quarta-feira, 6 de maio de 2015

Brasil em fase de retrogradação


É um grande desafio comentar sobre a atual política brasileira.
O sistema político brasileiro sofre desfigurações na sua forma e essência, as quais prenunciam o advento de rupturas político-institucionais e tempestades ameaçadoras para os campos político, econômico, psicossocial e militar.
Não estou apostando no catastrofismo; não sou pescador do caos e das águas turvas, e nem apelo para a escatologia. O Brasil vem mudando para pior, em todos os seus fundamentos do poder, desde que se instalou o governo de coalizão do Partido dos Trabalhadores e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-, já no primeiro governo Lula, em 2003.
Lula representando um partido de massa, o PT, e tendo por vice José Alencar, empresário pertencente a um partido de quadros, o PMDB, tradicionalmente ligado às empreiteiras e ao setor secundário da economia. Um partido profissional que manobra os cordéis conforme sopram os ventos, e que tem por mérito fazer essa manobra e se manter no poder desde os tempos de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
Os setores primário (agrícola) e terciário (serviços) ficaram representados por uma salada partidária e ideológica congregando esquerda, centro e direita, oportuna e fisiologicamente apoiando ou fazendo oposição ao governo, ao sabor dos interesses fisiológicos que tomaram conta do sistema representativo brasileiro.
O processo do “Mensalão” provocou a decantação dos interesses representados pela coalizão e colocou o PT sob suspeita de grande parcela do eleitorado brasileiro, mas o processo de corrupção na Petrobrás e no BNDES constituíram a pá-de-cal sobre a credibilidade de todos os partidos – os de apoio ao governo e os de oposição. Sabe-se que o meio político é extremamente permeável à informação de qualquer benefício concedido a quem quer que seja sob qualquer justificativa.
As apurações em curso da “Operação Lavajato” mostram que não há inocentes na atual política brasileira e que todos os espertos se locupletaram, membros da coalizão e  membros de partidos de oposição, de modo que sobrou pouca gente com moral para atirar pedras e reclamar que se restaure a moralidade geral.
Tamanha locupletação coloca em cheque o sistema político brasileiro:A forma de estado (federativa), a forma de governo (república), o sistema de governo (presidencialismo), o regime de governo (democracia?), o sistema representativo (sistema bicameral), o sistema eleitoral (voto proporcional para mandatos legislativos e majoritário para o Senado e cargos executivos) e o sistema partidário (pluripartidarismo).
Não se admite, nos meios parlamentar e judiciário, a necessária e ampla reforma do sistema político, como se bastassem sucessivas e pontuais modificações na legislação eleitoral e partidária, hoje transformadas numa colcha de retalhos, num verdadeiro “Frankenstein”. Obviamente, forças internas herodianas, acumpliciadas com interesses de centros de poder mundial, não querem o Brasil concorrendo com tradicionais potências européias. Algo que já vem do Brasil colonial... Um sistema político quasímodo e capenga é a garantia de que o País não se corrigirá, tal como a sombra de uma vara torta.
Retratos do Brasil de hoje, contidos no processo legislativo, são as corrupções políticas, os gargalos econômicos e financeiros, as insatisfações populares, a violência nas cidades e nos campos, a falência da segurança pública e da normatização, dos transportes urbanos, da educação em geral e dos hospitais, a baixa produção científica e tecnológica, a perda de recursos naturais do solo e subsolo, a agressão irreversível ao meio-ambiente e a instalação de um clima de guerra declarada de todos contra todos, ao estilo hobbesiano.
O mundo em geral sofre o impacto da globalização, das rupturas culturais e políticas e – por que não admiti-lo? – do choque de civilizações previsto por Samuel Huntington, mas o Brasil reproduz com rapidez os males da atualidade e com lentidão, quando não se omite, os progressos. Trata-se de predestinação para o Brasil caminhar como caranguejo ou as elites têm consciência de que se faz necessária a urgente adoção de uma agenda positiva  capaz de replantar a esperança de mudanças  na nova geração de brasileiros? O desafio não é somente ético e moral, mas, sim, existencial.
Não adianta, como solução, o PSDB e outros partidos insatisfeitos montarem uma agenda para que se alcance o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff. Quem substituiria Dilma? Quem, no Brasil atual, dispõe de legitimidade (voto) e respaldo das Forças Armadas para assumir o governo e garantir que se restaure a moralidade? Essa figura poderosa inexiste neste momento ou, na melhor das hipóteses, se mantem encoberta...Até que apareça, o País e o Povo ficarão em fase de retrogradação.

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