sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Eleição artesanal para um Brasil perplexo

Cerca de 144 milhões de eleitores escolherão neste domingo prefeitos e vereadores de 5 570 municípios brasileiros, numa eleição que tende a varrer de centenas de prefeituras o Partido dos Trabalhadores-PT-, abalado pelo impeachment de Dilma Rousseff e pelas acusações contra o ex-presidente Lula, feitas pela "Operação Lava Jato", de práticas de corrupção em diversos esquemas denominados por procuradores da República como "propinodutos" sob o comando de Lula. Corrupção que agravou a situação do Brasil causando um rombo de 170 bilhões de reais e 12 milhões de desempregados nos 12 anos de administração do Lulopetismo.
 
Nos estertores do Lulopetismo e com diversas figuras de destaque do PT acusadas e transformadas em rés no tribunal sob o comando do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, essas eleições municipais tendem a se polarizar entre candidatos com ficha limpa e candidatos com ficha suja junto ao Tribunal Superior Eleitoral -STE-, presidido pelo juiz Gilmar Mendes, membro do Supremo Tribunal Federal -STF-.
 Gilmar Mendes e o próprio Presidente Michel Temer se manifestaram preocupados com a violência política, como questão de segurança pública, em 74 municípios, onde se registraram 20 mortes de candidatos. O ministro da Defesa, Raul Julgman, anunciou que 25 mil militares das Forças Armadas serão destinados à garantia da tranquilidade do pleito nas regiões mais violentas.
 
Sem autorização para receber doações de empresas para suas campanhas, os 491 001 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador são obrigados a fazer campanha de forma quase artesanal em palanques e carreatas, pedindo votos de porta-em-porta, o que aumenta as possibilidades de conflitos territoriais entre os candidatos, em especial nas áreas onde o crime organizado e milícias armadas procuram garantir a vitória dos seus candidatos.
 
Essas eleições municipais, sob o clima de crise econômica, política e de ética e moral, tende a fortalecer novos partidos de esquerda radical, como o Partido Socialista Brasileiro -PSB- e a Rede Solidariedade, da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que ocuparão o vácuo que o PT deixará em várias regiões.
 
Desse atual governo de Temer não se espera que alguma figura dispute as eleições presidenciais em 2018, mas dessas eleições municipais pode sair algum nome oculto até agora e que seja messianicamente abraçado pelo eleitorado, que tem se manifestado enfaticamente contra a corrupção e a impunidade dos empresários e políticos e apoiado a "Operação Lava Jato". Mas, ainda não se desponta nenhuma figura na campanha artesanal que transcorre num Brasil apático e perplexo pelo volume dos saques cometidos contra o Estado e a Nação.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Meio político teme novos impactos da "Lava Jato"


O juiz Sérgio Moro aceitou abrir ação penal contra o ex-presidente Lula com base na denúncia do Ministério Público Federal, segundo a qual Lula é o comandante da propinocracia que se instalou no Brasil causando 42 bilhões de reais de prejuízo financeiro à Petrobrás, além de outras acusações que se estendem à sua esposa Dona Marisa e mais seis pessoas indiciadas.

Com cinco processos contra sua pessoa, sendo que em dois é considerado réu, dificilmente Lula poderá disputar a Presidência em 2018, e o Partido dos Trabalhadores-PT-, mal se ressentindo do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, caminha para as próximas eleições municipais de outubro completamente destroçado em seu discurso eleitoral e nas perspectivas de manter parte significativa do poder que o sustentou  durante 12 anos como protagonista no cenário político.

O torniquete da "Lava Jato" continua fechando e emparedando figuras destacadas dos meios político e empresarial. Não haverá perdão para as verbas de caixa dois, ponto de fuga da corrupção, e uma longa lista de indiciados vive o pesadelo de, a qualquer momento, ir para a prisão.

A maioria dos políticos e empresários, aparentemente, ainda não percebeu que a ética e a moral voltarão a reger a politica no Brasil. É óbvio que a corrupção não vai acabar, mas será combatida intensamente e a impunidade será reduzida de forma drástica. Esse é um recado que a “Operação Lava Jato” tem mandado ao País inteiro, deixando o meio político e empresarial acabrunhado.

O mais recente aviso aos que têm acusações e suspeitas sobre sua pessoa foi dado pela Polícia Federal, que prendeu o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega,  quando este se encontrava dentro de um hospital em São Paulo acompanhando cirurgia de sua esposa. Mantega é acusado de ter contribuído para desvio de dinheiro da Petrobrás, cerca de sete milhões de reais, para o Partido dos Trabalhadores, em negociações envolvendo o empresário Eike Batista, dono da OSX, e publicitários.

Odiado por muitos e aplaudido pela sociedade, nas redes sociais, como esperança de combate à impunidade no Brasil, o juiz Sérgio Moro pode apresentar novas surpresas ainda antes desse pleito eleitoral.

Paralimpíadas: encontrando uma razão de viver

 
Ayle-Salassié F. Quintão*
 
Cem milhões de brasileiros têm na família pelos menos um portador de necessidades especiais .  O fato resulta em impactos incômodos para o indivíduo e, quase sempre,  em dramas familiares. O professor de História, Jaílson Kalludo (48 anos), faz parte desse cenário. Mas nunca entrou em pânico. “Barreiras existem para serem quebradas”, diz, observando que se o indivíduo tiver um “norte de vida”, seja material ou espiritual, encontra a razão de viver, e preenche qualquer vazio existencial.
 
A prática esportiva é uma alternativa fantástica para superação de limites e de preconceitos. Contribui para a superação física e, sobretudo, psicológica, sem distanciar-se muito das marcas olímpicas. Usain Bolt percorre os 100 metros nas Olimpíadas em 9,86s; nas Paralimpíadas   o cego Smyth o faz em 10,46s, apenas um segundo de diferença. As Paraolimpíadas oferecem um espaço inteiramente novo de convivência humana e percepção de mundo. Os Jogos  são, antes de tudo, um espaço de inclusão social, de troca de experiências  e de fortalecimento da  solidariedade mundial  entre portadores de necessidades especiais. Os atletas terminam por fazerem-se reconhecidos  como pessoas sadias, física e psicologicamente.



            Como tudo começou? A buliçosa platéia berlinense  ficou muda quando (1888) os atletas surdos entraram no ginásio. O impacto público fez surgir os primeiros clubes esportivos para surdos, e inspirou na criação na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos de linguagens de sinais dos surdos que, em geral, por isso são mudos, chamadas ASL , SLB ou SLF. Espalharam-se pelo mundo.  A iniciativa alemã deu origem ainda em 1922 à Organização Mundial de Esportes para Surdos – CISS e, a seguir, aos Jogos Silenciosos, cujas  platéias alcançaram dois milhões de barulhentos espectadores.



          O grande surto paralimpico aconteceu, contudo, a partir do fim da 2ª Guerra, quando milhares de soldados e cidadãos paraplégicos ou tetraplégicos, vítimas dos bombardeios, entravam em pânico, logo após retornar aos lares, ao se perceber mutilados. Coube a Ludwig Guttman, um neurocirurgião de origem judaica, fugido da Alemanha nazista, o introdução de um processo de reabilitação,  usando métodos e práticas esportivas. Acolhido na Inglaterra, ele ajudou a criar o Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville, a noroeste de Londres. Iniciou ali um trabalho de readaptação dessas pessoas para a vida cotidiana.
          
       Em julho de 1948 , no dia da abertura, em Londres, das Olimpíadas, ele abriu também em Stoke Mandeville a primeira competição para atletas com deficiência. Os holandeses se juntariam à competição seguinte, marcando o início do paraolimpismo, cujos primeiros jogos mundiais foram realizados em Roma, em 1960. Ali, cinco mil espectadores acompanharam 400 atletas de 23 países competindo  em cadeiras de rodas, em oito diferentes modalidades esportivas. Em 1964, vieram os Jogos de Tóquio, Japão,  marcado pela presença do príncipe Akahito e da princesa Michiko. Depois, os de Tel-Aviv, Israel, em 1968; Heildelberg, Alemanha (1972),  este agregou amputados e deficientes visuais. Os de  Toronto, Canadá (1976), resultaram na fundação do Comitê Paraolímpico Internacional - IPC. A partir daí, apareceram atletas paraolímpicos profissionalizados, novas tecnologias esportivas, reformas urbanas e a cobertura de televisão para todo o mundo. Novos países foram aderindo ao paralimpismo. Na Rio 2016  estão presentes 159 países, praticamente um recorde, talvez também de público.
           
             O Brasil marcou posição em Seul (1988), na Coréia, conquistando 27 medalhas: quatro de ouro, 10 de prata e 13 de bronze. O destaque foi Luís Cláudio Pereira, que conquistou três medalhas de ouro nas provas de disco, dardo e peso, e estabeleceu três recordes, paralímpicos  mundiais. Ficou em 25º lugar, com os EUA, Alemanha e Inglaterra no topo.   Veio Barcelona, Espanha (1992). Os Jogos Paralímpicos registraram a presença de 3.000 atletas de 83 países, com recordes cada vez mais próximos dos olímpicos. Para receber os atletas paralímpicos, a cidade foi toda adaptada. Sessenta e cinco 65 mil pessoas assistiram a abertura e, pela televisão, acompanharam os Jogos em tempo real. Cerca de 280 recordes mundiais foram superados e mais de 450 medalhas de ouro foram distribuídas em 15 modalidades. Os primeiros atletas brasileiros paraolímpicos com visibilidade internacional começariam a aparecer em Barcelona. Suely Guimarães e Luiz Cláudio Pereira quebraram,  dois recordes mundiais; ela lançamento do disco, ele no de peso. Lá apareceu a velocista Ádria Santos, conquistando sua primeira medalha de ouro.
        
            O prestígio dos Jogos Paraolímpicos cresceu de tal forma que na Olimpíada de Sidney (2000), foi registrada a presença de 3.800 atletas de 122 delegações . Mais de 300 recordes mundiais e paraolímpicos foram batidos. Venderam-se 1,2 milhão de ingressos. O Brasil subiu no ranking para o 24º lugar, com seis medalhas de ouro, 10 de prata e seis de bronze. Os grandes vencedores foram a Austrália, a Inglaterra e a Espanha. Em Londres ( 2012) o Brasil conquistou a sétima posição no quadro geral de medalhas das Paralimpíadas, com 21 pódios: dez ouros, sete pratas e quatro bronzes. Na Rio 2016  meta foi ficar entre os Top Five.  Os brasileiros têm muito a aprender com as Paralimpíadas.
 
*Jornalista, professor, doutor em História Cultural