Esse é um breve ensaio sobre a estupidez política, um tema recorrente na história da civilização e nem por isso suficientemente abordado na Ciência Política, conquanto existam áreas de convergência de seu estudo em Filosofia, Psicologia ,Direito, Sociologia, Ética e Moral.
A estupidez política pode acabar com a carreira de um candidato ou de um titular de mandato legislativo, executivo, sindical, empresarial ou de qualquer outra organização Em teoria, ela se situaria no topo da pirâmide de Abraham Maslow sobre a hierarquia das necessidades, comumente empregada nos programas de Controle de Qualidade Total – CQT-, padrão mais útil para empresas e organizações. No topo dessa pirâmide se situa a realização pessoal.
Em política, prefiro como variável independente de análise a tendência natural do homem de querer, como insinuava Thomas Hobbes, ser “o lobo do homem”, um predador inato e com sede de poder e superioridade reconhecida mesmo que à revelia dos seus semelhantes. Eis o elemento-chave dessa variável independente: o Poder, aqui traduzido como a capacidade de fazer com que o individual e o coletivo ajam conforme nosso desejo.
Quase todos os dicionários definem a estupidez como dificuldade notável em compreender as coisas, falta de bom-senso ou de sensibilidade em relação a uma verdade moral e à sua ética correspondente. Estupidez não seria falta de inteligência, mas sim ausência de conhecimento, razão pela qual vários autores associam-na a todo tipo de manifestação coletiva.
Isso tem a ver com a democracia e com o brocardo latino “Voz Populi Vox Dei”, mas os liberais não concordam que a maioria tem razão. Defendem a liberdade individual, política e econômica, incondicionalmente, até a morte, e aceitam serem sepultados com ela, mas não entram no túmulo com a democracia, porque não acreditam que o povo tenha sabedoria e conhecimento para a escolha do melhor para a sociedade.
No aspecto individual, a Psicologia denomina a estupidez como espécie de “individualização na multidão”, ou seja, o indivíduo se projeta nas formas de procedimento do coletivo e se identifica com os seus comportamentos comuns. Bom lembrar que a Sociologia classifica os tipos sociais como acráticos, abúlicos e apáticos. Os acráticos são avessos ao poder: os abúlicos têm consciência, mas não têm apetite de poder, e os apáticos são indiferentes ao poder e, corriqueiramente, manobrados.
Há pouca literatura concentrada e objetiva a respeito da estupidez política, pois esse comportamento é muito confundido com os da estupidez da política e da política da estupidez, ,sendo que as três tipificam uma tendência inata do homem à autodestruição.
A estupidez política se origina da própria estupidez humana (esta considerada por Albert Einstein como mais duradoura do que o próprio Universo), e consiste, basicamente, no exercício instintivo de dois substantivos combinados: A soberba e a indecisão. Exemplos de estupidez política são o nacionalismo xenófobo ou as doutrinas totalitárias (Nazismo, Fascismo, Stalinismo, etc.
A soberba faz o homem querer ser superior aos demais e agir com empáfia e arrogância, tentando ser o que não é... E quando percebe que é superado, transforma esse sentimento em inveja. A indecisão, produto do medo, acompanha os covardes e soberbos. Político indeciso causa angústia ao povo.
A estupidez da política diz respeito à ética de resultados (oposta à ética de valores), a única prevalecente no mundo político e que se fundamenta no pragmatismo frio e racional. Se, em muitos aspectos, um planejamento recomenda medidas drásticas essenciais para o bem-comum, as quais acabam atingindo em sofrimento maior determinada camada social, em certos casos, a estupidez, alimentada por fatores exógenos à moral e à ética governativas (entre os quais a ambição, a disputa pelo poder e a corrupção), se revela como produto de uma insensibilidade notória do mundo político aos dramas humanos universais: Extermínios em massa, escravização, exploração dos fracos, saques de riquezas e outros tipos de opressão.
Bom lembrar a famosa observação de Rousseau: Os homens nasceram livres, mas por toda parte do mundo vivem acorrentados. A insensibilidade notória, nesse caso, é das elites dirigentes, sejam elas locais, regionais, nacionais, internacionais ou cosmopolitas. Casos típicos do colonialismo europeu e das operações militares dos Estados Unidos no Afeganistão, Iraque, Vietnã, tc.
A política da estupidez diz respeito a decisões tomadas por governantes ou dirigentes com base em pressupostos equivocados, as quais acabam gerando mais problemas do que soluções, mais males do que benefícios aos governados. Quase sempre decorre da insensatez de quem decide, seja por omissão, seja por inexperiência ou incompetência, seja por conveniência e demagogia.
Menciono aqui o famoso livro de Barbara Tuchman, “A Marcha da Insensatez”, um relato sobre a insensatez de muitos governantes, de Tróia ao Vietnã, que tomaram decisões contrárias àquelas que deveriam tomar com base em seus interesses e seus conhecimentos. Qualquer político bem instruído tem esse livro em sua cabeceira...
Mas, não vejo nenhuma ligação entre Razão e Emoção como causas primárias da estupidez humana, mas, sim, a natureza intrínseca do homem, como afirma Matthijs van Boxsel, em sua obra “A Enciclopédia da Estupidez” (obra que ainda não tive a oportunidade de ler): “A estupidez é o fundamento da nossa civilização”. Pode ser... Afinal, de forma indireta, é uma afirmação que reforça a de Albert Einstein.