* Manuel Cambeses
Júnior
Há
algum tempo a imprensa tem, sistematicamente, dado destaque a algumas
revelações verdadeiramente escandalosas sobre o envolvimento de políticos,
empresários e autoridades governamentais em atos desairosos e denunciado o
enriquecimento ilícito de maus patriotas no exercício da função pública.
Se
adicionarmos a estes lamentáveis casos as denúncias e investigações que
envolvem, em diferentes oportunidades, funcionários do setor administrativo,
inclusive colaboradores diretos da Presidência da República, chega-se à
conclusão de que a maré de anomalias, torpezas e suspeitas está profundamente
enraizada nos três poderes do Estado.
Constatamos,
com imensa tristeza, no atual cenário político nacional, inumeráveis e
lamentáveis fatos que vêm sistematicamente ocorrendo, envolvendo autoridades
públicas - especialmente ministros de Estado e funcionários do primeiro escalão
governamental - que o nosso país se encontra em avançado processo de putrefação
moral.
E
se esse processo deletério não for estancado, a curto prazo, a projeção que
podemos fazer para o futuro é dramática. Portanto, algo deve ser feito para
estancar, de imediato, com todos esses desatinos.
Os
fatos, ao longo dos últimos anos, mostram que os detentores do poder, urdiram
um plano diabólico para, paulatinamente, desmontar o poder de reação da
sociedade brasileira para perpetuarem-se no poder e manterem o perverso e
abominável status quo.
Mas,
bem sabemos, tal processo deletério não muda - apenas - com promessas, com
palavras ou com intenções. Só ações efetivas, tomadas por pessoas de têmpera
forte e com qualidades de liderança, poderão transformar as esperanças em
decisões e, consequentemente, em ações.
Ações
que irão debelar essa pletora inominável de desvios de conduta de mentes
doentias e mentirosas que, os fatos, sempre eles, mostram, comprovam, e vêm
dominando, nestes últimos anos, o nosso país, em todos os seus quadrantes.
Portanto,
só com ações efetivas poderá ser saneada a contaminação que tomou conta do
Brasil. Um país onde muitas prefeituras contam com prefeitos e vereadores
corruptos e corruptores. O mesmo acontece com governadores, deputados
distritais, estaduais, federais, senadores e até mesmo os que deveriam zelar
pela manutenção e a aplicação da lei: os juízes.
E
esse quadro devastador se estende, segundo os fatos tão alardeados, até aos
pontos mais elevados da estrutura de poder nacional. Um absurdo inominável!
Urge, pois, que medidas efetivas e saneadoras sejam tomadas para resgatar a
saúde moral de nosso país. Para que sejamos, um dia, de fato, uma Nação.
E,
afinal, qual será o futuro se esse processo continua? Se todas as aves de
rapina continuam livres e a esbulhar o país? Com tantos privilégios e com essa
brutal excrescência denominada "foro privilegiado". Assim, o que está
em jogo é o futuro de todos nós, e, em especial, de nossos filhos e nossos
descendentes.
E,
por último, mas não menos importante, o que podem os cordeiros contra os lobos?
Nada! Cordeiros sem proteção são e serão, por certo, presa fácil nas mãos
predadoras de todos esses que aí estão a esbulhar, livremente, o patrimônio
brasileiro. Patrimônio que foi criado e acumulado com o trabalho, a luta, o
denodo, o vigor, o sofrimento e o sangue de nossos pais e nossos ascendentes.
Uma
história de lutas que, agora, assistimos impotentes, se perder nas mãos
insidiosas e espúrias de todos esses lobos que saqueiam o país e nos tratam, a
todos, como marionetes.
E,
tragicamente, além de roubarem o próprio país eles não pensam duas vezes em se
submeter e entregar as riquezas de nosso solo, aos algozes de sempre e que têm
seus atos de dominação tão bem registrados e consubstanciados na História
Mundial.
É
muito difícil para a opinião pública assimilar o caudal de informações
deprimentes que golpeiam, diariamente, a sensibilidade dos cidadãos, sem que
seja experimentado um profundo desalento moral e observado, com um fundo de
incredulidade, o funcionamento das instituições sobre as quais repousa a ordem
republicana.
Ante
esta dura realidade é imprescindível criar-se, o quanto antes, as condições que
permitam reconstruir o prestígio da Organização Estatal, hoje fortemente
afetado pela sordidez desses maus brasileiros.
Uma
sociedade que não confia em suas instituições dificilmente poderá caminhar com
passo firme na direção de metas perduráveis de progresso, justiça e bem-estar.
A honorabilidade dos homens públicos, qualquer que seja o nível e a natureza de
sua função, é um oxigênio insubstituível para o desenvolvimento da capacidade
criativa do corpo social, que dificilmente mobilizará, com profundidade, suas
energias espirituais e materiais, se considerar que o fruto de seu esforço será
aproveitado, desavergonhadamente, pela voracidade, ambição, vileza e falta de
escrúpulos de uns poucos.
À
imprensa lhe corresponde uma missão fundamental nessa empreitada de
reconstrução nacional. Na maioria das vezes tem sido a mídia o instrumento de
denúncia de manejos ilícitos por quem exerce o poder (seja de quem tenha
chegado à função pública pelo voto popular ou de quem desempenha cargo de confiança
em virtude de nomeação).
É
alarmante imaginar quantos focos de corrupção teriam permanecido ocultos se os
profissionais de imprensa não lhes houvesse focado a luz. Daí ressalta-se o
valor estratégico da liberdade de expressão como pilar da ordem constitucional.
Frente
à onda de seguidos fatos e focos de corrupção que ameaçam erodir os alicerces
do Estado, toda a sociedade brasileira deve pôr-se de pé, para exigir que os
atos ilícitos identificados e denunciados pela imprensa - desde que devidamente
comprovados - sejam punidos exemplarmente, e que os controles do sistema
democrático funcionem com eficácia e em plenitude, na salvaguarda da
transparência moral, que é a virtude suprema da República.
*
O autor é Coronel-Aviador Reformado da Força Aérea Brasileira; membro emérito
do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil e conselheiro do Instituto
Histórico-Cultural da Aeronáutica.
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