quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O "Encoberto" pode surgir em 2014


No Brasil atual, o sistema eleitoral-partidário - a representação política em si - registra fenomenal ausência de Oposição que traduza legítima resistência às ações do governo e que procure disputar o poder sem compromissos endógenos, éticos ou morais, com a governabilidade  e a estabilidade político-institucional.

A máxima segundo a qual o governo sagaz é o que consegue escolher sua oposição vem sendo aplicada no Brasil desde o Governo Fernando Henrique Cardoso, depois de confirmada pelo desfecho do Governo Collor (que não soube ou conseguiu escolher sua oposição). PT e PSDB atuam consorciados com o PMDB numa coalizão de governo que garante os votos, como ocorre atualmente, de 461 dos 513 deputados federais e 59 dos 81 senadores. Isso é rolo compressor, e não base aliada...

O senador Aécio Neves tenta ensaiar, pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB-, com alguns partidos menores e aliados, um discurso e uma ação oposicionista à Presidente  Dilma Rousseff, cujo  governo , hoje, é menos do Partido dos Trabalhadores –PT – e mais do Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB-, que controla as presidências  da  Câmara dos Deputados e do Senado Federal, neutralizando qualquer esboço de rebeldia contra o governo no Congresso Nacional.

Se quase todos os parlamentares fazem o jogo do governo, pensando sempre na sua sobrevivência imediata, pois dependem das verbas orçamentárias para manterem com obras e doações seus redutos eleitorais, não menos submissas ao Palácio do Planalto são as siglas partidárias, cujos dirigentes disputam , a socos e pontapés, a oportunidade de  um protagonismo maior no processo decisório político.

Pode-se comparar a Oposição no Brasil a tênue lâmina da consciência crítica embutida no sistema político, por origem inata, neutralizada pelos atuais detentores do poder num projeto de engenharia política dos neoliberais  no qual não há espaço para uma oposição  que  ameaçe o status quo ao qual estão atrelados os interesses das elites e dos grupos internacionais que apoiaram os últimos governos , incluso o de Dilma Rousseff.

Foucault nas suas análises sobre o micropoder,  ressalta a verdade como a própria realidade a partir da qual o homem pode empreender ações transformadoras. Oposição é resistência ao  estado vigente e à ação do governo, algo que está sendo sufocado no Brasil de hoje, desde o fim do regime militar.

Aprecio muito frase que li na web, atribuída ao poeta gaúcho e jornalista Nei Duclós: “Oposição é a lucidez em luta diária contra o obscurantismo. Lucidez é enxergar e expressar com clareza os eventos e processos que infelicitam a Nação.”.

As manifestações de rua ocorridas em junho seriam o esboço dessa lucidez ou indignação do povo contra esse estado geral de desmobilização das forças vivas da nação, no bojo de um processo crítico desencadeado pelo julgamento do “Mensalão”. Mas, o movimento nasceu, espontaneamente, pela web e por ali mesmo se recolheu em estado latente ou até mesmo congelado pelo arsenal de ações que se intentam no mundo inteiro para censurar as redes sociais e a comunicação em geral.

 A Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-, a Associação Brasileira de Imprensa –ABI- , a União Nacional dos Estudantes –UNE- os sindicatos e a própria Confederação Nacional dos Bispos do Brasil –CNBB-  se mantém em silêncio diante das distorções do processo político denunciadas diariamente  pela internet e a mídia alternativa. Um verdadeiro pacto de silêncio e conluio, que contribui para eliminar qualquer oposição transformadora e não-legitimadora das ações governamentais.

Há alguns sinais de exaustão desse projeto e redefinição, a partir de 2014, do jogo político com sustentação ideológica no discurso do PT e amparo logístico no PMDB.  Nesse aspecto, a presidente Dilma Rousseff tende a enfrentar maiores dificuldades para sua reeleição, embora no horizonte ainda não tenha surgido um nome de peso para fazer oposição. Mas, pode surgir, desde que esse nome destrua a engenharia de poder montada pelos neoliberais e liberte a oposição transformadora com um discurso em defesa de um modelo de Estado forte, indutor da iniciativa privada e garantidor das franquias democráticas. O "encoberto" pode surgir dessa oposição...

 

Um comentário:

  1. Prezado Feichas Martins: a frase de minha autoria está no meu post O QUE É OPOSIÇÃO? de 2009 no seguinte link: http://outubro.blogspot.com.br/2009/07/o-que-e-oposicao.html Abs.

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