quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A França,o Cruzeiro e a verdade proustiana

A visita que o primeiro-ministro da França, François Fillon, empreende ao Brasil nesta semana, para trazer aos brasileiros uma mensagem de confiança sobre seu país e a União Européia, faz parte de uma estratégia francesa de resgate do tempo perdido nas relações históricas entre as duas nações, e me faz lembrar uma frase de Marcel Proust: ”O tempo passa, e um pouco de tudo aquilo que nós chamávamos de falsidade se transforma em verdade.”

A França atual, à semelhança da equipe de futebol do Cruzeiro, de Belo Horizonte, vive o drama da ameaça de rebaixamento para a segunda divisão das potências, pelo simples fato de que ambos acreditaram ser falsa a possibilidade de que um dia, por negligência de sua política, viessem a perder o status de potências de primeira grandeza, o Cruzeiro no futebol brasileiro, e a França na política.

Acreditaram ser falsa a teoria de que tudo que sobe desce, preferindo pensar  que nasceram predestinados à grandeza, sendo desnecessário o esforço permanente de cultivo e provimento das estratégias indispensáveis para a manutenção da sua gloriosa trajetória até algumas décadas passadas.

Por ironia, a Copa do Mundo de 2014 e os jogos olímpicos de 2016 foram incluídos como itens da agenda de conversações entre a Presidente Dilma Roussef e François Fillon, com vistas a uma parceria estratégica entre os dois países.

As especulações sobre a venda de aviões –caças “Rafale”  diminuíram, em face da decisão brasileira de não tratar agora desse assunto. Mas, a França, diante da crise européia, necessita urgentemente de reequilibrar suas finanças exportando mais.

No caso dos aviões “Rafale”, que são caros demais, tais aeronaves não encontram compradores além das Forças Armadas francesas, e correm rumores de que a fábrica talvez seja obrigada a encerrar sua produção desse modelo de aeronave.

Sobre a visita do primeiro-ministro Fillon à base de submarinos de Itaguaí, acredito que até possa abrir caminho para alguma negociação sobre a venda ou construção de submarinos, pois o Brasil está disposto a aparelhar cada vez mais sua frota em função da importância cada vez mais estratégica que os submarinos, em especial os de propulsão nuclear, adquirem como armas decisivas para o controle dos mares no mundo inteiro. Já há um acordo de cooperação bilateral entre os dois países nessa área, onde a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos e a Inglaterra são fortes concorrentes.

O sólido lugar de destaque que a França detinha, no Brasil, em vários campos de cooperação, até a eclosão da Segunda Guerra, foi se desmanchando no ar, pois a França acreditou na sua falsa posição consolidada, principalmente na área econômica, perdendo sua dinâmica diplomática e permitindo que outros países ocupassem seu lugar.

Amigo e experiente diplomata, conhecedor profundo dos franceses, resumiu a atual situação:
“A Europa não indo bem, o Euro não indo bem, a situação da França torna-se ainda mais difícil, pois, sem ambos os pilares, ela cairá para o grupo das simplesmente “potências médias”. Para quem, não faz muito tempo, em termos históricos, era uma das grandes potências do mundo, ver-se obrigada a ter de aceitar essa condição não é nada fácil.”



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