São muito tensas as relações entre o Brasil e os
Estados, por baixo das razões de Estado, do pragmatismo e da “mise-en-scène” de
cordialidade e cooperação mútuas que cercam a visita da Presidente Dilma
Rousseff e sua comitiva e os seus encontros com o Presidente Barack Obama e as
demais autoridades norte-americanas.
A forma discreta, sem foguetório, com que a Presidente Dilma
foi recebida em sua chegada revela os cuidados da Casa Branca, em plena
temporada eleitoral para a reeleição de Obama, com a recepção a uma Chefa de
Estado que atuou, no passado, na linha de frente da luta armada contra o regime
militar, na prática de atos que ainda hoje são classificados como terroristas.
Em 2009, como chefe do Gabinete Civil, Dilma Roussef foi
apresentada pessoalmente ao Presidente Barack Obama pelo Presidente Lula, que
visitava Washington. Obama já sabia que ela deveria chegar à Presidência, mas
foi alertado pelos órgãos de informação e da representação diplomática em
Brasília sobre o passado e a ideologia de Dilma.
Desde então, Dilma passou a ser observada, de modo especial,
em suas atitudes pessoais e oficiais em relação a tudo que diz respeito ao
terrorismo, aos integrantes de sua equipe simpatizantes da aproximação do
Brasil com os regimes do Irã, de Cuba e da Síria. Interesse crescente de
Washington à medida que, após a posse de Dilma, grupos como as FARCs colombianas
e o Hesbolah libanês continuam atuantes sob a indiferença e até certo
beneplácito do governo brasileiro, nas regiões de fronteira.
Washington pressiona para que o Brasil aprove uma lei que
tipifique os atos de terrorismo, em razão de que o Senado constituiu um grupo de
juristas para propor alteração do Código Penal com a inclusão de um dispositivo
nesse sentido.
A oposição republicana, devidamente municiada, poderia muito
bem explorar junto ao povo, até hoje traumatizado com os atentados às Tôrres Gêmeas,
a visita de Dilma a Obama, assim como os acenos positivos da diplomacia
brasileira aos regimes de Teerã, Havana e Damasco.
Como o Brasil ainda insiste na sua busca por um lugar no
Conselho Permanente de Segurança da ONU, bastaria uma associação inteligente do
poder que o País poderia adquirir com o seu possível emprego a favor dos
regimes satanizados pela mídia norte-americana, e Obama ficaria de calça
justa...
É no campo econômico que se situam os grandes focos de
tensão entre os dois países, apesar do crescente intercâmbio entre dois países
de perfis completamente diferentes: Os Estados Unidos dependentes do seu
mercado interno e detentores de patentes tecnológicas no mundo inteiro, e o
Brasil dependente do mercado externo, em especial de matérias-primas, ainda
carente de melhor condição tecnológica em vários setores.
Petróleo, minérios
estratégicos, aviões, automóveis, carnes, soja, café, açúcar, suco-de-laranja, etc.
compõem a lista de produtos constantes do comércio bilateral, mas algumas
negociações, como a venda de aviões comerciais produzidos pela Embraer e a compra
de aviões militares fabricados pela Boeing, envolvendo vultosas quantias, se
encontram emperradas.
A política cambial é outro foco de preocupações do governo
brasileiro, em face da crescente desvalorização do dólar diante do real, que
preocupa o governo, pelos prejuízos causados às exportações, seus reflexos no
crescimento do PIB e no ajuste da meta inflacionária de 4,5% para este ano,
quando o mercado já começa a falar em 5,2%, com projeção otimista.
Dilma culpa o “tsunami monetário” provocado pelos Estados
Unidos e pela Europa contra os países em desenvolvimento, a exemplo do que
reclamou em sua visita à Alemanha e na reunião com os dirigentes dos países
membros dos BRICS.
Para algumas vozes da oposição, a Presidente Dilma e sua
equipe cometem erro palmar focando o problema cambial, quando deveriam melhorar seus entendimentos com as
instituições financeiras por meio de melhor gerenciamento do Banco Central, sob
risco de maior desvalorização real da moeda brasileira e recrudescimento da inflação ainda
em 2012.
É nítido o empenho da Presidente Dilma Roussef em buscar a
formação e capacitação de mão-de-obra científica e tecnológica para brasileiros
nos países desenvolvidos, para uma inserção competitiva do Brasil no mundo
global, sem a qual os produtos brasileiros continuarão com baixo valor agregado
para as exportações. Empenho que os Governos Fernando Henrique Cardoso e Lula
não tiveram com a mesma intensidade.
Esse é um dos seus objetivos principais em sua visita aos
Estados Unidos, onde visitou Cambridge e Boston, a Universidade de Harvard e o
Instituto Tecnológico de Massassuchets, para ampliar seu programa Ciência sem
Fronteiras, a exemplo do que fez visitando a Alemanha e a Índia.
Nesse aspecto, é risível que a USP, responsável por 45% das
pesquisas universitárias no Brasil,
tenha sido qualificada maldosamente pelo site da revista norte-americana “Foreing
Policy” como ideal para os “jocks”, gíria que significa alunos que gostam de praticar
esportes, têm boas habilidades sociais e não são muito brilhantes, segundo
publicou recentemente o jornal “O Estado de S.Paulo”.
Por último, no cardápio das relações Brasil - Estados
Unidos, uma pimenta-malagueta diplomática: A indicação, tida como certa, do
nome da senadora Marta Suplicy para a embaixada do Brasil em Washington, como
prêmio de consolo pela sua desistência de disputar a prefeitura de São Paulo,
em favor do ex-ministro da Educação, Paulo Haddad, o preferido por Lula.
Haveria ranger de dentes da diplomacia de carreira ante a
indicação de Marta Suplicy para aquele posto número um no exterior, mas a Casa
já absorveu em anos anteriores, mesmo torcendo o nariz, nomes de fora da
carreira para postos de destaque (Abreu Sodré, Fernando Henrique Cardoso,
Francisco Rezek, Delfim Netto, Itamar Franco, Paes de Andrade, etc.)
Essa indicação vai de
encontro ao que afirma o cientista político Octavio Amorim Neto, em seu recente
livro “De Dutra a Lula”, onde analisa o impacto da diplomacia presidencial
iniciada no Governo Fernando Henrique e mantida por Lula e Dilma, acentuando
que os diplomatas de carreira ganharam nesse período, mais espaço sobre os
diplomatas nomeados por influência de partidos políticos.
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