Jornalista Francisco das Chagas Leite Filho
O ex-presidente Lula da
Silva, deixou hoje Bogotá rumo ao Equador, depois de encontros com o presidente
Juan Manuel Santos e outras altas autoridades colombianas (o vice-presidente e
o prefeito da capital), num momento em que a Colômbia se vê novamente emparedada
pelos falcões de Washington.
Estes exigem o isolamento
(e até o ataque militar, se preciso for) da Venezuela e, com isso, frear o
processo de integração latino-americana, desenvolvido pelos presidentes
progressistas da região.
Este processo, que implica
em mais intercâmbio e comércio entre os países vizinhos, vem prejudicando as
empresas norte-americanas, que antes dominavam os negócios, e a influência
estadunidense. Mas tem contribuído para livrá-los das crises neoliberais da
Europa e ampliar seu nível de emprego, que é hoje de cerca de 7% contra os 12%
europeus.
Lula, que ainda tem uma
escala no Peru e há pouco visitou a Argentina, outro grande pilar da política
integracionista, está ciente da natureza dessas pressões norte-americanas, que
poderão afetar inclusive o processo sucessório brasileiro de 2014.
A visita da semana passada
do vice-presidente Joe Biden a Brasília, com suas exigências por “mais
comércio” (leia-se mais dependência) com os Estados Unidos, não deixa dúvidas
de que seu país vai jogar tudo contra a presidenta (e candidata à reeleição)
Dilma Rousseff, se o governo lulista não se curvar a estes,
digamos, imperativos.
Ora, tais imperativos implicariam, trocando
em miúdos, retirar o apoio ao presidente chavista Nicolás Maduro, que, como seu
antecessor Hugo Chávez, reagiu de pronto às provocações colombianas (recepção
por Santos do líder golpista venezuelano Henrique Capriles e o anúncio de uma
adesão à OTAN).
Maduro, como se sabe, foi
surpreendido pela decisão do presidente colombiano, sobretudo porque este havia
encetado uma produtiva aproximação com os venezuelanos e demais presidentes
progressistas, com saldos políticos e comerciais para o seu país (aumento do
emprego e do intercâmbio comercial entre os dois países vizinhos).
Arguto observador, Lula
sabe, igualmente, que essas pressões tendem a crescer na visita de Estado que
Dilma fará a Washington, em outubro próximo, nos encontros diretos com o
presidente Barak Obama, cercados de toda pompa e circunstância. Não se sabe se
as homenagens vão incluir povo nas ruas e papel picado, como ocorreu com o
presidente João Goulart, em Nova York, em 1962.
Sabe-se, no entanto, do
desfecho sofrido por Goulart por não dobrar-se às exigências da Casa Branca (na
época, era o isolamento e a expulsão de Cuba castrista da OEA): campanha de
desmoralização midiática, desestabilização do governo e deposição do presidente
trabalhista pelo Golpe militar-empresarial de 1964.
É verdade que os tempos
são outros e os golpes militares não andam mais em voga, mas persiste o
potencial midiático e fianceiro para minar e mesmo derrubar governos, através
dos chamados golpes brandos, como ocorreu com os presidentes progressistas de
Honduras e do Paraguai, nos últimos três anos. Os governos progressistas, por
sua vez, estão mais articulados com seus povos, os quais, beneficiados pelas
políticas sociais que lhe deram mais renda, educação e inclusão, têm resistido
bravamente às tentativas golpistas.
Veja-se o exemplo
venezuelano na derrota das assuadas de 2002 e 2003, as reeleições de Hugo
Chávez e agora, do seu sucessor Nicolás Maduro, do próprio Lula e de sua
candidata Dilma, dos Kirchner na Argentina e de Evo Morales, na Bolívia, de
Rafael Correa, no Equador, e Daniel Ortega, na Nicarágua.
Mas, voltando ao encontro Lula-Santos,
o tema, é claro, foi debatido em sigilo entre os dois estadistas, e suas
conclusões ainda vão demorar a chegar ao grande público. Uma coisa, no entanto,
parece certa. Lula fez ver a Santos, com sua habilidade de fino negociador, a
preocupação em preservar a unidade tão duramente conseguida nestes últimos 15
anos.
Ele sabe que a Colômbia
está muito exposta d vulnerável às pressões da metrópole, que já fizeram outras
vezes descarrilhar o trem da integração, como ocorreu com Álvaro Uribe, antecessor
de Santos, e cujo excesso de servilismo levou ao rompimento das relações entre
Caracas e Bogotá, em 2010.
Não se conhece (ainda) a
reação de Juan Mauel Santos às ponderações de Lula, mas ele fez questão de
reiterar de público, no encontro que teve com o ex-presidente durante uma
apresentação no palácio presidencial, a Casa de Nariño, sua admiração pelo
líder brasileiro, a quem apontou como exemplo e modelo de estadista: “Espero
seguir seu exemplo e tornar a Colômbia um país mais justo”, afirmou Santos a
Lula.
Tudo indica, porém, que o
encontro poderá jogar alguma luz sobre o inopinado gesto colombiano de, mais
uma vez, atentar contra o processo de unidade regional e deverá ser objeto de
uma reunião de cúpula da Unasul (Uniñao das Nações Sul Americanas), já
solicitada pelo presidente da Bolívia e avalizada pela Venezuela.
Só se sabe que todo o
cuidado é pouco nessas ocasiões, mas que também não se pode dar o braço a
torcer a esse tipo de provocação, sob pena de ver naufragar toda uma construção
integracionista até aqui vitoriosa em todas as suas implicações.
Detalhes do encontro nos
sites:
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