segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Conúbio entre a estupidez e a política

Esse é um breve ensaio sobre a estupidez política, um tema recorrente na história da civilização e nem por isso suficientemente abordado na Ciência Política, conquanto existam áreas de convergência de seu estudo em Filosofia, Psicologia ,Direito, Sociologia, Ética e Moral.

A estupidez política pode acabar com a carreira de um candidato ou de um titular de mandato legislativo, executivo, sindical, empresarial ou de qualquer outra organização Em teoria, ela se situaria no topo da pirâmide de Abraham Maslow sobre a hierarquia das necessidades, comumente empregada nos programas de Controle de Qualidade Total – CQT-, padrão mais útil para empresas e organizações. No topo dessa pirâmide se situa a realização pessoal.

Em política, prefiro como variável independente de análise a tendência natural do homem de querer, como insinuava Thomas Hobbes, ser “o lobo do homem”, um predador inato e com sede de poder e superioridade reconhecida mesmo que à revelia dos seus semelhantes. Eis o elemento-chave dessa variável independente: o Poder, aqui traduzido como a capacidade de fazer com que o individual e o coletivo ajam conforme nosso desejo.

Quase todos os dicionários definem a estupidez como dificuldade notável em compreender as coisas, falta de bom-senso ou de sensibilidade em relação a uma verdade moral e à sua ética correspondente. Estupidez não seria falta de inteligência, mas sim ausência de conhecimento, razão pela qual vários autores associam-na a todo tipo de manifestação coletiva.

Isso tem a ver com a democracia e com o brocardo latino “Voz Populi Vox Dei”, mas os liberais não concordam que a maioria tem razão. Defendem a liberdade individual, política e econômica, incondicionalmente, até a morte, e aceitam serem sepultados com ela, mas não entram no túmulo com a democracia, porque não acreditam que o povo tenha sabedoria e conhecimento para a escolha do melhor para a sociedade.

No aspecto individual, a Psicologia denomina a estupidez como espécie de “individualização na multidão”, ou seja, o indivíduo se projeta nas formas de procedimento do coletivo e se identifica com os seus comportamentos comuns. Bom lembrar que a Sociologia classifica os tipos sociais como acráticos, abúlicos e apáticos. Os acráticos são avessos ao poder: os abúlicos têm consciência, mas não têm apetite de poder, e os apáticos são indiferentes ao poder e, corriqueiramente, manobrados.

Há pouca literatura concentrada e objetiva a respeito da estupidez política, pois esse comportamento é muito confundido com os da estupidez da política e da política da estupidez, ,sendo que as três tipificam uma tendência inata do homem à autodestruição.

A estupidez política se origina da própria estupidez humana (esta considerada por Albert Einstein como mais duradoura do que o próprio Universo), e consiste, basicamente, no exercício instintivo de dois substantivos combinados: A soberba e a indecisão. Exemplos de estupidez política são o nacionalismo xenófobo ou as doutrinas totalitárias (Nazismo, Fascismo, Stalinismo, etc.

A soberba faz o homem querer ser superior aos demais e agir com empáfia e arrogância, tentando ser o que não é... E quando percebe que é superado, transforma esse sentimento em inveja. A indecisão, produto do medo, acompanha os covardes e soberbos. Político indeciso causa angústia ao povo.

A estupidez da política diz respeito à ética de resultados (oposta à ética de valores), a única prevalecente no mundo político e que se fundamenta no pragmatismo frio e racional. Se, em muitos aspectos, um planejamento recomenda medidas drásticas essenciais para o bem-comum, as quais acabam atingindo em sofrimento maior determinada camada social, em certos casos, a estupidez, alimentada por fatores exógenos à moral e à ética governativas (entre os quais a ambição, a disputa pelo poder e a corrupção), se revela como produto de uma insensibilidade notória do mundo político aos dramas humanos universais: Extermínios em massa, escravização, exploração dos fracos, saques de riquezas e outros tipos de opressão.

Bom lembrar a famosa observação de Rousseau: Os homens nasceram livres, mas por toda parte do mundo vivem acorrentados. A insensibilidade notória, nesse caso, é das elites dirigentes, sejam elas locais, regionais, nacionais, internacionais ou cosmopolitas. Casos típicos do colonialismo europeu e das operações militares dos Estados Unidos no Afeganistão, Iraque, Vietnã, tc.

A política da estupidez diz respeito a decisões tomadas por governantes ou dirigentes com base em pressupostos equivocados, as quais acabam gerando mais problemas do que soluções, mais males do que benefícios aos governados. Quase sempre decorre da insensatez de quem decide, seja por omissão, seja por inexperiência ou incompetência, seja por conveniência e demagogia.

Menciono aqui o famoso livro de Barbara Tuchman, “A Marcha da Insensatez”, um relato sobre a insensatez de muitos governantes, de Tróia ao Vietnã, que tomaram decisões contrárias àquelas que deveriam tomar com base em seus interesses e seus conhecimentos. Qualquer político bem instruído tem esse livro em sua cabeceira...

Mas, não vejo nenhuma ligação entre Razão e Emoção como causas primárias da estupidez humana, mas, sim, a natureza intrínseca do homem, como afirma Matthijs van Boxsel, em sua obra “A Enciclopédia da Estupidez” (obra que ainda não tive a oportunidade de ler): “A estupidez é o fundamento da nossa civilização”. Pode ser... Afinal, de forma indireta, é uma afirmação que reforça a de Albert Einstein.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Conservadorismo na Europa e “aideologização” no Brasil


O volver à direita dado pelo povo espanhol, com a vitória nas eleições legislativas, por ampla maioria, do conservador Mariano Rajoy, do Partido Popular, é um cala-boca nas correntes socialistas, que, representados na Espanha por José Luiz Rodríguez Zapatero, estão se mantendo na Europa incapazes de cumprir os planos de estabilização financeira.

Zapatero, secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol-PSOE-, é o décimo governante europeu a cair por conta a crise no mercado financeiro e dos baixos índices de crescimento da região, tendo o mesmo destino que os seus colegas socialistas, Ferenc Gyurcsany, da Hungria, José Sócrates, de Portugal, e George Papandreou da Grécia.

Até o Reino Unido, que não aderiu ao euro como moeda, 13 anos após eleger Tony Blair, com a fleuma típica dos ingleses, trocou o trabalhista Gordon Brown pelo conservador James Cameron, corroborando uma frase atribuída à dama-de-ferro britânica Margareth Thatcher, do Partido Conservador. “O Socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”.

O fato concreto é que, enquanto a “primavera árabe” derruba os déspostas e conservadores,  os europeus fazem o oposto: Derrubam os socialistas supostamente progressistas e elegem os conservadores, valendo serem observadas as nuances que distinguem o conservadorismo e o progressismo europeus. Os liberais situam-se numa linha intermediária, oscilando entre os dois pólos, como ocorre na Inglaterra, mas avessos à presença estatal.

Em resumo, os ventos conservadores sopram na Europa em crise e a brisa progressista sopra nos países árabes em abertura política, enquanto na América do Sul ainda permanece o progressismo-positivista, como no Brasil atual, envolvendo em confusa e contraditória  aliança, partidos de esquerda, centro-esquerda e centro-direita (o PP também vota com o governo), enquanto os liberais apenas encolhem.

Giovanni Sartori, o grande estudioso dos sistemas partidários de fora da Europa, teria dificuldades hoje em rotular as verdadeiras correntes ideológicas que se ocultam atrás dos partidos em atuação no Brasil, pois a prática política de vários deles contradiz suas linhas programáticas e ideológicas, numa espécie de “aideologização” (peço perdão por usar esse bizarro neologismo!), que tem por típico exemplo o Partido Social Democrático –PSD-, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais oligarquia e menos democracia:Nova equação do poder no Brasil


O plebiscito, importante mecanismo da democracia direta, será acionado mais uma vez no Brasil para que a população do Estado Pará, no próximo dia 12, decida se o estado deve ou não ser desdobrado em mais dois estados, os de Carajás e Tapajós.

Não tenho dúvida de que esse plebiscito desencadeará uma profunda mudança política no País, pois acredito que a divisão será aprovada, em razão do viés mudancista presente na atual conjuntura política brasileira e da aplicação, pelas elites dominantes, da equação básica da governabilidade: G(governabilidade) = L (legitimidade) + E (eficácia). Com legitimidade não se obtém necessariamente eficácia, mas com eficácia é certa a obtenção da legitimidade.

O Pará, outrora um estado próspero, hoje está relegado à 11ª posição entre os 27 estados da federação, com a nona população do País (7,1 milhões de habitantes), responsável por cerca de 40% do PIB da região norte e 1,88% do PIB nacional.

Ocorrendo a divisão, os dois estados ficarão com seis vagas no Senado (três para cada) e, pelo menos, 16 vagas para deputados federais (oito para cada). O Pará, com população remanescente de quatro milhões de habitantes, vai reduzir sua bancada atual de 17 para 14 ou 12. Carajás, com 1,4 milhões de habitantes e 39 municípios, e Tapajós, com 1,7 milhões e 27 municípios, açambarcarão 83% do atual território paraense.

O limite constitucional de 513 deputados federais será mantido, fazendo-se a redivisão das cadeiras mediante cálculo efetuado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Grandes e médios estados perderão cadeiras, preservando-se os números dos menores estados. Tendência de perda que se amplia, à medida que tramitam projetos para a criação dos estados de Maranhão do Sul, Araguaia, Mato Grosso do Norte, São Francisco e Gurguéia, além dos territórios do Oiapoque, Rio Negro, Juruá e Solimões.

A equação do poder nacional via representação política, com essa redivisão territorial que se desencadeia, torna-se muito clara: É mantido, ou pouco alterado, o número de deputados federais, mas se amplia o número de senadores, em benefício das regiões norte, nordeste e centro-oeste, e o Senado, com seu poder revisional das decisões da Câmara - característica do sistema bicameral – passa a ser a pedra-noventa das decisões políticas, além de abrigar ex-presidentes, ex-governadores, ex-ministros e uma nova geração de políticos formados pelos partidos de esquerda no poder. Como é o caso de Sarney, do Maranhão, eleito pelo Amapá.

O Sul e Sudeste democráticos - com cerca de 110 milhões de habitantes, conforme dados recentes do IBGE-, que atualmente detêm a hegemonia representativa na Câmara, perderão muito poder de decisão em benefício das sinecuras oligarcas que vão sendo criadas nas demais regiões federativas (que somam cerca de  82 milhões de habitantes). 

Maior governabilidade com mais oligarquia e menos democracia- eis a resultante dessa reengenharia representativa, através da qual os próximos presidentes governarão o Brasil.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cacofonia legislativa para coibir compra de voto

Cacofonia legislativa é o que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos deputados cometeu ao aprovar projeto-de-lei que estabelece pena de três a seis anos de reclusão (atualmente é de quatro anos) e multas no valor de 100 a 300 dias/multa (o valor das atuais é de 5 a 15 dias/multa) para quem for flagrado comprando voto nas eleições.

A “captação de sufrágio”, assim chamada a compra de voto na Lei 9504/97, nasceu com a política e vai morrer com a política, inspirando toda uma jurisprudência punitiva a respeito e uma vasta literatura sobre o tema “Clientelismo” em Ciência Política.

Não é o aumento do calibre da bala que vai garantir a precisão do tiro nesse caso, que envolve o alvo, o atirador e o juiz da competição... Ou seja, o endurecimento da lei não garantirá a solução de uma questão de princípio ético e moral do sistema representativo no Brasil e alhures.
A lisura do pleito eleitoral tem que ser garantida pelos órgãos de fiscalização com base na legislação em vigor - a referida lei e o próprio Código Eleitoral-, mas ,onde estão as estatísticas de candidatos ou patrocinadores punidos para demonstrar a eficácia dessas normas?

Essa espécie de tolerância zero para tal tipo de ilicitude eleitoral teria algum sentido se fosse suprimida hoje a prática do clientelismo, mas essa prática, que vinha junto com outra similar, como o “voto-de-cabresto” (ambas influenciadas pelo poder político e econômico na cidade e no campo), se encontra arraigada no Brasil como fenômeno cultural. Na República Velha, era uma das pilastras de sustentação das eleições “de bico-de-pena”. Os votos censitários e por procuração, adotados nos períodos colonial e imperial, não constituíam, porventura, modelos de fraudes eleitorais baseadas na “captação de sufrágio”?

Quando está em jogo a conquista do poder político, quase toda fraude e corrupção eleitoral  repousa em geral no poder econômico, seja pela via estatal, onde se concentram os detentores do poder formal, inclusive os partidos políticos, seja pela via societária, onde se encontram os órgãos corporativistas e as empresas privadas, além de outros atores nacionais e internacionais.

Quem é comprado? Na maioria dos casos, o eleitor despolitizado. Quem compra? Uma gama variável de patrocinadores e candidatos ocultos nas fímbrias da impunidade e os próprios detentores do poder governamental, por meio de estratagemas que envolvem a própria política assistencialista. Alguém vai prender e multar o governo?

Em nome da ética e da moral do sistema representativo, só resta fazer uma fiscalização rigorosa com base na legislação (o que não tem surtido efeito), ou estabelecer mais transparência e limites plausíveis no financiamento das campanhas, com base na cultura política nacional ou de cada região. Não tem como remover a cultura por legislação. Antes, essa tem que se ajustar à cultura.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Teatrocracia dos beijos "gays"

Esta é uma crônica política.
A teatrocracia, ao longo do tempo, permanece regendo as aparências que permitem o governo das sociedades, e mais agora com aquilo que Georges Balandier denominou “sociedade da telerealidade”, em seu fabuloso estudo “O Poder em Cena”, onde salienta que “o grande ator político comanda o real através do imaginário”. Força, violência e razão não são elementos suficientes para o exercício do poder político. É essencial produzir imagens, organizar símbolos e gerar rituais e codificações.

Essa campanha da grife italiana Benetton, intitulada “Unhate” (“contra o ódio”), com fotomontagens de beijos “gays” entre importantes líderes mundiais, é algo novo no marketing político, mas velho em matéria de simbologia. Remendo novo sobre pano velho nunca dá certo...

Mostrar se beijando na boca o Papa Bento XVI e o imã do Cairo, Ahmed el  Tayeb; o presidente Barack Obama e o líder chinês Hu Jintao;  Barack Obama e o presidente da Venezuela,Hugo Chávez; a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da França,Nicolas Sarkozy; e os líderes da Coréia do Norte,Kim Jong-il, e da Coréia do Sul,Lee Myung-bak,se respalda numa tradição da Idade Média, muito praticada entre os Cavaleiros da Ordem dos Templários, dos quais se originam hoje organizações secretas como a Maçonaria e a Ordem Rosa Cruz.

Mas, não parece coisa de ocultismo essa campanha, nem tampouco jogada publicitária da Benetton, que, se não o fizesse por encomenda, razões teria de sobra para temer a ira da Igreja e dos demais povos ali representados, de religiões cristã, budista e muçulmana.

O beijo na boca, da forma como foram feitas as fotomontagens, é sinal de compromisso, de pacto de comprometimento mútuo entre esses líderes das monarquias (aqui representadas pelo Papa) e das repúblicas.
Observam-se as ausências da Rainha Elizabeth, da Inglaterra, e do Rei Juan Carlos, da Espanha, e, por razões óbvias, pela sua imagem negativa, do controvertido Presidente Berlusconi, da Itália. Mas, para que Berlusconi, se Roma é a sede do Vaticano? E a presença do histriônico presidente da Venezuela, Hugo Chávez, representando a América Latina? E a ausência dos russos, que praticam o beijo no rosto entre as autoridades?

Estou tentando conjecturar sobre o objetivo dessas fotomontagens com base na teatrocracia, na realidade atual da Europa, em crise de crescimento, na situação de endividamento dos Estados Unidos, no papel fundamental da China para o comércio mundial, e dos produtores de petróleo e matérias-primas, em destaque os BRICS (ali representados pela China).Em termos de centros de poder político, estão presentes quase todos os membros do G-8, exceto o Canadá, Japão e a Rússia (estes dois últimos arquiinimigos históricos em fase atual de mútua tolerância).

Única mulher presente, a chanceler Angela Merkel representa uma Alemanha pressionada a solucionar a turbulência na zona do euro, diante de um Papa de nacionalidade alemã e domicílio na Itália, país à beira de uma moratória que poderia arrastar a França de Sarkozy, o companheiro de beijo de Merkel na fotomontagem. E Barack Obama beijando dois, os líderes da China, cujo crescimento lhe incomoda tanto, e da Venezuela, tão antiamericana?

Além de um  aparente apelo à não violência, desconfio que essas fotomontagens da Benetton possam vir a ser a senha,a política internacional, para alguma decisão bombástica até o final deste ano, com amplos reflexos políticos e econômicos no mundo todo.

Matéria-prima afeta União Européia,diz Guilherme Lopes


Recebi do coronel-da-reserva Guilherme Leite Lopes,da Aeronáutica, meu colega na Escola Superior de Guerra, arguto observador do cenário econômico internacional, como estudioso de Política e Estratégia, o seguinte texto a respeito da crise na zona do euro,aqui abordada:

“Tenho uma posição diferente do Eric Heyer sobre a crise européia. Para mim, os fundamentos são econômicos. Veja só meu ponto - de -vista:
               
O Brasil, desde seu descobrimento, sempre se mordeu por produzir commodities vendidas muito baratas e comprando produtos manufaturados  caríssimos. Hoje, o cenário mudou: Devido ao avanço tecnológico e à concorrência mundial, o produto industrializado passou a ser vendido a preço-de-banana, e as commodities, principalmente as de alimentos, devido ao aumento da demanda, às  intempéries do aquecimento do planeta e à redução da água potável e dos espaços disponíveis para a agropecuária, passaram a valer ouro. A era do alimento barato acabou. Alimento agora é coisa rara e cara.

Nessa onda, o Brasil se deu bem: Tem clima, terra, água, tecnologia e, principalmente, vocação agropecuária. A Europa, coitada, foi a maior vítima, e com o agravante de ter seus espaços econômicos da indústria abocanhados pela China, Índia e até o Brasil.

Em 1995, quando foi criada a União Européia, o Velho Continente começou a se enfeitar. Vendia toneladas de títulos e se endividava, achando que ser primeiro mundo era ser superior ao mercado. A Grécia, para fazer as Olimpíadas, se comprometeu financeiramente e agora está pagando pela falta de visão estratégica de sua economia, cenário este agravado pela incompetência administrativa do seu socialismo.

Esta crise financeira européia pode ser contornada politicamente, mas somente a de  curto prazo, enquanto o BCE (Banco Central Europeu)  tem euro suficiente. Mas, os títulos de médio e longo prazos estão comprometidos porque a UE está parando de produzir e não vende mais nada, nem caça para a Força Aérea Brasileira, e o mercado está exigindo juros altíssimos e crescentes para novos lançamentos. A China está abastecendo o mundo. Necessariamente, haverá uma nova geoeconomia.

Sabe Companheiro, estou pensando em contratar uma francesinha de olhos azuis, para ser babyisiter de minha filha, e um motorista americano para mim; mas, minha secretária será italiana.Adoro as italianas.”

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O “day after” da zona do euro seria pesadelo global


“A mais alta das torres começa no solo”, segundo ditado chinês, que utilizo aqui por analogia com a situação atual da União Européia, composta por 27 países e às voltas com uma crise econômico-financeira sem precedentes.

Essa crise, que pode ter seu ápice já no primeiro semestre do próximo ano,  é política, segundo o economista Eric Heyer,do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, e pode arrastar até a Alemanha, caso a Itália também não consiga pagar sua dívida,o que contaminaria de imediato a França e os impolutos alemães.

A torre é a Alemanha, que dita as regras com a sua economia ainda forte, e o solo é a Grécia, que, na falta de vento, vem remando nos últimos cinco anos para fugir da moratória. Se a Alemanha  não concordar que o Banco Central Europeu intervenha, será o fim da zona do euro.

Mas, essa decisão é política, conforme Heyer, porque os alemães têm fobia pela inflação e temem que uma ajuda do Banco Central afrouxe as medidas de austeridade que devem ser tomadas pela Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, etc. As medidas de austeridade, por outro lado, podem piorar os combalidos índices de crescimento de toda a zona do euro.

Discordo quando alguém afirma que a Grécia, com cerca de 11 milhões de habitantes e PIB (323,7 bilhões de dólares) que corresponde à metade do PIB do estado de São Paulo, não tem peso para provocar uma crise global, embora esteja provocando. A Grécia é o solo da civilização ocidental e a Alemanha a torre, com 82 milhões de habitantes e PIB de 3,3 trilhões de dólares.

O legado da Grécia ao mundo ocidental não tem preço: Se aquele país falir, a civilização ocidental vai junto, porque quase todos os princípios sociais, econômicos, políticos, militares e religiosos que temos no mundo ocidental vieram da Grécia Antiga.

Roma teve influência dos gregos, que ocupavam a antiga região da Itália denominada Magna Grécia, e coube a Cícero, o grande tribuno e filósofo, inspirado nos gregos, repassar ao mundo a filosofia política dos gregos, os princípios republicanos, seus modelos institucionais, seus preceitos religiosos, etc. O Império Romano persiste de outras formas no mundo atual, jamais igualado como modelo de conquista e manutenção do poder político. E Roma é a capital da Itália e sede do Vaticano. Eis porque ninguém quer ver a Itália soçobrar nesse vendaval.

É curioso como países pequenos em território são considerados por alguns críticos como países insignificantes em termos globais. É também o caso da Suíça, que, além de ser o berço do filósofo Rousseau, pai da democracia direta e inspirador do socialismo marxista, criou ordenações originais de exércitos, armas de guerra sofisticadas,o canivete suíço, o plebiscito, o governo de diretório e religioso, o “ferrolho” no futebol, o queijo especial, a neutralidade política, o relógio de alta precisão, a guarda do Vaticano, o sistema bancário seguro e, ”last but not the least”, gerou Calvino, talvez o maior pensador religioso moderno.

Grécia e Roma , pelo seu passado e pelo que a cultura greco-romana proporcionou ao mundo, e Suíça, pelo gênio e a disciplina do seu povo, três países com virtudes exaltadas por Maquiavel em seu livro “A Arte da Guerra”, são sociedades que merecem o maior respeito das maiores potências.

A Grécia vale muito mais do que o pacote aprovado para sua ajuda financeira pelo Fundo de Estabilização Financeira da União Européia. Não vai resolver de imediato a crise grega, e é bom que a União Européia prepare outras medidas de socorro aos gregos, de forma preventiva, porque senão terá que fazê-lo de forma compulsória, porque a Grécia é credora do mundo, assim como a Itália, que balança-mas-não-cai, e a Suíça, que vai sempre de vento-em-popa...

Se não for debelada, essa crise européia afetará o mundo inteiro em 2012, ano que promete muita agitação política, econômica e social, em função até mesmo das previsões dos escatologistas e estudiosos do Apocalipse, que são tão divulgados, a ponto de se criar um comportamento teleológico mundial para o "day after" real ou apenas cinematográfico.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Os generais presidentes...comparações"

Publico este artigo do meu amigo Carlos Chagas,com quem atuei durante alguns anos no jornalismo,quando ele era o chefe da sucursal de "O Estado de S.Paulo" em Brasília.Chagas,jornalista,professor e historiador, é pai da atual chefe da equipe de comunicação da Presidente Dilma, jornalista Helena Chagas.
                       
"Erros foram praticados durante o regime militar, eram tempos difíceis. Claro que no reverso da medalha foi promovida ampla modernização de nossas estruturas materiais. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para aqueles tempos bicudos."

Mas uma evidência salta aos olhos.Quando
 Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.

Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace  no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana.

Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de gado em Bagé, mas quando adoeceu, precisou ser tratado no Hospital da Aeronáutica, no Galeão.  

Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha  vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.

João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio  do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade.  Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em estado lamentável de conservação.

Não é nada, não é nada, mas os cinco generais-presidentes até podem ter cometido erros, mas não se meteram em negócios, não enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos. Sequer criaram institutos destinados a preservar seus documentos ou agenciar contratos para  consultorias e palestras regiamente remuneradas.

Bem diferente dos tempos atuais, não é? "Por exemplo, o Lulinha filho do Lula era até pouco tempo atrás funcionário do Butantã/SP, com um salário (já na peixada politica) de R$ 1200,00 e hoje é proprietário de uma fazenda em Araraquara, adquirida por 47 milhões de reais, e detalhe, comprada a vista.

Centenas de outros politicos, também trilharam e trilham o mesmo caminho.Se fosse aberto um processo generalizado de avaliação dos bens de todos políticos, garanto que 95% não passariam, ié, seria comprovado destes o enriquecimento ilícito. Como diria Boris Casoy: "Isto é uma vergonha" e pior, ninguém faz nada.


E viva a comissão da verdade!




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Percepção crítica desafia políticos municipais

Enquete realizada neste blog, sobre os problemas prioritários dos municípios que merecem atenção de um prefeito, revela preferência absoluta dos leitores pela saúde e educação, itens que, freqüentemente, vêm prevalecendo em qualquer consulta de opinião pública que se realiza no Brasil, seja dentro ou fora de períodos eleitorais.

Saúde e educação, ou educação e saúde, por mais que se situem no topo das pesquisas como necessidades prementes, seguidas de segurança, não têm pautado a agenda das políticas públicas dos últimos governos, pois são itens que exigem vultosos investimentos e que se consolidam em longo prazo.

Em outras palavras, não dão o retorno eleitoral na proporção de outros itens assistencialistas e clientelísticos e de obras gigantes e rodovias impostas pelas empreiteiras, que dominam a agenda política há mais de 60 anos. As obras da Copa do Mundo vão bem: O custo previsto  de 42 bilhões de reais já está atingindo 72 bilhões de reais, segundo estimativa feita pelo ex- jogador e deputado federal Romário, do Rio de Janeiro, em recente entrevista.

Como os governos capengam no atendimento à saúde e educação, se consolida na classe média o pensamento recorrente segundo o qual não interessa às elites brasileiras que o povo tenha uma cidadania concreta, uma educação política que o torne mais participativo e consciente das decisões políticas.

No tocante à saúde, esta é esmagada pelo mito da abundância de alimentos no Brasil e pela fantasia do fácil acesso do brasileiro aos recursos da farmacopéia natural. Pela internete, milhares de “médicos” internautas aviam receitas de alimentos e ervas medicinais, numa verdadeira “clínica geral”. Mas, atendimento hospitalar ,quando necessário,é precário, e os remédios custam muito acima da capacidade aquisitiva do assalariado.

Um item que sempre vem entre os primeiros, em qualquer enquete, é a segurança pública, onde tem havido investimentos, mas nem sempre capazes de conter a onda cultural da globalização, que associa o tripé sexo/droga/crime aos três mitos hodiernos- o hedonismo, o egoísmo e o narcisismo. O que torna impossível a supressão da violência potencialmente disruptiva no campo e na cidade.

Um item instigante que coloquei na enquete e que não obteve nenhum voto é o lazer, tão necessário e, ao mesmo tempo, tão menosprezado pelas políticas públicas brasileiras, que ignoram solenemente os estatutos do idoso e da criança. Esses dois segmentos etários continuam à margem do lazer, hoje acessível apenas aos jovens e às pessoas dotadas de energia e disposição física para viagens, jogos e aventuras. Falta ao Brasil uma política oficial de lazer, e não há no horizonte político nenhuma iniciativa de envergadura nessa área.

Os candidatos a prefeito e vereador, nas eleições do próximo ano, se defrontarão com a crise da representação política atual, quando os detentores de mandato eletivo estão sendo atropelados pelo fatos sociais e por novos atores em cena, à margem do espectro partidário.Atores sem partido, que pressionam os políticos, em todos os níveis de representação, e enfraquecem o poder de controle dos partidos políticos sobre seus afiliados.

Eis porque a identificação concreta das reivindicações da população se transforma a cada dia num fator estratégico para qualquer candidato a cargo eletivo.Percepção crítica é o desafio maior para os políticos municipais,com fortes reflexos nas esferas estaduais e federais.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Câncer de Lula é nômeno da política

O câncer na laringe do Presidente Lula, diagnosticado como de agressividade média, já está recebendo tratamento por quimioterapia, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas a previsão dos médicos é de que o ex-presidente ficará por conta do tratamento até fevereiro do próximo ano, se tudo correr como esperam, ou seja, sem algum tipo de agravamento da doença.

Tanto o internamento de Lula quanto a doença em si - temível por sua natureza invasiva, não obstante a evolução da medicina no seu combate – alteram os cenários políticos para o governo Dilma Roussef, as eleições municipais do próximo ano, a sucessão presidencial e a expectativa do PT se manter hegemônico no poder.

Dilma Roussef teria, em companhia do ministro Guido Mantega, visitado Lula no hospital para falar da próxima reunião do G-20. Uma versão para a imprensa que bem caracteriza a presença marcante de Lula como espécie de “sapador” de Dilma, um consultor especial que orienta sobre o caminho das decisões seguras e os desvios das minas explosivas de constituição homogênea ou mista da política.

Sem Lula percorrendo o país e utilizando seu potencial de liderança popular, o PT poderia perder o seu melhor cabo eleitoral e articulador de alianças que, na visão do partido, ajudarão na conquista de maior número de prefeituras. Atualmente, detém 559 prefeituras, com 29 milhões de pessoas e um orçamento de 32 bilhões de reais, situando-se atrás do PSDB, que detém 786 prefeituras, com 25 milhões de pessoas e um orçamento de 28 bilhões de reais, e do PMDB, com 1202 prefeituras, 41 milhões de pessoas e 47 bilhões de reais. Dados de 2008, da Confederação Nacional dos Municípios.
Rui Falcão, presidente do PT, já disse que, com cacife eleitoral maior nos municípios, o partido terá condições de reeleger Dilma para a Presidência da República. Será? E porque não preparar o terreno para o retorno do próprio Lula, azeitado em sua popularidade pelas suas andanças, ficando Dilma em stand by e na dependência dos resultados de seu governo? Afinal, o instituto da reelegibilidade não significa reeleição garantida, mas, sim, possibilidade de reeleição.

Com saúde e mobilidade, Lula continua sendo o maior galvanizador das massas populares no Brasil e um dos maiores da América Latina, mas, sem esses dois elementos, haveria um inevitável vácuo de liderança carismática no País, o que poderia comprometer até mesmo uma reeleição de uma presidente Dilma bem sucedida.

Sem Lula, sem Dilma e sem mais prefeituras, o PMDB e O PSDB voltam a dar as cartas em condições mais estratégicas do que o PT com todo seu arco de alianças... E, sendo assim, a perspectiva de hegemonia do poder petista por mais uma década ou mais se dissipará nas brumas do imponderável da política, que é considerada como fenômeno, exatamente porque o nômeno só Deus conhece.