Não entendo as razões que levam uma comissão de juristas, que prepara sugestões de reforma ao Código Penal, no Senado Federal, a sugerir que os jogos de azar sejam tipificados como crimes, em vez de contravenções.
O Brasil é um imenso cassino televisivo e lotérico, e tais juristas se preocupam com o varejo do entretenimento de milhões de brasileiros que têm poucas e raras opções de distração.
Os bingos eletrônicos, por exemplo, foram introduzidos no Governo Lula e pelo mesmo governo fechados, por terem sido considerados focos de lavagem de dinheiro e corrupção. Ainda aguardam sua regulamentação.
Agora um senador cai em desgraça sob acusação de negociar com um bicheiro que explora máquinas caça-níqueis em Goiás, alimentando a hidra que o estado criou.
Ouvi de um amigo geólogo, um tanto criativo, a meu ver, a versão de que as empresas multinacionais de mineração não têm interesse no desenvolvimento das estâncias hidrominerais como centros turísticos, porque todas elas, por sua formação geológica, situam-se em cadeia vulcânica extinta, de Norte a Sul do País, e junto com suas águas guardam em seu subsolo jazidas de minerais estratégicos.
O desenvolvimento turístico e populacional dessas estâncias, consideradas áreas de segurança nacional, durante o regime militar, atrapalharia os interesses de exploração desses recursos pelos grandes grupos internacionais.
A regulamentação do jogo traria intensa movimentação para esses municípios, principalmente aqueles dotados de boa infraestrutura hoteleira, como Araxá, Caldas Novas, Poços de Caldas, Lambari, São Lourenço, Serra Negra, Lindóia e tantos outros. Muitos deles, hoje, comportam empresas de mineração de capital estrangeiro.
Quando leio o noticiário a respeito da venda de 15% das jazidas de nióbio do Brasil para a China e da ameaça de fechamento da Alcoa em Poços de Caldas, centro produtor de bauxita, urânio, molibdênio e outros minérios de grande importância econômica, começo a refletir sobre a vulnerabilidade da manutenção da integridade do patrimônio material nacional.
A Alcoa deixará de produzir 95 mil toneladas de alumínio por ano, levando ao desemprego 1.800 pessoas, porque não dispõe de energia elétrica a custo operacional compatível com os baixos preços atuais do alumínio no mercado internacional? Risível e suspeitíssimo argumento... E Poços de Caldas está morrendo como centro turístico, tal como Araxá, Lambari, Caxambu e São Lourenço, das quais tenho orgulho como mineiro.
Recorro às advertências de uma figura recentemente homenageada pela Sociedade Brasileira de Geografia, o coronel Arlindo Vianna, com o título de Benemérito.
Arlindo Vianna (1899-1957), oficial do Exército, farmacêutico, engenheiro químico, cientista de formação multidisciplinar, escritor e cronista. Tenente chegou a Itajubá em 1934 e foi um dos engenheiros militares pioneiros da Fábrica de Itajubá. Em Itajubá, mais exatamente no PACATITO, viveu com sua família até 1953, tendo sido assíduo colaborador de diversos jornais.
Em “Matérias-Primas Nacionais e Algumas r-Riquezas Latentes do Brasil”, série de estudos divulgados em “O Correio da Manhã”, de 1934 a1942, Arlindo Vianna alertava ─ com sua percepção preclara da realidade nacional e perspectiva das potencialidades brasileiras decorrentes do potencial geográfico, geológico e riquezas naturais latentes e das matérias-primas ─ que, com suas palavras, “seja como for, nós brasileiros precisamos, com racional energia orientadora, reerguer o País do triste estado de servidão econômica, a que o condenam os erros e desvarios de nossos governos”. E continuava:
“Utilizar matérias-primas nacionais e tratar de sua transformação pode garantir nosso futuro de Nação soberana e o bem-estar de nosso povo. Porém, estamos, cegos, de não querer ver; surdos, pela intercepção dos brados de despertar; mudos, pela mordaça do empirismo dogmático; paralíticos, pelo entorpecente da preguiça e da omissão. Que nossa paralisia não seja irreversível. Busquemos nossos próprios caminhos”.
Com esperança no futuro, afirmava: “Temos a direção para nossa salvação: Despertar e trabalhar. Bradamos: futuro generoso sócio-econômico está em nosso alcance! Nações previdentes tratam de industrializar suas matérias-primas para assegurar independência e garantir futuro justo para seus filhos”.
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