A renúncia do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, substituído interinamente pelo ex-vice-governador paulista, José Maria Marin, abre um novo capítulo na história do futebol brasileiro e da Federação Internacional de Futebol - FIFA-, presidida por Joseph Blatter.
Especificamente, a mudança encerra um ciclo glorioso para o futebol brasileiro e mundial, pois pode significar o ocaso do poder instituído pelo ex-presidente João Havelange, ex-sogro de Ricardo Teixeira, sob cuja gestão o Brasil conquistou cinco títulos mundiais, quatro diretamente e mais um sob a gestão de Teixeira na CBF e Blatter na FIFA.
Os dois primeiros títulos, o de 1958, na Suécia, e o de 1962, no Chile, foram conquistados quando presidia a antiga Confederação Brasileira de Futebol - CBD-, quando designou o empresário e advogado paulista Paulo Machado de Carvalho para chefiar as delegações brasileiras.
Havelange, filho de um belga comerciante de armas radicado no Rio de Janeiro, ficou de 1974 a 1998 na presidência da FIFA, elevando a entidade à condição de centro mundial de poder e transformando o Brasil na maior potência futebolística em conquista de títulos, além de ter presidido o Comitê Olímpico Internacional –COI- durante 40 anos. Organizou seis copas mundiais de futebol e visitou mais de 180 países.
Diretor-executivo da Viação Cometa, empresa que ainda opera no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, Havelange tinha aversão a arma de fogo e nunca usou ou foi portador de alguma, recusando-se a dar seqüência ao trabalho de seu pai como comerciante. Poderia ter ganhado rios de dinheiro comerciando armas.
Não foram poucas as ocasiões em que João Havelange, valendo-se do seu prestígio internacional e dos instrumentos de poder da FIFA em todos os continentes, atuou em missões diplomáticas e políticas silenciosas a pedido de governos, não só promovendo jogos de futebol, mas também construindo pontes de negociações entre chefes de Estado.
Conheci-o pessoalmente, e com ele conversei, durante negociações com políticos, militares e diplomatas, em Brasília. Na sua simplicidade pessoal, residia uma de suas fontes de sedução dos seus interlocutores. Carregava uma indefectível maleta com poucos papéis e documentos, era elegante e culto, sem ser pernóstico, e nunca deixava de se dirigir ao mais simples porteiro para apresentar sua carteira de identidade, embora, se o quisesse, poderia exigir do órgão um tratamento vip como visitante, pois era amigo de reis e rainhas e presidente de uma organização (FIFA) com sede em Zurique e 208 associados, número superior aos da Organização das Nações Unidas.
O poder maior da FIFA é a audiência fantástica obtida pelo futebol no mundo globalizado, alcançando bilhões de telespectadores e gerando a mais poderosa indústria de marketing esportivo. Aliás, os inimigos de Havelange denunciam que o dirigente se corrompeu aliando-se às jogadas da empresa alemã Adidas e recebendo muito dinheiro por fora.
O jornalista britânico Andrew Jennings, que tem aversão pessoal a Havelange, Blatter e Teixeira, é um dos inimigos e críticos contumazes dessa “troika” e afirma que o seu sonho é ver os três dirigentes atrás da s grades.
Não vejo impertinência nas críticas de Jennings, assim como não vejo como anômalo o enriquecimento de Havelange e Teixeira. O que se espera de um empresário, que profissionaliza o futebol no mundo inteiro, é que também ganhe muito dinheiro, e aí sempre surgem denúncias de corrupção. O mundo futebolístico, com toda a sua áurea de magia e fanatismo e o seu poder de hipnose e fetiche sobre bilhões de cidadãos, não é um mundo para escoteiros... O jornalista europeu quer a Europa de volta no comando da FIFA e vê Blatter como apenas um preposto de Havelange.
Com a saída de Teixeira, as ligas regionais de futebol no Brasil tentam encontrar uma alternativa a José Maria Marin na sucessão do comando na CBF. Acho difícil que esse comando escape ao estado de São Paulo, em pleno ano de eleições municipais e de preparação para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
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