Vítima de um ardil montado pelos seus adversários, o Presidente Michel Temer pode deixar o Palácio do Planalto a qualquer momento, no momento em que a economia brasileira apresenta sinais de recuperação e as reformas trabalhista e previdenciária iniciadas pelo seu governo encontram fortes resistências para sua aprovação no Congresso Nacional.Temer responde a inquérito aberto contra sua pessoa pelo Supremo Tribunal Federal -STF-, sob acusação de praticar corrupção passiva, obstrução de justiça e organização criminosa.
O combate à corrupção efetuado pela "Operação Lava Jato", que atinge centenas de políticos e empresários delatados por diretores das empreiteiras Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez e Camargo Correa, respinga no próprio Presidente Temer, após a divulgação de um encontro clandestino, nos porões do Palácio do Jaburu, no dia 7 de março passado,entre Temer e o empresário Josley dos Santos, presidente da J&F, o grupo que controla a JBS, o maior frigorífico do mundo.
Nesse encontro, Josley revelou que estava pagando propinas no valor de 500 mil reais por mês para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que se encontra preso. Temer, conforme a gravação divulgada pelo jornalista Lauro Jardim, de "O Globo",teria apoiado as ações do empresário envolvendo a compra de outros agentes do Estado. Josley, refugiado em Nova Iorque, onde reside e instalou a sede da JBS, ainda conseguiu lucrar com a compra de dólares e a queda da bolsa de valores decorrentes da divulgação da fita quer abalou o País e o mercado financeiro.
Com base em delação premiada do empresário e demais funcionários da JBS, e após ação controlada pela Polícia Federal, gravando áudios e vídeos de conversas e encontros, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot,deixou vazar encaminho ao STF as denúncias sobre suposta prevaricação de Temer valendo-se do cargo presidencial. Alguns analistas associam a atitude de Janot com seu interesse em permanecer no cargo para um terceiro mandato, quando vencer seu prazo em setembro,o que seria pouco provável com a permanência de Temer
O STF, com decisão do ministro Luiz Edson Fachin, relator dos processos da "Lava Jato", determinou a abertura de inquérito contra o Presidente e também outro político de destaque, o senador Aécio Neves, presidente do Partido da Social Democracia Brasileira -PSDB- e candidato em potencial à presidência da República.
Aécio foi afastado do exercício do cargo de senador, mas vem recorrendo para anular a decisão de Fachin.A irmã e assessora pessoal de Aécio, Andrea Neves, foi presa pela Polícia Federal, acusada de pedir propinas em nome do irmão no valor de 60 milhões de reais ao grupo JBS.
Esse rocambolesco cenário de denúncias, prisões e corrupções, que envolvem 415 políticos de 26 partidos, segundo as delações das empreiteiras, e 1289 políticos do País inteiro, em vários níveis, recebedores de ajuda da JBS, segundo Josley dos Santos, desaguou no jogo-de-braço entre o Presidente Temer, que não quer renunciar, e a oposição no Congresso, que está sabotando a discussão sobre as reformas, com ações físicas e protestos de rua que, ontem, reuniram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, mais de 35 mil manifestantes, muitos armados e incendiando vários prédios ministeriais. O Presidente Temer baixou decreto autorizando a presença das Forças Armadas para conter o avanço dos manifestantes, fato que tornou mais tenso os embates entre o Planalto e a Oposição.
A Constituição, em seu artigo 81, prevê que, em caso de saída de Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, deve assumir o cargo e convocar eleições num prazo de 30 dias para o sucessor, que pode ser de fora do Congresso Nacional, desde que tenha filiação a algum partido pelo período mínimo de seis meses. Esse denominada eleição indireta é questionada pelos militantes do Partido dos Trabalhadores e demais opositores de Temer, que desejam eleições diretas imediatamente para a Presidência da República, na esperança de que o ex-presidente Lula volte ao poder. As Forças Armadas advertem que respeitarão a Constituição.
Os nomes especulados como possíveis candidatos à eleição indireta, por reunirem condições de levar adiante as reformas trabalhista e previdenciária, são os do atual ministro da Fazenda, Francisco Meirelles, o ex-ministro do STF, o do ex-ministro e jurista Nelson Jobim; o do senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, e o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.