quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Teatrocracia dos beijos "gays"

Esta é uma crônica política.
A teatrocracia, ao longo do tempo, permanece regendo as aparências que permitem o governo das sociedades, e mais agora com aquilo que Georges Balandier denominou “sociedade da telerealidade”, em seu fabuloso estudo “O Poder em Cena”, onde salienta que “o grande ator político comanda o real através do imaginário”. Força, violência e razão não são elementos suficientes para o exercício do poder político. É essencial produzir imagens, organizar símbolos e gerar rituais e codificações.

Essa campanha da grife italiana Benetton, intitulada “Unhate” (“contra o ódio”), com fotomontagens de beijos “gays” entre importantes líderes mundiais, é algo novo no marketing político, mas velho em matéria de simbologia. Remendo novo sobre pano velho nunca dá certo...

Mostrar se beijando na boca o Papa Bento XVI e o imã do Cairo, Ahmed el  Tayeb; o presidente Barack Obama e o líder chinês Hu Jintao;  Barack Obama e o presidente da Venezuela,Hugo Chávez; a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da França,Nicolas Sarkozy; e os líderes da Coréia do Norte,Kim Jong-il, e da Coréia do Sul,Lee Myung-bak,se respalda numa tradição da Idade Média, muito praticada entre os Cavaleiros da Ordem dos Templários, dos quais se originam hoje organizações secretas como a Maçonaria e a Ordem Rosa Cruz.

Mas, não parece coisa de ocultismo essa campanha, nem tampouco jogada publicitária da Benetton, que, se não o fizesse por encomenda, razões teria de sobra para temer a ira da Igreja e dos demais povos ali representados, de religiões cristã, budista e muçulmana.

O beijo na boca, da forma como foram feitas as fotomontagens, é sinal de compromisso, de pacto de comprometimento mútuo entre esses líderes das monarquias (aqui representadas pelo Papa) e das repúblicas.
Observam-se as ausências da Rainha Elizabeth, da Inglaterra, e do Rei Juan Carlos, da Espanha, e, por razões óbvias, pela sua imagem negativa, do controvertido Presidente Berlusconi, da Itália. Mas, para que Berlusconi, se Roma é a sede do Vaticano? E a presença do histriônico presidente da Venezuela, Hugo Chávez, representando a América Latina? E a ausência dos russos, que praticam o beijo no rosto entre as autoridades?

Estou tentando conjecturar sobre o objetivo dessas fotomontagens com base na teatrocracia, na realidade atual da Europa, em crise de crescimento, na situação de endividamento dos Estados Unidos, no papel fundamental da China para o comércio mundial, e dos produtores de petróleo e matérias-primas, em destaque os BRICS (ali representados pela China).Em termos de centros de poder político, estão presentes quase todos os membros do G-8, exceto o Canadá, Japão e a Rússia (estes dois últimos arquiinimigos históricos em fase atual de mútua tolerância).

Única mulher presente, a chanceler Angela Merkel representa uma Alemanha pressionada a solucionar a turbulência na zona do euro, diante de um Papa de nacionalidade alemã e domicílio na Itália, país à beira de uma moratória que poderia arrastar a França de Sarkozy, o companheiro de beijo de Merkel na fotomontagem. E Barack Obama beijando dois, os líderes da China, cujo crescimento lhe incomoda tanto, e da Venezuela, tão antiamericana?

Além de um  aparente apelo à não violência, desconfio que essas fotomontagens da Benetton possam vir a ser a senha,a política internacional, para alguma decisão bombástica até o final deste ano, com amplos reflexos políticos e econômicos no mundo todo.

Um comentário:

  1. Foi perfeita sua análise.

    A clareza dos objetivos 'subjetivos' (sic) da criação estampam um mundo em profusão de idéias e uma nova Ordem Mundial que se apresenta como saída para tantos problemas comuns.

    Apesar dos protestos do Vaticano, seria bom lembrar aos crentes católicos seus hábitos originais nos encontros sepulcros que deram origem ao cristianismo. Além disso havia um beijo mais ao ‘sul do equador’ e esse sim chocaria a todos, menos aqueles que estão habituados a assistirem filmes adultos.

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