quinta-feira, 7 de março de 2013

Igreja Católica perde trincheira dos direitos humanos na Câmara dos Deputados


Enquanto o Vaticano se prepara para eleger o novo Papa, dentro de um clima de perplexidade residual pela renúncia de Bento XVI - o cardeal Joseph Ratzinger -, a Igreja Católica no Brasil perde uma importante trincheira das pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB-, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, conquistada numa verdadeira “blitzkrieg” pela representação política das correntes evangélicas brasileiras.
Com 18 membros, dos quais 13 são pastores evangélicos, a Comissão elegeu, em concorrida sessão realizada ontem, o deputado Marco Feliciano, do Partido Socialista Cristão–PSC-, representante do Estado de São Paulo, ficando demonstrada a capacidade de articulação da bancada das confissões evangélicas, cujo número de adeptos no Brasil vem aumentando a cada ano, gerando preocupações para a Igreja Católica. Cerca de 87% da população brasileira é cristã, sendo 65% composta por católicos, mas os evangélicos já somam mais de 22%.
Houve choro e ranger de dentes de deputados contrários à indicação de Feliciano e de representantes de entidades detentoras tradicionais da bandeira dos direitos humanos na Câmara, entre as quais o Movimento Nacional de Direitos Humanos, que fez campanha nacional acusando Feliciano da prática de homofobia e de oposição aos direitos das minorias. Foi necessária a presença da polícia legislativa para garantir a sessão, fato raro no âmbito das comissões técnicas da Casa.
Conversei com diversos parlamentares sobre o fato, os quais consideraram que a conquista daquela Comissão pelos evangélicos é resultado do desprezo manifestado pelos partidos da base parlamentar do Governo, em especial o Partido dos Trabalhadores –PT- e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB- por essa comissão temática, com a priorização dos comandos das  comissões que decidem sobre questões jurídicas, econômicas, financeiras e orçamentárias.
Em última análise, a questão dos direitos humanos incomoda o Governo, já às voltas com a insatisfação de setores das Forças Armadas com o funcionamento da denominada Comissão da Verdade, que apura crimes ocorridos durante a vigência do regime militar instaurado em 1964.
A figura de Dom Paulo Evaristo Arns, na época cardeal-arcebispo de São Paulo, nomeado por Paulo VI e contemporâneo de Joseph Ratzinger, ganhou notoriedade internacional pela sua luta na defesa dos direitos humanos,no período de 1964 a 1985. Sua atuação garantiu verdadeiro monopólio dessa bandeira para os católicos no Congresso Nacional, nas últimas décadas.
Atualmente com 91 anos de idade e vivendo num convento em Taboão da Serra, no interior do Estado de São Paulo, Dom Evaristo, que completou 40 anos de cardinalato, no último dia 5, não tem outra  alternativa além de amargar esse revés da Igreja Católica.

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