terça-feira, 16 de julho de 2013

Ainda as manifestações.A greve do dia 11, O aumento dos juros e a Arapongagem norte-americana

Gélio Fregapani (Membro da Academia Brasileira de Defesa)

Ainda as manifestações

 
O país ainda sofre o impacto das  manifestações, procurando entender suas causas e consequências. Ainda que a manifestação do dia 11 tenha sido basicamente sindical, visando mostrar força e manter seus privilégios, as primeiras manifestações haviam reunido milhões de pessoas com motivações bastante distintas, mas foi percebido  um inconformismo crescente com o não atendimento às aspirações e demandas da sociedade, deixando-as subordinadas aos interesses dos setores políticos  que comandam a Nação.
 
Apenas difusamente, houve alguma constatação da hegemonia dos interesses pró-rentistas (na maior parte estrangeiros) na formulação das políticas públicas, refletida na destinação de quase metade do orçamento do Governo Federal para o serviço da dívida pública.
 
Nenhuma liderança soube captar e expressar o mal-estar contemporâneo. A internet viabilizou a mobilização sem qualquer liderança visível. Culparam-se os desacertos da política econômica nos últimos governos, mas os efeitos negativos só de leve foram sentidos e houve avanços nas condições de vida. Ao contrário do que ocorreu em outras partes do mundo, a distribuição de renda melhorou e o desemprego está em seu mínimo histórico.
    
 
É verdade que a inflação está em alta, mas é difícil atribuir a ela o papel de catalisadora do movimento das ruas. Os elementos tradicionais da insatisfação popular – dificuldades econômicas e falta de representação democrática não estão presentes no Brasil de hoje. É evidente que a internet e as redes sociais fizeram que o mal-estar transbordasse para a realidade das ruas mas os internautas de hoje ainda não representam o povão, ainda que funcionem como catalisadores de frustrações comuns
 
As causas do mal-estar (difuso) parecem ter alguns eixos principais. O primeiro é o descrédito com os políticos, caros e corruptos, principalmente com o Legislativo.  . O segundo é  a falta de Segurança Púbic a onde o órgão mais ineficiente é o Judiciário em todas suas esferas. O terceiro é a falta de um “Santo Graal”, ou seja, de um ideal pelo qual lutar, psicologicamente necessário para uma juventude saudável e agora bem alimentada...”.
 
As tendências apontam para uma mudança de rumo. O desencanto com a democracia representativa não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. As razões dessa insatisfação estão claras, mas é possível que o modelo de representação democrática, o único possível em grandes populações, tenha deixado de ser indispensável num mundo interligado.
 
O debate público deslocou-se das esferas tradicionais da política para a internet e as redes sociais. Ameaçados pelo crescimento da internet, os “representantes do povo” que representavam apenas a si mesmo, estão perdendo o bonde da História. Cada vez mais os desejos homogêneos das massas exigirão seu atendimento assim será quanto ao corte do número dos parlamentares, da redução dos salários absurdos, da punição dos corruptos, a começar pelos do mensalão, da redução da maioridade penal, da limpeza na Justiça, no levantamento das restrições ao porte de arma e outras aspirações mais.
 
 
Os parlamentos, no mundo e no Brasil, estão sob convulsão, pois foram atropelados pela democracia direta, forjada nas ruas, cujo desfecho, no ambiente da crise mundial, ainda, é a grande incógnita.
 
Este é o caminho para a Democracia Direta, pois para os assuntos realmente importantes serão adequados os plebiscitos e para os problemas menores, uma pesquisa pela internet ou mesmo pelo Ibope será suficiente e de menor custo. Está acabando a era dos políticos que decidiam secretamente por não seguirem a vontade popular. 

A greve do dia 11
 

Depois de o jornalismo haver exibido cenas do dia 11, poder-se-ia perguntar  às Centrais Sindicais: Por que vocês resolveram parar o país? O que realmente queriam? Valeu?

A greve teve intensidade abaixo da média em relação ao comum em um evento “nacional”. Em muitas das grandes cidades a vida transcorreu normalmente. Noutras o comércio só fechou para evitar depredações. Somente onde o transporte coletivo aderiu que as consequências foram visíveis no panorama urbano. As ruas ficaram com jeito de feriado. As centrais sindicais elencaram reivindicações para justificar a absurda paralisação, mas o real motivo não estava entre os motivos apresentados. Essa greve política, articulada pelo setor sindica lista do PT, só serviu para afastá-los ainda mais da sociedade.
 

Naturalmente o resultado foi pífio. Sabiamente, o povo não compareceu. Em muitas cidades, os "grevistas" precisaram interromper o trânsito em avenidas e rodovias como forma de dar aparente vulto ao que faziam, mas foi outro tiro no pé. A imagem que restou foi apenas a raiva dos motoristas obrigados a parar enquanto meia dúzia queimava pneus na pista. A marca do sindicalismo pelego dando prejuízo com a interrupção de atividades produtivas. O peleguismo é outro setor que está morrendo e não sabe. Repudiado quando tentou conduzir as manifestações autênticas, quis organizar uma sua. Saiu pior do que entrou.
 
 
O aumento dos juros
 
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, subiu a taxa básica de juros (a Selic) em 0,5 ponto percentual, indo para 8,5% ao ano (estava em 8%). É a terceira reunião seguida do Copom em que os juros aumentam. A decisão foi unânime.
 
Algumas medidas governamentais indicam que a Presidente Dilma esteja se rendendo às pressões do interesse financeiro, notadamente estrangeiro: As privatizações/desnacionalizações (notadamente os leilões do pré- sal), e principalmente o aumento dos juros. No início do mandato a Presidente havia forçado a queda de juros. É claro que trouxe progresso, mas virou contra ela todo o aparato financeiro nacional e internacional. Agora, cercada, está se rendendo. Falta-lhe força ou coragem para enfrentar o verdadeiro inimigo.
 
Muito além da despesa de custeio da nossa máquina pública, excessivamente inchada, muito mais do que a soma de todas as corrupções, que aliás são imensas, os gastos com os juros e amortizações da dívida formam a maior sangria aos cofres públicos, engolindo 44% do orçamento. Recebendo atenção prioritária do governo, nada sobra para os investimentos em infraestrutura e nos serviços públicos que podem trazer progresso.
 
 
O pretexto para a elevação dos juros, como sempre, foi a ameaça de inflação Pretexto falacioso pois aumentar os juros  pode controlar apenas um tipo de inflação: a de excesso de procura e oferta insuficiente mas isto não estava havendo, não havia excesso de dinheiro e as prateleiras dos supermercados e das lojas estavam cheias.
 
Com os juros mais altos a produção fica imediatamente mais cara por conta dos financiamentos mais dispendiosos e em seguida a produção diminui, pois será mais lucrativo colocar o dinheiro a juros do que produzir. Isto causa ainda mais inflação.
 
 
Tem mais: uma elevação forte nos juros arruína o Tesouro Nacional, elevando a conta do serviço da dívida no âmbito do orçamento sobrará menos recursos para atender as demandas sociais e consequentemente, detona movimentos sociais, que reivindicam mais saúde, educação, segurança, transporte e infraestrutura.
 
A própria dívida passa a ser “rolada” e se torna impagável, ou só pagável com perda de soberania. Quem vai pagar os juros que o Banco Central puxou para cima serão inicialmente, os trabalhadores, depois a classe média e por fim os empresários.
 
 
Os banqueiros não, a menos que não haja outro local no mundo para onde possam levar seu dinheiro parasitário. Em outras palavras, o pagamento de juros causa uma sangria muito maior do que o custeio da máquina governamental, somado a todas as roubalheiras existentes no País.
 
Tivesse a Dilma prosseguido como começou, poderia ter contra si todo o sistema financeiro internacional, mas a economia iria de vento em popa. Tivesse ela prosseguido na faxina que esboçou, poderia até sofrer um impeachment por parte do Congresso, mas as “manifestações” demonstraram que a população não o permitiria, e ela teria a adesão das Forças Armadas apesar das provocações da Comissão da Verdade, ou melhor, da Vingança, mas o apoio se desfaz com a economia declinante. Já há quem esteja pedindo a cabeça dela.
 
 
Prosseguindo no aumento dos juros, mesmo com o aplauso do setor financeiro, o poder de seu governo acabará. Se não for substituída é porque os candidatos à  substituí-la são ainda piores.
 
Arapongagem norte-americana
 
Desde muito tempo conhecimento é poder. Evidente porque o conhecimento oportuno e adequado permite a prevenção de ameaças e o aproveitamento de oportunidades. Indica qual o adequado emprego do poder, seja por Estados, organizações ou indivíduos. A espionagem é uma atividade milenar. Existe desde priscas eras, continuando ao sabor dos ventos dos tempos históricos. Ninguém está a salvo da espionagem - ou, pelo menos, quase ninguém. Apenas quem consiga se resguardar.
 
Os EUA, como todas as potências, buscam o conhecimento que permita o adequado emprego de seu poder para alcançar ou manter seus objetivos nacionais e conseguir vantagens econômicas, políticas, militares, tecnológicas e sociais. Talvez o Brasil seja a única nação no mundo que acredita que alguma outra vai lhe transferir conhecimentos sensíveis que possam acrescentar poder, e que não tentará monitora-lo, mesmo quando seus interesses colidirem Um bom serviço de Inteligência não substitui as Forças Armadas, mas é quase tão importante com estas, até para a segurança da Pátria .
 
Oportuno lembrar que o primeiro "briefing" diário do presidente Obama é com o assessor de Segurança Nacional e com o Diretor Geral da CIA, que lhe transmite a Estimativa Diária de Inteligência. Entre nós, a Presidente não recebe o Diretor- Geral da ABIN, e nem adiantaria mesmo receber, porque ele sabe muito pouca coisa. Tem como interlocutor o GSI, que faz questão de não se meter com a “arapongagem”, talvez para não se queimar.
 
Mesmo que se informasse eficientemente, ele não tem acesso, ou não força o acesso. Até no gabinete de crises instalado durante o pico das manifestações, assinala-se sua ausência. Não é de hoje, desde o Collor que o serviço é subutilizado, mas desde o Lula está pior. O PT sempre julgou Inteligência "coisa de direita", (embora use para ações partidárias). O partido proibiu a Abin de monitorar os movimentos sociais. Não há como reclamar quando estes surgiram das trevas virtuais e surpreenderam o Governo.
 
Quanto aos EUA, é claro que desenvolveram operações de Inteligência no Brasil, assim como o fizeram ou tentaram em todo o mundo. O que podemos (e devemos)  fazer? Mostrar-se indignado é a atitude mais ridícula. Pode-se protestar (pró-forma) e até retaliar, afinal, foram desmascarados, mas nesse jogo geopolítico não há leis nem ética, e a única regra é não ser apanhado.
 
Devemos sim é criar um Serviço eficiente, como já foi o SNI, lamentavelmente só no âmbito de Guerra Fria. Não é possível ter um Serviço Secreto eficiente se ele não tem nem permissão de grampear, onde os Oficiais de Inteligência são selecionados em concurso público intelectual e onde o chefe pode ser escolhido pelo critério da acomodação.
 
 
Assim nunca conseguiremos nem conhecimentos úteis nem impedir novas ações de Inteligência, não só dos EUA, m as de qualquer outro país que deseje algo do Brasil., a ABIN não devia existir apenas para servir de cabide de emprego e gerar gastos de milhões de reais anualmente, mas para descobrir o que os outros não querem que saibamos.
 
 
Antes de tudo precisa receber missões, ou seja, que o Governo lhe diga o que quer saber, ou ao menos lhe dê liberdade para investigar o que achar conveniente. A guerra de “Inteligência” também é chamada de “O Grande Jogo”. Primeiro é preciso querer jogar. Depois, saber jogar.
 
No nosso caso, aprender a jogar. Poderíamos começar ameaçando contratar o Snowden. Isto nos daria um imenso poder de barganha (e outros problemas também), mas, afinal, Snowden ajudou ou prejudicou o Brasil? Se prejudicou, colocando a boca no trombone, que Dilma e Patriota expliquem. Se ajudou, merece ser ajudado, e não vítima de ingratidão.
 
Alguém pode esperar que firmas estrangeiras não cooperem com seus governos? E quando essas firmas dominam a telefonia e a internet? É acreditar no coelhinho da Páscoa. Querendo se aprofundar no assunto, recomendo a leitura  de livros especializados.
 
Aviões venezuelanos despejam centenas de guerrilheiros no Brasil?
 
Foi noticiado, mas não deu para acreditar Seria uma operação excessivamente ostensiva, burra demais. O mais provável é que se trate de um abastecimento com destino ao Uruguai. Entretanto, nada se sabe ao certo. È bom que o CIE o CIAer investiguem, se a ABIN não o fizer.
 
Que Deus guarde a todos nós!
 
 
 

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