sexta-feira, 29 de maio de 2015

A MORAL E A ÉTICA NA PÁTRIA EDUCADORA


Paulo Frederico Soriano Dobbin

            Sonhar não custa nada, diz um bonito samba-enredo.
            Diante de mais essa louvável iniciativa do Clube Militar, afugentei o ceticismo e cheguei a imaginar como seria importante uma adesão voluntária e espontânea das instituições e órgãos de formação de opinião deste país, cerrando fileiras nessa campanha que, tão somente, pretende jogar foco de luz sobre o entendimento da sociedade brasileira sobre moral e ética. Na realidade, um problema de governantes e governados que tornam sombrias as projeções sobre o futuro desta nação. E daí, vem um algum pessimismo.
            Na proposição do tema, o clube lista uma série de desvios de comportamento com os quais, isoladamente ou em conjunto, deparamo-nos cotidianamente e que, muitos deles perigosamente, já estão incorporados ao perfil médio do cidadão brasileiro.
            A palavra que se impõe, portanto, é mobilização.
            O nosso Clube Militar, a Casa da República, faz sua parte. Mas, como a iniciativa da busca por soluções deveria pertencer aos governos, aos legisladores e à Justiça, facilmente chega-se ao diagnóstico: o Estado brasileiro, atavicamente, por omissão, incompetência ou interesses políticos, não se mostra capaz para intervir e modificar esse tenebroso quadro. Em consequência dos repetidos maus exemplos que nos oferecem autoridades, premiados na maioria das vezes com a impunidade, se instala na população um arriscado conformismo com o estado de coisas. As novas gerações e os mais carentes são os mais influenciados com esse “laissez-faire” oficial.
            A reversão desse quadro é complexa e multidisciplinar. Não faz parte de meus propósitos, invadir esse terreno mais apropriado a historiadores, sociólogos, filósofos e outros profissionais da ciência humana. Não teria um mínimo de competência para tal.
            Mas, muito cartesianamente, alinho-me aos que identificam, como a causa maior desse descalabro, a educação, ou a falta dela.
            Sabemos que ética e moral são conceitos que possuem grande superfície de intercessão e que, por vezes se equivalem, embora a ética tenha mais a ver com o caráter, com as qualidades do indivíduo, e a moral com os costumes, o conjunto de normas aceitas pela sociedade.
            Independente disso, ética e moral formam um grupo de regras e conhecimentos fáceis de serem desenvolvidos por duas basilares instituições na formação da cidadania, hoje tão enfraquecidas no Brasil: a família e a escola.
            Se a virtude moral é consequência do hábito, segundo Aristóteles, onde mais buscar ambientes propícios para iniciar a verdadeira formação de um homem?
            A evolução da humanidade gera, inevitavelmente, enormes conflitos entre a moral e interesses de toda a sorte. Particularmente nas elites. Isso fere gravemente a família e a escola.
            Caberia aos governos protegê-las, blindá-las ou, no mínimo, amortecer as lesões que a racionalidade do progresso possa provocar na ética e na moral.
            Mas isso só se alcança com medidas concretas de valorização do magistério; do ensino em todos os níveis, sobretudo o fundamental; no aparelhamento adequado do ambiente escolar. E não apenas com motes midiáticos, tipo: “Pátria Educadora”, cínico paliativo que debocha do mundo real.
            Caberia, primordialmente, a proteção da família como célula virtuosa da sociedade, essa sim, educadora.
            Dizia Immanuel Kant que duas coisas sempre novas e crescentes povoam a mente com admiração e respeito: O céu estrelado por cima e a moral dentro de nós. Estimulava assim o filósofo alemão que se buscassem permanentemente novos conceitos morais, assim como se buscavam novos corpos celestes no imensurável espaço cósmico.
            Isso serve de argumentação de que os valores morais e éticos, em um mundo diversificado e multicultural, são adotados mediante entendimentos diferentes em distintas sociedades. Até mesmo o clássico maniqueísmo do certo-errado não escapa em um mundo submetido à contínua transformação. Esse dinamismo pode ser, de um modo geral, assimilável.
            Por outro lado, considero serem a ética e a moral manifestações de padrões socialmente já consagrados pelo uso e que princípios como a honestidade, coragem, veracidade, integridade e outros são inalteráveis em qualquer grupo social.
            Isso contempla esse tema com um elevado nível de complexidade, especialmente em se tratando de Brasil.
            A realidade em que vivemos se confronta com os propósitos maiores da campanha proposta pelo Clube Militar. Teremos uma dura e longa batalha para estimular adesões.
            Concluo esperançoso, por constatar que a nação ainda reage, com indignação e perplexidade, a uma onda de corrupção sem precedentes que parece obedecer a um sofisma tipo Robin Hood às avessas, ao tirar dos pobres para entregar a inescrupulosos empresários, agentes políticos e agremiações partidárias.
            Mas, como em uma obra surreal e por lhe ser negada a necessária educação, esse mesmo segmento da sociedade, pobre e desassistido, ainda recompensa seus algozes, com agradecidos votos.
           Um ciclo vicioso muito difícil de romper.  
           Diante de um quadro desanimador de desvios éticos e morais, listados pelo clube ao levantar a questão, resta-nos a preocupante pergunta: como será o Brasil de meus netos?
          E isso nos remete de pronto para buscar como romper esse processo as autoridades desse país, aquelas pessoas que são detentoras do poder, outorgado por nós leitores.

Paulo Frederico Soriano Dobbin é Vice-Almirante, presidente do Clube Naval

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