quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Candidatura de Ronaldo Caiado tem engenharia sofisticada


O quadro das eleições presidenciais de outubro próximo no Brasil ganha fato novo portador de futuro - como se diz em planejamento político-estratégico – com a pré-candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado, do partido Democratas – DEM -, do Estado de Goiás. O novo candidato tem reduzidas chances de ser eleito, mas são profundas e múltiplas as implicações políticas de sua candidatura, que, em primeira análise, blinda o status quo neoliberal vigente, fazendo parte de uma engenharia de poder sofisticada.

Ronaldo Caiado, atual líder do DEM na Câmara dos Deputados, 66 anos, médico ortopedista, lançou sua pré-candidatura à Presidência da República, em solenidade na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará, com um discurso que pode tirar muitos votos da Presidente Dilma Roussseff, que tentará sua reeleição pela coligação Partido do Movimento Democrático Brasileiro- PMDB - e Partido dos Trabalhadores - PT.

Mas, o discurso de Caiado pode se classificar como de oposição endógena, porque reforça as linhas mestras da doutrina liberal conservadora. Daí que a missão do jovem candidato possa ser a de restaurar o Democratas – talvez mais à frente com outro nome- como espinha dorsal do Liberalismo no Brasil, em face do esgotamento da estratégia diversionista dos centros de poder neoliberais  internacionais de utilizar as esquerdas socialistas na defesa dos seus interesses, o que tem acontecido no Brasil nos últimos anos, em especial nos Governos Fernando Henrique Cardoso (com breve hiato no Governo Itamar Franco), Lula e Dilma Rousseff.

Essa diversionista estratégia neoliberal corresponde aos truques dos comunistas ou socialistas utópicos, entre os quais Stálin, que promoviam o Socialismo Fabiano, reformador, para encobrir eventuais esgotamentos da linha radical, como tem acontecido atualmente com o PT no Brasil, processo de esgotamento acelerado pelo “Mensalão”.

O efeito Caiado imediato visado, portanto, seria a revitalização do Democratas, o partido programaticamente liberal, que foi engolido pelo arco das alianças ideologicamente socialistas de esquerda e centro-esquerda,  –PT,PSDB e PMDB em especial -, que capturaram o poder  implantando um modelo essencialmente neoliberal  e submisso aos interesses do capital externo, com o desmonte de setores estratégicos do Estado brasileiro.

Um projeto com horizonte de 70 anos, que, a princípio, teve o próprio Democratas como coadjuvante, quando, no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, a vice-presidência da República foi exercida pelo então senador pernambucano Marco Maciel.

Com a eleição de Lula, Democratas juntou-se ao PSDB na oposição, mas, desde então, foi perdendo espaço até ficar reduzido hoje a 26 deputados federais, quatro senadores, 57 deputados estaduais, 227 prefeitos, entre os quais o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, 3.271 vereadores e a governadora Rosalba Ciarlini, do Estado do Rio Grande do Norte.

Mas, outros eventos poderão ser gerados por esse fato portador de futuro, que é a candidatura de Ronaldo Caiado: A capitalização da insatisfação de uma parte da população conservadora com os rumos do País, diante das mudanças introduzidas pelo PT, baseadas num assistencialismo eleitoreiro pouco distributivista, em termos de justiça social; a aplicação de vultosos recursos financeiros na Copa do Mundo e na ajuda a países vizinhos e Cuba, em detrimento de setores carentes de investimentos do País; o crescimento da inflação e  o crescente endividamento interno e externo do País.

Em termos de sociologia política brasileira, Ronaldo Caiado restabelece a dimensão do poder real da família no estado, abrindo caminho para uma geração de jovens empresários da família com aspirações de mando em Goiás, onde os governantes, desde a mudança da capital de Goiás Velho para Goiânia, promovida por Pedro Ludovico, têm tido outras famílias e grupos menos expressivos como tributários. Os Caiado retomam sua força política disputando a Presidência da República, fato inédito na história de Goiás, que sempre respeitou o pacto do poder excluindo esse estado da disputa sucessória. Eis um viés rebelde do jovem político...

Nascido em Anápolis, Ronaldo Caiado ingressou na política como líder da União Democrática Ruralista UDR-, de 1986 a 1989; pertence a uma das mais tradicionais famílias brasileiras e goianas, sendo filho do advogado Edenval Ramos Caiado e neto de Antonio Ramos Caiado, o “Totó” Caiado,  ex-deputado e senador, precursor político do clã e opositor de Getúlio Vargas, que o derrotou, em 1930, apoiando seu adversário Pedro Ludovico. Foram 30 anos de absoluto mando de “Totó Caiado”.

 Na Assembleia Nacional Constituinte, Caiado, pela UDR, interagia com grande desenvoltura com os parlamentares da bancada ruralista no Congresso Nacional, tendo exercido influência na redação de vários dispositivos constitucionais vigentes.

Como deputado federal, foi autor de iniciativas para a educação e a saúde, entre as quais a emenda que garantiu a divisão de royalties do petróleo entre os dois setores; combate o excesso de carga tributária do Governo Dilma, em contraposição aos gastos oficiais, que considera exorbitantes; propõe medidas para evitar a proliferação de partidos e  quer um novo modelo de gestão que enfatize o direito à propriedade privada, o fortalecimento  das funções do Estado com estímulo à iniciativa privada e regras claras sobre as licitações e privatizações. Tem denunciado a dívida interna brasileira – acima de 300 bilhões de reais- e a gestão que considera deficitária de empresas estatais, entre as quais  a Petrobrás.

Há outro componente na disposição de Ronaldo Caiado para essa disputa sucessória: A mágoa de ter sido ludibriado por Marina Silva e Eduardo Campos, no momento em que negociava apoio do DEM ao governador de Pernambuco e nome cotado para uma chapa presidencial pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB-. Quem conhece Ronaldo Caiado, sabe que ele não desistirá da vingança...

Concluindo: Caiado não vem para fazer oposição, mas, sim, para garantir o modelo neoliberal vigente, ocupando espaços estratégicos na representação político-partidária, contra eventuais riscos reais de entropia no atual sistema político-institucional.  Os riscos de surgimento do “Encoberto”...

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