terça-feira, 3 de janeiro de 2012

FHC,assimetria de poderes e a fátria nossa

Há dois “elefantes brancos” postados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília: O Museu da República “Honestino Guimarães” e a Biblioteca Nacional “Leonel de Moura Brizola”, dois prédios imponentes, com projetos de arquitetura assinados por Oscar Niemeyer. Formam o Complexo Cultural da República “João Herculino”. Obras caríssimas para o bolso da população.
Dois monumentos ao “non sense” político, o primeiro tem pouca visitação pública porque é mal iluminado, e o segundo, a biblioteca, estaria com problemas em sua estrutura que a impedem de suportar carga pesada. Esta é uma versão corriqueira, mas o prédio não está funcionando como deveria, porque os funcionários da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, não quiseram se transferir para Brasília.
Numa rápida enquete, é possível constatar que 80% dos brasilienses não sabem o nome desses logradouros públicos, e os 20% que sabem denominam-nos Museu da República e Biblioteca Nacional.
Um museu à República, só porque Brasília é a Capital da República, é demonstração inequívoca da visão pouco histórica dos idealizadores desse projeto. A História do Brasil começa com a sua descoberta por Pedro Álvares Cabral, em 1500, passa pelo Brasil colônia e pelo Brasil monárquico e imperial e desagua na república hodierna.
Um museu republicano suprime 389 anos da história brasileira, solapa da memória nacional, do patrimônio cultural do Brasil, um período extenso e rico em fatos que contribuíram para a construção do país. Que se dê o nome à obra de Museu Nacional, e assim será um monumento para todos os brasileiros - monarquistas e republicanos.
Quanto à Biblioteca Nacional, bastaria mudar seu nome para Biblioteca de Brasília ou Biblioteca Pública. O que importa, mesmo, é a qualidade do acervo que ali será disponibilizado ao público. A Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, sede da Academia Brasileira de Letras, cidade natal de Machado de Assis, deve permanecer onde se encontra, por sinal muito bem instalada.
A Esplanada dos Ministérios em Brasília tem outros “non senses”, como os três sinos da Catedral, doados pelo Governo da Espanha- “Santa Maria”, ”Pinta” e “Nina”-, que, raramente, são acionados; por serem automatizados, não permitem variações de toques.
A localização da própria catedral, como se fosse mais um ministério, sugerindo a cumplicidade entre o Estado e a Igreja Católica no Brasil, contraria o texto constitucional, que estabelece um estado laico com sua inerente liberdade religiosa.
Na Praça dos Três Poderes, há o memorial do Presidente Tancredo Neves, bem próximo ao monumento ao fundador da capital, o presidente Juscelino Kubitscheck. Por mais relevante que Tancredo tenha sido, cabe a pergunta: Mas, por que só ele; e os outros  que governaram o País?
Sabe-se que a UDN era contra a mudança da capital e a construção de Brasília, e tentou impedir o projeto de JK, um expoente do PSD, como Tancredo Neves. Mas, se há o princípio de homenagem a grandes vultos ligados a Brasília (o próprio santo Dom Bosco é reverenciado em sua ermida no Lago Norte), porque não se fazer justiça, então, à memória do monarquista José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”, tutor de Dom Pedro II, que preconizava muito antes a transferência da capital para o interior e já sugeria o nome “Brasílis”, do qual se extraiu Brasília?
Com todo o respeito aos doadores dos nomes (Honestino Guimarães, geólogo e líder estudantil, Leonel Brizola, político, e João Herculino, político e empresário da educação), o princípio republicano da impessoalidade deveria restringir o culto a personalidades e beneméritos em plena Praça dos Três Poderes, exceção óbvia ao Presidente JK.
Ali, no coração da capital dos 190,7 milhões de brasileiros, com visibilidade pública, apenas o busto do Presidente Juscelino Kubitscheck, pela sua ousadia e pelo seu pioneirismo. Que os outros nomes recebam sua justa homenagem noutros altares.
Li recente livro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “A soma e o resto”, em que ele afirma que o Congresso Nacional, hoje em dia, deixou de ser um ator político relevante para se tornar um mero despachante, que recebe por algo que despacha...
Estranho que FHC tenha reconhecido agora, e não quando governava, a assimetria dos poderes no Brasil, com absoluta prevalência do Executivo, em detrimento do Legislativo e do Judiciário.
Em termos de mais um “non sense” político para a configuração do poder político nacional (a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes), o que diz FHC corresponderia a sugerir a demolição da Praça dos Três Poderes, lá ficando apenas o Palácio do Planalto, sem o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, que estes também lá se situariam indevidamente hoje...
Mais uma visão confusa de que a Pátria (de todos) pode ser confundida com a fátria (de poucos).A partidarização de Brasília(como cidade fundada com empenho do PSD) é prejudicial à unidade política nacional.



 













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