quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Pílulas do Vicente Limongi Netto


Hipocrisia

Dilma telefonou para Michel Temer no natal. Banalizaram e mandaram para o inferno o espírito natalino. Um deboche. Rangendo os dentes, elevaram aos céus as armas da hipocrisia e do cinismo. Até as pedras das ruas sabem que os dois não se toleram. Querem se ver pelas costas. mortinhos da silva. Estão em times contrários.    Tudo não passou de farsa e conversa fiada. Trégua de araque. Constrangeram inclusive as renas do papai-noel. Depois do cretino diálogo não se sabe quem vomitou primeiro.

A própria piada

Li na coluna "Panorama político", do Globo (29/12), que o governador Geraldo Alckmin contou várias piadas aos outros colegas dele, reunidos em Brasília. A tarefa não foi difícil para Alckmin, já que ele é a própria piada.

Volta Tostão

Tostão de férias significa que o caderno de esportes da Folha fica mais pobre. Pode-se discordar do grande ex-jogador. Mas Tostão entende do que escreve. O mesmo não se pode dizer do colunista Juca Kifouri.  Apenas um torpe e venal maledicente e gaiato que nunca jogou nem pedra em Mangueira. Volta logo, Tostão.

O amor

Existe amor/ preso em mares fechados pelo tempo/domado pelas vozes dos peixes. Existe amor/preço nos braços curtos, viris/da semente básica/fugida ao confronto de rochas Existe amor/preso ontem no vaivém da história/incompleto no seu traçado adaptado. Existe amor/ preso/nutrindo raiva pela emoção do humano/documentada no eventual ódio dos poréns. Existe amor/ preso nos chafarizes cobertos de limos do real/nos talhos de sabão que vai perdendo a presença. Existe amor/ preso/antes foi pesquisado/mal reproduzido e coligido/pelos ilustres do passado. O amor existe, do homem no seu ciclo aurífero, sai pela boca, narinas e soluça com tudo que é válido.

Osso duro

O deputado Eduardo Cunha não é mariposa dos holofotes, como seus desafetos, fantasiados de éticos e paladinos por correspondência. Cunha cumpre seu dever. Não abre mão das prerrogativas de presidente da Câmara Federal. Cunha é homem de fibra. Os carrascos de Cunha são reféns e vassalos do ódio. Eduardo Cunha não vai servir de pasto para saciar o apetite doentio de demagogos, venais, cretinos, oportunistas e hipócritas.

Falta Collor

A  exemplo do que fez com Ciro Gomes e Jair Bolsonaro(Folha São Paulo - 20/12), creio que o Datafolha deveria acrescentar o nome do senador Fernando Collor nas novas pesquisas para a Presidência da República.

Duvido que Collor não obtenha pelo menos 12% de intenções de votos. Ainda a propósito do Datafolha julgo interessante e concordo com aqueles que preferem que Dilma permaneça no cargo, se tiver de ser substituída por Michel Temer É melhor manter na chefia da nação Dilma, que o povo já conhece, mesmo com defeitos, do que Temer, vice dissimulado, que não merece confiança e com forte pinta de desleal, farsante e desagregador.

A infraestrutura do modelo dependente (Conclusão)


Adriano Benayon * -
Infraestrutura (conclusão), que conclui os tópicos sobre a infraestrutura abordados no artigo anterior (O Brasil precisa reviver como Nação);
31. Além dos aumentos de tarifas, que superam 150%, em termos reais, decorrentes do sistema elétrico corruptíssimo, adotado em seguida à privatização, paira sobre a cabeça dos consumidores residenciais novo aumento na tarifa de eletricidade em 2016.
32. Foram eximidas deste, por decisão da Justiça (sic), as grandes usuárias de energia, as mineradoras e indústrias químicas transnacionais, beneficiárias, há muitos decênios, de tarifas subsidiadas. 
33. Esse é mais um exemplo do modelo montado para arrancar o solo, o subsolo e as águas do País, juntamente com nutrientes e minérios, a fim de exportar tudo com subsídios governamentais, a preços ridiculamente baixos, e sem reparação pelos irreparáveis e colossais danos ambientais.
34. Nos combustíveis líquidos, predominam os fósseis, não-renováveis, conforme a matriz ditada pelos carteis mundiais da energia – os mesmos que suscitam a devastação de países inteiros do Oriente Médio para dominar fontes de petróleo e gás natural, rotas marítimas e dutos.
35. O petróleo penetrou também na geração elétrica, afora o carvão, e o Brasil quase estagnou na hidroeletricidade, em que dispõe de formidável vantagem natural, deixando de investir, a partir do final dos anos 70.
36. Por que? Porque o modelo econômico dependente causa penúria, devido aos preços altos dos bens e serviços, geradores de ganhos que não ficam no País: daí, escassez de divisas e crescimento da dívida externa.
37. Além disso, na mentalidade dos subordinados aos concentradores financeiros mundiais, a infraestrutura não dispensa equipamentos importados, de alto custo, pagos em dólar. Assim, abortou-se o desenvolvimento das excelentes tecnologias e bens de capital que se acumulavam na engenharia de pequenas centrais hidrelétricas.
38. Quando, sob os últimos Executivos federais, se tentou recuperar parte do terreno perdido na hidroeletricidade, usinas geradoras e linhas de transmissão foram enormemente retardadas, encarecidas e prejudicadas, por interferências de ONGs, fundações e governos estrangeiros, entidades como IBAMA, FUNAI e Ministério Público.
39. Ademais de subaproveitar as quedas, suprimiram-se e reduziram-se eclusas, em prejuízo também dos transportes fluviais.
40. Sempre em benefício dos carteis transnacionais foram instaladas centrais térmicas a óleo combustível de petróleo, que elevam, brutalmente, os custos da eletricidade. Também, a gás, até para processar o da Bolívia, então controlado por Enron, Shell e BP (a Petrobrás pagando os dutos).
41. Uma das finalidades de superdimensionar a indústria automotiva transnacional -  sugadora de subsídios federais, estaduais e municipais, e de sobrepreços abusivos -  foi dar mercado a gasolina e diesel de petróleo.
42. Esses deveriam ter sido substituídos pelo etanol (inclusive bagaço-de-cana) e pelos óleos vegetais, econômicos, limpos e eficientes para também para gerar eletricidad
43. São melhor alternativa que a energia eólica. Nesta investem-se dezenas de bilhões de reais, enquanto nada para valer, nem correto, é aplicado em óleos vegetais: mais um indicativo de que o modelo dependente pretere indústrias intensivas de mão-de-obra, em detrimento da criação de empregos, inviabiliza tecnologias nacionais e favorece o uso de equipamentos e tecnologias importados.
44. Nos transportes, intra e interestaduais, e urbanos, quase tudo depende de veículos automotores: usuários extorquidos por sobrepreços pelas montadoras transnacionais; altos custos de combustíveis e lubrificantes; pedágios instalados em estradas construídas com dinheiro público; rodar sobre asfalto deteriorado ou atolar-se nas estradas de terra.
45. Shangai já passa de 500 km de linhas de metrô, e Londres tem 400 km. São Paulo, 80 km.  Nem vale a pena falar das outras cidades brasileiras.
46. Collor, com desprezo ao Brasil, extinguiu a única companhia brasileira de navegação marítima. As empresas de navegação aérea foram eliminadas (Panair do Brasil, 1965). Nos anos 1990, com FHC, foram inviabilizadas VARIG, TRANSBRASIL e VASP.
47. Não há mais nenhuma de capital nacional. A CELMA, da VARIG, com valiosa tecnologia em motores e peças, foi entregue à transnacional GM.
48. A privatização foi desastrosa também nas telecomunicações: os brasileiros pagam as tarifas mais caras do mundo. Foi perdido até o estratégico controle, da ex-estatal EMBRATEL, para a MCI International, dos EUA.
 Perspectivas da economia para 2016
Se bitolarmos o horizonte político dentro das regras constitucionais e legais presentes, as perspectivas da economia brasileira afiguram-se desfavoráveis, como acontece, há decênios, vitimada por mais uma das crises recorrentes a que conduz o modelo dependente.
2. Isso é assim, do ponto de vista da grande maioria dos brasileiros, até dos  jovens de classe média alta sem perspectiva de empregos condizentes com seu potencial, mesmo com este decaindo devido ao  abaixamento do nível da instrução e da cultura.
3. Para que as coisas se mostrem promissoras são indispensáveis estruturas muito diversas das que se vêm formando em decorrência da desnacionalização, concentração e primarização da economia. O percentual da indústria, que chegara a 35% do PIB, está em 10%.
4. Não há como haver progresso sem mercados concorrenciais e sem que o Estado oriente o desenvolvimento segundo objetivos estratégicos, inclusive: a) carreando recursos financeiros para construir infraestruturas competitivas, adequadas aos recursos naturais do País; b) propiciando espaço no mercado a empresas nacionais com potencial de desenvolver tecnologia.
5. A moeda e o crédito têm de ser usados para esses fins por um poder federal soberano, o que implica, por exemplo,  abolir o art. 164 da Constituição.
6. Este subordina o Tesouro Nacional aos banqueiros locais e internacionais, impedindo-o de emitir moeda, competência exclusiva dada ao Banco Central (BACEN), ao  qual é vedado financiar o Tesouro Nacional e demais instituições do Estado.
7. Tampouco nos serve a Lei 4.595 (Sistema Financeiro), de 31.12.1964, recepcionada como Lei Complementar à Constituição de 1988. Essa e as normas instituídas pelo BACEN         seguem os diktats dos mercados financeiros internacionais comandados por restrita oligarquia de bancos, principalmente anglo-americanos.
8. Eis importantes aspectos deletérios decorrentes dessa situação: a falta de controles de câmbio; o regime de taxas de câmbio flutuantes, ao sabor do sistema de poder financeiro mundial e a consequente elevação da taxa de juros internos do Brasil a níveis impeditivos, entre outros fatores, da competitividade do País e determinantes da concentração do poder financeiro nas mãos de bancos e transnacionais em operação do País.
9. De fato, essas empresas, com matrizes no exterior, controlam, em oligopólio, além de todos os grandes mercados, número crescente dos demais mercados.
10. Além disso, juntamente com os bancos -  muitos destes também controlados do exterior -  auferem receitas financeiras já em torno de 35% do PIB, cifra subestimada, pois boa parte dos rendimentos dos títulos do Tesouro é computada como correção monetária. Somente nesses títulos, contabilizaram-se R$ 510,6 bilhões em doze meses, até setembro de 2015.
11. Eles formam verdadeira megabomba, pois a taxa efetiva do serviço da dívida interna, cujo grosso é pago pela emissão de novos títulos, elevaria o saldo devedor, mantido o ritmo atual, ao equivalente a duas vezes o PIB mundial, em 30 anos. 
12. Que tenha havido forte desvalorização do câmbio em 2015, mesmo com juros na estratosfera, é um dos indicadores de que a economia brasileira não é sustentável sem cabal substituição das estruturas políticas e da estratégia econômica.
13. Para o 1º semestre de 2016, desenha-se a possibilidade,  no cenário financeiro , de novo colapso, pior que o último, de 2007/8. Agora, o estoque de títulos derivativos é três ou quatro vezes maior que o de então, e, está quase todo com Tesouros nacionais  ou bancos centrais.
14. No Brasil, os efeitos desse colapso seriam ainda mais devastadores, em face das pressões político-financeira externa e política interna, que o País tem sofrido no processo de desestabilização do Executivo federal, as quais já elevaram o spread do “risco Brasil” para mais de 4% aa.
15. Diante de tudo isso, o País está despreparado, com os poderes da República desviados de suas obrigações, sob interferências externas e sendo os interesses nacionais entregues às traças. De pouco adiantará ejetar o presente Executivo, pois os atuais pretendentes a substituí-lo estão claramente alinhados com o império anglo-americano.

 * - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha,  autor do livro Globalização versus Desenvolvimento (abenayon.df@gmail.com).

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Impeachment difícil, mas Temer continua se aprestando


No Brasil, abaixo da linha do Equador,  onde não existe pecado, vai se desenhando o caminho para que a Presidenta Dilma Rousseff  se livre do impeachment  pedido pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reali Júnior por conta das denominadas “pedaladas fiscais” do Governo.
O próprio Tribunal de Contas da União  admite que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e sua equipe são os responsáveis pelas “pedaladas”, apontando o caminho para que a Presidenta Dilma e o vice-presidente Michel Temer escapem do julgamento. 
Resumindo: A Chefa do Governo e o seu eventual substituto, Michel Temer, assinaram as “pedaladas fiscais” sem qualquer responsabilidade pelos seus atos. A equipe econômica tê-los-ia induzido ao expediente, que é inconstitucional.
Com a Polícia Federal tocando fogo nos esconderijos e arquivos do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, fervoroso defensor do processo de impeachment, também pressionado pela Comissão de Ética daquela Casa, mais um foco de agressão a Dilma é debelado.
Soma-se a isso tudo a afirmação do presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, de que um eventual impeachment teria que passar também pelo Senado Federal. As ruas se manifestam flacidamente em favor do impeachment da Presidenta. Sem maior pressão, elas não decidirão, com toda a efervescência causada pelas redes sociais.
A mídia impressa e eletrônica, empresas do setor esportivo e bancos  patrocinadores, de olho no faturamento e nos seus compromissos com a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, no próximo ano, no Rio de Janeiro, com início de agosto e término em setembro, também não querem o impeachment, que pode gerar instabilidade e repelir investidores e turistas.
Se Dilma não deve sair pelo impeachment, sairia cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder econômico na sua reeleição? Também não, porque Michel Temer seria cassado com ela. Então, teoricamente, tudo continuará como está, e até pode melhorar, se o Governo conseguir sair da armadilha econômica em que caiu. Certo ou errado?
Errado, porque o vice-presidente Michel Temer está se preparando para assumir a Presidência ocupando o vácuo de confiabilidade e eficácia que Dilma tem deixado. Ela diz que quer ficar porque foi eleita, mas o mesmo povo que a colocou tem o direito de destitui-la por não corresponder aos seus anseios e por se manifestar descrente do PT por tantas mazelas que vêm sendo apuradas e que levaram o Brasil a essa situação vexatória. São Tomás de Aquino já considerava legítima a rebelião popular contra o governante inepto, causando frisson na Baixa Idade Média com sua tese.
Temer conta com apoio de quase todos partidos. Sempre foi e continuará sendo a pedra angular, o unificador da política brasileira atual. Renúncia voluntária de Dilma ou sua incapacitação física por razões diversas, principalmente  as de saúde, são duas alternativas que restam para que o caminho seja aberto para Michel Temer assumir sem traumas para a democracia, para as Olimpíadas e as Paraolimpíadas.
À margem do processo político, continua a Operação Lava Jato com as suas apurações que ainda revelarão fatos absurdos e que podem mudar o caleidoscópio político a todo instante. O ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, luta desesperadamente para salvar o pescoço dos empresários, conforme notícias que circulam nas redes sociais e apurações da revista “Veja”. Eduardo Cardoso estaria sujeito a cominações legais, como aconteceu com o senador Delcidio do Amaral, por tentar usar seu cargo para  atrapalhar as investigações da Lava Jato.
A situação política e econômica   no Brasil continua nebulosa, principalmente porque ainda não se chegou a um ponto de ruptura político-institucional, embora o governo Dilma Rousseff em si esteja ferido de morte, como naquele samba de Nelson Sargento com letra de Chico Buarque de Holanda, "Agoniza, mas não morre".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Janela de Brasília(XXVIII)


1. Chega a ser chocante o nível da água do Lago Paranoá nas proximidades da Ponte da Bragueto. Ilhotas com mato se formam naquela área indicando que o Lago precisa de mais água, senão a seca um dia vai comprometer o abastecimento de água potável na Capital da República.
2. Quem pode aceitar o mau-cheiro horrível  de cocô que a estação de tratamento da Companhia de Água e Saneamento Básico -CAESB- no Lago Norte, no campus da Universidade de Brasília, exala a qualquer hora do dia e da noite? Pobre Lago, pobre motorista que transita perto daquele local!
3. Os preços dos panetones nos supermercados de Brasília variam de menos de dez reais a mais de 50 reais.  Percebe-se que, neste aspecto, o Natal está sendo democratizado nos preços, apesar da crise econômica e do desemprego, mas a crescente  variedade de marcas do produto pode ser a explicação para esse fato. Há panetones para todos os gostos e bolsos.
4. O Distrito Federal e o Cerrado em geral recebem muitas faíscas elétricas no período de tempestades. O solo rico em minérios, dessa formação geológica, que é uma das mais antigas do Brasil, seria o responsável pelo fenômeno. Numa dessas tempestades, nesta semana, entre raios e trovões, duas mulheres com sombrinhas conversavam tranquilamente perto do Conjunto Nacional, debaixo de chuva pesada. Puro nonsense...
5. Creio que o Uber já é um serviço muito útil a Brasília, porque a coisa mais difícil de se encontrar, em certas horas de necessidade e em fins-de-semana,  é um táxi. Em Brasília, os taxistas têm por hábito ocupar determinados pontos, como a Rodoviária e o Aeroporto, por exemplo, nas horas de pique, mas não circulam pelas ruas.
6. O vinho lançado pela ministra da Agricultura,  Kátia Abreu, no rosto do senador José Serra teve grande repercussão, mas situa-se naquele patamar de fatos  bisonhos que não teriam a menor importância, a não ser  pela frase sintética e premonitória  dita pela colérica ministra: “Você nunca será Presidente do Brasil!” É como se diz em Minas Gerais: ”Não brigue com quem usa saia ( juiz, padre e mulher).”
7. O recesso é terapêutico para os órgãos parlamentares e judiciários, mas é péssimo para o Poder Executivo, que fica nu perante a opinião pública e sozinho debaixo dos holofotes da mídia. Presidente d República  nenhum gosta de recesso parlamentar, ainda mais sob ameaça de impeachment.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Temer é o unificador por unção, e não por pretensão


Em meio a enxurrada de denúncias, depoimentos, delações e prisões na área política e empresarial, que criam clima de expectativas de mudança do poder, com limpeza moral e ética da política, o Brasil se prepara para assistir neste domingo manifestações em, pelo menos, 12 capitais,   em favor do impeachment da Presidente Dilma Rousseff, mas a ala de  contrários ao que denominam “golpe”, compondo a Rede da Legalidade, também promete ocupar as ruas para o embate.
Trata-se de jogo-de-braço democrático e raro no Brasil moderno, alimentado especialmente pelas redes sociais, onde fervilham os adeptos do impeachment de Dilma usando como principal combustível a corrupção organizada imperante na política atual e o descalabro econômico em que se encontra o País, com inflação  em torno de 9,32%,  taxa de desemprego  chegando a 8,3%,  déficit primário de 11,5 bilhões de dólares e um conflito entre os poderes Legislativo e Executivo que ameaça o próprio funcionamento das instituições.
O Palácio do Planalto tenta reagir junto ao Supremo Tribunal Federal -STF – no sentido de que anule o acolhimento do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha, do PMDB, enquanto o presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, também do PMDB, avisa que o Senado não estará automaticamente vinculado a eventual decisão da Câmara de aprovar a abertura do processo. É mais lenha nessa fogueira, que não para de arder e que se tornou mais  flamejante após a divulgação da carta em que o vice-presidente Michel Temer marcou sua insatisfação com os rumos tomados pela Presidenta Dilma.
O ministro do STF, Luiz Edson Fachin, afirmou que a Corte pretende decidir na próxima quarta-feira  sobre ação apresentada pelo PC do B  pedindo que o STF defina quais os crimes de responsabilidade, em acordo com a Constituição Federal, constam no pedido de impeachment contra a Presidente apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reali Júnior. Fachin  quer que o processo de impeachment  não tenha  irregularidades que justifiquem mais à frente sua anulação.
Outras bombas explodem nos quarteirões da política fora de Brasília, tornando o clima potencialmente procelário no País. A mulher do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo e importante arquivo sobre atos de corrupção na Petrobrás e outras empresas, Maika do Amaral Gomes, manifestou seu desejo de convencer o marido a fazer delação premiada, pois ela não considera justo quer Delcídio pague sozinho por erros cometidos pelo PT e governo. Por outro lado, a Polícia Federal convocou o ex-presidente Lula para depor na Operação Zelotes, que apura denúncias sobre esquema de  venda de medidas provisórias que beneficiam o setor automotivo. O empresário Luiz Cláudio Lula da Silva, filho caçula de Lula, teria se beneficiado com pagamento de 2,5 milhões de reais recebido da empresa lobista Marcondes & Mautoni.
Todos esses fatos e outras denúncias que explodem em sintonia  com as escaramuças  físicas na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, onde o presidente Eduardo Cunha manobra pragmática e maquiavelicamente para se manter no cargo, atiçando adversários e aliados, são reproduzidos com tamanha intensidade nas redes sociais, que  o Brasil parece ter sido tomado  pelo samba do crioulo doido. Quem afirmar quer sabe o que está por acontecer está mentindo. Nem a Igreja e as Forças Armadas, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo –FIESP-, que faz uma espécie de governo paralelo do Brasil, sabem como terminará essa  guerra pelo poder, pois o Processo Legislativo, o principal equilibrador político-institucional, se encontra à beira da exaustão.
Um exemplo dessa exaustão: O próprio Senado Federal acaba de aprovar a Resolução 17/2015, que permite aos estados e municípios a emissão de debêntures relativa a créditos da dívida ativa, em flagrante desacordo com a Constituição Federal.
Na prática, tais papéis, que contam com a garantia do poder público e são remunerados, possuem a mesma natureza de títulos da dívida pública. Assim, o crédito referente à dívida ativa se transforma em obrigação refletida em dívida pública, com grandes ganhos para firmas e bancos que fazem a intermediação de tais papéis e enormes prejuízos para os estados e municípios.
A matéria foi aprovada, em apenas três semanas, por meio de projeto de resolução número 50/2015, datado de 20/10/2015, assinado pelos senadores José Serra e Romário. Foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos e pelo Plenário do Senado. Algo tão grave quanto as pedaladas fiscais da Presidente Dilma Rousseff.
O desgaste do Brasil é imenso, com a corrupção impregnada em todos os setores do estado; até mesmo no futebol, cujos dirigentes maiores são acusados de corrupção. Nesse tribunal coletivo, em breve devem ser definidos quais serão os algozes, e quais serão os réus. A política brasileira deve promover a renovação de suas lideranças, mantendo o percentual de veteranos necessários para uma boa transição.
Michel Temer, nesse processo, é veterano e continuará sendo o vesica piscis, a pedra angular, o unificador, por sua habilidade e competência e pela unção que recebe de quase todos os centros de poder do País, apesar das críticas que vem recebendo por ter escrito aquela carta. Mas ele é a garantia de que as instituições não deixarão de funcionar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pílulas do Vicente Limongi Netto


Tragicomédia
É patético e trágico: demorou cinco anos para o imaculadíssimo Michael Temer finalmente descobrir que é um vice-presidente "apenas decorativo”. Com uma carta de Michael Temer, repleta de falsa dramaticidade e  total falta de grandeza e espirito público, o PMDB, mais uma vez mostra as afiadas garras para o governo. E sem receio de disfarçar o apetite feroz e insaciável por cargos e mais ministérios, porque sabe que Dilma precisa do PMDB para tocar o barco.

Seguramente Dilma ficou atordoada com o tom de rompimento anunciado por Temer e gulosos seguidores. Mas nada que não possa ser contornado e superado com a palavra mágica do torpe, cretino e viciado presidencialismo, a barganha por cargos e poderes. Mais uma vez, o "bombeiro" Lula deve ser acionado para tentar debelar mais este incêndio que ronda os alicerces do Palácio do Planalto.
Patrulheiro ideológico

Nenhum leitor de bom senso e isento ,que costuma agir com a razão e não com a emoção, concorda coma nota desastrada do colunista Ancelmo Gois(6/12), deitando cátedra de filósofo e cientista politico, e patrulhando a atriz Marilia Pera por haver votado em Fernando Collor para Presidente da República.
Atitude feia e repugnante do Ancelmo. Deveria respeitar a opinião e o voto alheios. Não se sabe onde Ancelmo leu que artista não podia votar em Collor. Segundo Ancelmo, "Collor não merecia o apoio de Marilia". Colossal patetice.
Não satisfeito, Ancelmo policia e critica os passos políticos de Collor, pasmem, porque hoje é aliado de Dilma. Encerrando seu eloquente tratado de politicamente correto, Ancelmo parece voltar ao Planeta Terra e recorda ensinamentos marcantes de Marilia Pera: "Nestas eleições, eu voto em Collor e você vota em quem você tiver vontade de votar".  "Sábias palavras", sentenciou Ancelmo Gois. Aí, então, concordo com Ancelmo.
Del Nero
Não está escrito em lugar nenhum que a justiça dos Estados Unidos é dona do mundo. Os promotores norte-americanos não podem, não devem nem têm autoridade de ostentar com arrogância e prepotência o manto de justiceiros do universo. Muito menos de donos do monopólio da verdade. Agem movidos pelo sentimento da vingança, da retaliação, da torpeza e da indignidade, porque perderam para a Rússia o direito de sediar a copa do mundo de 2018.
Registre-se e afixe-se. A imprensa brasileira, lamentavelmente, segue a linha covarde dos pseudos justiceiros norte-americanos e numa penada só, baseados apenas em ilações e frases feitas e de cócoras para o que foi publicado pela imprensa de Nova Iorque, também decidiram que Marco Polo Del Nero é culpado.
É incrível como a desinformação, a má-fé, a burrice e o açodamento, atropelam o bom senso, o equilíbrio e a lucidez. Os levianos então passam a prejulgar e atirar pedras nos envolvidos. Nenhum país tem o direito de condenar ninguém sem culpa comprovada. A inteligência e a imparcialidade ensinam que pelo menos se tome conhecimento dos argumentos da defesa do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. O ódio, o ressentimento, a mentira , a hipocrisia e a covardia não merecem vencer todas as batalhas.
Kfoury tem a resposta que merece
Primorosa resposta do deputado federal e superintendente de futebol do Corinthians, Andrés Sanches (Esporte- Folha SP - 9/12)ao eterno paladino de barro, colunista Juca Kfoury. Sanches traçou um irretocável perfil do imaculado de meia pataca Kfoury, habituado a escrever bolorentos artiguetes insultando  a quem não segue sua torpe e leviana cartilha.
Sanches define a vestal grávida Kfoury como "malabarista", "frustrado" e " desprezado pela maioria dos corintianos", além de ser adepto fervoroso do "estilo gilete", ou seja, costuma receber dos dois lados.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Guerra total pelo poder em Brasília



O rompimento do vice-presidente Michel Temer com a Presidente Dilma Rousseff, explícito em carta divulgada ontem, na qual Temer alega que não tem e não terá a confiança da Presidenta, agrava ainda mais o quadro político e deixa claro que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB- abandonou o presidencialismo de coalizão com o Partido dos Trabalhadores- PT- em busca de caminho próprio no exercício do poder.

Michel Temer apresentou programa de governo do PMDB, no dia 7, a empresários reunidos na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo  –FecomércioSP-, ocasião em que fez críticas à atual política econômica, defendeu a reforma da Previdência e implantação de medidas de combate ao desemprego e à inflação. Temer mostrou-se favorável à manutenção dos atuais programas sociais e terminou sendo aplaudido de pé por 150 empresários.

O simples fato de romper com Dilma não garante a Temer voo livre para dar as suas cartas, porque  o processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados continua engastado na dúvida sobre o funcionamento do Congresso Nacional em convocação extraordinária  ou no cumprimento do recesso parlamentar. O Palácio do Planalto quer uma tramitação imediata do pedido de impeachment, temendo que o atraso dê margem à mobilização da opinião pública contra a Presidenta.

O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha, aliado de Temer, vem protelando a instalação da comissão que apreciará o processo de impeachment, a qual vem sendo cirurgicamente montada sob pressão dos governadores aliados de Dilma, que não querem parlamentares opositores à Presidenta na comissão.

Estive na Câmara conversando com funcionários experientes nesse tipo de processo, os quais sinalizaram que o impeachment não passa por falta de embasamento jurídico, mas o próprio Michel Temer, que já presidiu a Câmara e é um jurista e constitucionalista de renome, garante que o pedido tem sustentação jurídica. O rompimento de Temer com Dilma poderá reverter essa expectativa otimista do Planalto em relação ao processo de impeachment.

Uma indagação: E se o Tribunal Superior Eleitoral resolver cassar o mandato de Dilma e Temer por abuso econômico na campanha de reeleição, conforme processo em análise naquela Corte?

Neste caso, nem Temer e nem Dilma sairão ilesos, e a complexidade da atual crise política aumenta, pois Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, e pertencentes à cadeia sucessória, também enfrentam acusações graves que os inviabiliza para a condução do governo. Restaria o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, para assumir a Presidência da República interinamente e providenciar novas eleições.

Entre impeachment, renúncia e cassação do mandato de Dilma, a bolsa de apostas em Brasília pende para a segunda hipótese –renúncia -, por ser menos traumática para a democracia brasileira, mas inimigos de Temer, como a ex-ministra Marina Silva e o ex-ministro Ciro Gomes, querem vê-lo distante do Planalto. A guerra pelo poder é declarada e total e envolve nomes e partidos com a faca entre os dentes. O desfecho ainda é imprevisível, o que faz lembrar palavras do falecido deputado Ulysses Guimarães, parafraseando Joaquim Nabuco: “O tempo não perdoa o que se faz sem ele.” O tempo é o bem político mais precioso do momento.

Íntegra da Carta de Michel Temer:
Segue a íntegra da carta enviada hoje pelo vice-presidente Michel Temer à presidente Dilma Rousseff."

"Senhora Presidente,"Verba volant, scripta manent".Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio. Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos. Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.Basta ressaltar que, na última convenção, apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, porque era eu o candidato à reeleição a vice.Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo, usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido.

Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo. Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil, onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho, elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, ministro, retirando, sem nenhum aviso prévio, nomecom perfil técnico que ele, ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) e que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".

5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de líderes e bancadas ao longo do tempo, solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.

6. De qualquer forma, sou presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me, chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o pais. O Palácio resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o vice-presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me, o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversas começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça para conversar com o vice-presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança.

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica, sem nenhuma conexão com o teor da conversa.

10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal.

11. O PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como presidente do PMDB, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o país terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais. Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.Respeitosamente"

domingo, 6 de dezembro de 2015

Janela de Brasília(XXVII)


1. Um belo passeio turístico no Distrito Federal consiste em visitar a Torre de TV Digital, próxima à cidade-satélite de Sobradinho. O monumento tem, atualmente, 170 metros de altura, sendo 120m de concreto e 50m de estrutura metálica. Uma antena de 12 metros está em fase de instalação. Quando a antena for concluída, a Torre de TV Digital terá um total de 182 metros. É um projeto do Arquiteto Oscar Niemeyer.

Cerca de 1000 turistas visitam o local nos finais-de-semana e feriados. Na base da torre, há uma loja de produtos artesanais da região e licores, doces, conservas e sorvetes de frutos típicos do Cerrado. Há um senão, muito vexatório para o governo do Distrito Federal: Os banheiros não funcionam e o turista necessitado tem que recorrer a dois banheiros improvisados no pátio.

2.  O acúmulo de lixo em vários pontos de Brasília e do Distrito Federal em geral continua desafiando as autoridades da limpeza. Nem por decreto uma parte da população assimila a responsabilidade de não emporcalhar a cidade, e a impunidade estimula a incivilidade.

3. Os rios pequenos e o Lago Paranoá se transformaram em vítimas da sanha predadora dos inimigos do meio-ambiente. São tantos venenos e detritos despejados nas águas, que algum observador atento indaga se aquelas reservas são de fato as fontes de abastecimento de água potável para a população e se suportarão tanto maltrato por muito tempo.

4. A roubalheira dos políticos no Distrito Federal parece irmã siamesa da corrupção no governo federal. Além do ex-governador Arruda, o ex-governador Agnelo de Queiroz começa a acumular processos cabeludos contra sua administração, tornando cada vez mais difícil sua vida em Miami. Ambos, como muitos políticos brasileiros, acreditavam-se impunes, até o momento em que, como no “Fausto”, de Goethe, o diabo aparece para cobrar sua conta...

5. O bochicho corrente entre motoristas de táxis e populares em geral em Brasília é que a Presidente Dilma Rousseff pode até se salvar do impeachment, mas ela e o vice- Michel Temer podem ter seus mandatos cassados pelo Supremo Tribunal Federal por terem recebido contribuições ilegais e terem cometido abuso de poder econômico em sua campanha para reeleição. De uma forma ou de outra, o atual governo está ferido de morte.

6. Como apreciador de uma boa língua-de-vaca ao molho de vinho Madeira, com purê-de-batata, fico inconformado com a falta desse miúdo nos açougues de Brasília. Perguntei se o T-Bone, na Asa Norte, sempre antenado na cultura popular, tinha língua, e os balconistas responderam sonoramente que “Não! Não trabalhamos com isto”, como se eu tivesse pedido algo proibido. E sugeriram que eu procurasse nos supermercados.

Percorri mais alguns açougues e a resposta foi negativa, até que encontrei língua num supermercado. É um estranho monopólio dos supermercados estabelecido pelos abatedouros, fato que também se repete com outro miúdo, o miolo bovino, monopolizado pela indústria farmacêutica. Não demora muito, a deliciosa costela bovina também terá menor oferta e preço maior, pois está sendo exportada em grande escala in natura.

7.Há disfarçado monitoramento, por parte das autoridades policiais e militares, do movimento de turistas que chegam a Brasília neste final-de-ano focados nos acontecimentos políticos dos últimos dias, em especial as situações de Dilma e Eduardo Cunha. Há receio de que turistas venham engrossar passeatas na Esplanada dos Ministérios, durante as votações sobre o destino dos dois políticos.

sábado, 5 de dezembro de 2015

O lado perverso da Globalização


· Manuel Cambeses Júnior*

O sociólogo francês Henri Mendras (1927-2003) batizou o termo “contra-sociedade” para referir-se a todos os integrantes de um determinado grupo social que não podem ou não querem seguir o ritmo e as exigências que este impõe. Seu expoente natural seria aquele indivíduo que por impossibilidade, ou simples falta de desejo, não consegue adaptar-se à velocidade com que se move o seu entorno social, transformando-se, consequentemente, em um verdadeiro pária dentro da sociedade a que pertence. Ou seja, um deslocado, um ser excluído, um autêntico homo sacer.

Nos dias atuais, bem poderíamos falar de uma contra-sociedade mundial. A mesma estaria composta por todos aqueles que não conseguiram assimilar o ritmo evolutivo da sociedade globalizada. O número de desadaptados pode contabilizar-se em dezenas de milhões. E mais ainda, dia-a-dia aumenta o número de pessoas que, em todas as regiões do planeta, albergam o temor e a angústia de sentirem-se excluídas das filas dos seres produtivos. São pessoas comuns que vivem atormentadas e sob a ameaça permanente da exclusão social.

Os números desta contra-sociedade têm sidos manejados com bastante frequência. Michel Rocard, ex-Primeiro Ministro da França, aponta os seguintes dados: 30% da população ativa dos Estados Unidos, ou seja, quarenta milhões de pessoas, vivem em situação de pobreza ou precariedade social, ao passo que 30% da população ativa nas três grandes regiões do mundo industrializado pode qualificar-se como desocupada ou marginalizada. Por sua parte, Jacques Chirac, ex-Presidente da França, assinala que os países que compõem a União Europeia, contam com dezoito milhões de desempregados e cinquenta milhões de cidadãos sob a ameaça de exclusão social. Os países integrantes da OCDE, o clube dos estados mais ricos do planeta, contam hoje com trinta e cinco milhões de desempregados. E o que dizer dos países em vias de desenvolvimento?

A conjunção entre um desenvolvimento técnico acelerado, sustentado na automação, associado à ausência ou abandono generalizado das normas de proteção social, estão fazendo aumentar, assustadoramente, os números de desempregados e de subempregados. O Brasil, lamentavelmente, em face de atual crise que o assola, é um bom exemplo de país que tem aumentado substancialmente sua competitividade e inserção na economia global às custas de um notável incremento das filas de desempregados.

A lógica deste perverso processo é simples. Sob o impacto de uma competição produtiva sem fronteiras e sem mesuras, em que a redução de custos transformou-se em dogma, não há espaços para  considerações sociais. Existe a tendência, por essa via, a uma nivelação por baixo, na qual a mão-de-obra mais barata, ou a substituição desta pela tecnologia, determinam a sobrevivência dos produtos no mercado. A tecnologia e a redução de custos laborais são os grandes dinamizadores do novo crescimento econômico. Como bem assinala a revista Fortune, em sua edição de abril de 1996: “Os avanços tecnológicos unidos aos implacáveis desempregos em massa, dispararam a produtividade e elevaram, consideravelmente, os ganhos da indústria”.

Frente a esta dura realidade, os países apresentam a tendência de transformarem-se em um autêntico bazar persa, competindo entre si para fazer maiores concessões ao grande capital, como via para captar inversões e garantir o crescimento econômico. O resultado desta postura é que observa-se o abandono do sentido do coletivo e do imprescindível papel do Estado em matéria de arbitragem e de observância da regulamentação social. Que outra coisa poderia fazer o Estado? Este se vê incapacitado para fazer frente ao volume e à dinâmica dos capitais privados. Os três maiores fundos de pensão estadunidenses, Fidelity Investments, Vanguard Group, Capital Research & Managements controlam em torno de quinhentos bilhões de dólares. Impotente, o Estado teve de adaptar-se às exigências do grande capital, sem poder evitar que o homem transforme-se, cada vez mais, no lobo do próprio homem.

A força emergente após o ocaso do Estado é, obviamente, o grande capital privado transnacional. Este governa a economia globalizada, passando por cima de fronteiras e atropelando governos, impondo leis à sua conveniência e promovendo uma acirrada e desumana competição entre países, a serviço de seus interesses. Prova inconteste disso, encontramos no acordo multilateral sobre inversões que está sendo negociado na Organização Mundial de Comércio, que submeteria as leis regulatórias dos países membros às objeções internacionais, restringindo a capacidade dos Estados para ditar políticas econômicas de interesse nacional. A pergunta a fazer, nesse caso, é a seguinte: que lógica domina o grande capital transnacional?  Esta se sintetiza em uma consideração fundamental: a rentabilidade imediata. A necessidade de dar resposta às exigências de curto prazo, de um gigantesco número de acionistas anônimos, tem se transformado, efetivamente, na razão de ser fundamental do processo econômico em curso. Dentro desse contexto, as grandes corporações competem ferozmente entre si para captar as preferências dos acionistas,  livrando-se de tudo aquilo que possa significar um peso na busca por maiores rendimentos.

Porém, quem é esse acionista anônimo que sustenta a engrenagem e dita as regras da economia globalizada? Este não é outro, senão o homem comum: o operário, o gerente médio, o funcionário público, o profissional liberal, a dona-de-casa. Ou seja, o mesmo homem comum que vive atormentado pelo fantasma do desemprego e com medo de vir a engrossar, com sua presença, as filas da grande contra-sociedade dos dias atuais. Através de sua cotização e na busca de máximo rendimento para as suas economias, investe em fundos de pensões e fundos mutuais ou, através de pequenas inversões de capitais, nas Bolsas de Valores. Desta maneira, paradoxalmente, ele tem se transformado em atuante protagonista deste perverso processo econômico que o atemoriza e o encurrala.

Segundo um curioso processo circular imposto por esta globalização perversa, em que vivemos na atualidade, o homem comum tem se transformado em seu próprio inimigo, erigindo-se feroz e desapiedadamente frente a si mesmo.

·    *O autor é coronel-aviador; membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e Conselheiro do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pílulas do Vicente Limongi Netto


 

Briga de gigantes
Dilma versus Cunha é briga de gigantes.  As agressões começaram cedo. Seria bom, embora julgue difícil, quase impossível, os dois lados trocarem a paixão e a emoção pelo equilíbrio e bom senso.
Todo esse clima feroz e tumultuado seria evitado se Dilma, logo que assumiu o segundo mandato, tivesse mantido uma porta do bom e saudável diálogo com Eduardo Cunha. Postura que adotou com Renan Calheiros.
Caso contrário o abismo institucional entre Executivo e Legislativo seria ainda mais grave e acentuado. A meu ver, os aliados de Dilma erram feio quando insistem em transformar a Chefe da Nação em vítima e Eduardo Cunha em criminoso e satanás.  Cunha empurrou com a barriga e com inteligência por bom tempo os pedidos de impeachment de Dilma.
Jamais quis criar problemas para o governo. Apenas não abre mão de agir com independência. Trabalhou nos bastidores de olhos bem abertos, visando sua sobrevivência política. Deu o devido troco quando se sentiu escorraçado. Nada de errado. 
Não vejo razão para o Palácio de o Planalto vociferar. Creio que Dilma vai escapar do impeachment e Eduardo Cunha da cassação. Ambos continuarão vivendo, felizes para sempre. O jogo é jogado, o lambari é pescado.
Julgamento
Não está escrito em lugar nenhum que a justiça dos Estados Unidos é dona do mundo. Os promotores norte-americanos não podem, não devem nem têm autoridade de ostentar com arrogância e prepotência o manto de justiceiros do universo. Muito menos de donos do monopólio da verdade.
Agem movidos pelo sentimento da vingança, da retaliação, da torpeza e da indignidade, porque perderam para a Rússia o direito de sediar a copa do mundo de 2018. Registre-se e afixe-se. A imprensa brasileira, lamentavelmente , segue a linha covarde dos pseudos justiceiros norte-americanos e numa penada só,   baseados apenas em ilações e frases feitas e de cócoras para o que foi publicado pela imprensa de Nova Iorque, também decidiram que Marco Polo Del Nero é culpado.
É incrível como a desinformação, a má-fé, a burrice e o açodamento, atropelam o bom senso, o equilíbrio e a lucidez. Os levianos então passam a prejulgar e atirar pedras nos envolvidos. Nenhum país tem o direito de condenar ninguém sem culpa comprovada. A inteligência e a imparcialidade ensinam que pelo menos se tome conhecimento dos argumentos da defesa do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. O ódio, o ressentimento, a mentira, a hipocrisia e a covardia não merecem vencer todas as batalhas.
Pintura
Joana Limongi fará exposição de pinturas no próximo dia 10, prolongando-se até o dia 12, das 14 às 22 horas, na Galeria do Ateliê Lourenço de Bem, à SMLN MI 08 Conjunto 02, casa 18 –(Lago Norte). Confirmação de presença pode ser feita pelo email projoanalimongi@gmail.com.
80 anos do Boni
Beleza, Boni firme e forte chega aos 80! Rodeado de amigos de fé. Maravilha. Entre eles, Anísio Abrahão. Acho digno de aplausos quem sabe preservar os amigos. Mesmo banqueiros de bicho. Qual o problema? Os cretinos do timeco dos politicamente corretos não vão cair de pau no Boni? Entre eles, incluo, claro, parte da imprensa que se acha intocável e mais pura do que os santos das igrejas.
71 anos do Limongi, por Said Dib.
“Vicente Limongi Netto chega altaneiro e forte nos 71 anos. Com as características dos legítimos escorpianos, amigo dedicado e inimigo implacável. Polêmico por natureza, por gosto e por prazer, Limongi não deixa nada sem resposta. Nem mesmo sandices de covardões escondidos atrás de pseudônimos. "Canalhas que lamentavelmente estão dominando as redes sociais", salienta.
Feliz e agradecido pelas centenas de mensagens recebidas, Limongi ostenta todas elas no coração. Porém, uma especialmente emocionou e marcou o jornalista. A do historiador, professor e analista político Said Dib, também pai de Manuela, neta do Limongi:
"É muito difícil imaginar um pai tão amoroso, um marido tão dedicado, um amigo tão fiel, um jornalista tão fidedigno e competente como o guerreiro Vicente Limongi Netto. Meu melhor amigo. Vozão dedicado e carinhoso, nunca abandona um amigo. Tenho orgulho em conviver com você, amigo! Seus pais maravilhosos estão lá no céu, do lado de Jesus, comemorando o seu dia. Parabéns, Limongi!".

 

O Brasil tem de reviver como Nação

 Adriano Benayon * -
 Ao longo da 1ª metade do Século XX, o Brasil fez notáveis progressos através da industrializado fortalecimento das instituições financeiras públicas. Também, na área social, com a decretação do salário mínimo (1930) e da legislação trabalhista (1932, consolidada em 1943). Economia e relações sociais são interdependentes.
2. Entretanto, esses avanços -  interrompidos de 1946 a 1950, quando a  política do País se submeteu facilmente ao império angloamericano e à polarização ideológica da Guerra Fria – não foram suficientemente retomados e atualizados,  sequer com a volta de Getúlio Vargas à presidência da República em 1950, pelo voto direto do povo.
 3.Isso porque, diante disso, a intervenção do poder mundial tornou-se maciça e sustentada por abundante corrupção, que penetrou em todos os campos estratégicos, com o objetivo de fazer abortar o surgimento de uma potência industrial no Hemisfério Sul.
4.Essa intervenção logrou derrubar o presidente e inaugurou uma era, que completou 61 anos, de sucessivas renúncias à autonomia econômica e política do Brasil.
5.A desnacionalização da indústria, política oficial desde janeiro de 1955, conduziu à desindustrialização e causou déficits externos, originadores da dívida externa e depois da dívida pública interna.
6.A política de destruição da Nação foi grandemente radicalizada por meio das três primeiras eleições diretas, sob a Constituição de 1988, regime de aparente democracia: a de Collor em 1989 e as duas de FHC,  1994 e 1998, que desencadearam verdadeiros tsunamis de entreguismo e institucionalizaram a devastação socioeconômica do País.
7.A corrupção, em todas suas acepções, já havia formado maioria folgada dos constituintes, para inserir na Lei Básica normas estratégicas contrárias aos interesses nacionais.
8.Os analistas viciados no engano de qualificar tudo sob o prisma ideológico esquerda/direita, definiram como “Centrão” os constituintes “centro-direita” favoráveis a essas normas, que poucos da “esquerda” combateram.
9.Nem um só parlamentar denunciou a aprovação do art. 164, nem a inserção no texto constitucional, por meio de fraude, de cláusula no inciso II, parágrafo 3º do art. 166, que elimina limites à aprovação de verbas para o serviço da dívida. O art. 164 põe o Tesouro Nacional à mercê dos bancos.
10. O peso do dinheiro concentrado e da mídia antibrasileira nas eleições continuou a eleger Congressos cada vez mais alheios aos interesses do País, a ponto de terem aprovado dezenas de emendas à Constituição, favoráveis aos concentradores financeiros estrangeiros e locais.
11.Ora, o processo de degradação econômica, política e cultural teve início nos anos 50, quando o Brasil não havia construído  infraestruturas econômica e social de país desenvolvido.
12.Pior:  a maioria das que se implantaram, após 1955, foi planejada em favor dos carteis transnacionais aqui instalados para obter lucros ilimitados da extração dos abundantes recursos naturais e do controle do mercado consumidor.
13. A de transportes já era deficiente e não foi corrigida, ficando ainda mais lastimável, considerado o crescimento  econômico, ainda expressivo até o final dos anos 70, graças a estes fatores:    inércia da industrialização anterior;  crescimento demográfico; os fabulosos recursos naturais do País; haver, até então, recursos de monta para investimentos públicos, pois as finanças do Estado ainda estavam em processo de serem arruinadas pelo modelo dependente, causador das exações referentes ao serviço da dívida.
14.Como lembrou o professor de tecnologia Weber Figueiredo,  o presidente Vargas, em 1950, dada a insuficiência de trens em face da demanda de passageiros, mandara ampliar o sistema ferroviário. Havia 676 trens e transportavam-se mais de 500 mil passageiros/dia. Hoje  são 450 mil e pouco mais de 100 trens, muitos daquela longínqua época. Numerosas conexões no interior foram suprimidas em São  Paulo e outros Estados.
15.Os transportes no Brasil retratam a situação de um país ao qual foi negada permissão para desenvolver-se. Tudo serve aos carteis transnacionais do petróleo/indústria automotiva. Predominam as rodovias. Não há linhas de metrô que  atendam minimamente a demanda das regiões metropolitanas. As principais ferrovias são de natureza colonial:  transportam aos portos colossais quantidades de minérios: Belo Horizonte/Vitória; Carajás/Itaqui.
16.Onde  houve desenvolvimento, houve uso intenso das aquavias, como os cinco grandes lagos que ligam, nos EUA,   Meio Oeste, Costa Leste e Canadá. Inglaterra, França, Alemanha construíram densas malhas de rios navegáveis e canais. Em 1900, já tinham boas ferrovias e ainda as estendem e aperfeiçoam. A China constrói ótimas ferrovias e trens de alta velocidade em todo seu extenso e acidentado território.
17.As ferrovias para transportar matérias-primas minerais e agrárias remetem ao modelo econômico que não valoriza os recursos naturais do País nem os processa em indústrias de capital nacional, porque acabou com elas, ao entregar o mercado às transnacionais.
18.Esse modelo causa mega-catástrofes irreparáveis, como a do rompimento das barragens de dejetos das minas, em Mariana, MG, operadas pela Samarco, controlada pela transnacional anglo-australiana Billiton, com participação da Vale.
19.Dada a corrupção e a obtusa mentalidade entreguista, nenhum dos poderes - a nível federal, estadual e local - exige reais controles de segurança, nem se mostra inclinado a acabar com os intoleráveis abusos.  Chegam ao ridículo de participar de entrevistas midiáticas junto com executivos da transnacional transgressora.
20.O desastre econômico e ambiental remete, por sua vez, à privatização da portentosa Vale Rio Doce, em 1997, no esquema que entregou patrimônio de dezenas de trilhões de dólares, por 3 bilhões, “pagos” com títulos podres e compensados por créditos fiscais e outras benesses.
21.Da Serra de Carajás transportam-se diariamente 576 mil toneladas do melhor minério de ferro do mundo, com o que ela tende a acabar em 80 anos.
22.O saqueio mineral é subsidiado pela isenção tributária na exportação (Lei Kandir, LC 87, 13.09.1996, aplicável também ao agronegócio) e premiado por taxação ínfima na extração.
23. CFEM (Compensação Financeira pela Extração Mineral) -  calculada sobre o líquido (a ETN arranja e superfatura despesas minimizar o faturamento  bruto) -  cobra estas alíquotas:  alumínio, manganês, sal-gema e potássio: 3%; ferro, fertilizantes e carvão: 2%; ouro: 1%; pedras preciosas,  carbonados e metais nobres: 0,2%. 
24.Foram extraídas, em 2013, das “nossas” minas de ferro 370 milhões de toneladas, 90% para exportação  e 10% para o mercado interno. Com a acelerada desindustrialização, a dependência do exterior continua crescendo, e, mesmo com preços em queda,  os minérios metalúrgicos respondem por 13% do valor total das exportações.
25.Na agricultura o quadro é semelhante: 55%  das terras são usados para cultivar soja - metade da qual se destina à exportação - causando pauperização dos solos – e contaminação de aquíferos -  decorrente do intenso uso de fertilizantes químicos, sementes transgênicas e pesticidas altamente tóxicos.
26.As exportações agrárias somaram, em 2014,  US$ 96,7 bilhões = 43% das exportações totais do País, de  US$ 225,1 bilhões, que equivalem a míseros 10% das exportações da  China!
27.O caos agrário liga-se à miséria da energia, via setor sucroalcooleiro, formado por enormes usinas e plantations, a maioria já desnacionalizada, a exportar açúcar e álcool (6,1% das exportações totais), segundo o interesse dos patrões transnacionais.
28.Esse esquema prevalece contra a correta ideia original do programa do álcool (1974), que incluía agricultura familiar, descentralização, culturas alimentares combinadas e aproveitamento de óleos vegetais - como dendê, macaúba, pinhão manso etc. -  para substituir o diesel do petróleo, além do erguimento da química do álcool e dos óleos vegetais.
29.Além de se fazer tudo errado no biodiesel, engodo para ocultar a mão pesada das transnacionais - governantes das poluidoras fontes fósseis -  as “alternativas” preferidas têm sido as dependentes de tecnologia e equipamentos importados, como a eólica.
30.Ainda sobre a infraestrutura de energia, não é de omitir a devastação em curso, desde Collor e FHC, a qual desnacionalizou o grosso da geração e distribuição da hidroeletricidade, e instituiu um sistema de precificação, impossível de entender, para propiciar indecentes lucros aos beneficiários, que já elevou as tarifas, em 150% acima da inflação.  No processo, sugaram-se as estatais, a ponto de pôr a Eletrobrás em situação falimentar.
* -Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.