quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os biocombustíveis, a fome e o mercado



Gélio Fregapani (Membro da Academia Brasileira de Defesa)

Anuncia-se que, com a seca que assola os EUA, o mundo está em déficit dos alimentos. A seca é apenas parte da história, pois os EUA têm convertido vastas quantidades de milho em bicombustível. A escassez está empurrando os preços das commodities agrícolas para altos recordes.

Em consequência, o preço internacional dos alimentos tem subido exponencialmente, e isto beneficia a exportação agrícola do Brasil. Apesar de a seca não ser eterna, essa situação favorável (para nós) deve persistir, ao menos parcialmente, enquanto os EUA mantiverem o uso em larga escala do milho para fabricar o etanol.

Isto nos abre a oportunidade de diminuir as restrições ambientais, aumentar a área de plantio e avançar na produção de bicombustíveis (particularmente os do dendê), e tomar conta do mercado, conseguindo uma dianteira difícil de alcançar.

Com os biocombustíveis e a utilização crescente de gás de xisto de seu próprio território e do Canadá, em poucos anos, os EUA não mais dependerão do petróleo do Oriente Médio ou da América do Sul.

Este novo fato merece o início de uma análise prospectiva, pois deve alterar radicalmente a atual perspectiva de declínio norte-americano, das relações deles com outras nações e a atual riqueza dos produtores, que perderão seu grande mercado.

É provável que, para extrair, o gás do xisto será mais caro do que o petróleo, mas se o preço do petróleo se mantiver acima de 70 dólares por barril, o gás do xisto americano será competitivo. É razoável pensar em um ressurgimento econômico e industrial da grande nação do Norte, que não mais necessite de guerrear e oprimir para conseguir a energia vital.

A nova situação pode até trazer uma perspectiva de paz. Entretanto, pode ser que, com novas energias, os EUA sejam tentados a apoderarem-se dos minerais que faltam em seu território. Tanto mais tentados ficarão quanto menor for a nossa capacidade de dissuasão...

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