terça-feira, 24 de maio de 2016

Começa hoje o Governo Temer

Proposta de aprovação de um déficit fiscal de 170,5 bilhões de reais para 2016, flexibilização das regras de exploração do petróleo do pré-sal, captação de 100 bilhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES- e utilização do Fundo Soberano (poupança do Pré-Sal para a educação), no valor atual de dois bilhões de dólares,  além de contenção de gastos do governo em diversos setores, são algumas medidas anunciadas hoje pelo vice-presidente em exercício, Michel Temer, que irão testar a sua força no Congresso Nacional. Pode-se afirmar que hoje começa o governo Temer.
Deve ter sido difícil para um político com a cancha de Michel Temer ficar como vice-presidente de Dilma Rousseff, uma amadora e neófita em política. O tecelão de Tietê foi presidente da Câmara dos Deputados com pleno domínio da Casa, e depois foi alçado à presidência do PMDB, onde estabeleceu raízes federais, estaduais e municipais. Hoje, ao anunciar medidas econômicas, ele, mais uma vez, mostrou seu profissionalismo.
Temer disse ontem que está acostumado a tratar com bandidos, desde seu tempo de Secretário de Segurança Pública, e criticou aqueles que pensam que conseguem fazer tortura psicológica chamando-o de golpista, quando todas as instituições provam o contrário funcionando normalmente. Entende que é hora de lutar pelo Brasil.
Mas, desconfio que, ao discursar para sua equipe e líderes partidários, pedindo empenho na aprovação das medidas anunciadas para recuperar a economia, ele estava menos preocupado consigo mesmo do que com outros ministros assustados com a gritaria da oposição e o clima passional do Congresso.
Um deles, sem dúvida seu principal avalista econômico, é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, ao acompanhar Temer ao gabinete do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, não escondeu das câmeras de televisão e fotográficas certo desconforto ao ser taxado de golpista. Meirelles ainda é um adventista na política partidária, embora experiente nos labirintos do mercado financeiro internacional. Só faltou Temer dizer-lhe: “Vai se acostumando”.
Temer acenou com um modelo semiparlamentarista de governo, embora seja assumidamente um parlamentarista, e fez um gesto ousado de diálogo com o ex-presidente Lula, ultimamente com problemas de saúde e acossado pelas investigações da “Operação Lava Jato” contra sua pessoa e as de seus familiares. Temer já teve bons momentos de diálogo com Lula, como políticos de São Paulo,  é não é de faltar com seus companheiros nos momentos mais difíceis.
O parlamentarismo é um sistema terapêutico de governo, útil para amenizar grandes crises políticas, e Lula sabe que não é de boa política bater de frente com Temer para salvar Dilma, que não reúne condições para voltar ao governo. Isto é pragmatismo e gesto útil, ainda mais em ano de eleições legislativas.
Jucá vai continuar atuando no Senado Federal em favor da aprovação das medidas do governo que ele ajudou a conceber no breve período em que exerceu, com seu talento inquestionável, o ministério do Planejamento, ajudando na definição do déficit fiscal de 170 bilhões de reais. Sua conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, custou-lhe o cargo formal, mas revela uma importância angular da figura de Michel Temer, que, além de exercer agora a presidência interina por força constitucional (como afirmou), empenha-se em levantar a economia do Brasil.
Temer manterá Jucá na linha de frente do Congresso trabalhando pelo seu governo, ainda que sem cargo formal, mas delegar-lhe-á poderes especiais para negociações com a base parlamentar que o genial senador de Roraima - nascido em Pernambuco e cria político de Marco Maciel - conhece muito bem. Temer cumpre a sua parte, respeita os preceitos morais e éticos, mas tem o pragmatismo dos verdadeiros estadistas. Precisa do talento de Jucá e não esconde isto.

 

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