terça-feira, 22 de novembro de 2016

Trump e as oportunidades na Amazônia

Wilson Périco
                                              (Presidente do Centro de Indústria do Amazonas)
Será longa e tortuosa a caminhada de superação desta recessão. As previsões de recomposição da economia do Brasil, com ou sem o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendam paciência e expansão da criatividade. Entretanto, os reflexos da nova política externa do governo republicano - confirmada nos pronunciamentos pós-eleitorais - revelam  desafios e oportunidades para a América do Sul, para o país e, especialmente, para a Amazônia.
 
A melhor maneira de conservar o patrimônio natural é atribuir-lhe função econômica. Por isso, a diplomacia brasileira já se movimenta para aproveitar/ocupar os espaços que se ensaiam.  A China, confirmada as promessas, ou ameaças do futuro governo Trump, vai  olhar para os trópicos com mais interesse.
 
Sol combina com produção de alimentos e nenhum governo próspera com insegurança alimentar do povo. Este mercado, hoje familiar aos asiáticos, será a melhor saída para eventuais  barreiras  de exportações para os Estados Unidos.  Por que não flexibilizar e aceleração  da Transpacífico, e de quebra recompor os corredores logísticos internos, BR-319, BR 164, BR-74 de olho no Caribe e no México? Chances novas para a América do Sul, carta fora do baralho desde 1989, com o fim da bipolaridade e da Guerra Fria, entre soviéticos e americanos.
 
O subcontinente sul-americano pode voltar a ter relevância no novo desenho das relações multilaterais. Caso as ameaças de Trump se confirmem em relação ao México - ele vai governar para a reeleição - será natural um redirecionamento de investimentos e de fluxo comercial dos mexicanos com o Brasil e vizinhos.
 
Inserção da ZFM na política indústria do Brasil 
 
Para integrar este novo mosaico, a ZFM, Zona Franca de Manaus, a rigor, o Amazonas, precisa inserir-se no sumário de uma nova política industrial, ambiental e de ciência, tecnologia e inovação, cuja estruturação e definição são inadiáveis. Afinal, além da proteção da floresta, contribuição vital para o Acordo do Clima, a ZFM – para levar adiante seus polos de biotecnologia e tecnologia da comunicação e da informação - não pode seguir usurpada em 80% dos recursos para este fim.
 
O país gasta muito e gasta mal para manter sua ineficiência e compulsão perdulária. Chega! Do mesmo modo, não podemos congelar a expansão industrial da ZFM – atualmente com apenas  0,64% dos estabelecimentos industriais do Brasil -  por abuso de burocratas de Brasília - e seus interesses inconfessos - que alegam prejuízos fictícios a novos empreendimentos em outras regiões do país.
 
Reter na região as contribuições das empresas para pesquisa e desenvolvimento é essencial para diversificar, adensar-se regionalizar a economia. Como cumprir o dever constitucional de reduzir as desigualdades regionais, se o Brasil confisca, para fins obscuros, 80% dos recursos para pesquisa e regionalização da economia pagos pelas empresas de Manaus? E mais: suspender o confisco de suas verbas  é o único caminho para recompor a autonomia da Suframa, órgão responsável pelos acertos da ZFM, o melhor arranjo fiscal da história do Brasil para redução das desigualdades regionais.
 
Biotecnologia e Tecnologia da Informação e Comunicação
 
Desenvolvemos aqui tecnologia para propagação de espécies de alto valor comercial em laboratório - caminho inteligente do reflorestamento de áreas degradadas -  e dispomos de inteligência regional para agregar inovação tecnológica aos produtos fabricados no polo industrial de Manaus.
 
Às vésperas de completar 50 anos, e desfalcada de infraestrutura de comunicação, energia e logística de transportes, mortal para sua competitividade, a ZFM convida o Brasil para conhecer um mundo de oportunidades de acelerar os caminhos de recuperação da economia, com a consolidação e ampliação do polo industrial de Manaus, base das incontáveis promessas da bioeconomia sustentável, tanto no manejo florestal como prospecção de princípios ativos da floresta, para segurança alimentar  - a piscicultura -, a produção de fármacos e cosméticos, as oportunidades do polo mineral e turístico.
 
São caminhos que demandam um mutirão de parcerias tecnológicas, vontade política e integração de talentos em favor da proteção da floresta e de um novo projeto Brasil.
 
 
 

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