segunda-feira, 6 de julho de 2015

Na Grécia, vence o OXI

 
Jornalista Francisco das Chagas Leite Filho
OXI, na Grécia, significa muito mais do que o advérbio de negação. O “NÃO” deles exprime um sentimento de orgulho e dignidade, que se espelha num exemplo de bravura de seu governo, em 1941, durante a segunda guerra, diante de um ultimato de Mussolini. Depois de entender-se com Hitler, o senhor da guerra (o Führer) e do mundo na época, o Dulce intimou o primeiro ministro e general Ioannis Metaxas a render-se num prazo de três horas.
Metaxas e todo o planeta sabiam que as tropas italianas estavam acantonadas na fronteira com a vizinha Albânia, prontas a atacar. Sucinto, o premiê enviou-lhe a resposta num telegrama expressa numa única palavra: OXI. Na guerra que se seguiu, a Grécia, comandada por Metaxas e com forças nitidamente inferiores às do inimigo, aplica, com a ajuda do povo, uma solene e desmoralizante derrota ao Dulce. A partir dali, o exercito fascista italiano virou motivo de chacotas, que persiste até hoje. É por isso que todo ano, os gregos comemoram o “Dia do Não” (OXI), todo 28 de outubro, com celebrações populares em todo o país.
Foi com este sentimento e expressando o ultraje grego sofrido nos últimos cinco anos de opressão da Troika, FMI, Banco Cenrtral Europeu e União Europeia, que o atual premiê, o jovem Aléxis Tsipras, de 40 anos, exortou a população a dizer outro sonoro OXI ao que seria um novo pacote econômico. Tal pacote imporia outras pilhagens às já malbaratadas finanças nacionais, cujo PIB caiu 25% por causa das medidas anteriores adotadas desde 2010.
Líder da Coalizão Syriza, que em grego significa Esquerda Radical, num esforço para diferenciar-se da desmoralizada esquerda europeia, que hoje se transformou no braço direito do FMI e do neoliberalismo, Tsípras afrontou o medo e o desânimo que o aparato midiático universal, além do grego, obviamente, tentou injetar na população: as grandes redes de TV e de internet passaram a anunciar que se o OXI ganhasse o país ficaria sem gasolina, sem comida e sem crédito, porque a Europa a excluiria da zona do Euro. Mentira para boi dormir que não impressionou os gregos: 61% disseram OXI as propostas, que eles sabiam muito bem tratar-se de imposições, da Europara para subjugar o governo grego.
Como o governo Tsipras está agora reforçado com o apoio popular advindo do referendo, a Europa, que teme a debandada da Espanha, através do Partido Podemos, e de um efeito contágio que ainda poderia levar a rebeldia à Itália, Irlanda, Portugal e talvez a própria França, com o “socialista” François Hollande e tudo, vai ter, necessariamente, de fazer concessões importantes à Grécia. Estas concessões deverão dar alívio ao país para crescer, a exemplo do que os credores europeus e americanos tiveram de fazer com o governo Kirchner, da Argentina, em 2005: aceitaram um perdão da dívida de 75%, em troca do pagamento assegurado dos 25% restantes.
O importante a assinalar, aqui, é não apenas a destemor, mas sobretudo a estratégia de estado maior que adotou Tsipras, um engenheiro civil de profissão. Para vencer o temeroso aparato econômico-midiático, jogado com todo o seu peso sobre o referendo, através do apoio decidido não só da União Europeia como dos Estados Unidos, a superpotência mundial, Tsípras teve de usar, nesta batalha eleitoral, táticas tão dissuasivas como as de seu remoto antecessor Metaxas na guerra literal. Recorde-se que ele anunciou a medida num pronunciamento ocorrido depois da zero hora de 26 de junho, quando a Grécia e a Europa ainda estava dormindo e poucas horas depois de ter recebido uma nova chantagem da Grécia, numa reunião a que compareceu, pessoalmente, em Bruxelas, sede da UE.
O prazo de realização da consulta foi também curtíssimo: apenas seis dias úteis, já que se consumaria neste domingo cinco de julho.
Sabedor da onda de boatos e ameaças que desataria sua decisão, os quais poderiam desembocar numa corrida bancária e no desabastecimento, o premiê demonstrou ser um líder em completo controle da política, da administração e da política externa. Primeiro, determinou o feriado bancário indeterminado, depois limitou os saques diários nos caixas eletrônicos em 60 euros (lembre-se que na Argentina do corralito, o limite era uma retirada semanal de 250 pesos, moeda já então desvalorizada em mais de 50% frente ao dólar, além do sequestro de todas contas correntes e de poupança, o que não aconteceu na Grécia de Tsípras).
Para contrabalançar as limitações financeiras da população, o governo também autorizou o transporte público gratuito e a abertura normal do comércio. Com isso, ele evitou que a mídia semeasse o pânico e foi aos poucos obtendo o apoio da população, que não saiu depredando e saqueando lojas e bancos, como ocorreu na Argentina do corralito, em 2001. Nos primeiros dias, já se tinha nítida noção da vitória do OXI, apesar da manipulação clássica dos institutos de opinião, os quais, para potenciar sua política de incitar o medo, recorreu sua velha tática de estuprar a matemática. Três dias antes do referendo, chegaram a dar uma vitória de 1,8% do NAI (sim) sobre o OXI, enquanto as quatro cadeias de TV anunciavam uma pesquisa de boca de urna de que havia uma “leve”, o que implicava empate técnico, preponderância do OXI. Tudo em vão, tudo mentira. Prevaleceu o OXI, com, até o término desse post, às 17:28 horas 61%, contra 39% do NAI.

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 FC Leite Filho

OXI, na Grécia, significa muito mais do que o advérbio de negação. O “NÃO” deles exprime um sentimento de orgulho e dignidade, que se espelha num exemplo de bravura de seu governo, em 1941, durante a segunda guerra, diante de um ultimato de Mussolini. Depois de entender-se com Hitler, o senhor da guerra (o Führer) e do mundo na época, o Dulce intimou o primeiro ministro e general Ioannis Metaxas a render-se num prazo de três horas.

Metaxas e todo o planeta sabiam que as tropas italianas estavam acantonadas na fronteira com a vizinha Albânia, prontas a atacar. Sucinto, o premiê enviou-lhe a resposta num telegrama expressa numa única palavra: OXI. Na guerra que se seguiu, a Grécia, comandada por Metaxas e com forças nitidamente inferiores às do inimigo, aplica, com a ajuda do povo, uma solene e desmoralizante derrota ao Dulce. A partir dali, o exercito fascista italiano virou motivo de chacotas, que persiste até hoje. É por isso que todo ano, os gregos comemoram o “Dia do Não” (OXI), todo 28 de outubro, com celebrações populares em todo o país.

Foi com este sentimento e expressando o ultraje grego sofrido nos últimos cinco anos de opressão da Troika, FMI, Banco Cenrtral Europeu e União Europeia, que o atual premiê, o jovem Aléxis Tsipras, de 40 anos, exortou a população a dizer outro sonoro OXI ao que seria um novo pacote econômico. Tal pacote imporia outras pilhagens às já malbaratadas finanças nacionais, cujo PIB caiu 25% por causa das medidas anteriores adotadas desde 2010.

 

Líder da Coalizão Syriza, que em grego significa Esquerda Radical, num esforço para diferenciar-se da desmoralizada esquerda europeia, que hoje se transformou no braço direito do FMI e do neoliberalismo, Tsípras afrontou o medo e o desânimo que o aparato midiático universal, além do grego, obviamente, tentou injetar na população: as grandes redes de TV e de internet passaram a anunciar que se o OXI ganhasse o país ficaria sem gasolina, sem comida e sem crédito, porque a Europa a excluiria da zona do Euro. Mentira para boi dormir que não impressionou os gregos: 61% disseram OXI as propostas, que eles sabiam muito bem tratar-se de imposições, da Europara para subjugar o governo grego.

 

Como o governo Tsipras está agora reforçado com o apoio popular advindo do referendo, a Europa, que teme a debandada da Espanha, através do Partido Podemos, e de um efeito contágio que ainda poderia levar a rebeldia à Itália, Irlanda, Portugal e talvez a própria França, com o “socialista” François Hollande e tudo, vai ter, necessariamente, de fazer concessões importantes à Grécia. Estas concessões deverão dar alívio ao país para crescer, a exemplo do que os credores europeus e americanos tiveram de fazer com o governo Kirchner, da Argentina, em 2005: aceitaram um perdão da dívida de 75%, em troca do pagamento assegurado dos 25% restantes.

 

O importante a assinalar, aqui, é não apenas a destemor, mas sobretudo a estratégia de estado maior que adotou Tsipras, um engenheiro civil de profissão. Para vencer o temeroso aparato econômico-midiático, jogado com todo o seu peso sobre o referendo, através do apoio decidido não só da União Europeia como dos Estados Unidos, a superpotência mundial, Tsípras teve de usar, nesta batalha eleitoral, táticas tão dissuasivas como as de seu remoto antecessor Metaxas na guerra literal. Recorde-se que ele anunciou a medida num pronunciamento ocorrido depois da zero hora de 26 de junho, quando a Grécia e a Europa ainda estava dormindo e poucas horas depois de ter recebido uma nova chantagem da Grécia, numa reunião a que compareceu, pessoalmente, em Bruxelas, sede da UE.

O prazo de realização da consulta foi também curtíssimo: apenas seis dias úteis, já que se consumaria neste domingo cinco de julho.

 

Sabedor da onda de boatos e ameaças que desataria sua decisão, os quais poderiam desembocar numa corrida bancária e no desabastecimento, o premiê demonstrou ser um líder em completo controle da política, da administração e da política externa. Primeiro, determinou o feriado bancário indeterminado, depois limitou os saques diários nos caixas eletrônicos em 60 euros (lembre-se que na Argentina do corralito, o limite era uma retirada semanal de 250 pesos, moeda já então desvalorizada em mais de 50% frente ao dólar, além do sequestro de todas contas correntes e de poupança, o que não aconteceu na Grécia de Tsípras).

Para contrabalançar as limitações financeiras da população, o governo também autorizou o transporte público gratuito e a abertura normal do comércio. Com isso, ele evitou que a mídia semeasse o pânico e foi aos poucos obtendo o apoio da população, que não saiu depredando e saqueando lojas e bancos, como ocorreu na Argentina do corralito, em 2001. Nos primeiros dias, já se tinha nítida noção da vitória do OXI, apesar da manipulação clássica dos institutos de opinião, os quais, para potenciar sua política de incitar o medo, recorreu sua velha tática de estuprar a matemática. Três dias antes do referendo, chegaram a dar uma vitória de 1,8% do NAI (sim) sobre o OXI, enquanto as quatro cadeias de TV anunciavam uma pesquisa de boca de urna de que havia uma “leve”, o que implicava empate técnico, preponderância do OXI. Tudo em vão, tudo mentira. Prevaleceu o OXI, com, até o término desse post, às 17:28 horas 61%, contra 39% do NAI.

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