segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Os EUA continuam sem rival (final)


O sistema cratológico mundial sofre transformações cíclicas, mais rápidas em termos conjunturais, pois dependem da “geografia crítica”, aquela em que as mudanças são promovidas pelo homem, e muito lentas, em termos estruturais, em dependência ao fator natural e geológico. Vou considerar aqui, principalmente, a “geografia crítica”.

Antes da segunda guerra, havia a multipolaridade (Reino Unido, Estados Unidos, França, Japão e Rússia). Após a segunda guerra, a bipolaridade EUA/URSS (Capitalismo versus Socialismo),que durou 45 anos(1991),abrindo em seguida espaço para uma tripolaridade (Estados Unidos,Japão e Europa Ocidental).Atualmente, prevalece certa multipolaridade (Estados Unidos,União Européia,Japão,China e Rússia), mas com absoluta hegemonia estadunidense.


Diferentemente do período anterior à Segunda Guerra, há hoje um sistema de cooperação e interdependência, que inibe iniciativa isolada de qualquer nação com objetivo de uma guerra de conquista.Com a globalização centrada nos Estados Unidos, politicamente, o sistema de poder se amarra no G-8 (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão, França, Canadá, Itália e Rússia, além da União Européia representada). Economicamente, firma-se o sistema no G-20, criado em 1999 e formado pelos ministros das finanças e chefes dos bancos centrais dos 19 países mais ricos e a União Européia representada.


No G-8, os países têm em comum o poder nuclear, do qual o Brasil abdicou nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, subscrevendo o Tratado de Não-Proliferação, embora dê continuidade atualmente ao seu projeto de construção de um submarino nuclear.


Pressionando os mais ricos, há os emergentes, sob a sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que apresentam taxas expressivas de desenvolvimento e que, juntos, representam um quarto da área terrestre e mais de 40% da população mundial, conforme dados da Wikipédia.Índia,Brasil e África do Sul também compõem o novo IBAS, com interesses convergentes na América do Sul, África e Ásia.


Após a Segunda Guerra, qualquer que tenha sido até agora a polaridade do poder mundial, o fato concreto é que se tem a hegemonia dos Estados Unidos, e isso não mudará nesse século, simplesmente porque não há no horizonte nenhuma nação e nenhum bloco de nações (mesmo a União Européia e o BRICS) capaz de desafiar Washington.


Observe-se que a Rússia, presente no G-8, no G-20, no BRICS e no Conselho Permanente de Segurança da ONU, assim como a China, também membro do Conselho e do BRICS, são potencialmente fortes, mas apresentam problemas internos com o meio-ambiente, a democracia e direitos humanos, além de regiões ainda muito atrasadas em seu desenvolvimento.


A Rússia, desde a dissolução do bloco soviético, passando do socialismo para o regime privado, foi tomada por uma nova classe dirigente oligarca, oportunista e encastelada. Com mais de um milhão de soldados, o maior arsenal de armas nucleares do mundo e maior fornecedor mundial de armamentos, a Rússia seria, potencialmente, o maior desafio à hegemonia dos Estados Unidos, mas se encontra submersa numa profunda crise de desigualdade social que a torna politicamente instável. Cerca de 20% dos 142 milhões de habitantes vivem na miséria.


A China, segunda maior economia do mundo, com mais de 2,3 milhões de soldados e o segundo maior orçamento militar do mundo (cerca de 70,2 bilhões de dólares), ainda se vê às voltas com o atraso das regiões central e oeste e com as dificuldades de suprir em alimentos sua população de 1,3 bilhões de habitantes, fato esse que em muito tem beneficiado as exportações de matérias-primas e alimentos do Brasil. O país é altamente dependente de exportações e investimentos.


Washington entende que esses investimentos em defesa tornam tanto a Rússia quanto a China potenciais ameaças aos Estados Unidos, em razão de que suas combinações com a Organização do Tratado Norte-OTAN-,integrada por 28 países,levam a um estratégico cerco aos dois gigantes e seus aliados, com a OTAN se transformando numa força militar global, em condições de cumprir o art.5º de sua Carta – a Cláusula de Defesa Mútua-, referente à segurança energética dos estados membros.


Essa cláusula é útil, inclusive, para o combate ao terrorismo mundial, pois prevê a militarização das rotas mundiais de abastecimento energético, dos oleadutos estratégicos, dos corredores marítimos utilizados pelos petroleiros e das águas internacionais. Para essa operação, planeja-se uma força naval global, sob o comando estadunidense, apesar das recentes ameaças de redução do orçamento da OTAN.


Os Estados Unidos, que investem 533,7 bilhões de dólares em defesa por ano (dez vezes mais do que todo o orçamento militar da América do Sul), com 1,3 milhões de soldados, com seu imenso parque científico e tecnológico e sua indústria militar, detém patentes de produtos no mundo inteiro, recebendo colossal montante de lucros e dividendos remetidos pelas subsidiárias das matrizes de suas empresas no exterior, o que reduz o impacto do atual déficit comercial do país, da ordem de 46,3 bilhões de dólares, e de suas dívidas externa e interna. Das 500 maiores companhias mundiais 83% são dos Estados Unidos (244), União Européia (173) e Japão (46). Das 25 maiores corporações, 72% são dos Estados Unidos, devendo se destacar que os Estados Unidos lideram o mercado mundial de computação.


O mundo repousa (ou se agita...) na modernização da defesa, dando razão, mais uma vez, ao que diz Maquiavel, em sua obra “A Arte da Guerra” (1519-1520): “... pois todas as artes que se ordenam em uma cidade tendo em vista o bem comum, todas as ordenações criadas para que se viva com temor às leis e a Deus, isso tudo seria vão se suas defesas não fossem preparadas; defesas que, bem ordenadas, mantêm essas coisas, mesmo que estas não estejam bem ordenadas...”.


Com inteligência, sagacidade e decidida liderança mundial em todas as expressões do poder (política, econômica, científica, tecnológica e militar), os Estados Unidos, posicionados estrategicamente- conforme as idéias de Alfred Mahan sobre o poder marítimo como vértice da supremacia das nações - entre dois oceanos (Atlântico e Pacífico), se mantêm como nação unida e coesa em torno dos objetivos definidos pelos “fundadores da pátria”, resolutos em suas ações presentes e ousadamente inovadores em relação ao futuro.


 Não preciso me estender muito além desses dados aqui mencionados, para afirmar que, nesse século, a “pax americana” permanecerá intacta, a menos que algum meteoro caia sobre o planeta... Acredito até que o “império” atual é um “continuum” do Império Romano e, como instituição, possa durar muito mais do que aquele, se souber utilizar as lições da história sobre os estados e impérios que ruíram.


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