terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Salvemos a Grécia !

Aos poucos, começam a ganhar corpos duas correntes teóricas para a solução, de forma flexível, da turbulência econômico-financeira na União Européia: 1) Desligamento dos países insolventes (de imediato a Grécia), que voltariam a adotar outra moeda; 2)Adoção por cada país de moeda própria padrão euro (euro alemão, euro italiano, euro espanhol, etc.).

As duas sugestões, que, em síntese, significariam o reconhecimento de que a unificação econômica européia fracassou, são preconizadas por autoridades brasileiras como Guido Mantega, atual ministro da Fazenda, e Carlos Brésser Pereira, ex-ministro dessa mesma pasta.

Sugestões ”mui amigas”, diriam os seus críticos europeus, entre os quais a Alemanha, mas sugestões realistas, que exigiriam exercício de humildade dos europeus diante de evidente fracasso de seu empreendimento.

A Grécia, cuja economia agoniza em estado terminal, fica assim como que “rifada” de todos os lados, apesar dos bilhões de dólares que vêm sendo injetados para quitação dos seus compromissos e que, antecipadamente, são considerados meros paliativos para um paciente com septicemia generalizada.

Volto a reafirmar meu ponto de vista, segundo o qual a Grécia não pode ser abandonada pelos seus parceiros do euro. Ela é credora do mundo, dessa civilização ocidental de 2600 anos, que não tem preço. Se os gregos fossem bons de economia, certamente não seriam de filosofia...

Por tudo que gerou e transmitiu ao mundo, no campo do conhecimento, a Grécia jamais poderá ser considerada devedora, sob pena de se cometer crime de lesa-civilização. Eis que defendo o perdão da dívida grega e um esforço mundial para o soerguimento da Grécia. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ditadura é ameaça concreta ao Brasil



As articulações para a disputa da prefeitura de São Paulo têm correspondência direta com o futuro do subsistema eleitoral-partidário e, em última instância, com o futuro da democracia brasileira, que ainda vive seu dilema shakespeariano (ou hamletiano) de ser ou não ser, por mais que os detentores do poder insistam em exaltá-la como instituição sólida perante o panorama geral dos países árabes,africanos subsaáricos, asiáticos e balcânicos.

O atual prefeito de São Paulo,Gilberto Kassab, que,aliás, tem sido melhor articulador político do que administrador da capital paulista, fundou o Partido Social Democrático -PSD- com a intenção de aderir de imediato ao Governo de Dilma Roussef e pleitear, mais à frente, um Ministério.

Em coreografia com o Partido Socialista Brasileiro -PSB-, do governador pernambucano Eduardo Campos, Kassab se posiciona no quadro político nacional como liderança emergente. Aliado de José Serra nas últimas eleições presidenciais, continua fiel ao seu compromisso com o ex-governador tucano.

Kassab tinha prometido ao Partido dos Trabalhadores apoiar o ex-ministro da Educação,José Haddad,candidato à prefeitura paulistana, mas agora tem que recuar porque José Serra aceitou disputar as prévias do PSDB para escolha do candidato ao mesmo cargo.

E qual é o argumento que a liderança do PSDB vem usando para barrar a vitória petista em São Paulo? Além da condição dominante do PSDB na política paulista, o argumento de que, se o PT eleger o prefeito de São Paulo, o país marchará inexoravelmente para um partido único nacional, com hegemonia do PT – sonho do ex-presidente Lula.

Até onde a Ciência Política explica, partido único é caminho para a ditadura de esquerda ou direita, e, no caso, ditadura civil, com todas as suas conseqüências para a liberdade e a democracia. A população brasileira parece alheia a esse perigo iminente, no momento em que o mundo vive um clima propício a aventuras dessa natureza :Europa e Estados Unidos em crise econômica e financeira e Oriente Médio em efervescência cada vez mais perigosa para a paz regional e mundial.

A que ponto o Brasil chegou: Depender da boa vontade do PSDB para impedir que a cidade de São Paulo se transforme no epicentro de um processo de implantação de ditadura de esquerda (socialista ou comunista).

Pelo andar da carruagem, pela fragilidade da oposição brasileira dentro e fora do Congresso Nacional, pela conjuntura política nacional e internacional, e pela própria natureza ambígua do PSDB, acredito que o Brasil caminha para essa ditadura,porque ela interessa aos magnatas do petróleo.

Os 300 mil produtos diversos ou pouco mais gerados pelo petróleo justificam qualquer método político de controle produção, preços e garantia do seu suprimento, e o Brasil,agora um dos grandes produtores mundiais, passa a receber monitoramento especial dos cartéis.

Qualquer estrangulamento das rotas principais de abastecimento do petróleo para a Europa e os Estados Unidos – e o risco iminente (estimulado)é o do estreito de Ormuz, por causa do Irã - terá impacto político em países produtores como o Brasil,Argentina,Venezuela,Equador, etc. Os cartéis preferem negociar com ditaduras do que com democracias...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Dinâmica dos conflitos e a greve das PMs

Gélio Fregapani (Membro da Academia Brasileira de Defesa)

Todo conflito inicia com divergências incompatíveis e mal administradas, mas só se desencadeia se houver, em ambos os lados, forças reativas capazes de lutar. Isto torna lugar comum a participação de força militar, sendo, por vezes, o elemento principal. Greves de militares simplesmente não são apenas greves.  São motins. Quando os motins tomam vulto e são vitoriosos, podem ser  chamados de revoluções.

Entre as circunstâncias que costumam levar uma tropa à insubordinação e revolta, avultam a falta de confiança na autoridade contra a qual se revoltam; disciplina frouxa ou injusta; o espezinhamento e maus tratos; o fato de passarem necessidades não compartilhadas pela autoridade; diferenças ideológicas ou religiosas em oposição e, naturalmente, uma combinação desses e de outros fatores menores.

Antes de chegar aos extremos, uma tropa terá dado sinais de desagrado, entre os quais é comum recusar a alimentação. Terá havido conspirações, não cumprimento de ordens (greves?) e boataria.

Um comandante perspicaz, em qualquer escalão, percebe facilmente. Quando compartilha da insatisfação esforça-se para corrigi-la. Pode chegar, em casos extremos, a liderar o movimento sedicioso, quando a divergência é com escalão superior e ele compartilha delas. Quando se aliena, perde a liderança. Aparecerá outra, contra ele ou deixando-o de fora, pois sempre aparecerá um líder. Todas as tropas estão acostumadas ao comando único, como  forma de coordenação de esforços chamada de disciplina. Não sendo assim perde a característica de tropa e passa a ser apenas um bando, fadado a derrota.
      
No caso da greve/motim da PM baiana, certamente, a maioria desses fatores esteve presente, e não somente naquela PM. Por alguns momentos não se sabia até que ponto  poderia se alastrar. Foi, ou deveria ter sido, motivo de preocupação para os mais altos escalões da República, não por causa do Carnaval ou da Copa do Mundo, mas pelo perigo para a coesão nacional, já que algumas das insatisfações eram compartilhadas por outras PMs e até por tropas federais.

As irredutíveis divergências partidárias internas sempre procuram cooptar tropas militares para compor suas “forças reativas”, completando assim as condições indispensáveis para o conflito. É claro que um conflito pode ser evitado, seja pela administração da divergência, seja pela apresentação de uma força esmagadora que iniba o conflito 
      
Felizmente, para o Governo, as tropas federais, mais disciplinadas e mais poderosas inibiram o prosseguimento do motim, mas não podem, sem o comando político, sanear-lhe as causas. Caxias, quem melhor venceu revoltas e administrou motins, só aceitou essas tarefas com o comando político, incluindo o direito de castigar e de dar anistias.

Interferir em choques internos é extremamente desagradável ao ideário do Exército, cujo inimigo sempre será o estrangeiro. Entretanto, por vezes, terá que ser feito. A divisão do País em facções irredutíveis (o perigo das democracias) impede a coesão nacional, e a segurança depende ainda mais do grau de coesão  do que de outros fatores, como o valor momentâneo de suas Forças Armadas ou do acerto de sua Diplomacia. Na verdade, a coesão nacional embasa tanto uma como outra.
      
Mesmo os conflitos mais graves um dia terminam. Teoricamente, terminam quando é quebrada a vontade de uma das facções, ou estejam esgotados seus meios de reagir, ou ainda pela resolução da divergência (que, aliás, poderia ter evitado o conflito)
     
O fato é que o apoio público à Revolução de 64 foi motivado mais pela repulsão às sucessivas greves e badernas do que pela ideologia na Guerra Fria. Estaremos de volta para o passado? Não - ainda não. Não há insubordinação nas Forças Armadas, e a maioria reconhece neste o melhor governo desde a redemocratização. Entretanto uma luz amarela se acende. Cuidado! Não se espezinha impunemente um Exército brioso.
      
O assunto é complexo. Caxias, como sempre, o exemplo: Quando precisou combater, combateu, mas sempre administrou as divergências com misericórdia e amparando até as famílias dos adversários. Conciliou e concedeu anistia, depois da vitória, sem tripudiar dos antigos adversários.

Todos temos consciência de como a impunidade estimula os malfeitos. Mas a sede de vingança pelo lado vencedor perpetua as divergências irreconciliáveis, que tendem a criar um novo conflito. Internacionalmente o exemplo é o Tratado de  Versalhes. Aqui no nosso País, observamos o ensaio da fúria vingadora da Ministra dos Direitos Humanos e sua Comissão da “Verdade”.
      
No caso da PM baiana é necessário bom senso. Podemos inibir o prosseguir do motim usando de força avassaladora, mas a divergência só cessa com justiça, tal como Caxias  fez no Maranhão, sem descuidar das demais e das Forças Armadas


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Judiciário vê de perto atuação das Forças Armadas na Amazônia

Publico aqui a íntegra de expediente nobre da Câmara de Vereadores de Santa Maria, do Rio Grande do Sul, contendo discurso proferido pelo vereador Werner Rempel (PPL) sobre visita de comitiva a “8ª. Viagem à Amazônia com membros do Poder Judiciário e funções essenciais à Justiça”, em 03 de novembro passado, a convite do Ministério do Exército, com o objetivo de conhecer o trabalho das Forças Armadas naquela região.

É um relatório extenso, bem ilustrado e de leitura prazerosa para quem deseja conhecer a importância daquela região para o Brasil e o mundo e, ao mesmo tempo, a vigilância exercida pelos militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, nos rincões fronteiriços mais distantes, apesar das dificuldades materiais e orçamentárias.

Há três décadas, a convite do então ministro do Exército, Walter Pires, integrei comitiva de senadores e deputados com o mesmo objetivo, na condição de repórter do jornal O Estado de S.Paulo, e pude visitar ,tempos depois, mais duas vezes a região, como estagiário e professor da Escola Superior de Guerra- ESG.

O relatório do vereador Werner Rempel menciona o general Rodrigo Octávio Jordão Ramos, a quem tive a honra de entrevistar em sua residência, em Brasília, já como ministro aposentado do Tribunal Superior Militar. Foi sua última entrevista, publicada por O Estado de S. Paulo, pois veio a falecer pouco tempo depois.

O austero general Rodrigo Octávio Jordão Ramos, exemplar líder militar, ex-comandante militar da Amazônia e da Escola Superior de Guerra, proferiu lapidar pensamento sobre a Amazônia: “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a dos nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la.”

Também é homenageado no relatório o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (que foi listado em nossa enquete sobre as mais importantes personagens brasileiras). Rondon é homenageado, ao lado do norueguês Roald Amundsen, desbravador do Pólo Sul, à entrada do museu Smithsonian Institution, em Washington, pelos seus relevantes trabalhos.

Discurso feito pelo Vereador WERNER REMPEL - PPL

“Quero, inicialmente, agradecer à 3ª Divisão de Exército, na pessoa de seu comandante, O Sr. General de Divisão Sérgio Westphalen Etchegoyen, pela possibilidade de conhecer, de perto, o trabalho que o Exército Brasileiro faz, na defesa dos interesses nacionais, na nossa Amazônia. Foi através de sua intervenção que recebi um convite do Comandante do Exército, General de Exército Enzo Martins Peri, para me incorporar à comitiva da “8ª Viagem à Amazônia com membros do Poder Judiciário e funções essenciais à justiça”.

Não fosse por essa iniciativa do nosso Exército, que, periodicamente, leva à Amazônia grupos de parlamentares, membros do judiciário, autoridades dos mais diferentes setores da vida nacional, para conhecer o trabalho das Forças Armadas naquela região, certamente, nunca teria a oportunidade de verificar, pessoalmente, o trabalho dos nossos soldados e conhecer os nossos patrícios dos mais longínquos rincões da nossa Pátria.

“Estive na Amazônia do dia primeiro ao dia 3 de novembro de 2011. Cumprimos uma extensa agenda. Foram três dias incomuns e muito gratificantes. Fomos conduzidos de Brasília à Manaus numa aeronave Embraer 145, por membros da Força Aérea Brasileira.

Em Manaus, fomos recebidos no Comando Militar da Amazônia pelo seu comandante, o Sr. General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas que, logo após uma calorosa recepção com uma apresentação da Banda do CMA, proferiu uma palestra muito rica a respeito da Amazônia, seu povo, suas riquezas, seu tamanho continental, suas fragilidades, a presença de ONG estrangeiras na região, a biopirataria que lá acontece, o trabalho do Exército na região amazônica e, sobretudo, sobre a necessidade de uma maior presença do Estado nesta riquíssima região do nosso país.

O general Villas Bôas destacou, por exemplo, que o nosso sentido de grandeza, o nosso status de país continental, é conferido pela Amazônia, que corresponde a quase 60% do território nacional e podemos acrescentar que, se ela se constituísse num país a parte, seria o sexto do mundo; que na Amazônia existe a maior biodiversidade, o maior banco genético e o maior volume de água doce de superfície do planeta. Que as riquezas, já conhecidas, da região correspondem a 1/5 do PIB mundial e que a metade de todo esse território ainda não está plenamente integrado ao Brasil. Esse último dado demonstra que a vigilância na Amazônia torna-se impossível com a presença física em todos os seus espaços e isso reforça o alcance do SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia e a necessidade de sua contínua atualização e modernização.

Demonstrou, ainda, o general, que as florestas remanescentes, aquelas que ainda fazem parte da cobertura vegetal original, no Brasil, correspondem a 69,4% do total e comparou esse índice com as do mundo, onde 24,1% são de florestas remanescentes e que a Europa mantém apenas irrisórios 0,3%.

Defendeu que a preservação da floresta se faz com inclusão e combate à pobreza, pois relegar o povo à miséria acaba se tornando um dos fatores indutores do prejuízo ao meio ambiente. A visão fundamentalista e sem conexão com a realidade, em relação à natureza, é um dos óbices ao desenvolvimento sustentável daquela imensa região do Brasil. Finalmente, alertou sobre a impropriedade da existência de Unidades de Conservação na faixa de fronteira.

Após o almoço, nos dirigimos ao Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), comandado pelo Cel Palaia.

O Brasil tem o melhor soldado de selva do mundo e o CIGS é o responsável pela sua formação. Militares de diversas nações do mundo vem se submeter ao curso de guerra na selva no CIGS, nas suas Bases de Instrução. Muitos deles não superam as exigências necessárias para ser um combatente de selva e desistem no meio do caminho. Os alunos brasileiros, das nossas Forças Armadas, são os que têm o melhor desempenho, neste que, de forma unânime, a nível internacional, é considerado o melhor e mais exigente curso para a formação do guerreiro de selva. Essa importante unidade do Exército Brasileiro já deu formação a mais de 3000 dos nossos oficiais e sargentos.

O Centro de Instrução de Guerra na Selva está em atividade há 45 anos. Os alunos que se inscrevem no Curso de Operações na Selva, que dura um período de dez semanas, são obrigados a passar por três etapas numa das sete Bases de Instrução e adotam o ditado de que a “selva não pertence ao mais forte, mas ao sóbrio, habilidoso e resistente”.



BASE DE INSTRUÇÃO nº 4
PROJETO BÚFALO

O nosso exército, que pesquisa intensamente o meio amazônico, está desenvolvendo o Projeto Búfalo, nascido em 2000 e que consiste da utilização do búfalo na selva. Esse animal rústico tem se demonstrado como uma solução para as necessidades das tropas de selva, pois é resistente, adapta-se ao ambiente e tem capacidade de transportar até 400 Kg de carga.

AERONAVE BRASÍLIA
2ª BRIGADA DE INFANTARIA DE SELVA
BRIGADA ARARIGBÓIA

No segundo dia de viagem nos deslocamos de Manaus à São Gabriel da Cachoeira e voamos num Brasília da FAB. Faço referência, pela segunda vez ao tipo de aeronave utilizada, pois as duas são de fabricação nacional, da nossa EMBRAER, tristemente privatizada em 1994.

Em São Gabriel da Cachoeira, que é o município mais indígena do Brasil e o terceiro maior em extensão territorial, logo após a recepção, fomos conduzidos à 2ª Brigada de Infantaria de Selva, Brigada Ararigbóia, inteiramente transferida de Niterói-RJ, em função da visão estratégica do Exército Brasileiro de ocupação da Amazônia.

REGIÃO DA CABEÇA DO CACHORRO

Lá, a palestra foi ministrada pelo General de Brigada José Luiz Jaborandy Junior, comandante da Brigada Ararigbóia e ex-comandante do CIGS de Manaus, que teceu um amplo panorama sobre a região da “Cabeça do Cachorro” e sobre as atribuições do Exército na faixa de fronteira.

PELOTÃO DE FRONTEIRA

Destacou que 70% do efetivo de cabos e soldados da região são indígenas; frisou o isolamento daquela região em relação ao restante da Amazônia e do país; demonstrou a ausência do Estado ao longo da fronteira e que o exército é, na prática, o Estado; lembrou-nos que o exército tem poder de polícia na faixa de fronteira e atua na prevenção e no combate aos ilícitos ambientais e ao narcotráfico; deu conhecimento do papel imprescindível que o Hospital da Guarnição tem no atendimento a toda a população de São Gabriel da Cachoeira; protestou contra as dificuldades que se tem para retirar do isolamento populações indígenas, em função das dificuldades, muitas vezes sem fundamento, para obtenção de licenças ambientais; denunciou que a região do Morro dos 6 Lagos, maior reserva de nióbio do mundo, foi transformada em Reserva Biológica, onde sequer pesquisa científica pode ser feita; ressaltou a atuação das ONG, na maioria estrangeiras e muitas vezes financiadas por mineradoras alienígenas; falou-nos do adestramento da tropa, que deve “dominar o rio e ter, sobretudo, a selva como sua aliada”.

Deu-nos, também, a dimensão do que são os Pelotões Especiais de Fronteira, os PEF, verdadeiros olhos da Brasil na divisa com os outros países.

Os PEF guiam-se pela tríade VIDA, COMBATE e TRABALHO, onde a palavra vida está relacionada à sobrevivência com a criação de animais; formação de hortas comunitárias; plantação de árvores frutíferas, plantio de mandioca, milho, melancia, abóbora, feijão, etc.; tudo para apoio da comunidade local e orientado por um sargento-agrário.

A palavra trabalho diz respeito à formação de uma infra-estrutura com atividades de serralheria, carpintaria, oficinas de manutenção, entre outros, que dão profissionalização aos soldados que lá servem. Finalmente, a palavra combate com a missão de exercer vigilância na linha de fronteira; prevenir e dissuadir ameaças externas e garantir a inviolabilidade da fronteira terrestre.

O General Jaborandy expressou sua opinião, com a qual concordo integralmente, de que devemos dar ao indígena a possibilidade de se integrar aos benefícios que o nosso atual estágio de desenvolvimento está em condições de oferecer e não de mantê-lo, para sempre, no isolamento. Devemos dar a ele a possibilidade de escolha entre uma forma e outra de vida, e não manter em relação a ele e à natureza uma visão meramente contemplativa.

Logo após, assistimos a formatura da Brigada, quando ouvimos uma saudação, feita, por soldados, em quatro línguas diferentes, o que foi uma amostra representativa das mais de vinte etnias da região de São Gabriel da Cachoeira.

RIO NEGRO

Antes de um desfile cheio de vibração, alguns membros da comitiva falaram à tropa postada às margens do soberbo Rio Negro.
No terceiro e último dia da nossa viagem voamos para o 3º Pelotão Especial de Fronteira de São Joaquim, que fica na divisa com a Colômbia. Os PEF, com seus efetivos de em torno de 50 homens, são, talvez, as frações mais emblemáticas do nosso exército no seu trabalho na Amazônia, são a materialização da estratégia da presença na Amazônia, são fundamentais para a preservação da região norte do território brasileiro.

 Nos confins do Brasil, naquela fronteira superlativa em todos os sentidos, nas entradas, no nosso território, dos rios, que são as estradas da região, existem esses pelotões, que são os olhos vigilantes da nacionalidade e, ao mesmo tempo, o grande fator de integração das populações indígenas com o Brasil.

PEF de São Joaquim

Na seqüência, enquanto nos dirigíamos ao Hospital da Guarnição de São Gabriel da Cachoeira, tivemos a oportunidade, ao nos determos em obras que estão sendo executadas pela Engenharia do Exército, de testemunhar o papel fundamental das nossas Forças Armadas no desenvolvimento daquele pedaço do Brasil. Através de um convênio com o Governo do Estado do Amazonas, está sendo construída uma rodovia com base de concreto e com perspectiva de durabilidade cinco vezes maior do que a pavimentação asfáltica.

O Hospital da Guarnição tem como diretor o Ten Cel Médico André Luiz dos Santos Machado, a quem tive a grata satisfação de reencontrar, uma vez que fez sua formação médica na nossa UFSM, sendo aluno ao tempo em que eu fazia minha Residência Médica. Aquele hospital tem um papel importantíssimo no atendimento à saúde da população da região. O prédio pertence ao Governo do Estado e o pessoal é do Exército Brasileiro.

É um total de 10 médicos – um obstetra, um cirurgião, um pediatra, um anestesista, um radiologista, um ortopedista, um clínico de carreira e três clínicos temporários. Embora a Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira tenha médicos nos seus quadros, estes somente atendem em um turno. Assim, tudo o que acontece, naquele município de 39.000 habitantes, fora daquele turno, é drenado para o hospital militar.

O pelotão de São Joaquim é comandado pelo 1º Ten Klaus Wippel, santa-mariense de Camobi, que aos 28 anos, no dizer de Dráuzio Varella, “exerce as funções de comandante militar, prefeito, juiz de paz, delegado, gestor de atendimento médico-odontológico, administrador do programa de inclusão digital e o que mais for necessário assumir nas comunidades carentes das imediações, esquecidas pelas autoridades municipais, estaduais e federais”.

Com cabos e soldados na maioria das vezes oriundos da própria região, os PEF são a única presença do Estado nessas regiões remotas. Com grande frequência é em torno desses pelotões, pelo seu poder de atração, que se desenvolvem os embriões de futuras cidades. Segunda dados do Comando Militar da Amazônia, em 2006, o total aproximado de civis, que viviam no entorno dos PEF, era de 73.000 e que, de uma ou outra forma, tem a sua sobrevivência e, ainda, a possibilidade de acesso a serviços essenciais como a saúde, vinculada a essas unidades.

ÍNDIOS DA ETNIA KURIPACO

Quando descemos na pista de pouso de São Joaquim, os indígenas, que até a poucos anos atrás pensavam que eram colombianos, estavam nos esperando. Ao nos perfilarmos na frente deles, adultos e crianças da etnia kuripaco começaram a cantar o Hino Nacional Brasileiro. Foram poucos os membros da comitiva que conseguiram controlar sua emoção, naquele momento.

O PEF de São Joaquim está, em linha reta, a 320 km de São Gabriel da Cachoeira. A Força Aérea transporta tudo do que lá necessitam, menos o gás de cozinha. Esse insumo é trazido de barco e como existem sete corredeiras, por sete vezes na ida e na volta, os nossos soldados carregam a carga e o barco, pela orla dos rios para poderem prosseguir com a viagem. É incrível, mas só é necessária a liberação de 30 km, pelos órgãos ambientais, para que aquele PEF e aquela comunidade indígena tenham comunicação rodoviária com São Gabriel da Cachoeira.

O Programa Calha Norte, inicialmente denominado Projeto Calha Norte, surgiu com a preocupação de ocupar, com órgãos e aparelhos de Estado, toda a região que fica ao norte da calha do Solimões/Amazonas, que é, também, a região menos habitada e das mais ricas em riquezas minerais de toda a Amazônia e que tem 5.993 km de linha de fronteira.

Os militares brasileiros foram os únicos que cumpriram com as estratégias do Programa Calha Norte. Os outros Ministérios participantes dessa ação, fundamental aos interesses nacionais, até hoje devem ao Brasil uma explicação de sua incompreensão e/ou pouco caso em relação a essa região vital para todos nós.

Nos anos 90, na década perdida, nos governos Collor e FHC, os cortes orçamentários a essa ação patriótica, iniciada no governo Sarney, foram profundos, a ponto de o Programa se sustentar com recursos provenientes de emendas parlamentares, quando liberadas.

Apesar disso, as nossas Forças Armadas, ao dar execução do que fora previsto no Programa Calha Norte, construíram os Pelotões Especiais de Fronteira e os dotaram, dentre outros equipamentos, de pequenas centrais hidroelétricas. No PEF de São Joaquim foi construída uma usina de 60 KVA. Essa usina encontra-se desativada há vários meses pela falta de peças de reposição, obrigando o pelotão a utilizar, para si, um gerador a diesel, que é acionado em períodos do dia e a aldeia contígua ao pelotão fica às escuras, pois com a pequena usina tinha fornecimento de energia elétrica.



DT-CEA
São Gabriel da Cachoeira

Na última etapa da viagem, já de volta a São Gabriel da Cachoeira e antes do nosso retorno a Manaus, visitamos o DT-CEA. Este Destacamento de Controle do Espaço Aéreo e que faz parte do Sistema de Vigilância Da Amazônia, com dezenas de destacamentos espalhados naquele imenso território, permite que qualquer aeronave que penetre pelos céus da Amazônia seja percebida e imediatamente identificada com amiga ou não. Assistimos, nas telas dos radares, as aeronaves que voavam nos céus da região da Cabeça do Cachorro, naquele momento. Além disso, aquele destacamento tem importantíssima função de fornecer informações meteorológicas obtidas através de sondas que sobem para a estratosfera várias vezes por dia.

Foram meus companheiros de viagem a Sra. Ministra Maria Elizabeth Guimarães Rocha do Superior Tribunal Militar; a Desembargadora Maria helena Cisne do Tribunal Regional Federal, da 2ª Região; Desembargador Ricardo Teixeira do Valle Pereira, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Desembargador Armando Sérgio Prado de Toledo, do Tribunal de Justiça de São Paulo; Juiz-Auditor José Maurício Pinheiro de Oliveira, da 8ª Circunscrição da Justiça Militar do Pará; Procurador João Carlos de Carvalho Rocha, do Ministério Público Federal/RS; Procurador Luís Antônio Alcoba de Freitas, da Procuradoria Regional da União-4ª Região; Procuradora Ana Luísa Figueiredo de Carvalho, da Procuradoria Regional da União- 1ª Região; Dra. Ana Karenina Silva Ramalho Duarte, da Procuradoria Geral da União- 1ª Região; Dr. Tércio Issami Tokano, da Procuradoria Geral da União; Dr. Mozart Arruda Cavalcanti, Secretário do SuperiorTribunal Militar; Capitão de Mar e Guerra Sílvio Aderne Neto, da Marinha do Brasil; Capitão de Mar e Guerra Thaís Márcia Lacerda, da Marinha do Brasil; Cel Av Leopoldo José Lavers Hernández da Força Aérea Brasileira e Benito Juarez, regente da Sinfônica do Exército.

Mas por que é tão importante a ocupação da Amazônia? Qual é o pano de fundo de toda essa questão? Por que precisamos estar tão vigilantes em relação a essa parte do território nacional?

Para responder a essas perguntas citamos, inicialmente, o artigo publicado na Revista Marítima Brasileira do 1º trimestre de 2000, de autoria do Contra-Almirante Roberto Gama e Silva, onde ele detalha a formação do subsolo da Amazônia, que basicamente é composto de uma grande bacia sedimentar que corresponde à calha do Solimões/Amazonas e do Escudo das Guianas, ao norte e do Escudo Brasileiro, ao sul. As rochas desses escudos são as mais antigas da América do Sul.

Diz Gama e Silva, que “a idade e a dimensão avantajada dos Escudos Amazônicos credenciam-nos como verdadeiro “Oriente Médio” dos metais. Com efeito, contêm eles as maiores reservas de nióbio e titânio da terra, a quarta maior reserva de estanho, a quinta de ferro, além de quantidades apreciáveis de apatita, barita, chumbo, cobre, cromo, diamantes, fluorita, lítio, manganês, molibdênio, pedras preciosas, prata, tântalo, terras raras, tungstênio, zinco, zircônio e minerais radioativos, tório (maior reserva mundial) e urânio”.



“Os países industrializados não poderão viver à maneira como existiram até hoje, se não tiverem à sua disposição os recursos não renováveis do planeta... Para tanto, terão os países industrializados que montar um sistema mais requintado e eficiente de pressões, de constrangimentos, garantidores de consecução do seu intento.”

Os países desenvolvidos não possuem, nos seus subsolos, riquezas minerais em quantidades suficientes para manterem seu grau de desenvolvimento industrial. Por isso, precisam, desesperadamente, das matérias primas do subsolo de outras nações e a História já deixou claro que não medem esforços, nem tem escrúpulos para a obtenção dessas matérias primas.

Eloqüentes foram as palavras de Henry Kissinger, quando, ainda, Secretário de Estado dos EUA, ao afirmar que: “Os países industrializados não poderão viver à maneira como existiram até hoje, se não tiverem à sua disposição os recursos não renováveis do planeta...... Para tanto, terão os países industrializados que montar um sistema mais requintado e eficiente de pressões, de constrangimentos, garantidores de consecução do seu intento.”

Kissinger referia-se, em tese, a todos os países periféricos, garantidores do nível de vida dos países centrais e não foi específico em relação ao Brasil e à nossa Amazônia. Outros, contudo, ao longo do tempo, não fizeram a menor cerimônia. Senão vejamos.



Já em 1902, o chanceler alemão, Barão Oswald Von Richthofen, dirigindo-se ao nosso chanceler, o Barão do Rio Branco, afirmou que “seria conveniente que o Brasil não privasse o mundo das riquezas naturais da Amazônia”.

Margareth Thatcher, a dama de ferro, no auge da campanha neoliberal afirmou que:
“Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar as suas dívidas externas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas fábricas”.

Al Gore, em 1989, não utilizou meias palavras e não teve nenhum constrangimento em afirmar que “ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é deles, mas de todos nós”. Ainda, no mesmo ano, François Mitterrand declarou que “o Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”.


De uma citação feita em 1992, feita pelo Primeiro-Ministro inglês John Major, recolhemos mais um exemplo do pouco caso com a soberania brasileira sobre a Amazônia, a tão duras penas conquistada e mantida. Disse o mandatário inglês, que:

“AS NAÇÕES DESENVOLVIDAS DEVEM ESTENDER O DOMÍNIO DA LEI AO QUE É COMUM DE TODOS NO MUNDO. AS CAMPANHAS ECOLÓGICAS INTERNACIONAIS SOBRE A REGIÃO AMAZÔNICA ESTÃO DEIXANDO A FASE PROPAGANDISTA PARA DAR INÍCIO A UMA FASE OPERATIVA QUE PODE, DEFINITIVAMENTE, ENSEJAR INTERVENÇÕES MILITARES DIRETAS SOBRE A REGIÃO.”

Nessa mesma época, Mikhail Gorbachev somou-se ao coro dos que não hesitam em confessar seus interesses por nossas riquezas ao afirmar que:


“Atualmente, avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e tratados, em colaboração com programas das Nações Unidas, diplomacia bilateral e regional, distribuição de ajuda humanitária aos países necessitados e crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.”
“.
E eles já estão na fase operativa, referida por Major, há muito tempo ou como interpretar as palavras de Madeleine Albright, Secretária de Estado dos EUA, em 1996, quando diz que “atualmente avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e tratados, em colaboração com programas das Nações Unidas, diplomacia bilateral e regional, distribuição de ajuda comunitária aos países necessitados e crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.”

Dois anos depois, o chefe do órgão central de informações das Forças Armadas Americanas, Patrick Hugles, foi enfático: “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente nos Estados Unidos, temos que estar prontos para interromper esse processo imediatamente.”

A campanha continuava na década passada. Em 2005, Pascal Lamy, presidente da OMC, no mesmo tom da ladainha, defendia que: “A Amazônia e as outras florestas tropicais do planeta deveriam ser consideradas bens públicos mundiais e submetidas a gestão coletiva,ou seja,gestão da comunidade internacional”.

Temos, portanto, exemplos suficientes da “bondade” dos países centrais em relação a nós.


Não estou entre os que consideram que todas as Organizações Não Governamentais sejam necessariamente formadas por pessoas mal intencionadas em relação ao erário público ou, o que é ainda mais grave, conspiram contra os interesses nacionais. Longe disso, o Brasil está repleto de pessoas sinceras, solidárias e com enorme desejo de lutar pela coletividade.

Contudo, ao mesmo tempo em que as ONG se prestam a ser meio de atuação dos sinceros, são, também, a forma de agir dos pilantras, dos dissimulados, dos inimigos do Brasil. Isso é, sobretudo, verdadeiro, quando se fala na Amazônia. Terezinha de Castro, no Simpósio de Desenvolvimento Sustentado da Amazônia, em 1998, relatou que, “encontram-se instalados e labutando na Amazônia, na Região Norte, 846 ONGs estrangeiras, todas com o propósito de defender o meio ambiente e os direitos das populações indígenas.” Na seqüência, perguntou: “Por que vocês não se instalam no Nordeste e defendem as minorias nordestinas e o polígono da seca?”

No Nordeste não existem ONG estrangeiras. Eis a questão chave. Por que existe este magnetismo exacerbado pela Amazônia em detrimento de outras regiões?
Para compreender esse tropismo das ONG é preciso olhar o mapa das reservas indígenas da região amazônica. Na seqüência, visualizar onde, no subsolo amazônico existem as riquezas minerais, das quais falamos anteriormente, para em seguida sobrepor os dois mapas e o mistério estará desfeito. Pois bem, as ONGs atuam na defesa dos direitos dos indígenas, atuam dentro das suas reservas, atuam sobre algumas das mais ricas reservas minerais do planeta.



Como todos sabem o Green Peace, que se arvora em ser o mais radical defensor das questões ambientais, é financiado pelo cartel das petroleiras, o que explica a sua docilidade quando são elas que estão envolvidas em desastres ecológicos, como o do Golfo do México e o de agora na Bacia de Campos, com a Chevron. Na Amazônia, um sem número de ONG é financiada por mineradoras estrangeiras. Não seria para suas financiadoras que elas fazem o seu proselitismo, a sua catequese?



Vejamos, agora, o que dizem as diretrizes de 1981, expedidas para missionários que atuam na Amazônia: “A Amazônia total, cuja maior área fica no Brasil, mas compreende também parte dos territórios da Venezuela, Colômbia e Peru, é considerada, por nós, um patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa área pelos países mencionados é meramente circunstancial. Na seqüência, continua o texto:

- “É nosso dever: defender, prevenir, impedir, lutar, insistir, convencer, enfim esgotar todos os recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na defesa, na segurança, na preservação desse imenso território e dos seres que o habitam e que são patrimônio da humanidade e não dos países cujos territórios, pretensamente, dizem lhes pertencer.”
- “É nosso dever: impedir em qualquer caso impedir a agressão contra a área amazônica, quando se caracterizar a construção de estradas, campos de pouso, principalmente destinadas a atividades de garimpo, barragens de qualquer tipo ou tamanho; obras de fronteira civis ou militares, tais como quartéis, desmatamentos, estradas, campos de pouso militares e outros que signifiquem a tentativa de mudanças que a civilização chama de progresso.”

Para os que pensam que todo esse zelo, pela nossa Amazônia, é um exagero, não custa recordar que os países desenvolvidos não têm amigos, tem interesses e são muito pragmáticos na busca da realização destes seus interesses. Não é demais lembrar as palavras de Warren Christopher, quando Secretário de Defesa dos EUA em 1995. Dizia ele:

É do conhecimento de todos o fato de que os EUA tem bases militares nos países sul-americanos, junto da fronteira com o Brasil. Até o Jornal Zero Hora, que não é dado a arroubos de nacionalismo, publicou, em primeira página, há alguns anos atrás, a localização destas bases na América do Sul. Desde o Paraguai até a Colômbia e, depois, nas Guianas as pistas e/ou bases militares norte-americanas contornam o mapa do Brasil.


Para proteger o território brasileiro é que elas não estão ali!

O general Rodrigo Otávio J. Ramos foi preciso quando afirmou que “árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a dos nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la”




Os portugueses, seguindo as pegadas dos bandeirantes, construíram fortes ao longo dos rios amazônicos, isso nos séculos XVII e XVIII. Com os modernos equipamentos de geo-referenciamento, que possuímos hoje, não teríamos colocado aquelas fortalezas em locais mais propícios e adequados. Temos que render muitas homenagens aos nossos tenazes antepassados e nunca nos esquecermos das sábias palavras de Aloísio Magalhães: “A trajetória de um povo se compara ao mecanismo de um bodoque, quanto mais para trás se consegue chegar com o elástico, mais adiante se avança com a pedra.”

Por isso mesmo é mandatório reverenciarmos um dos maiores brasileiros de todos os tempos, o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Rondon, em meio a uma situação de risco de vida, na eminência de serem atacados por indígenas hostis, ordenou aos seus soldados: “Morrer se for preciso, matar nunca!” Rondon, filho de mãe indígena, é reconhecido, no mundo inteiro, como um dos maiores desbravadores de todos os tempos.

Em Washington, na entrada do Smithsonian Institution, talvez o maior complexo de museus para difusão do conhecimento no mundo, são rendidas homenagens a duas personagens, por eles consideradas como ícones: O desbravador do Pólo Sul, o norueguês Roald Amundsen e o brasileiro Marechal Cândido Rondon.

Desta viagem, nasceu-me uma convicção. Quanto mais habitada e desenvolvida for a Amazônia, mais ela será nossa, mais estará assegurada ao povo brasileiro. A defesa nacional não é e nem pode ser pensada exclusivamente pelas Forças Armadas. A defesa é uma atribuição de toda a Nação Brasileira e requer um esforço conjunto de todo o povo.

Contudo, é impensável proteger o território nacional sem um orçamento adequado para a Defesa. Um país como o Brasil, que é o campeão mundial em recursos minerais, que possui o tesouro do pré-sal, que tem a Amazônia – área continental dentro de um país continental, precisa ter Forças Armadas à altura de sua importância estratégica. Dedicação e competência não faltam aos nossos irmãos da caserna, o que lhes faltam são recursos orçamentários para poderem cumprir na plenitude com suas funções constitucionais.

Os cortes orçamentários promovidos pelo Ministério da Fazenda à Pasta da Defesa, para gerar superávit primário, diante de tudo o que foi dito aqui, soa como uma afronta, no mínimo uma afronta.

É hora de se acabar com a política de submissão ao capital financeiro internacional e baixar os juros aos níveis da média praticados no mundo. Não é honroso para o Brasil ter a mais alta taxa de juros do mundo. Em decorrência do desembolso para pagar juros e a amortização da dívida federal, só no primeiro semestre de 2011, foram pelo ralo 194 bilhões de reais. Recursos absolutamente necessários ao nosso desenvolvimento do Rio Grande do Sul à Amazônia, imprescindíveis à inclusão de milhões de brasileiros na roda da economia que movimenta o país e, dessa forma ampliar o já poderoso mercado interno que possuímos. E esses juros são estabelecidos pelo Conselho de Política Monetária, que não é nada sensível ao desenvolvimento nacional. Ao contrário, reza pela cartilha da banca internacional.

O Brasil, país único, habitado por um povo único, tem um destino grandioso pela frente e a manutenção da nossa Amazônia cada vez mais verde e amarela faz parte desse caminho que haveremos de trilhar.

Parabéns Forças Armadas Brasileiras!
Parabéns Exército Brasileiro!
Viva o povo brasileiro! “



domingo, 12 de fevereiro de 2012

Crise dos EUA e ascensão do Brasil

Tenho lido e ouvido sobre o que especialistas estadunidenses consideram as principais ameaças prementes aos Estados Unidos, que podem derrubar aquela potência, com grandes reflexos para o mundo, em especial, América do Sul. Ameaças que podem se concretizar até 2030, se não houver uma reação imediata:

1. Falta de água potável, decorrente do desperdício e contaminação dos mananciais por poluentes químicos-industriais e dejetos urbanos – ameaça de curto prazo.

2. Falência financeira ou insolvência dos EUA por gastos desnecessários, especulação financeira e dívida astronômica, que conduzem ao "estouro da bolha" e ao fim do dólar como moeda-padrão- ameaça de curto prazo.

3. Falta de petróleo e derivados, gerada por consumo desenfreado, queda da produção dos Estados Unidos, desde 1970, e excessiva dependência e alto custo das importações para atendimento da demanda interna - ameaça já em curso.

4. Terrorismo nuclear, que torna os Estados Unidos um alvo fácil para seus inimigos, que hoje dispõem de facilidades para fabricação de artefatos e detonação em pontos estratégicos dos grandes conglomerados urbanos e populacionais - ameaça real.

5.Inteligência artificial (robôs para uso industrial e doméstico) quase, tão  ou mais capaz do que os  seus  geradores e que poderão fugir ao controle dos humanos, adquirindo autonomia e capacidade de decisão passível de reversão contra os seus criadores, ou seja, a criatura voltando-se contra o criador(ameaça para daqui uns 50 anos).

A responsabilidade de ser a potência hegemônica não exclui a nação das leis universais que levaram à derrocada de grandes impérios, em especial o Império Romano, e da cegueira da população em aceitar a idéia de ter que suportar restrições ao consumo e ao poder político com sacrifícios, poupança, medidas drásticas de política econômico-financeira e abandono do ideal do “Destino Manifesto”.

A maioria da população, seguindo a tendência natural do homem de ignorar o perigo, só reagirá, segundo os especialistas, quando o caos se estabelecer, e ele não virá seqüencialmente, mas, sim, em conjunto. Medidas preventivas são evitadas até mesmo pela classe política, que, a exemplo dos ratos em assembléia, foge da responsabilidade de por o guizo no pescoço do gato, com receio de perder votos.

Agora recebo email contendo um videotexto sobre o Brasil na visão dos estadunidenses (link de acesso é
 http://www.youtube.com/watch?v=DMM7OJ_Kj9I&feature=youtube_gdata_player), feito pouco antes de Lula deixar a Presidência, com a participação do bilionário Eike Batista, do próprio Lula e do jovem historiador brasileiro Eduardo Bueno.

Gosto de publicar videotextos ilustrativos, porque nem sempre todos os internautas têm a oportunidade de ler matéria associada à imagem. Dizem que a imagem vale por mil palavras, mas, concordo com o humorista Millör Fernandes, quando sugere que se faça essa afirmativa sem usar as palavras... Melhor usar os dois.

Eike Batista, et por cause, afirma para o seu entrevistador da televisão dos Estados Unidos que o pré-sal  representa em petróleo um trilhão de dólares para o Brasil e expõe a pujança da economia brasileira atual. Lula, que tem prestígio junto aos brasileiros comparável ao de Dom Pedro I, segundo enquete aqui realizada, garante que o Brasil realizará a melhor Copa do Mundo.

Tudo um prato cheio para os ufanistas, a menos que se disponham a ler o artigo do professor Adriano Benayon, da Universidade de Brasília, publicado neste blog, sob o título “Brasil, 6º PIB e 1ª. Pior política econômica”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Pangermanismo" só debilitaria Alemanha

Não acredito em novo “pangermanismo”, daquele tipo estimulado pelo movimento pré-romântico “Sturm und Drang”, com ênfase no “caráter nacional” alemão, no final do século XVIII, e que forneceu lenha ao Nazismo, embora alguns analistas vejam a situação atual da economia da Zona do Euro como propícia ao surgimento de um “quarto reich” sem que a chanceler Angela Merkel necessite de disparar um tiro – é o caso de Victor Davis Hanson, da Hoover Institution, Stanford University.

Alemanha mantém seu equilíbrio econômico-financeiro em parte com a ajuda dos países que atualmente enfrentam dificuldades e que se situam debaixo do seu guarda-chuva comercial (Grécia, Espanha, Portugal, Itália, França, etc.). Se eles falirem, a Alemanha terá sérios prejuízos com suas exportações dentro e fora do Euro.

Robert Heusinger, no site Press Europe, adverte:

“A revalorização do marco colocaria a moeda alemã 30% acima do euro. Esses 30% constituiriam uma enorme vantagem concorrencial para as indústrias francesas e italianas, bem como para as belgas, holandesas e eslovacas. Aproveitando um espetacular crescimento das suas exportações, os outros países europeus poderiam finalmente prosperar, sem a Alemanha. Mais pragmáticos que os alemães em matéria de reequilíbrio das finanças, os franceses, que acreditam, com razão, que mais vale investir no crescimento do que reduzir nas despesas, assegurariam à Europa vários anos de prosperidade.

O regresso do marco levantaria igualmente uma onda de pânico na banca e nos seguros. A diminuição de 30% do valor de todos os ativos europeus pode representar uma perda de cerca de 200 mil milhões de euros nesses sectores. Seria necessário organizar uma segunda vaga de salvação da banca, o que apenas agravaria a situação da dívida pública. Por quê 200 mil milhões de euros de perdas suplementares? Porque desde a introdução do euro, a Alemanha adquiriu quase 600 mil milhões de euros de ativos no estrangeiro (graças aos enormes excedentes das suas exportações).

Evidente que a Alemanha, após as crises da primeira e segunda guerras, demonstrou sua capacidade incrível de recuperação econômica, a ponto de se transformar na 4ª potência econômica mundial, depois de Estados Unidos, China e Japão.

Mas o pangermanismo não inspirou essa reestruturação, mas, sim, o realismo de mercado, sustentado pela indústria metalúrgica e química, uma agricultura altamente mecanizada e moderno sistema de transportes, que lhe garantem alta competitividade entre os maiores exportadores mundiais, além de seu poder financeiro, tendo Frankfurt como principal centro da União Européia.

Assim como no passado, um novo pangermanismo alemão correria o risco de provocar nova tríplice entente, como aquela “entente cordiale”, formada em 1904/1907, pela Grã-Bretanha, França e Rússia (essa última ainda com seus interesses no paneslavismo), que contou mais tarde com a adesão de 24 nações, para opor-se ao expansionismo alemão.

A Alemanha investiu dois trilhões de dólares na reconstrução da Alemanha Oriental, arruinada pelo comunismo, e se mantém impávida economicamente graças a uma filosofia de austeridade econômica e muito trabalho e poupança. O pangermanismo implicaria sua militarização, o que polarizaria feroz oposição das demais potências e dos próprios parceiros da União Européia.

A Rússia, que teve na segunda guerra mundial 27 milhões de mortos, dos quais 18 milhões de civis, e 33 mil cidades e povoados completamente destruídos, jamais aceitará qualquer esboço de novo pangermanismo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

História "humana até demais"

O Brasil precisa “ser passado a limpo’(como diria Boris Casoy), em matéria de história. Como não sou historiador, embora digam que o jornalista é um historiador apressado, penso que essa revisão nos métodos e conteúdos da História do Brasil ensinada nos colégios primários, secundários e superiores torna-se urgente, tantos são os vícios expostos pela comunicação.

Agora mesmo, o historiador Eduardo Bueno, que faz vinhetas sobre a História do Brasil para o canal de televisão History Chanel, comete grande injustiça contra o escritor Euclides da Cunha, que narra ,m sua obra memorável “Os Sertões”, a revolta de Canudos, na Bahia, em 1897, liderada por Antonio Conselheiro – talvez a maior tragédia brasileira.

Bueno começa a apresentar a Guerra de Canudos como “Guerra do Fim do Mundo”, de autoria do escritor peruano e prêmio Nobel de Literatura Mário Vargas Llosa. Por instantes, deixa o expectador com a impressão de que Llosa é o narrador daquele drama não só brasileiro, mas universal. Até que, timidamente, no final, esclarece que Canudos serviu para revelar a grande obra do jornalista Euclides da Cunha, “Os Sertões”.

Subserviência ao escritor e canal estrangeiros?  Restrições a Euclides da Cunha? Afinal, Llosa  não fez nada mais do que pegar carona na obra euclidiana, que já ganhou traduções no mundo inteiro  há décadas e dispensa  penduricalhos, ainda que oferecidos por um grande escritor como Llosa.

O jovem historiador simplesmente transformou numa obra-prima de ficção da literatura de Lhosa um acontecimento real, um grande drama épico do Brasil, que só veio ao conhecimento do povo graças à obra magnífica “Os Sertões”. Euclides e a sua obra revelaram Canudos, e não o oposto, como afirma Bueno.
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Causa-me estupefação o silêncio que se estende, da parte da mídia e dos historiadores e políticos, sobre as denúncias da vedete Virgínia Lane retificando que Getúlio Vargas não se suicidou, mas, sim, foi morto em seu quarto por quatro homens encapuzados, fato de que ela foi testemunha ocular. A gravação com a confissão de Virgínia Lane à Rádio Globo circula na internet, mas parece que a verdade não interessa nem mesmo aos historiadores.

Considerando – se que Getúlio Vargas é um dos estadistas mais respeitados e reconhecidos no mundo inteiro, pelo seu gênio político, sua biografia não pode ficar à mercê de manipulações políticas. As denúncias de Virgínia Lane merecem uma investigação no âmbito do Congresso Nacional, com apoio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e demais órgãos pertinentes, para que as próximas gerações tenham a verdade histórica.

No ano passado, houve proibição de comemorações, no âmbito militar, do movimento de 31 de março de 1964, como se fosse possível passar uma borracha e apagar os fatos acontecidos e que resultaram na implantação do regime de exceção. Os historiadores aceitaram a proibição e evitaram pronunciamento contra ou a favor daquele regime aos jornais.Vamos ver o que acontecerá no próximo mês...

Pelo que se pode observar, a interpretação da história de todos os povos está eivada de elementos da filosofia nietzschiana, e a História do Brasil, como as demais, é “humana até demais”, como gosta de afirmar o jovem historiador Eduardo Bueno. Sinceramente,gostaria de vê-lo numa de suas vinhetas  relatando a morte de Getúlio Vargas...


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Barão do Rio Branco,o refundador da diplomacia



 Rubens Ricúpero

"Quando se detectam laivos de arrogância no Brasil, convém voltar ao exemplo do barão do Rio Branco"


Esse artigo foi publicado na "Folha de São Paulo", no último dia 6, e esse blog o republica por considerar que o seu autor, jurista,economista, diplomata e ex-ministro da Fazenda do Governo Fernando Henrique Cardoso, é uma das mais refinadas inteligência do Brasil atual a verberar a grandeza do Barão do Rio Branco, uma das personalidades listadas  e votadas na enquete que realizamos sobre as figuras mais importantes do Brasil.

"A maior contribuição de Rio Branco não foi haver assegurado ao Brasil 900.000 km² de território. Foi obter esse resultado sem disparar um tiro, imprimindo à diplomacia brasileira duradouro caráter pacífico.

Se estamos prestes a completar 142 anos de paz ininterrupta com dez vizinhos (que já foram 11), isso se deve à maneira pela qual se processou a definição do patrimônio territorial.

O ato fundador da política externa de um país é traçar no terreno o espaço da soberania. Quando a definição se faz por conquista e guerra, a herança de rancor e antagonismo perdura às vezes para sempre. Países de passado imperial como a Rússia são condenados a viver quase em permanente estado de tensão e beligerância em relação aos seus vizinhos.

Rio Branco morreu em 10 de fevereiro de 1912, um século atrás. Tinha apenas 20 anos quando começou a Guerra do Paraguai, conflito sobre o qual escreveu extensamente. Compreendeu então que "o recurso à guerra é sempre desgraçado". Da mesma forma que o barão de Cotegipe, poderia ter exclamado: "Maldita guerra! Vai nos atrasar 50 anos!".

Embora o Brasil tivesse saído vencedor, a guerra foi interminável e cruenta, deixando sequelas como a "questão militar", que enfraqueceram a monarquia e acabaram por levá-la à ruína. Seu impacto sobre a geração de Rio Branco e Joaquim Nabuco explica a opção que fizeram pela diplomacia e pelo direito para resolver conflitos.

Rio Branco desejava um Brasil forte e capaz de se defender de agressões. Não partilhava, porém, do fascínio pela força de seus contemporâneos -Bismarck, Theodore Roosevelt-, que conduziria à catástrofe da Primeira Guerra Mundial dois anos após sua morte. Embora valorizasse a herança da diplomacia do Império, considerava encerrada a orientação que, desde 1850, levara o país a envolver-se em sucessivos conflitos no Prata.

Foi o refundador e, a rigor, o criador da política externa contemporânea, ao modernizar o Itamaraty e deslocar o eixo da diplomacia de Londres para Washington, o centro do poder emergente da época. Soube usar a influência dos EUA em favor dos interesses brasileiros.

Antecipou o que hoje se chama de poder inteligente ("smart power") ao empregar a erudição histórica para triunfar nas arbitragens. Em outros casos, como o do Acre, mostrou-se mestre do moderno conceito de poder brando ("soft power") ao dosar concessões, trocas de território e compensações financeiras para evitar guerra de conquista. Liquidados os contenciosos de limites, pôde lançar as bases da unidade sul-americana com o Pacto do ABC (Argentina, Brasil e Chile).

No momento em que se começa às vezes a detectar no comportamento brasileiro laivos de recém-adquirida arrogância, convém voltar ao exemplo de equilíbrio e moderação do barão. Comentando a possibilidade de que países latino-americanos pudessem ceder à loucura das hegemonias e da prepotência, dizia ele que o Brasil do futuro continuaria a confiar na força do direito. E saberia conquistar "pela sua cordura, desinteresse e amor da Justiça a consideração e o afeto dos povos vizinhos, em cuja vida interna se absterá de intervir"