segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A Nação na Encruzilhada



                                                                 Dercio Garcia Munhoz, Economista. (*)

               As decisões governamentais na área da economia incorrem na tentação pela busca de soluções agradáveis, que tragam dividendos políticos imediatos, sem levar em conta as implicações, e o alto preço a pagar no futuro, no momento da verdade.

              O caso brasileiro atual é disso exemplo fragrante, já que desde os primeiros anos do milênio,  com a mudança de governo, os novos dirigentes resolveram repetir a frustrada experiência tucana de 1994-98, iniciando um longo período de valorização da moeda brasileira – o Real;  para isso mantendo, num ilusório coquetel neoliberal, além da liberdade de ingresso e saída no país dos capitais de curto prazo, e de taxas de juros elevadas para serem atrativas, também  um sistema de câmbio flexível, ao sabor das pressões do mercado. Reconstruía-se, assim,  o conjunto de condições que faz as delicias do capital especulativo.  Com isso, entre 2003 e 2010, nos oito anos de um governo que surpreendia pelo divórcio entre a retórica e a práxis – ingressaram no país, buscando ganhos de curto prazo,  mais de 1,1 trilhão de dólares, num incessante vai-e-vem mais próprios das  meias-portas dos saloons do Velho Oeste.

              Agindo livremente na manipulação do mercado cambial, o objetivo do especulador era entrar e sair do país com dólares negociados a uma mesma taxa de câmbio, o que lhe permitia ganhos em dólares, isentos de impostos, de 10% ou 12% ao ano – a depender da Selic.   Quando, com entradas maciças de dólares  os especuladores faziam recuar ainda mais a taxa de câmbio – uma queda do Real em dez por cento, por exemplo – que o Governo festejava com frases tais como “o mundo acredita no Brasil -   então os especuladores iam à loucura;  com os ganhos saltando para  taxas entre 20% ou 22% ao ano - ou apenas quinze vezes o que obteriam no mesmo tempo nos maiores mercados financeiros mundiais.  Foi assim que o Brasil se transformou no grande centro de especulação financeira mundial  -  uma Las Vegas Latina.  Sem riscos, porém. Como um pôquer de cartas marcadas.     

                    O  cassino brasileiro funcionaria a todo o vapor por quase uma década – hoje menos atraente dada a desconfiança dos banqueiros – tendo conseguido sobreviver com poucos solavancos mesmo à crise financeira mundial de 2008.   E naturalmente que um país assim  aberto e indefeso, com sua formidável roleta fazendo fortunas aqui e alhures, passa a cultivar um amplo circulo de “amigos”, interna e externamente.  O que sempre garantiu, em contrapartida, aos milagrosos dirigentes locais – como vem acontecendo desde o Plano Real – charmosos tapetes vermelhos tão logo saltassem  nos  aeroportos de Nova Iorque, Londres ou Davos.   E como prova da gratidão do mercado sempre contaram os milagreiros brasileiros, para si e para os sábios na gestão da economia e das finanças,  com  uma barreira permanente de elogios na mídia local e internacional,  apontando o modelo brasileiro como exemplar. 

(*) Egresso do Banco do Brasil, foi Professor Titular da UNB e ex-Presidente do Conselho Federal de Economia e do Conselho Superior da Previdência Social.

 

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