quarta-feira, 14 de setembro de 2011

De "factóides",fatos revolucionários,corrupção,etc.

O costume político brasileiro consagrou a prática de criação de "fatos novos", ou “factóides” (expressão do escritor norte-americano Norman Mailer), principalmente em campanhas eleitorais, toda vez que um político ou candidato empaca nas pesquisas e demais sondagens e sente o sabor amargo do ostracismo, da queda ou do esquecimento junto à massa de eleitores.

A título de ilustração, lembro que o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, político de talento diferenciado, é um mestre nessa prática, embora não tenha conseguido êxito na última campanha presidencial, atuando pelo DEM, presidido pelo seu filho, deputado Rodrigo Maia, em sua tentativa de reverter o favoritismo de Dilma Roussef em benefício de José Serra.


O “factóide” não é mentira e nem desinformação. É quase um fato revolucionário, devidamente explorado e disseminado com o objetivo de alterar um quadro político. Digo “quase”, porque é mais imediato, podendo ou não ter desdobramentos de médio e longo prazo, enquanto os fatos revolucionários são mediatos e mais previsíveis em seus desdobramentos.


Há fatos revolucionários que mudam o curso da história, como, por exemplo, a viabilização de testes nucleares em megacomputadores, em futuro próximo, e a conclusão do Projeto Genoma, que permite o mapeamento genético do homem.


Os alimentos transgênicos também são potencialmente revolucionários, mas ainda se revestem de incertezas quanto à sua utilidade para a humanidade, conseqüência das dúvidas que ainda persistem sobre os seus efeitos no organismo animal e - por que não? - sobre as combinações estranhas que podem representar entre animais e vegetais, reinos diferentes.


Na Ciência Política, há três ramos de estudos teóricos e aplicados de natureza revolucionária, na mesma dimensão de importância desses três fatos anteriormente citados: a Biopolítica, a Educação Política e a Comunicação Política.


A Biopolítica, que tem merecido estudos especiais dos norte-americanos, pode ser associada ao Organicismo, doutrina que, comparando a sociedade ao organismo vivo, tende a aplicar aos fatos sociais as leis e teorias biológicas. Expoentes do Organicismo foram Comte, o maior filósofo francês (Organicismo Materialista), Spencer (Organicismo Biológico) e Savigny (Organicismo Historicista).


Tendo o homem como figura central, sujeito da ordem social e unidade embriogênica, que não criou nem há de criar nada que lhe seja superior, o Organicismo seria, na visão de alguns críticos, estimulador dos regimes políticos autoritários. Os mecanicistas, opondo-se aos organicistas, afirmam que a sociedade é mera soma de partes, que não gera nenhuma unidade susceptível de existir fora ou acima dos indivíduos.


A Biopolítica, contudo, tem mais ciência e menos teoria, ao contrário do Organicismo. A política, como produto vital na Biopolítica, torna-se corolário do que disse Aristóteles: que o homem é um animal social. Hanna Arendt discorda de Aristóteles, considerando que a sociabilidade é um fenômeno secundário, não uma necessidade humana; mas Toynbee (Um Estudo da História), valendo-se de citação de David Hume, explica que o fenômeno da sociabilidade humana tem fundamentos bioquímicos: O homem tem necessidades bioquímicas de relacionar-se com outros.


Charles Darwin, estudando a evolução das espécies, já fazia Biopolítica. Idem o filósofo ítalo-argentino José Ingenieros (Simulação na Luta pela Vida). Essas necessidades bioquímicas ajudam a mover o processo de interação cultural, que provoca a emigração em massa do campo para as cidades e que transformou o Brasil de hoje num país majoritariamente urbano e atração máxima dos produtores mundiais de bens de consumo eletrodomésticos, eletrônicos, automóveis e alimentos industrializados. Essa emigração, aliás, é um fenômeno em quase toda a América Latina.


No Brasil, a política nos municípios do interior é marcada pela Biopolítica, na qual as leis da sobrevivência condicionam o comportamento político, dando razão ao que afirma Oliveira Viana (Populações Meridionais do Brasil): "Cada comunidade, cada grupo local, tem a sua forma de desenvolvimento, a sua equação genética e evolutiva própria. É a fórmula sociogênica: meio/cultura/raça)... Não há tipos sociais fixos e, sim, meios sociais fixos, que determinam as diferenças regionais".


O Municipalismo nutre-se dessa fórmula sociogênica de Oliveira Viana, resistindo como contracultura da globalização, enquanto a Federação, menos resistente, esgarça-se em crescentes movimentos divisionistas, reservas territoriais, que ameaçam a "balcanização" do Brasil.


A Educação Política é a química fina da Ciência Política e diz respeito à preparação o homem para a cidadania, para tudo aquilo que o exclua do estado de barbárie. Seria uma versão contemporânea da Paidéia - a formação do homem grego-, em que cidadania (politia) é condição do habitante da cidade, quando no pleno gozo de seus direitos civis e políticos.


Nesse contexto, destacam-se duas matérias hoje elevadas ao nível de ciência e que vêm pautando os princípios políticos e partidários: Moral e Ética. Moral diz respeito ao conjunto de valores baseados nos bons costumes. Ética (do grego ethos) é o conjunto de princípios e ideais de conduta individual que dizem respeito à forma de procedimento, baseados na moralidade ou nos bons costumes e fundamentados na honestidade e na justiça. Contrapõem-se a tudo que represente, material ou espiritualmente, a corrupção.


A incorporação da Moral e da Ética no discurso político brasileiro começa a ser exigida pela sociedade, conforme passeata recente reunindo 25 mil pessoas em Brasília em protesto contra a impunidade da deputada distrital Jacqueline Roriz. Novas manifestações contra a corrupção política começam a ser articuladas. O tempo dirá se estamos diante de um factóide ou de um fato revolucionário em gestação.


Quanto à Comunicação Política - o conjunto de mensagens circulantes no sistema político e condicionadoras das ofertas e demandas desse sistema -, seu desafio maior no Brasil consiste no processo de integração nacional, através da circulação de bens, serviços, pessoas e mensagens.


São crescentes os curtos - circuitos/estrangulamentos nesse processo. As dimensões continentais do Brasil, a inconsistência das instituições estatais, a falta de vontade das elites políticas e a excessiva concentração dos meios de comunicação, da renda, dos meios de produção, das oportunidades, dos investimentos e da população são fatores que contribuem para o esgarçamento da Federação nos termos anteriormente aqui colocados.


O Brasil tem enormes e bizarras contradições, uma delas a falta d água doce e potável onde tem gente e a falta de gente onde se encontra maior reserva de água doce do planeta (a Amazônia). A "balcanização" é uma questão de tempo, pois até o idioma, grande fator de unidade nacional, vem sendo solapado pelos métodos científicos de aplicação da semiótica e neurolinguística como instrumentos de dominação política e cultural da potência hegemônica, no caso os Estados Unidos. O português conseguirá resistir estoicamente, diante de tantas tentativas de assassinato sofridas pelo idioma?

Nenhum comentário:

Postar um comentário