segunda-feira, 5 de maio de 2014

Collor inocentado volta à liça presidencial


O processo do “Mensalão”, o rumoroso julgamento que levou o Supremo Tribunal Federal –STF- a condenar políticos e empresários que participaram da compra de votos para apoio ao Governo Lula, no Congresso Nacional, no maior escândalo de corrupção política no Brasil moderno, estabeleceu patamares mais elevados de desvio ético no trato da coisa pública, de tal forma que outros processos e condenados conhecidos se transformaram em referências modestas.

Processos tais como o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, defenestrado do poder , em 1992,por um movimento público encabeçado por estudantes “carapintadas” e políticos oposicionistas, a maioria do Partido dos Trabalhadores –PT- e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro-PMDB-, as duas agremiações que governam atualmente o Brasil, em regime de coalisão; do ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, atualmente deputado federal, acusado de desvios de recursos para suas contas no exterior; do ex-governador do Distrito Federal e ex-senador, José Roberto Arruda, e do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz.

Collor foi acusado de corrução por ter aceitado de presente um carro modelo “Elba”; Arruda e Roriz têm processos por desvios de recursos públicos e compra de votos. O deputado federal Paulo Maluf continua sendo acusado, mas mantem o exercício de seu mandato parlamentar. Os quatros políticos têm em comum uma característica: Continuam com eleitorado expressivo, segundo apontam pesquisas de opinião pública, o que demonstra que no Brasil a memória popular é condescendente para atos de ruptura dos códigos de conduta ética e moral. É mais ou menos uma prática inaugurada pelo ex-governador paulista Adhemar de Barros, em décadas passadas: “Rouba, mas faz...”.

Colunista deste blog e meu amigo particular, o jornalista Vicente Limongi Netto é assessor do ex- Presidente Fernando Collor, e assim comenta a recente absolvição do ex-Presidente pelo  STF, curiosamente, hoje uma corte dominada pelo Partido dos Trabalhadores:

“O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO

Fernando Collor esperou 23 anos. Foi xingado, ultrajado e humilhado. Com galhardia contou até mil e suportou calado todas as torpezas e leviandades. No dia 24 de abril, o STF deu para Collor, pela segunda vez, uma preciosa certidão de correção administrativa e honestidade pessoal e política. Collor botou para fora da garganta o grito de vencedor entalado há tantos anos. Discursou no Senado e não deixou barato. A seu ver, a absolvição do STF não só alivia 23 anos de angústias como também permite reescrever a história do Brasil no período em que, na Presidência da República, implantou medidas estruturantes, como abertura comercial e quebra do monopólio. Sem elas, assegurou, seria impossível a estabilização. "Estou absolvido de todas, absolutamente todas as acusações. Estou inocentado de todas as delações. A ninguém é mais dado o direito, salvo por reiterada má-fé, de dizer o contrário", salientou. O ex-presidente e senador Fernando Collor faz uma pergunta: "Quem poderá me devolver tudo aquilo que perdi, a começar pelo meu mandato de presidente?" Para Collor, é importante também a reflexão da sociedade sobre a verdade dos fatos e, em particular, de uma geração de jovens que somente ouviram inverdades ou estudaram em livros tendenciosos. Evidente que o choro é livre. Ressentidos e injustos existem desde os tempos da Ceia de Cristo”.

Com esse comentário de Vicente Limongi Netto, reproduzido por importantes órgãos da imprensa brasileira, entre os quais o jornal “O Estado de S. Paulo”, faço aqui uma indagação: “Inocentado pelo STF, o atual senador e ex-presidente Fernando Collor tem chances de voltar à Presidência da República?” E o ex-governador José Roberto Arruda? Poderá voltar à política?

Penso que sim. O potencial de votos e o carisma do senador Fernando Collor de Mello é significativo, embora as novas gerações guardem dele impressões negativas e o PT não tenha razões para facilitar sua vida política. Ele teria que recomeçar sua campanha do marco zero, em termos de Brasil. Quanto ao - ex-governador José Roberto Arruda, ainda arrosta com pesadas acusações e provas contra sua pessoa, e seu esforço para reverter sua imagem teria que ser hercúleo, o mesmo raciocínio se aplicando ao ex-governador Joaquim Roriz.

Mas, há um efeito estufa curioso nessa remissão de pecados políticos. Ela desloca ou puxa para baixo o impacto negativo do “Mensalão”, nas eleições de outubro próximo, reduzindo o foco de luz sobre os petistas que se encontram cumprindo pena na penitenciária “Papuda”, de Brasília, entre os quais o ex-ministro José Dirceu, um dos cabeças do governo Lula.

Em relação à opinião pública, a readmissão, no cenário da disputa político-eleitoral, do Presidente Collor e dos ex-governadores Roberto Arruda e Joaquim Roriz ajudaria a encobrir, nas eleições de outubro, não apenas a imagem negativa do PT, mas também as acusações sistemáticas de corrupção contra o Governo Lula e a Presidente Dilma Rousseff, que deseja se reeleger e que vem sofrendo desgastes com denúncias de desmantelamento da Petrobrás, a principal estatal brasileira do setor petrolífero.

A ética de resultados, aparentemente, parece comover mais os eleitores e as instituições políticas brasileiras do que a ética pessoal. Assim sendo, a restauração da moralidade torna-se mais difícil do que a locupletação geral, em resposta à proposta de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “Restaure-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos”.

 

 

 

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