segunda-feira, 9 de abril de 2012

São tensas as relações Brasil-Estados Unidos


São muito tensas as relações entre o Brasil e os Estados, por baixo das razões de Estado, do pragmatismo e da “mise-en-scène” de cordialidade e cooperação mútuas que cercam a visita da Presidente Dilma Rousseff e sua comitiva e os seus encontros com o Presidente Barack Obama e as demais autoridades norte-americanas.

A forma discreta, sem foguetório, com que a Presidente Dilma foi recebida em sua chegada revela os cuidados da Casa Branca, em plena temporada eleitoral para a reeleição de Obama, com a recepção a uma Chefa de Estado que atuou, no passado, na linha de frente da luta armada contra o regime militar, na prática de atos que ainda hoje são classificados como terroristas.

Em 2009, como chefe do Gabinete Civil, Dilma Roussef foi apresentada pessoalmente ao Presidente Barack Obama pelo Presidente Lula, que visitava Washington. Obama já sabia que ela deveria chegar à Presidência, mas foi alertado pelos órgãos de informação e da representação diplomática em Brasília sobre o passado e a ideologia de Dilma.

Desde então, Dilma passou a ser observada, de modo especial, em suas atitudes pessoais e oficiais em relação a tudo que diz respeito ao terrorismo, aos integrantes de sua equipe simpatizantes da aproximação do Brasil com os regimes do Irã, de Cuba e da Síria. Interesse crescente de Washington à medida que, após a posse de Dilma, grupos como as FARCs colombianas e o Hesbolah libanês continuam atuantes sob a indiferença e até certo beneplácito do governo brasileiro, nas regiões de fronteira.

Washington pressiona para que o Brasil aprove uma lei que tipifique os atos de terrorismo, em razão de que o Senado constituiu um grupo de juristas para propor alteração do Código Penal com a inclusão de um dispositivo nesse sentido.

A oposição republicana, devidamente municiada, poderia muito bem explorar junto ao povo, até hoje traumatizado com os atentados às Tôrres Gêmeas, a visita de Dilma a Obama, assim como os acenos positivos da diplomacia brasileira aos regimes de Teerã, Havana e Damasco.

Como o Brasil ainda insiste na sua busca por um lugar no Conselho Permanente de Segurança da ONU, bastaria uma associação inteligente do poder que o País poderia adquirir com o seu possível emprego a favor dos regimes satanizados pela mídia norte-americana, e Obama ficaria de calça justa...

É no campo econômico que se situam os grandes focos de tensão entre os dois países, apesar do crescente intercâmbio entre dois países de perfis completamente diferentes: Os Estados Unidos dependentes do seu mercado interno e detentores de patentes tecnológicas no mundo inteiro, e o Brasil dependente do mercado externo, em especial de matérias-primas, ainda carente de melhor condição tecnológica em vários setores.

Petróleo, minérios estratégicos, aviões, automóveis, carnes, soja, café, açúcar, suco-de-laranja, etc. compõem a lista de produtos constantes do comércio bilateral, mas algumas negociações, como a venda de aviões comerciais produzidos pela Embraer e a compra de aviões militares fabricados pela Boeing, envolvendo vultosas quantias, se encontram emperradas.

A política cambial é outro foco de preocupações do governo brasileiro, em face da crescente desvalorização do dólar diante do real, que preocupa o governo, pelos prejuízos causados às exportações, seus reflexos no crescimento do PIB e no ajuste da meta inflacionária de 4,5% para este ano, quando o mercado já começa a falar em 5,2%, com projeção otimista.

Dilma culpa o “tsunami monetário” provocado pelos Estados Unidos e pela Europa contra os países em desenvolvimento, a exemplo do que reclamou em sua visita à Alemanha e na reunião com os dirigentes dos países membros dos BRICS.

Para algumas vozes da oposição, a Presidente Dilma e sua equipe cometem erro palmar focando o problema cambial, quando deveriam  melhorar seus entendimentos com as instituições financeiras por meio de melhor gerenciamento do Banco Central, sob risco de maior desvalorização real da moeda  brasileira e recrudescimento da inflação ainda em 2012.

É nítido o empenho da Presidente Dilma Roussef em buscar a formação e capacitação de mão-de-obra científica e tecnológica para brasileiros nos países desenvolvidos, para uma inserção competitiva do Brasil no mundo global, sem a qual os produtos brasileiros continuarão com baixo valor agregado para as exportações. Empenho que os Governos Fernando Henrique Cardoso e Lula não tiveram com a mesma intensidade.

Esse é um dos seus objetivos principais em sua visita aos Estados Unidos, onde visitou Cambridge e Boston, a Universidade de Harvard e o Instituto Tecnológico de Massassuchets, para ampliar seu programa Ciência sem Fronteiras, a exemplo do que fez visitando a Alemanha e a Índia.

Nesse aspecto, é risível que a USP, responsável por 45% das pesquisas  universitárias no Brasil, tenha sido qualificada maldosamente pelo site da revista norte-americana “Foreing Policy” como ideal para os “jocks”, gíria que significa alunos que gostam de praticar esportes, têm boas habilidades sociais e não são muito brilhantes, segundo publicou recentemente o jornal “O Estado de S.Paulo”.

Por último, no cardápio das relações Brasil - Estados Unidos, uma pimenta-malagueta diplomática: A indicação, tida como certa, do nome da senadora Marta Suplicy para a embaixada do Brasil em Washington, como prêmio de consolo pela sua desistência de disputar a prefeitura de São Paulo, em favor do ex-ministro da Educação, Paulo Haddad, o preferido por Lula.

Haveria ranger de dentes da diplomacia de carreira ante a indicação de Marta Suplicy para aquele posto número um no exterior, mas a Casa já absorveu em anos anteriores, mesmo torcendo o nariz, nomes de fora da carreira para postos de destaque (Abreu Sodré, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Rezek, Delfim Netto, Itamar Franco, Paes de Andrade, etc.)

Essa indicação vai de encontro ao que afirma o cientista político Octavio Amorim Neto, em seu recente livro “De Dutra a Lula”, onde analisa o impacto da diplomacia presidencial iniciada no Governo Fernando Henrique e mantida por Lula e Dilma, acentuando que os diplomatas de carreira ganharam nesse período, mais espaço sobre os diplomatas nomeados por influência de partidos políticos.

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