-ambiente, Mônica Bergamaschi, acredita que há uma conscientização maior hoje, a par do desenvolvimento tecnológico, para se evitar erros do passado, mas admitiu que,no mundo atual, a polêmica envolvendo produção de alimentos e sustentabilidade é inevitável, exigindo esforços para superação dos desafios.

Durante conferência aos alunos na UNESP, escola que mantém convênios de pesquisa com centenas de universidades do mundo inteiro e que hoje se situa em quinto lugar em excelência, entre todas as universidades da América Latina, Mônica salientou a sustentabilidade da produção agroindustrial brasileira e a melhoria na produtividade decorrente dos avanços tecnológicos, ressaltando o papel do Brasil na produção mundial de alimentos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O diferencial do desenvolvimento no futebol

Estudo da Brand Finance Football aponta cinco clubes da Inglaterra, dois da Espanha, um da Alemanha e um da Itália entre as marcas futebolísticas mais valorizadas do mundo, acima dos 100 milhões de dólares, e situa apenas quatro clubes brasileiros (Corintíans, São Paulo, Internacional e Flamengo) um bem abaixo dos 100 milhões e três na faixa dos 50 a 30 milhões de  dólares – posições realmente ridículas.

Não sei quais são os critérios que a empresa adotou parta realizar essa pesquisa, além do patrimônio financeiro e da organização dos clubes, mas eles não me parecem tão relevantes quanto a realidade do futebol mundial, onde o Brasil é o país que detém o título de pentacampeão do mundo, bem à frente dos ingleses, espanhóis e alemães, e único país a participar de todas as copas mundiais.

Capitalismo retardado, dependência econômica, colonialismo cultural, seja qual for a expressão para se designar o fosso entre países desenvolvidos e países emergentes, no futebol, pelo visto, não se aplica aquele “mito de Eldorado” do mercado mundial de pedras preciosas, segundo o qual o ouro, a prata, o  diamante bruto e demais metais e pedras “selvagens” encontrados em sua forma natural nos trópicos têm valor intrinsecamente maior do que os descobertos nos países frios.

O “eurocentrismo” e o imaginário europeu da Idade Média, aliados às expedições expansionistas e à descoberta do Novo Mundo, a partir do século XV, contribuíram para o fascínio pela aventura e conquista de regiões desconhecidas e temerárias nas Américas, habitadas por indígenas e pontuadas por cidades douradas.

Ainda hoje, os metais e pedras preciosas extraídos nas selvas amazônicas, africanas ou asiáticas continuam tendo o seu valor diferencial no mercado, mormente quando cotejados com os seus similares sintetizados em laboratório. Evidentemente, o “ouro negro”, o petróleo, foge à regra, não importando o subsolo de sua origem, mas apenas as suas qualidades e abundância.

Mas, o futebol, esporte de maior audiência mundial, na era da comunicação global, envolve um império financeiro em torno de sua organização e prática. A FIFA que o diga... E o futebol brasileiro, de modo especial, que tem analogia com o diamante bruto e selvagem” lapidado pelas grandes empresas  de comunicação e de artigos esportivos, carrega consigo a sina da desorganização,típica de economias emergentes, em plena preparação da Copa do Mundo.

Com os clubes brasileiros tão desvalorizados, mesmo sendo o país o único pentacampeão do mundo, o Brasil, de custos elevados e desenvolvimento quasimodo,  vai sendo mais uma vez solapado em suas riquezas naturais,entre as quais a sua vocação futebolística.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Paradoxal comunhão de ex-presidentes

Qual poder impõe, quais interesses movem e qual ideologia justifica a comunhão da Presidente Dilma Rousseff e dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique e Lula em torno da litania de transformação da Comissão da Verdade em assunto de Estado, como vimos recentemente?

Lá estavam, na instalação da dita comissão, dois ex-presidentes, Sarney e Collor, que participaram da transição do regime de exceção - cujos supostos excessos contra os direitos humanos serão apurados – para a democracia, com base na Lei da Anistia promulgada pelo último dos presidentes militares, João Figueiredo, e três presidentes - Fernando Henrique, Lula e Dilma – representantes da nova ordem de esquerda contestadora daquele diploma.

Detalhes significativos da história da sucessão presidencial: José Sarney foi, ao lado de Petrônio Portella, líder da Aliança Renovadora Nacional –Arena -, o partido de sustentação política do regime militar, e, ao lado de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, um dos fiadores da Lei da Anistia e fundadores da denominada “Nova República”. Fernando Collor de Mello foi defenestrado do cargo presidencial por uma campanha sistemática do Partido dos Trabalhadores sob o comando de Lula.

O poder em cena tem configurações codificadas,que requerem ao observador atenção ao quadro geral e aos detalhes. Se uma só águia não caça moscas, cinco águias juntas muito menos... Parece que esse barco político, que partiu do porto da Anistia, chega agora ao seu destino final tornando a democracia brasileira parecida com o paradoxal barco de Teseu.

Nesse momento político brasileiro, de clima apocalíptico, qualquer evento político de grane apelo ideológico junto aos meios de comunicação é válido para afirmação ou reafirmação de  regras e intenções por parte dos detentores do poder.

Aparentemente, o Brasil copia os Estados Unidos, reunindo ex-presidentes fora de cerimônias fúnebres ou de inauguração de alguma obra de interesse nacional, com base na idéia republicana de que “o cargo transcende o indivíduo”. Cinco ex-presidentes estiveram reunidos na Casa Branca, após a eleição do Presidente Barack Obama, e, anteriormente, na comemoração dos 200 anos de construção do prédio, em 2000,quando Reagan, doente, não pode comparecer.

Acredito que a instalação da Comissão da Verdade é um fato muito pequeno, embora politicamente significativo, diante da pergunta que formulei abrindo esse texto, e que a demonstração dada pelos ex-presidentes à nação, contando com amplo espaço aberto pela mídia nacional, reforça junto ao povo e às forças armadas, os dois pilares básicos da democracia, a idéia (falaciosa ou não) de que há consenso em torno do atual pacto político, além de transmitir aos centros internacionais de poder político e econômico e aos grandes investidores a mesma afirmação.

O valor (poder) mais alto que se alevanta, parodiando Camões, impondo esse ritual, seria o reforço da visão parsoniana de organização e solidificação do poder central em relação ao contrapoder periférico nacional. Os interesses seriam garantia da governabilidade (ou governança) e estímulo ao desenvolvimento do País, e a ideologia seria, possivelmente, a de um novo desenvolvimentismo, sustentável, mesclado com o neo-liberalismo, capaz de promover maior inserção competitiva do Brasil no contexto internacional.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Petróleo é poder (veiculado pelo Correio da Cidadania, a partir de 18/05/2012)

(Paulo Metri – conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia

 “O Pré-Sal pertence à humanidade” é a tradução do título do editorial do “The New York Times” que irá sair em um futuro não muito distante. A pregação diz que o Pré-Sal é da humanidade porque está em área do globo terrestre que não pertence a nenhum país. Logo após esta afirmação, o jornal lança o conceito de que quem chegar primeiro passa a ter a propriedade do petróleo e do gás produzidos.

Estas são as teses principais do editorial, representando a opinião de fortes grupos de interesse do capitalismo internacional. A maioria das áreas do Pré-Sal está realmente em mar internacional.

 Os Estados Unidos não ratificaram o tratado internacional que aceita a faixa de 12 até 200 milhas da costa como pertencente ao domínio econômico exclusivo do país, apesar de 150 nações das 190 existentes já o terem ratificado. Porém, este editorial esconderá o fato de que é muito custoso explorar o Pré-Sal sem utilizar bases logísticas no Brasil. Talvez porque esta seja uma batalha posterior.

 Apesar de o editorial ser uma ficção, é bem possível que a tese descrita já esteja sendo germinada. O tema petróleo sofre manipulação da mídia do capital, devido a sua importância estratégica e valor econômico.

Tenta-se convencer a pequena parcela da população mundial que está atenta aos acontecimentos sobre a atratividade das posições do capital, que, via de regra, não são benéficas à sociedade.

Usa-se de todos os métodos necessários para tal convencimento, desde o fato de salientar aspectos irrelevantes na análise, para confundir, até mentiras deslavadas. Tem-se liberdade total para criar versões substitutas dos fatos reais.

Comunicadores excelentes, capazes de distorcer os fatos, criadores de verdades infundadas, além de analistas hábeis, despojados de compromissos para com a sociedade, estão sempre a serviço do capital petrolífero privado, ofuscando aspectos e valores de maior interesse para o povo brasileiro.

Como a acumulação máxima de riqueza é a única meta do capital, este vê, no negócio petróleo, uma imensa oportunidade para tal acumulação; 58% da energia comercial consumida no mundo são oriundos de petróleo e gás natural, que comprova a grande dependência da economia mundial ao petróleo.

A escassez futura do petróleo está próxima, tanto que o barril se mantém acima de US$ 110, apesar do baixo crescimento da economia mundial. Além disso, não há fontes substitutivas ao petróleo, no curto prazo. Obviamente, no médio prazo, outras energias mais caras tornar-se-ão viáveis, elevando o patamar de preços das economias. Desta forma, quem possui petróleo pode garantir às economias mundiais a fonte de energia ainda barata a que seu aparato produtor está adaptado.

 Pode garantir à sociedade mundial o aquecimento no inverno, o combustível para o transporte e as indústrias e, em alguns países, o combustível para a geração de eletricidade. Pode garantir também ao capitalismo internacional insumo vital para a acumulação de riqueza. Para fechar este pano de fundo, todos os países desenvolvidos, nos quais o capital internacional sente-se protegido, não têm reservas de petróleo, com exceção de Canadá e Noruega.

 Só os Estados Unidos foram responsáveis, em 2010, por 21,1% do petróleo consumido mundialmente e, entretanto, se usassem o próprio petróleo para seu abastecimento, teriam garantidos somente 4,4 anos.

Em compensação, alguns países em desenvolvimento, de baixa industrialização, são detentores de reservas de petróleo que ultrapassam centenas de anos de abastecimento próprio, e têm estruturas democráticas frágeis, com populações fáceis de enganar, mais parecendo gazelas na pradaria com leões à espreita.

 No nosso país, infelizmente, uma lei contrária aos interesses da sociedade, que traz benefícios para grupos econômicos, pode ser aprovada sem grandes contestações no Congresso, haja vista a aprovação da lei das concessões de petróleo (no 9.478 de 1997).

Assim, a Petrobras descobriu para o Brasil, na área do Pré-Sal, em torno de 90 bilhões de barris de petróleo. O petróleo já medido é bem menor, em torno de 14 bilhões, entretanto, a reserva total da área do Pré-Sal certamente não ficará neste número. A reserva estimada do Pré-Sal vem a ser um acréscimo de 6,5% nas reservas mundiais de 2010. Partindo de um lucro conservador por barril, em torno de US$ 50, em valores de 2010, esta reserva representa um lucro total de US$ 4,5 trilhões.

 Além deste lucro, a economia mundial viciada em petróleo terá uma sobrevida, se hipoteticamente o Pré-Sal abastecesse sozinho o mundo, de três anos. O Iraque foi invadido por causa de uma reserva não muito diferente, de 115 bilhões de barris.

Hoje, 28% das áreas do Pré-Sal já foram leiloadas, com o pior dos modelos, o da lei das concessões. Se existe algum interesse público nos congressistas atuais, esta lei deve ser substituída, rapidamente, pelo menos por uma análoga à lei dos contratos de partilha (no 12.351, de 2010).

 Este é o quadro de enorme pressão reinante sobre o governo. Entenda-se por pressão os recados de chefes de governos estrangeiros, as chantagens de representantes de governos e órgãos multilaterais, a reativação da Quarta Frota Naval dos EUA, os artigos recriminatórios de jornais e revistas de países-sede do capital internacional, os discursos de políticos nacionais prepostos das empresas petrolíferas estrangeiras e os artigos e entrevistas na mídia nacional entreguista, dos ditos “especialistas” (regiamente remunerados pelo capital petroleiro).

 Todos os brasileiros compromissados com nossa sociedade, preocupados com o setor do petróleo, deviam concentrar esforços na seguinte agenda de reivindicações ao governo: Nenhuma nova área deve ser concedida ou contratada através de leilão. Se existir a necessidade de serem aumentadas as reservas nacionais, áreas do Pré-Sal seriam entregues diretamente à Petrobras, sem leilão, para exploração e produção de petróleo, utilizando-se o artigo 12 da lei no 12.351.

 Os contratos de concessão de áreas do Pré-Sal, já assinados pela lei no 9.478, 28% do total da área, devem ser reformulados para não existir a possibilidade de ser explorado petróleo abaixo da camada de sal. Originalmente, as empresas em seus planos de exploração não mencionaram para a ANP a ida abaixo desta camada.

A Petrobras seria proibida de formar consórcios para atuação em todas as áreas recebidas sem leilão. É preciso abrir comissão de averiguação para identificar a razão de dez blocos da chamada “franja do Pré-Sal” terem sido recolocados na nona rodada, depois de retirados. Nenhuma outra área do Pré-Sal foi leiloada nesta rodada

O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, disse, em palestra na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, que “os Estados Unidos estão retomando os acordos de segurança com seus parceiros e construindo novas alianças ao redor do mundo”. E, mais à frente, disse que “além disso, estamos convidando a Marinha do Brasil para participar de exercícios desde a costa do Rio até a da África”. Neste espaço, encontra-se o Pré-Sal.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Clima político é de apocalipse


A temperatura política no Brasil é elevada e o mercúrio do termômetro continua subindo a nível imprevisível, estimulado por três fatos incandescentes e concomitantes: A CPI do Cachoeira, a instalação da Comissão da Verdade e o julgamento do “mensalão”.

A CPI já deixou vazar para a imprensa e as redes sociais 82 nomes relacionados ou apenas citados nas conversas do contraventor e seus comparsas, com base em depoimento sigiloso do delegado Matheus Mela Rodrigues, coordenador da “Operação Monte Carlo”.

É cedo para avaliar nessa relação de nomes quem é joio e quem é trigo, mas o espectro das proeminentes figuras relacionadas abrange os três poderes e tem potencial para abalar os alicerces da República e desencadear a mais séria crise política-institucional  e falência ética e moral  da “classe dirigente” contemporânea do País.

A instalação da Comissão da Verdade, para apurar supostas violações dos direitos humanos durante a vigência do regime militar, deleta  virtualmente a Lei da Anistia e abre uma guerra intestina entre forças políticas, econômicas e militares, que disputam a hegemonia ideológica de controle do poder nacional para as próximas décadas.

A Presidente Dilma Rousseff deu a essa comissão tratamento de assunto de Estado ,convidando para a cerimônia de sua instalação os ex-presidentes José Sarney (atual presidente do Congresso Nacional),Fernando Collor,Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva.

O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, já divulgou o teor do relatório de acolhimento da denúncia do procurador-geral da República,Roberto Gurgel, contra 38 réus envolvidos na “sofisticada organização criminosa” (expressão do ministro) “para garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores,mediante a compra de suporte político de outros partidos”, durante o Governo Lula.

Esses três eventos ganham ampla cobertura da mídia nacional e internacional, com repercussões em todas as expressões do poder, mas as redes sociais imprimem um clima apocalíptico  aos mesmos, em sintonia com as profecias escatológicas sobre o 21 de dezembro de 2012.

A quem interessaria o caos? – eis a pergunta oportuna. Difícil é identificar, com tantos nomes, ógãos institucionais públicos e privados  e partidos envolvidos,um só beneficiário,mesmo porque há outros atores externos acompanhando e até manipulando cordéis.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Alguns temas polêmicos da Biopolítica


O Presidente Barack Obama, pensando na sua reeleição, declarou sua aprovação ao casamento entre homossexuais nos Estados Unidos, um dos países com maior percentual de pessoas que assumem suas relações. Simples em política, principalmente em períodos eleitorais: Os candidatos sintonizam o seu barco de acordo com a onda, seja esta casual ou recorrente.

Há uma sólida tendência para inclusão do homossexualismo, em contraposição à homofobia, na agenda eleitoral de quase todos os países tidos como democráticos: O homossexualismo em busca de legitimação na normatização civil e a homofobia tipificada como preconceito e até crime, dependendo do seu desdobramento. Nessa polarização ocorrerão os embates.

A sociedade em geral é complexa e muita vezes apresenta descompassos entre a evolução do indivíduo e a evolução do organismo social. O sexo, como determinação cromossômica e anatômica, é função individual, mas, em termos de identidade (gênero), sofre a influência social. Além dos costumes, a moda é uma forte fixadora de valores.

Por exemplo: Vistos como extensões da pele e da temperatura corporal (como diria McLuhan), o vestuário e o penteado, nas últimas décadas, se padronizaram globalmente no jeans e nos cortes, e a progressiva diminuição do uso de cabelos compridos e de saias e vestidos convergiram para a “masculinização” da tradicional estética feminina. Com maior frequência, no cotidiano, as mulheres usam calça comprida, cabelos curtos, bermudas, camisetas e tênis, quando não trajes sumários e transparentes que nem os homens usam.

Além dessa uniformização, a incorporação da mulher ao mercado de trabalho, em condições competitivas hoje com o homem e em nichos tradicionalmente masculinos (construção civil, forças armadas, serviços públicos, empresas de segurança, esportes, oficinas mecânicas, fábricas, transportes de cargas e pessoas, etc.), associada aos movimentos sociais contra a discriminação sexual, tem contribuído para o contato favorável  à liberdade sexual.

Lembro-me de outros temas, que, aos poucos, foram incorporados à agenda política-eleitoral, tais como divórcio, serviço militar feminino, descriminalização do uso de maconha, legalização do aborto, eutanásia, terrorismo, clonagem e transgenia em animais e plantas, inseminação artificial, pena de morte, prostituição legalizada... Temas que, por razões históricas e religiosas, eram considerados tabus e que hoje constam do processo legislativo de quase todos os países, não obstante o repúdio da Igreja e de setores  conservadores.

A Biopolítica é uma das áreas mais sofisticadas, uma espécie de química-fina da Ciência Política atual, que estuda todos os fenômenos políticos e o emprego do poder político associados à vida animal, ao meio-ambiente e à tecnologia, uma fusão, enfim, entre a Ciência Política e a Biologia.

Valho-me de uma definição que encontrei na Wikipédia:” A Biopolítica é um campo que permite agregar,aproximar,associar setores da realidade relacionados com a vida, a natureza e o conhecimento, cujas mudanças ao longo do tempo foram provocadas pela indústria,pela ciência e pela tecnologia, que hoje disputam o campo político-econômico mundial.”  

São tantas as implicações morais e éticas desse campo de estudo, que o mesmo tende a se tornar cada vez mais polêmico e motivo de investimentos vultosos das universidades públicas e privadas neste século.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Terrorismo: Reflexões Morais, Sociológicas, Culturais e Políticas


É preciso definir a abordagem que se quer dar ao tema “Terrorismo”, antes de tentar tipificá-lo por legislação, como se cogita atualmente no Brasil.

A Organização das Nações Unidas considera o terrorismo como crime comum, e não de natureza política, o que não permite o asilo, mas, sim, a extradição, mas, a União Européia vê o ato como intencional e doloso, abrindo espaço para que, no ordenamento jurídico de vários países, como a França, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e Estados Unidos, as tipificações sejam muito semelhantes, variando apenas nas tentativas de classificação do ato com base no grau de violência empregado, nos instrumentos utilizados e na gravidade do dano que pode causar ou causa.

As conceituações existentes no formalismo jurídico, no direito consuetudinário e nos dicionários do mundo inteiro e as elaboradas reflexivamente por pensadores, escritores, filósofos, sociólogos, cientistas políticos, militares, políticos, juristas e outros estudiosos convergem para “imposição da vontade individual ou coletiva e do poder pelo uso sistemático do medo.” Assim é que tem sido a partir do termo “terror”, cunhado para se denominar a segunda fase da Revolução Francesa.

Claramente, os princípios morais e éticos civilizatórios indicam que o terrorismo é inaceitável e injustificável, mas a História indica que nenhuma vertente do Direito ou código religioso foi capaz de conter a violência humana potencialmente disruptiva.

Quando se trata, porém, de uma sociedade, como a brasileira, praticamente desprovida de uma legislação preventiva e punitiva do ato terrorista, a começar pela própria Constituição, entendo como necessário que se analisem os aspectos culturais intrínsecos a essa matéria. A cultura seria o referencial de análise.

O Brasil, com a sua diversidade cultural, requer que se desça às minúcias comportamentais do seu povo em todas as suas regiões, com clivagens dos períodos colonial, monárquico-imperial e republicano. Eis aí uma abordagem histórico-política, que não é a ideal. Afinal, terrorismo é assunto da Polemologia, o estudo dos fenômenos conflitivos, e também objeto da Teoria dos Conflitos e da Teoria dos Jogos, na Ciência Política.

Sob o aspecto de uma eventual abordagem sociológica, centrada na miscigenação racial ou étnica, também carece de melhor funcionalidade, pois faltará o elemento básico de análise: A estratificação social, que ainda não se consolidou no Brasil.

Se for uma abordagem econômica, com incursão no sistema produtivo colonialista, na exploração de mão-de-obra escrava e na atual dependência excessiva do país em relação ao capital internacional e ao fornecimento de matérias-primas, ficará diluída nas características atuais do mundo global, onde aspectos culturais são recalcados em nome do mercado.

Quando menciono aspectos culturais intrínsecos, quero me referir aos graus de percepção do que seja terrorismo e de reação aos mesmos pela sociedade. Há uma clara relação entre a consciência do medo e a tolerância ou reação ao ato. Tomemos alguns exemplos emblemáticos.

O cangaceiro “Lampião”, com toda a sua crueldade, é um mito admirado e cultivado em muitas regiões brasileiras, principalmente no Nordeste, reproduzido pelo inconsciente coletivo tanto quanto “Jack, o estripador”, da crônica policial da Inglaterra, o conde Drácula, aristocrata da Romênia, com sua crueldade universalizada pelo mito vampírico, e os genocidas Cortéz e Custer (“Búfalo Bill”), ambos, respectivamente, exterminadores de povos indígenas na América pré-colombiana e na colonização dos Estados Unidos, etc. São mitos gerados pelo medo que infundem.

Cabe,então,uma abordagem política dos agentes dos atos tipificáveis,usualmente, de terrorismos.Quando o agente é detentor de poder e pretende mantê-lo pelo uso de apelos ao medo,ao terror que possam inspirar –algo relacionado com a manutenção do poder contra soberanias ou,particularmente, a opinião dominante da sociedade nacional.Algo que, em determinados casos,pode tipificar “terrorismo pelo Estado,pelo Governo”.

São fatos universais e históricos, que, talvez, sejam mais bem enquadrados,quando entre Estados, como “estratégia de crises” para responder a um propósito político. Quando fato de política interna, a tentativa de manter poder declinante ou um golpe de Estado.

Há, sob o mesmo critério de tipificar politicamente o terrorismo pelos propósitos dos agentes, que se incluírem fatos de freqüentes e intensas constatações no mundo contemporâneo, os atos terroristas ou terrorismo por agentes ou grupos motivados por ideologias ou busca de poder contra a ordem vigente ou contestada. Neste caso, buscam derrubar o poder pela força e correm o risco de perder apoio social da sociedade, usualmente atingida por conseqüências diretas ou indiretas dos atos de violência. Oscilam entre atos idealistas e revolucionários ou subversivos, segundo pontos de vista, à ordem política social; ilegais ou ilegítimos.


Outros exemplos poderiam ser elencados no campo político: Os mitos criados pelo terrorismo de Estado na modernidade, como Hitler, Stalin, Lênin, Mao, Fidel Castro, Franco, Salazar, Trujillo, Duvallier, Pol Pot, e outros ditadores que montaram um aparato ostensivo de terror para se manter no poder.

Bin Laden, convertido em mito pelo 11 de Setembro, é o caso de individualismo  que se insurge contra a potência hegemônica mundial, os Estados Unidos, num misto de reação política, religiosa e militar. Ou seja, mito dotado de uma áurea ideológica e satânica, por mais diversas que tenham sido as alegações de sua atividade até a sua morte.


Teria sido uma versão abortada do Anticristo, pois contracenou com um império cristão, que o derrotou como inimigo, ao contrário de Jesus Cristo, que contracenou contra o império romano pagão, terminando vitorioso, pois os romanos vieram a adotar, desde Constantino, o Cristianismo como religião oficial, abolindo o politeísmo.

A justificativa dos métodos de Bin Laden seria responder ao terror imposto pela dominação norte-americana a vários povos, pelo emprego de recursos militares em casos de guerras declaradas unilateralmente, que geraram a morte de milhares de civis na Arábia e na Ásia (Vietnã, Iraque, Afeganistão). Um tipo de terrorismo imperial mascarado pela guerra, “que nada mais é que a continuação das relações políticas com o emprego de outros meios”, como diria Clausewits.

 Mas, em tese, uma guerra, mesmo expansionista e intervencionista, pode ser legitimada pelo consenso das nações e pelas normas internacionais, como no caso dos dois conflitos mundiais. Ao contrário, as guerras expansionistas e intervencionistas, declaradas unilateralmente, em toda a História, poderiam ser tipificadas como atos terroristas, o que justificaria a presença de Alexandre, Gengis Khan, Dario, Aníbal, Napoleão, etc., com certo paralelismo das políticas e de estratégias dos governos Truman, Lindon Johnson, George Bush, Tony Blair e outros perante tribunais internacionais de hoje.

A segunda metade do século XX foi marcada pela bipolaridade, mantida a paz pelo “equilíbrio do terror”, caso típico da ameaça crível do uso da força, do poder disponível para inibir seu efetivo emprego. Espécie de adaptação ampliada ao extremo do ditado latino “civis pacem para bellun”, sublimação de uma ordem mundial que tinha de um lado os Estados Unidos e aliados e de outro a União Soviética, numa gangorra sinistra cujo eixo de equilíbrio simétrico era o medo do “botão nuclear”.

Mesmo que não tenha ocorrido a temível guerra nuclear,  genocídios praticados por estados nos séculos XX e XXI, que geraram mais de 12 milhões de mortos, seriam, eticamente, formas de terrorismo em ampla escala, embora a ONU tenha os seus critérios de classificação do genocídio pelas motivações em diferenças raciais, nacionais e religiosas. Assim é que o órgão classificou boa parte deles na categoria de “politicídios”, cedendo a posições de alguns países.

Mas, em se tratando do Brasil, que não tem um mito emblemático desse porte, que tenha se imposto, notoriamente, como genocídio pela máquina do terror (na acepção original do termo que marcou a fase da guilhotina na Revolução Francesa), o povo rejeita até mesmo a pena de morte, que alguns políticos tentaram introduzir na Constituição. A tal pena não faz parte da percepção e da tolerância e reação popular quanto ao emprego do terror como instrumento de dominação.

Há um aspecto da cultura brasileira, a religiosidade, que permeia essa relação percepção/reação como espécie de isolante e que sublima a violência. A influência do Cristianismo, aguçado pelos métodos da Inquisição, principalmente durante o ciclo do ouro, entorpeceu a sensibilidade da sociedade em formação em relação ao regime escravista e contribuiu para o retardamento da evolução da percepção crítica que se exige sobre o terror em todas as suas vertentes. Expressões como “índole pacífica” e “cordialidade” do brasileiro contribuem para a ideologia da conciliação prevalecer sobre a do conflito.

Considerado o maior país católico do mundo, o Brasil é “culturalmente” religioso o que se confirma pelo sincretismo das confissões religiosas, produto da miscigenação. Essa característica, tão combatida atualmente pelo Vaticano, dificulta a percepção/reação ao terrorismo e a própria aceitação de uma legislação específica a respeito. E a própria Igreja, que já enfrentou os problemas do terrorismo na Espanha (terrorismo basco), Itália (Brigadas Vermelhas) Alemanha (Fração do Exército Vermelho) e Irlanda (IRA) teria dificuldades de aceitar que o seu maior rebanho de fiéis seja contaminado pela conscientização, que as leis introduziriam, desse tipo de ameaça. As leis poderiam gerar o efeito da extensão  que contamina...


No cenário internacional, sob o prisma da dominação, a contaminação poderia interessar às potências intervencionistas e invasivas. Mesmo estas arcariam com o ônus de colocarem em risco seus interesses pela exploração “pacífica” das riquezas do Brasil, em especial alimentos, água, energia, e matérias-primas, tendo que lidar com focos separatistas ou revolucionários. Melhor, a fortiori, para o Vaticano e Washington, que fiquem eventuais ameaças terroristas tipificadas como crimes comuns, crime organizado ou mero banditismo, mantendo-se  a tipificação  do terrorismo no porão... Até quando?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tecnologia, desenvolvimento e ilusões



Adriano Benayon *

No momento em que surgem novos avanços na nanotecnologia e na criação de materiais, como o grafeno, é fundamental compreender a interação da tecnologia com o desenvolvimento econômico e social.

2. Indispensável afastar ilusões, pois não há algo de que se fale tanto e de que se entenda tão pouco como essa interação. Mesmo os  que trabalham em  inovar com produtos e processos não têm, na maioria, a percepção de como um país se desenvolve através da  tecnologia.

3. Na teoria econômica, ela é vista como progresso técnico e elemento externo à função de produção, na qual entram os fatores: recursos naturais, trabalho e capital (conjunto de máquinas, instrumentos e materiais utilizados na produção).

4. Alguns autores assinalam o papel da tecnologia como fator organizativo, que determina a composição e a proporção dos fatores de produção.

5. Os que exercem poder sobre o capital, privado ou  público, escolhem a tecnologia a ser adotada.  Para isso, baseiam-se, de um lado, no que os técnicos criam e, de outro, nas estratégias de mercado e/ou nos objetivos da política econômica. Os criadores de tecnologias as desenvolvem em função de suas ideias e do que lhes é demandado por parte dos que comandam o capital.

6. Fator invisível, mas concreto, da produção, a tecnologia decorre do trabalho, pois é gente que a produz: engenheiros, técnicos, artesãos (como nos primeiros séculos da industrialização) ou operários.

7. Por outro lado, tendo valor - e muito, do ponto de vista do mercado e em termos monetários - a tecnologia é quase sempre apropriada pelos detentores do capital, podendo a mais-valia ser especialmente elevada.

8. De resto, o ordenamento jurídico da propriedade industrial está no Acordo TRIPS (Trade Related Intellectual Property Rights) da Organização Mundial do Comércio (OMC), aprovado no Brasil, no final de 1994.

9. Esse acordo protege, muito mais que os direitos dos inventores, as corporações transnacionais. É instrumento da oligarquia para aprofundar o apartheid tecnológico, impedindo a absorção de tecnologia por países e  empresas de menor desenvolvimento.

10. A lesão ao desenvolvimento tecnológico do País foi reforçada com a Lei de Propriedade Industrial, 9.279/1996, enviesada em favor das empresas transnacionais, que controlam os mercados no Brasil.

11. Essas legislações inserem-se no salto qualitativo do crescimento da concentração do poder sob o império anglo-americano, em seguida ao desmantelamento da União Soviética. Foi assim radicalizada a apropriação da tecnologia pelos concentradores transnacionais do poder econômico.

12 Se, antes de 1990, já prevalecia o comando do capitalismo – por definição, concentrador – sobre os benefícios e os rendimentos monetários advindos da tecnologia, esta passou, desde então, a ser cada vez mais amplamente expropriada do Estado, dos empresários médios e pequenos, bem como dos técnicos e demais trabalhadores.

13. Tal como os demais bens suscetíveis de serem públicos, ou de - embora privados - beneficiarem o conjunto da sociedade, a tecnologia vem sendo objeto da privatização concentradora.

14. E o que  isso tem a ver com a desindustrialização do Brasil, com o baixo percentual de empregos de qualidade, com as infra-estruturas econômica e social mal construídas e deterioradas? E com o enorme déficit nas transações correntes com o exterior, o qual não arrefece nem com a redução da demanda, como foi em 2011?

15. Ora,  o Brasil, após agosto de 1954, foi sendo inviabilizado em termos de desenvolvimento econômico e social, ao ter continuadamente subsidiado a ocupação do mercado por empresas transnacionais. Com esse tipo de ocupação, não se desenvolvem tecnologias nacionais, pois raras são as as empresas de capital nacional que subsistem no mercado.

16. Aí reside um ponto-chave: tecnologia capaz de alavancar o desenvolvimento só cresce dentro de empresas em competição nos mercados. Entretanto, domina, na opinião comum, a falsa  concepção de que o Brasil está atrasado tecnologicamente porque investe pouco em educação, ciência, pesquisa básica e tecnologia. 

17. É verdade que investe relativamente pouco. Mas o grave mesmo é que, desse pouco, quase nada resulta em proveito da economia do País. Por que? Porque não há empresas nacionais evoluindo com progressos tecnológicos próprios. Elas simplesmente ficaram sem chance de permanecer no mercado ou de nele entrar, salvo em raros e passageiros nichos, logo apropriados pelos concentradores, principalmente transnacionais.

18. Poderíamos comparar a tecnologia aos nutrientes e adubos de uma planta, que seria a empresa produtiva. Ora, se a planta não é nossa, de pouco nos serve alimentá-la.

19. As transnacionais têm seus centros tecnológicos, em geral nas matrizes, e utilizam nas subsidiárias daqui a tecnologia já paga no exterior durante anos de vendas, o que lhes permite custo real zero no Brasil. Não têm, pois, interesse em investir nem em adquirir alguma aqui desenvolvida.

20. Se alguma lhes interessar, quase nada pagarão por ela, porque, controlando o mercado em sistema de oligopólio, impõem os preços e as condições, na qualidade de únicas compradoras. O que fizeram muito foi adquirir empresas nacionais apertadas pela política econômica, que as oprime em favor das ETNs.

21. Esta é a síntese da questão, como expus e documentei no meu livro “Globalização versus Desenvolvimento: Não existe país que se tenha desenvolvidohavendo entregado seu mercado a empresas comandadas por capitais estrangeiros.

22. Portanto, o conceito de “transferência de tecnologia” no Brasil só tem sentido na direção inversa àquela em que costumam falar dele: de brasileiros para as transnacionais dos países ditos desenvolvidos, ao contrário do que acontece(u) nos países realmente em desenvolvimento.

23. Agradeço ao Prof. Weber de Figueiredo, da UFRJ, por me ter transmitido  um exemplo típico da ilusão “desenvolvimentista” fomentada  por JK:  a eliminação de mais um projeto de indústria nacional, a Romisetta.

24.  Figueiredo assim resumiu informações de Fernando Campanholo sobre esse veículo  produzido pela Romi, empresa brasileira de Santa Bárbara do Oeste (SP), de 1956 a 1959:

O governo JK abriu linha de financiamento subsidiado destinado às multinacionais de automóveis que se estavam instalando no Brasil. A nacional Romi também pleiteou o financiamento, deixando os burocratas embaraçados, pois o financiamento fora pensado apenas para as multinacionais. Mas uma solução engenhosa foi encontrada. O governo baixou uma portaria definindo que automóvel é o veículo que tem dois bancos, o dianteiro e o traseiro! E, assim, a brasileira Romi foi jogada para escanteio, ficando fora do financiamento oficial, falindo a sua linha automotiva.”

25. A Romisetta era um carro leve, de um só banco. Mas o importante é começar a produzir para o mercado, o primeiro passo para evoluir em tecnologia. Não importa não ser de primeira linha.

26. O Fusca da VW chegou a mais de 50% do mercado, dominou-o por mais de vinte anos e pouco evoluiu. Fora desenvolvido nos anos 1930, e a VW ganhou o incrível subsídio, dado às multinacionais,  em 1954,  de registrar como investimento em moeda, o equipamento e tecnologia de produção, então mais do que amortizados. Portanto, custo zero para o capital e a tecnologia. Além disso, com JK, mais subsídios, como o financiamento oficial.

27. Campanholo conclui: “A fabricação de 3.000 unidades no Brasil no período de 1956 até 1961, principalmente comparados às 22.543 Isettas-BMW fabricadas somente em 1956 pela Alemanha, fica como triste lembrança de quanto nós estamos suscetíveis e passivos aos mandos e desmandos do capital estrangeiro. Até hoje.”

28. Resultado: as transnacionais, que ficaram com o mercado brasileiro de graça, continuam recebendo subsídios e remetendo centenas de bilhões de dólares para o exterior, a diversos títulos. Isso significa descapitalizar o País.

29. O Brasil foi programado pelo império anglo-americano para ser uma área de exploração de recursos naturais, em condição semelhante à maioria dos países africanos, submetidos ao mesmo tipo de intervenção. Além disso, em base de lucros provenientes também da indústria, controlada pelas transnacionais.

30. Foram elementos-chave da estratégia para que esse programa tenha sido realizado a pleno contento das potências imperiais e associadas: 1) a intervenção política e militar diretamente junto aos governos brasileiros; 2) a intervenção do dinheiro e da corrupção nas eleições, no sistema formalmente democrático; 3) o genocídio cultural; 4) o fomento da crença em que a entrada do capital estrangeiro favorece o desenvolvimento, complementa a poupança nacional, e em outras falácias.

31. Os entreguistas, culminando com os mega-entreguistas Collor e FHC, radicalizaram  a aplicação dessa fé bizarra e fatal. Foram muito além da simples abertura ao comércio: fizeram o Estado brasileiro subsidiar os investimentos diretos estrangeiros, de forma inacreditável, e discriminar contra o capital nacional.

32.  O Brasil não deixará de ser um país saqueado e enganado pela conversa fiada, enquanto não se reverter, de modo cabal, tudo isso e a mentalidade subjacente.

33. Eis algumas consequências para um país que participa do BRICs e pleiteia assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, só para ser enrolado pela potência dominante:

"Dos 25 navios da Marinha de Guerra do Brasil apenas 14 estão em condições de navegar, e dos seus 23 aviões apenas um tem condições de levantar voo. Enquanto isso, a Rússia, a Índia e a China são potências nucleares, detentoras de tecnologia militar de altíssimo nível..."

"Não produzimos sequer uma calculadora de bolso, pois falta-nos atéfábrica de chips – somos meros montadores de aparelhos eletrônicos."

* (Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de Economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo)

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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Virtualidade, realidade e o "big-bang" político




Muito se fala em virtualidade e realidade da Política, quando se quer expressar o que aparenta ser ou o que de fato acontece, mas, entre essas duas interfaces, há diversas camadas, perceptíveis ou imagináveis somente por mentes e espíritos mais atilados e capacitados a processar toda gama de variáveis que envolvem as relações entre a informação e o poder.

A virtualidade e a realidade são propiciadas pela visibilidade, que o observador obtém das versões e dos fatos, enquanto que as demais camadas situam-se no terreno da invisibilidade, que exige do observador, para que este possa penetrá-las, formação e informação muito mais buriladas.

Tais camadas do campo invisível são os bastidores; os cenários prospectivos (interno e externo) baseados na estrutura e na conjuntura políticas; as características das instituições; as variáveis do sistema político em análise; o fluxo de comunicação política; os perfis das elites e o movimento das massas.

Começando pela virtualidade política, esta ganhou considerável dimensão a partir do advento da internet e das redes sociais. Milhões de internautas definem o universo do “aparente” e interagem com o mesmo no cotidiano, criando “fatos e versões” que consolidam um ideal político.

A realidade política, acessada por meio desse mesmo instrumental da internet, permite a construção do universo do “real”, com o qual milhões de internautas interagem criando fatos e versões que consolidam um realismo político.

No campo invisível, os bastidores constituem o universo fugaz e mutante das tentativas de articulações e criações do processo decisório, sendo, por si só, um laboratório heurístico, onde atuam atores das esferas estatal e societária e de grupos de interesses nacionais e supranacionais. Uma boa imagem representativa dos bastidores é o “iceberg”, que mostra seu topo, mas oculta sua massa principal, tornando-se, por esse capricho, o campo que mais curiosidade desperta nos repórteres e analistas políticos e mais sensível a especulações.

Os cenários prospectivos, projetados com base na seleção de eventos futuros, a partir da avaliação das conjunturas interna e externa e com aplicação da análise probabilística, permitem definir objetivos políticos e respectivas estratégias - o planejamento da ação política -, tornando-se excelentes recursos para a elaboração de programas e planos de governo. No Brasil, a Escola Superior de Guerra é pioneira nesse trabalho e repassou sua experiência para vários países da América Latina.

As instituições políticas ordenam e comandam o processo de conquista e manutenção do poder resultante das interligações e interações entre atores e órgãos políticos (variáveis). A Constituição, a tripartição de poderes, o processo legislativo, a comunicação política, a forma federativa, o sistema de governo, o regime de governo, o sistema representativo, o sistema eleitoral, o sistema partidário, etc., são algumas das principais instituições e variáveis do sistema político como um todo.

Os perfis das elites e o movimento das massas (e aqui emprego essa expressão plural para elite e massa, concordando cientificamente com as concepções de Gramsci e da Escola de Frankfurt, embora considere válidas as concepções mais tradicionais de Mosca e Pareto com tais expressões singularizadas, mais aplicáveis ao período anterior à “cultura de massa”) constituem o cerne da dominação política, seja numa perspectiva nacional, seja numa perspectiva global ou cosmopolita.

Identificar e qualificar as elites, pelo seu tipo de circulação (horizontal ou vertical), e interpretar e fixar o pensamento comum das mesmas (o pensamento dominante), em função do movimento das massas, é o meio de se estabelecer a ideologia dominante adequada a cada uma das quatro etapas do desenvolvimento da sociedade, sugeridas de forma quase algorítmica pela Política Comparada: a) Identificação das lideranças modernizante; b) Fixação das lideranças modernizantes; c) Disseminação da liderança modernizante, e d) Promoção da interação social.

Por último, cabe destacar a importância da comunicação política (o conjunto de informações circulantes no sistema político e condicionadoras das ofertas e demandas do sistema, como define Panebianco). Curtos-circuitos nesse processo podem gerar a entropia (o desarranjo interno) do sistema político e o conflito entre governante e governados.

Curiosa a interpretação que Semama dá à comunicação, não como veículo cultural, mas, sim, como a própria cultura em si, e o relacionamento entre poder e informação –observa- é confirmado pelo fato de que “a medida da entropia é expressa do mesmo modo na mecânica estatística e na informática, tendo-se descoberto que a medida do conteúdo de informações de uma mensagem, membro de um determinado conjunto, é igual ao logaritmo da sua probabilidade de ocorrência.” (“Linguagem e Poder”, UnB, 1981).

Por esse prisma, a complexidade e amplitude dos meios de comunicação desta sociedade global não constituem veículos, mas, a própria cultura global, o que se coaduna com a massificação política e polariza radicalmente os universos do visível e invisível da política, criando, a meu ver, condições para um verdadeiro “big-bang” político universal, com a “reformatação” negativa de várias instituições relacionadas moral e eticamente à liberdade humana. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

"Jerônimo" vira bandeira de Obama


A morte de Bin Laden, em Abbottabad, perto de Islamabad, capital do Paquistão, cujo aniversário é lembrado no primeiro de maio, se transformou num emblema do Governo Barack Obama contra o terrorismo mundial e para sua própria campanha de reeleição.

Assisti pelo “History Channel” a reconstituição do planejamento e  da execução dessa operação e  a divulgação do seu resultado final,com pompa e circunstância, em cadeia televisiva mundial, pelo Presidente Obama e seus principais assessores da Casa Branca que tinham acompanhado por vídeo  cada movimento das tropas de elite da Marinha dos Estados Unidos.

Em termos militares, foi um duro golpe contra a organização Al- Qaeda, mas, eleitoralmente, essa façanha agora é explorada pelo presidente Barack Obama como uma operação de resgate ancorada na idéia de que a morte de Bin Laden resgatou a honra do povo, da nação e dos milhares de vítimas dos ataques às Tôrres Gêmeas, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001.

Mais uma vez, os Estados Unidos se vingam dos que ousam atacar seu território, como haviam feito anteriormente com o Japão, depois de ousado ataque deste à base naval de Pearl Harbor, no Havaí,em 1941, que resultou na morte de 2.469 pessoas. Quatro anos depois, lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, causando 220.000 mortos, sem inclusão nessa estatística das vítimas posteriores dos efeitos da radiação.

A exibição do “History Channel”, com base em depoimentos do Presidente Obama e versões da imprensa e de especialistas da área de inteligência, destacou as dificuldades e o alto risco oferecido pela operação, desde a própria decisão solitária do Presidente contra 50% de chance de que Bin Laden, o "Jerônimo", não estivesse no local.

 Obama, um democrata, corria o risco de repetir o fiasco de seu antecessor democrata na Casa Branca, Bill Clinton, na operação Mogadíscio, com a agravante de ter entre seus conselheiros a secretaria de Estado Hilary Clinton, mulher de Bill Clinton, classificou aqueles momentos como os mais longos de sua vida, desde quando teve sua filha gravemente doente.

Desastrosa foi a “Operação Serpente Gótica” ou primeira batalha de Mogadíscio, capital da Somália, em 1993, quando os Estados Unidos enviaram tropas de elite (as “Task Force Ranger”), com apoio de forças militares da ONU, contra milicianos somalis ligados ao chefe tribal Farrah Aidid. Teriam morrido 700 somalis e 19 norte-americanos, segundo estatísticas da época, mas, politicamente, a operação causou prejuízos ao país e marcou negativamente a gestão de Bill Clinton.

Em sua caminhada para a reeleição, um novo fracasso dos democratas em operações dessa natureza, com tropas especiais, proporcionaria aos republicanos uma munição formidável em termos eleitorais. Sem falar nas repercussões políticas e diplomáticas junto aos países islâmicos aliados do Paquistão, ainda mais se considerada a inspiração norte-americana nesse tipo de ataque que tem por protótipo a “operação Entebbe”, de Israel.

Em julho de 1976, tropas de elite de Israel libertaram cerca de 200 pessoas seqüestradas num avião comercial e levadas para a base de Entebbe, perto de Kampala, capital da Uganda, país africano, à época submetido ao guante ditatorial de Idi Amin Dada.

Naquela operação, morreu o comandante do grupo-tarefa, tenente-coronel Yonatan Netanyahu, irmão do ex-premier Benjamin Netanyahu, mas, mesmo assim, é considerada a missão de resgate mais complexa e perfeita de todos os tempos, realizada pela unidade Sayeret Matkal, que se transformou numa espécie de modelo para treinamento de forças especiais de vários países.

A operação de eliminação de Osama Bin Laden foi mantida em segredo até o seu desencadeamento, o que impressionou Obama, sabendo que cerca de 100 pessoas tinham conhecimento de sua realização. A queda de um dos dois helicópteros com as tropas nas imediações do refúgio de Laden tirou o elemento-surpresa e quase inviabilizou o êxito da missão. O resto é narrado pela crônica: Morto, Bin Laden teria sido identificado por exame de DNA e fotos e seu corpo lançado ao mar, num ritual islâmico.

De tudo que se vê, lê e ouve sobre a história da execução de Bin Laden, fica uma pergunta: O Paquistão não sabia? Com seu serviço secreto, seus radares aéreos e seus aviões de combate sofisticados, não perceberam nada do que iria acontecer ou estava acontecendo, quando até moradores de Abbottabad acorreram ao local e testemunharam a ação das tropas de elite e sua fuga aérea para a fronteira do Afeganistão?

Como adverte um provérbio árabe: لا أوكوبيس المنزل قبل اجتماعه مع جيرانكم (“Não ocupes a casa, antes de examinares seus vizinhos).