Gélio Fregapani (Membro da Academia Brasileira de Defesa)
Ainda as
manifestações
O país
ainda sofre o impacto das manifestações, procurando entender suas causas
e consequências. Ainda que a manifestação do dia 11 tenha sido basicamente
sindical, visando mostrar força e manter seus privilégios, as primeiras
manifestações haviam reunido milhões de pessoas com motivações bastante
distintas, mas foi percebido um inconformismo crescente com o não
atendimento às aspirações e demandas da sociedade, deixando-as subordinadas aos
interesses dos setores políticos que comandam a Nação.
Apenas
difusamente, houve alguma constatação da hegemonia dos interesses pró-rentistas
(na maior parte estrangeiros) na formulação das políticas públicas, refletida
na destinação de quase metade do orçamento do Governo Federal para o serviço da
dívida pública.
Nenhuma
liderança soube captar e expressar o mal-estar contemporâneo. A internet
viabilizou a mobilização sem qualquer liderança visível. Culparam-se
os desacertos da política econômica nos últimos governos, mas os efeitos
negativos só de leve foram sentidos e houve avanços nas condições de vida. Ao
contrário do que ocorreu em outras partes do mundo, a distribuição de renda
melhorou e o desemprego está em seu mínimo histórico.
É
verdade que a inflação está em alta, mas é difícil atribuir a ela o papel de
catalisadora do movimento das ruas. Os elementos tradicionais da insatisfação
popular – dificuldades econômicas e falta de representação democrática não
estão presentes no Brasil de hoje. É evidente que a internet e as redes
sociais fizeram que o mal-estar transbordasse para a realidade das ruas mas
os internautas de hoje ainda não representam o povão, ainda que funcionem
como catalisadores de frustrações comuns
As
causas do mal-estar (difuso) parecem ter alguns eixos principais. O primeiro
é o descrédito com os políticos, caros e corruptos, principalmente com o
Legislativo. . O segundo é a falta de Segurança Púbic a onde o
órgão mais ineficiente é o Judiciário em todas suas esferas. O terceiro é a
falta de um “Santo Graal”, ou seja, de um ideal pelo qual lutar,
psicologicamente necessário para uma juventude saudável e agora bem
alimentada...”.
As
tendências apontam para uma mudança de rumo. O desencanto com a democracia
representativa não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. As razões dessa
insatisfação estão claras, mas é possível que o modelo de representação
democrática, o único possível em grandes populações, tenha deixado de ser
indispensável num mundo interligado.
O
debate público deslocou-se das esferas tradicionais da política para a
internet e as redes sociais. Ameaçados pelo crescimento da internet, os
“representantes do povo” que representavam apenas a si mesmo, estão perdendo
o bonde da História. Cada vez mais os desejos homogêneos das massas exigirão
seu atendimento assim será quanto ao corte do número dos parlamentares, da
redução dos salários absurdos, da punição dos corruptos, a começar pelos do
mensalão, da redução da maioridade penal, da limpeza na Justiça, no
levantamento das restrições ao porte de arma e outras aspirações mais.
Os
parlamentos, no mundo e no Brasil, estão sob convulsão, pois foram
atropelados pela democracia direta, forjada nas ruas, cujo desfecho, no
ambiente da crise mundial, ainda, é a grande incógnita.
Este é
o caminho para a Democracia Direta, pois para os assuntos realmente
importantes serão adequados os plebiscitos e para os problemas menores, uma
pesquisa pela internet ou mesmo pelo Ibope será suficiente e de menor custo. Está
acabando a era dos políticos que decidiam secretamente por não seguirem a
vontade popular.
O
aumento dos juros
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, subiu a taxa
básica de juros (a Selic) em 0,5 ponto percentual, indo para 8,5% ao ano
(estava em 8%). É a terceira reunião seguida do Copom em que os juros
aumentam. A decisão foi unânime.
Algumas
medidas governamentais indicam que a Presidente Dilma esteja se rendendo às
pressões do interesse financeiro, notadamente estrangeiro: As
privatizações/desnacionalizações (notadamente os leilões do pré- sal), e
principalmente o aumento dos juros. No início do
mandato a Presidente havia forçado a queda de juros. É claro que trouxe
progresso, mas virou contra ela todo o aparato financeiro nacional e
internacional. Agora, cercada, está se rendendo. Falta-lhe força ou coragem
para enfrentar o verdadeiro inimigo.
Muito
além da despesa de custeio da nossa máquina pública, excessivamente inchada,
muito mais do que a soma de todas as corrupções, que aliás são imensas, os
gastos com os juros e amortizações da dívida formam a maior sangria aos
cofres públicos, engolindo 44% do orçamento. Recebendo atenção prioritária do
governo, nada sobra para os investimentos em infraestrutura e nos serviços
públicos que podem trazer progresso.
O
pretexto para a elevação dos juros, como sempre, foi a ameaça de inflação
Pretexto falacioso pois aumentar os juros
pode controlar apenas um tipo de inflação: a de excesso de procura e oferta
insuficiente mas isto não estava havendo, não havia excesso de dinheiro e as
prateleiras dos supermercados e das lojas estavam cheias.
Com os juros mais altos a produção fica imediatamente mais cara por
conta dos financiamentos mais dispendiosos e em seguida a produção diminui,
pois será mais lucrativo colocar o dinheiro a juros do que produzir. Isto
causa ainda mais inflação.
Tem mais: uma
elevação forte nos juros arruína o Tesouro Nacional, elevando a conta do
serviço da dívida no âmbito do orçamento sobrará menos recursos para atender
as demandas sociais e consequentemente, detona movimentos sociais, que
reivindicam mais saúde, educação, segurança, transporte e infraestrutura.
A
própria dívida passa a ser “rolada” e se torna impagável, ou só pagável com perda
de soberania. Quem vai pagar os juros que o Banco Central puxou para cima
serão inicialmente, os trabalhadores, depois a classe média e por fim os
empresários.
Os
banqueiros não, a menos que não haja outro local no mundo para onde possam
levar seu dinheiro parasitário. Em outras
palavras, o pagamento de juros causa uma sangria muito maior do que o
custeio da máquina governamental, somado a todas as roubalheiras existentes
no País.
Tivesse
a Dilma prosseguido como começou, poderia ter contra si todo o sistema
financeiro internacional, mas a economia iria de vento em popa. Tivesse ela
prosseguido na faxina que esboçou, poderia até sofrer um impeachment por
parte do Congresso, mas as “manifestações” demonstraram que a população não o
permitiria, e ela teria a adesão das Forças Armadas apesar das provocações da
Comissão da Verdade, ou melhor, da Vingança, mas o apoio se desfaz com a
economia declinante. Já há quem esteja pedindo a cabeça dela.
Prosseguindo
no aumento dos juros, mesmo com o aplauso do setor financeiro, o poder de seu governo acabará. Se não for substituída é
porque os candidatos à substituí-la são ainda piores.
Arapongagem norte-americana
Desde muito tempo conhecimento é poder. Evidente
porque o conhecimento oportuno e adequado permite a prevenção de ameaças e o
aproveitamento de oportunidades. Indica qual o adequado emprego do poder,
seja por Estados, organizações ou indivíduos. A espionagem é uma atividade milenar. Existe
desde priscas eras, continuando ao sabor dos ventos dos tempos históricos.
Ninguém está a salvo da espionagem - ou, pelo menos, quase ninguém. Apenas
quem consiga se resguardar.
Os EUA, como todas as potências, buscam o
conhecimento que permita o adequado emprego de seu poder para alcançar ou
manter seus objetivos nacionais e conseguir vantagens econômicas, políticas,
militares, tecnológicas e sociais. Talvez o Brasil seja a única nação no
mundo que acredita que alguma outra vai lhe transferir conhecimentos
sensíveis que possam acrescentar poder, e que não tentará monitora-lo, mesmo
quando seus interesses colidirem Um bom serviço de Inteligência não substitui
as Forças Armadas, mas é quase tão importante com estas, até para a segurança
da Pátria .
Oportuno lembrar que o primeiro
"briefing" diário do presidente Obama é com o assessor de Segurança
Nacional e com o Diretor Geral da CIA, que lhe transmite a Estimativa Diária
de Inteligência. Entre nós, a Presidente não recebe o Diretor- Geral da ABIN,
e nem adiantaria mesmo receber, porque ele sabe muito pouca coisa. Tem como
interlocutor o GSI, que faz questão de não se meter com a “arapongagem”,
talvez para não se queimar.
Mesmo que se informasse eficientemente, ele não
tem acesso, ou não força o acesso. Até no gabinete de crises instalado
durante o pico das manifestações, assinala-se sua ausência. Não é de hoje,
desde o Collor que o serviço é subutilizado, mas desde o Lula está pior. O PT
sempre julgou Inteligência "coisa de direita", (embora use para
ações partidárias). O partido proibiu a Abin de monitorar os movimentos
sociais. Não há como reclamar quando estes surgiram das trevas virtuais e
surpreenderam o Governo.
Quanto aos EUA, é claro que desenvolveram operações
de Inteligência no Brasil, assim como o fizeram ou tentaram em todo o mundo. O
que podemos (e devemos) fazer? Mostrar-se indignado é a atitude mais
ridícula. Pode-se protestar (pró-forma) e até retaliar, afinal, foram
desmascarados, mas nesse jogo geopolítico não há leis nem ética, e a única
regra é não ser apanhado.
Devemos sim é criar um Serviço eficiente, como já
foi o SNI, lamentavelmente só no âmbito de Guerra Fria. Não é possível ter um
Serviço Secreto eficiente se ele não tem nem permissão de grampear, onde os
Oficiais de Inteligência são selecionados em concurso público intelectual e
onde o chefe pode ser escolhido pelo critério da acomodação.
Assim nunca conseguiremos nem conhecimentos úteis
nem impedir novas ações de Inteligência, não só dos EUA, m as de qualquer
outro país que deseje algo do Brasil., a ABIN não devia existir apenas para servir de cabide de emprego e
gerar gastos de milhões de reais anualmente, mas para descobrir o que os
outros não querem que saibamos.
Antes de tudo precisa receber missões, ou seja, que o Governo lhe diga
o que quer saber, ou ao menos lhe dê liberdade para investigar o que achar
conveniente. A guerra de “Inteligência” também é chamada de
“O Grande Jogo”. Primeiro é preciso querer jogar. Depois, saber jogar.
No nosso caso, aprender a jogar. Poderíamos
começar ameaçando contratar o Snowden. Isto nos daria um imenso poder de
barganha (e outros problemas também), mas, afinal, Snowden ajudou ou prejudicou o
Brasil? Se prejudicou, colocando a boca no trombone, que Dilma e Patriota
expliquem. Se ajudou, merece ser ajudado, e não vítima de ingratidão.
Alguém pode esperar que firmas estrangeiras não
cooperem com seus governos? E quando essas firmas dominam a telefonia e a
internet? É acreditar no coelhinho da Páscoa. Querendo se aprofundar no
assunto, recomendo a leitura de livros especializados.
Aviões venezuelanos despejam centenas de
guerrilheiros no Brasil?
Foi
noticiado, mas não deu para acreditar Seria uma operação excessivamente
ostensiva, burra demais. O mais provável é que se trate de um abastecimento
com destino ao Uruguai. Entretanto, nada se sabe ao certo. È bom que o CIE o
CIAer investiguem, se a ABIN não o fizer.
Que Deus guarde a todos nós!
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário