terça-feira, 15 de novembro de 2011

O “day after” da zona do euro seria pesadelo global


“A mais alta das torres começa no solo”, segundo ditado chinês, que utilizo aqui por analogia com a situação atual da União Européia, composta por 27 países e às voltas com uma crise econômico-financeira sem precedentes.

Essa crise, que pode ter seu ápice já no primeiro semestre do próximo ano,  é política, segundo o economista Eric Heyer,do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, e pode arrastar até a Alemanha, caso a Itália também não consiga pagar sua dívida,o que contaminaria de imediato a França e os impolutos alemães.

A torre é a Alemanha, que dita as regras com a sua economia ainda forte, e o solo é a Grécia, que, na falta de vento, vem remando nos últimos cinco anos para fugir da moratória. Se a Alemanha  não concordar que o Banco Central Europeu intervenha, será o fim da zona do euro.

Mas, essa decisão é política, conforme Heyer, porque os alemães têm fobia pela inflação e temem que uma ajuda do Banco Central afrouxe as medidas de austeridade que devem ser tomadas pela Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, etc. As medidas de austeridade, por outro lado, podem piorar os combalidos índices de crescimento de toda a zona do euro.

Discordo quando alguém afirma que a Grécia, com cerca de 11 milhões de habitantes e PIB (323,7 bilhões de dólares) que corresponde à metade do PIB do estado de São Paulo, não tem peso para provocar uma crise global, embora esteja provocando. A Grécia é o solo da civilização ocidental e a Alemanha a torre, com 82 milhões de habitantes e PIB de 3,3 trilhões de dólares.

O legado da Grécia ao mundo ocidental não tem preço: Se aquele país falir, a civilização ocidental vai junto, porque quase todos os princípios sociais, econômicos, políticos, militares e religiosos que temos no mundo ocidental vieram da Grécia Antiga.

Roma teve influência dos gregos, que ocupavam a antiga região da Itália denominada Magna Grécia, e coube a Cícero, o grande tribuno e filósofo, inspirado nos gregos, repassar ao mundo a filosofia política dos gregos, os princípios republicanos, seus modelos institucionais, seus preceitos religiosos, etc. O Império Romano persiste de outras formas no mundo atual, jamais igualado como modelo de conquista e manutenção do poder político. E Roma é a capital da Itália e sede do Vaticano. Eis porque ninguém quer ver a Itália soçobrar nesse vendaval.

É curioso como países pequenos em território são considerados por alguns críticos como países insignificantes em termos globais. É também o caso da Suíça, que, além de ser o berço do filósofo Rousseau, pai da democracia direta e inspirador do socialismo marxista, criou ordenações originais de exércitos, armas de guerra sofisticadas,o canivete suíço, o plebiscito, o governo de diretório e religioso, o “ferrolho” no futebol, o queijo especial, a neutralidade política, o relógio de alta precisão, a guarda do Vaticano, o sistema bancário seguro e, ”last but not the least”, gerou Calvino, talvez o maior pensador religioso moderno.

Grécia e Roma , pelo seu passado e pelo que a cultura greco-romana proporcionou ao mundo, e Suíça, pelo gênio e a disciplina do seu povo, três países com virtudes exaltadas por Maquiavel em seu livro “A Arte da Guerra”, são sociedades que merecem o maior respeito das maiores potências.

A Grécia vale muito mais do que o pacote aprovado para sua ajuda financeira pelo Fundo de Estabilização Financeira da União Européia. Não vai resolver de imediato a crise grega, e é bom que a União Européia prepare outras medidas de socorro aos gregos, de forma preventiva, porque senão terá que fazê-lo de forma compulsória, porque a Grécia é credora do mundo, assim como a Itália, que balança-mas-não-cai, e a Suíça, que vai sempre de vento-em-popa...

Se não for debelada, essa crise européia afetará o mundo inteiro em 2012, ano que promete muita agitação política, econômica e social, em função até mesmo das previsões dos escatologistas e estudiosos do Apocalipse, que são tão divulgados, a ponto de se criar um comportamento teleológico mundial para o "day after" real ou apenas cinematográfico.

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