terça-feira, 16 de abril de 2013

Democracia " de Macunaíma-Mobius" e o Poder Legislativo no Brasil


Recebi interessante crítica formulada ao Poder Legislativo no Brasil ,comparado ao mesmo poder em diversos países , onde  os parlamentares prestam atenção ao orador na tribuna com foco no assunto, ordem e respeito , “Atitudes Essenciais”, segundo o autor da análise, que se identifica  em email  apenas como “Fernando”.
Exibindo slides sobre os rituais parlamentares, Fernando mostra as sessões no Parlamento brasileiro variando entre a balbúrdia, o descaso ao orador, sessões com plenário vazio e a informalidade de eventos de cunho meramente midiático com a participação de jogadores de futebol e artistas e atitudes indecorosas e impunes de parlamentares.
Mostra o senador Eduardo Suplicy exibindo sua cueca vermelha para um programa de televisão ( em 1949, o deputado  fluminense  Edmundo Barreto Pinto foi o primeiro, no Brasil, a ter  seu mandato cassado  por idêntica atitude) e apresenta uma entrevista com o ex-jogador de futebol e atual deputado federal Romário, do Estado do Rio de Janeiro, que critica os vícios do Poder Legislativo, mas reconhece que  a instituição lhe proporciona hoje mais poder do que a sua própria celebridade como futebolista.
Fernando conclui, citando Joseph de Maistre e Ruy Barbosa com seus célebres escritos sobre a qualidade (ou má qualidade) da representação política, e encerra comparando o Parlamento brasileiro a uma fita de Möbius, que “presta-se admiravelmente bem como modelo geométrico para espelhar a situação patológica em que se encontra nossa democracia – modelo de democracia de Macunaima-Möbius”.
Antes de tecer considerações sobre esse instigante trabalho de Fernando, indico a leitura  da monografia elaborada por Giovana Sílvia Cherchi, intitulada “Renúncia do mandato parlamentar na Câmara dos Deputados por falta de ética ou quebra de decoro”. É um trabalho interessante, que supre a escassez de abordagens  acadêmicas sobre esse tema no Brasil, mesmo sendo abundantes os registros jornalísticos, talvez pela natureza escandalosa e sensacionalista  dos fatos registrados.
Fernando cita o Parlamento do Chile como modelo. De fato, a  democracia chilena, na Política Comparada, é um modelo para os demais latino-americanos, não obstante o período da ditadura do general Augusto Pinochet. Os Parlamentos da Alemanha e do Japão também são mencionados como exemplares, mas são países que tiveram  historicamente um modelo de desenvolvimento vertical, com escassa participação popular ou democrática (leia-se a obra de Barrington Moore Jr. intitulada “ As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia”).
A qualidade da representação política tem ligação direta com as características da cultura política da sociedade que elege seus parlamentares, mas pode ser disjuntiva da natureza democrática, como no caso do Japão e da Alemanha.
As práticas parlamentares no Brasil, o ritual no Congresso Nacional, o modelo “Macunaima-Möbius” com que Fernando define a democracia brasileira são variações em torno de comportamentos, recorrentes ou não, ditados pela conjuntura política e pelo modelo de desenvolvimento econômico dependente do País, desde a implantação da República, em 1889, com o advento da democracia.
Durante o Império, o modelo elitista de representação era mais rígido em coibir abusos de ordem ética e moral, definindo a prevalência do Liberalismo sobre a Democracia. E até hoje é assim, inclusive nos Estados Unidos: Liberalismo, ainda que com o mínimo de democracia... Mas, o Império, mesmo austero e definindo a representação com régua e compasso, não impedia práticas eleitorais e de tráfico de  influência.
Essa prevalência do Liberalismo sobre a Democracia, no Brasil, suscita o descaso das elites dominantes em relação ao povo e a própria crítica  permanente e contumaz ao Poder Legislativo, no que diz respeito aos seus integrantes, aos seus funcionários, aos seus gastos ,omitindo-se o fato de que o processo legislativo é o equilibrador político-institucional do qual nenhum Estado pode prescindir.
A questão orçamentária, por exemplo, tem uma abordagem com forte viés anti-Poder Legislativo, cujos gastos (idem em relação ao Poder Judiciário) são ínfimos, em se tratando de dois poderes, se comparados com a dotação de quase 99% destinada ao Poder Executivo com toda a sua estrutura... Mas, o Poder Executivo tem poder de retaliação e controle que o Poder Legislativo não tem sobre a mídia e outros segmentos da sociedade, nos âmbitos público e privado...
A produção de leis, o processo legislativo, é um processo caro no mundo inteiro, porque indispensável para a governabilidade, e o aperfeiçoamento da representação política depende da cultura política registrada ao longo da sua história, determinante da vontade  e do nível de  educação política.
O  Poder Legislativo brasileiro, extensão do povo, não tem ainda seu discurso de defesa, de justificação...Não tem  e dificilmente terá, porque foi concebido originariamente assim, e não há interesse interno e externo pela correção da sombra dessa vara torta....
Para acessar o trabalho assinado por Fernando, copie e pesquise em:

 

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