A engenharia política destas
eleições alijou o Partido do Movimento Democrático Brasileiro-
PMDB- e o Democratas –DEM- da disputa da Presidência, embora Michel Temer seja
companheiro de chapa da Presidente Dilma Rousseff, que tenta sua reeleição –
com muita chance de ser bem sucedida. A direita brasileira permanece difusa.
Restaram, então, para a disputa da
Presidência, os partidos de esquerda com os candidatos mais competitivos, que
são Dilma, pelo Partido dos Trabalhadores - PT-, Marina Silva, pelo Partido
Socialista Brasileiro - PSB-, e Aécio Neves, pelo Partido da Social-Democracia Brasileira
- PSDB. Até José Jorge, do Partido Verde, é de origem socialista.
Não resta ao eleitorado outra
opção senão a de votar nos candidatos dos partidos socialistas (todos do Fórum de
São Paulo), que, ensaiam um socialismo brasileiro ainda indefinível, mas
fazendo lembrar o início da revolução bolchevista, com seus comitês sociais de
base influenciando na decisão política. Ou não seria esse modelo? Afinal,
aquele Lenine que comandou a revolução russa teve sua estátua derrubada de seu
pedestal na Ucrânia, nesta semana.
A dúvida procede até para 27
generais quatro estrelas da reserva do Exército, que assinaram manifesto contra
a Comissão da Verdade, conforme matéria da minha colega Tânia Monteiro publicada
pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, edição do último dia 26. Os generais
ironizam:” Seria uma democracia cubana,
albanesa ou maoísta? Ou, talvez, uma mais moderna como as bolivarianas?"
A imprensa brasileira repercutiu
muito pouco esse manifesto, cuja íntegra republico aqui para que meus leitores
do exterior possam tomar conhecimento do clima que antecede essas eleições,
marcado por denúncias de corrupção nas administrações petistas e por
retaliações entre esquerdistas e militares revolucionários de 1964. O foco
principal da crítica é a Comissão da Verdade constituída pela Presidente Dilma.
Dilma caminha para sua reeleição
e Aécio para assumir o comando da oposição, ou seja, vai fazer aquilo que seu
avô, Tancredo Neves, em parceria com Ulysses Guimarães, sempre fazia durante o
regime militar: Ser estilingue, e não vidraça, porque a Presidência é um cargo
desgastante, mas a liderança da Oposição é frutuosa.
Esses três partidos socialistas
disputam a Presidência e as cadeiras no Senado Federal e na Câmara dos
Deputados, onde o PMDB, correndo por fora, mais uma vez, tende a nadar de
braçada, porque o controle do Legislativo é o segredo do PMDB para se manter no
poder sem desgaste maior. Afinal, o Presidente da República depende do
Congresso Nacional para garantir governabilidade.
Mais uma vez, se faz o jogo do poder, segundo
o qual o Príncipe inteligente escolhe seus adversários (não seus inimigos),
pois, sem adversários, não há jogo; e o jogo político não é de soma zero.
Ficando com a Oposição e o
governo do Estado de São Paulo (onde Geraldo Alckmin terá tranquila vitória para
sua reeleição), o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves terão munição
suficiente para fazer marola contra o governo de Dilma e Lula. Melhor seria se
o PSDB ficasse ainda com Minas Gerais, mas parece que o PT não quer deixar...
Íntegra do MANIFESTO À NAÇÃO
BRASILEIRA, assinado por militares.
"Nós, Generais-de-Exército, antigos integrantes do Alto Comando do
Exército e antigos Comandantes de Grandes Unidades situadas em todo o
território nacional, abominamos peremptoriamente a recente declaração do Sr.
Ministro da Defesa à Comissão Nacional da Verdade de que as Forças Armadas aprovaram e
praticaram atos que violaram direitos humanos no período militar. Nós, que
vivemos integralmente este período, jamais aprovamos qualquer ofensa à
dignidade humana, bem como quaisquer casos pontuais que, eventualmente
surgiram. Vivíamos uma época de conflitos fratricidas, na qual erros foram
cometidos pelos dois lados. Os embates não foram iniciados por nós, pois não os
desejávamos. E, não devemos nos esquecer do atentado no aeroporto de
Guararapes.
A credibilidade dessa comissão vai gradativamente se esgotando pelos
inúmeros casos que não consegue solucionar, tornando-se não somente um
verdadeiro órgão depreciativo das Forças Armadas, em particular do Exército,
como um portal aberto para milhares de indenizações e "bolsas
ditadura", que continuarão a ser pagas pelo erário público, ou seja, pelo
povo brasileiro. Falsidades, meias verdades, ações coercitivas e pressões de
toda ordem são observadas a miúdo, e agora, de modo surpreendente, acusam as
Forças Armadas de não colaborarem nas investigações que, em sua maioria, surgem
de testemunhas inidôneas e de alguns
grupos, cuja ideologia é declaradamente contrária aos princípios que norteiam
as nossas instituições militares.
A Lei da Anistia - ratificada em
decisão do Supremo Tribunal Federal e em plena vigência - tem, desde a sua promulgação, amparado os
dois lados conflitantes. A Comissão Nacional da Verdade, entretanto, insiste em
não considerar esse amparo legal. O lado dos defensores do Estado brasileiro
foi totalmente apagado. Só existem criminosos e torturadores. Por outro lado, a
comissão criou uma grei constituída de guerrilheiros, assaltantes,
sequestradores e assassinos, como se fossem heroicos defensores de uma
"democracia" que, comprovadamente, não constava dos ideais da luta
armada, e que, até o presente, eles
mesmos não conseguiram bem definir. Seria uma democracia cubana, albanesa ou
maoísta? Ou, talvez, uma mais moderna como as bolivarianas?
Sempre que pode a Comissão Nacional da Verdade açula as Forças Armadas,
exigindo que elas peçam desculpas. Assim, militares inativos, por poderem se
pronunciar a respeito de questões políticas, têm justos motivos para replicarem
com denodada firmeza, e um deles é para que não vigore o famoso aforismo
"Quem cala consente!". Hoje, muitos "verdadeiros
democratas" atuam em vários níveis de governo, e colocam-se como arautos
de um regime que, paulatinamente, vai ferindo Princípios Fundamentais de nossa
Constituição. O que nós, militares fizemos foi defender o Estado brasileiro de
organizações que desejavam implantar regimes espúrios em nosso país. Temos
orgulho do passado e do presente de nossas Forças Armadas. Se houver pedido de
desculpas será por parte do ministro. Do Exército de Caxias não virão! Nós
sempre externaremos a nossa convicção de que salvamos o Brasil!"