terça-feira, 1 de maio de 2012

"Jerônimo" vira bandeira de Obama


A morte de Bin Laden, em Abbottabad, perto de Islamabad, capital do Paquistão, cujo aniversário é lembrado no primeiro de maio, se transformou num emblema do Governo Barack Obama contra o terrorismo mundial e para sua própria campanha de reeleição.

Assisti pelo “History Channel” a reconstituição do planejamento e  da execução dessa operação e  a divulgação do seu resultado final,com pompa e circunstância, em cadeia televisiva mundial, pelo Presidente Obama e seus principais assessores da Casa Branca que tinham acompanhado por vídeo  cada movimento das tropas de elite da Marinha dos Estados Unidos.

Em termos militares, foi um duro golpe contra a organização Al- Qaeda, mas, eleitoralmente, essa façanha agora é explorada pelo presidente Barack Obama como uma operação de resgate ancorada na idéia de que a morte de Bin Laden resgatou a honra do povo, da nação e dos milhares de vítimas dos ataques às Tôrres Gêmeas, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001.

Mais uma vez, os Estados Unidos se vingam dos que ousam atacar seu território, como haviam feito anteriormente com o Japão, depois de ousado ataque deste à base naval de Pearl Harbor, no Havaí,em 1941, que resultou na morte de 2.469 pessoas. Quatro anos depois, lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, causando 220.000 mortos, sem inclusão nessa estatística das vítimas posteriores dos efeitos da radiação.

A exibição do “History Channel”, com base em depoimentos do Presidente Obama e versões da imprensa e de especialistas da área de inteligência, destacou as dificuldades e o alto risco oferecido pela operação, desde a própria decisão solitária do Presidente contra 50% de chance de que Bin Laden, o "Jerônimo", não estivesse no local.

 Obama, um democrata, corria o risco de repetir o fiasco de seu antecessor democrata na Casa Branca, Bill Clinton, na operação Mogadíscio, com a agravante de ter entre seus conselheiros a secretaria de Estado Hilary Clinton, mulher de Bill Clinton, classificou aqueles momentos como os mais longos de sua vida, desde quando teve sua filha gravemente doente.

Desastrosa foi a “Operação Serpente Gótica” ou primeira batalha de Mogadíscio, capital da Somália, em 1993, quando os Estados Unidos enviaram tropas de elite (as “Task Force Ranger”), com apoio de forças militares da ONU, contra milicianos somalis ligados ao chefe tribal Farrah Aidid. Teriam morrido 700 somalis e 19 norte-americanos, segundo estatísticas da época, mas, politicamente, a operação causou prejuízos ao país e marcou negativamente a gestão de Bill Clinton.

Em sua caminhada para a reeleição, um novo fracasso dos democratas em operações dessa natureza, com tropas especiais, proporcionaria aos republicanos uma munição formidável em termos eleitorais. Sem falar nas repercussões políticas e diplomáticas junto aos países islâmicos aliados do Paquistão, ainda mais se considerada a inspiração norte-americana nesse tipo de ataque que tem por protótipo a “operação Entebbe”, de Israel.

Em julho de 1976, tropas de elite de Israel libertaram cerca de 200 pessoas seqüestradas num avião comercial e levadas para a base de Entebbe, perto de Kampala, capital da Uganda, país africano, à época submetido ao guante ditatorial de Idi Amin Dada.

Naquela operação, morreu o comandante do grupo-tarefa, tenente-coronel Yonatan Netanyahu, irmão do ex-premier Benjamin Netanyahu, mas, mesmo assim, é considerada a missão de resgate mais complexa e perfeita de todos os tempos, realizada pela unidade Sayeret Matkal, que se transformou numa espécie de modelo para treinamento de forças especiais de vários países.

A operação de eliminação de Osama Bin Laden foi mantida em segredo até o seu desencadeamento, o que impressionou Obama, sabendo que cerca de 100 pessoas tinham conhecimento de sua realização. A queda de um dos dois helicópteros com as tropas nas imediações do refúgio de Laden tirou o elemento-surpresa e quase inviabilizou o êxito da missão. O resto é narrado pela crônica: Morto, Bin Laden teria sido identificado por exame de DNA e fotos e seu corpo lançado ao mar, num ritual islâmico.

De tudo que se vê, lê e ouve sobre a história da execução de Bin Laden, fica uma pergunta: O Paquistão não sabia? Com seu serviço secreto, seus radares aéreos e seus aviões de combate sofisticados, não perceberam nada do que iria acontecer ou estava acontecendo, quando até moradores de Abbottabad acorreram ao local e testemunharam a ação das tropas de elite e sua fuga aérea para a fronteira do Afeganistão?

Como adverte um provérbio árabe: لا أوكوبيس المنزل قبل اجتماعه مع جيرانكم (“Não ocupes a casa, antes de examinares seus vizinhos).

Nenhum comentário:

Postar um comentário